Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Uma dúvida permanece no ar: que motivos teriam levado o presidente Lula a pular a cerca, melhor dizendo, a passar por baixo dela, na inauguração de uma barragem na cidade de Dianópolis, no Tocantins? O País inteiro assistiu o espetáculo de contorcionismo do presidente, aliás, em muito boa forma física, como se viu, depois, sua carreira um tanto instável ribanceira abaixo, até os limites da barragem.
Estaria o Lula tentando livrar-se do monte de papagaios de pirata e de puxa-sacos instalados a seu lado, iniciativa que teve sucesso, porque nenhum deles ousou imitar o chefe? Ou seria uma nova modalidade de ação sugerida pelos marqueteiros do Palácio do Planalto, para demonstrar suas qualidades de ginasta? Pretendeu optar pela alegoria de que inexistem obstáculos para um presidente determinado a cumprir suas metas? Estaria mal da vista, precisando aproximar-se da obra inaugurada para conhecê-la em detalhes?
Mil interpretações fluem das imagens mostradas pela televisão e os jornais, mas uma evidência não pode deixar de ser considerada: tratou-se de um gesto inusitado, jamais visto nos últimos 500 anos por parte de um chefe de governo. Obra do acaso não terá sido.
D. Pedro II apareceu caindo do alto de um camelo, quando visitou o Egito. Getúlio Vargas deixou-se fotografar na cabine de um avião a jato, pronto para decolar, ainda que sabiamente tivesse desistido do vôo. De terno e gravata, Juscelino Kubitschek equilibrou-se num tronco que ligava as duas margens da Belém-Brasília.
Ernesto Geisel arriscou-se num perigoso banho de mar em Fernando de Noronha, flagrado quando se agarrava à corda felizmente estendida pelos seus seguranças. Vários presidentes aceitaram botar cocares indígenas na cabeça. Fernando Collor acampou na floresta, vestido de Rambo. Mas um presidente da República pulando a cerca, ou arrastando-se em baixo dela, foi a primeira vez.
Quem quiser pode opinar, até atribuindo o episódio a um desses impulsos irresistíveis da natureza humana, mas, aqui para nós, mesmo sem explicação, as imagens ficarão para sempre incrustadas na crônica do governo dos trabalhadores.
Códigos diplomáticos
A diplomacia tem seus códigos. Determinadas iniciativas de certos governos costumam ser participadas antes aos aliados, claro que em sigilo. Através de emissários especiais, por correspondência secreta ou por mecanismos esotéricos, sempre aparece um jeito de as nações não surpreenderem seus amigos com ações inusitadas.
Só para ficar num episódio do outro lado do mundo, ocorrido há décadas: quando invadiu o Vietnã, depois do fim da guerra que redundou na expulsão dos americanos, o líder Deng-Xiauping, da China, avisou antes a Henry Kissinger de que "daria uma lição naqueles baixinhos". Há quem desconfie que sob a amena visita de Condoleezza Rice ao Pelourinho, em Salvador, a secretária de Estado tenha avançado, em Brasília, ao presidente Lula e ao ministro Celso Amorim, o aviso de que alguma coisa vem por aí, em termos da política externa de Washington. Melhor dizendo vem por lá.
Pode-se especular a partir da súbita demissão do almirante que comandava as tropas dos Estados Unidos no Oriente Médio. Ele discordou da estratégia de George W. Bush, de ficar ameaçando o Irã com invasão armada. Mas o que dizer da crise envolvendo Venezuela e Colômbia, esta repleta de "consultores" americanos, aquela em pé-de-guerra contra a superpotência?
Nos dois casos, é o petróleo que se encontra no fundo, já ultrapassando a barreira dos cem dólares o barril. São apenas duas ilações, entre mil outras possíveis, mas, positivamente, dona Condoleezza não veio ao Brasil para admirar a arquitetura da capital baiana...
Vigília adiada
Não aconteceu esta semana a anunciada vigília que senadores fariam no plenário, sem ir para casa, em sinal de protesto pelo engavetamento da PL-58, aquela que dá aos aposentados e pensionistas o mesmo reajuste de 16,5% dado aos que se encontram trabalhando. O idealizador do movimento, senador Paulo Paim, resolveu dar um pouco mais de tempo ao governo, prometendo dialogar nos próximos dias com os ministros da Fazenda e da Previdência Social.
Enquanto isso, os velhinhos tão citados pelo senador Mão Branca continuarão esperando sentados, já que foram aquinhoados com apenas 5% de aumento.
Entusiasmo propriamente não havia, entre os senadores, para passarem noites e madrugadas aboletados em suas poltronas, de terno e gravata ou de pijama, comendo pizzas e cochilando. Se muitos oposicionistas prometeram apoio irrestrito ao protesto, a maioria já havia saltado de banda, sob argumentos variados. Até aquele de que a TV Senado não transmitiria a vigília, tornando-se difícil a certas esposas acreditar na presença dos maridos em pleno plenário sem luz nem eletricidade...
Pá de cal
Coube ao senador Francisco Dornelles jogar a pá de cal na medida provisória que proíbe a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos situados à margem das rodovias federais. Ele falou da ausência de qualquer efeito prático na iniciativa que atinge a criação de empregos e de renda, e, por isso, vem sendo derrubada através de liminares, na Justiça.
Lembrou casos que seriam cômicos se não fossem trágicos, como o do município de Sapucaia, no Estado do Rio. Lá, a rodovia Rio-Bahia corta o meio da cidade. Resultado: nem os supermercados podem vender latinhas de cerveja ou garrafas de vinho...
Para Dornelles, a medida provisória a ser examinada nos próximos dias caracteriza uma violência, e nada resolve. Os passageiros de um ônibus interestadual estão proibidos de tomar um chope no posto de parada, mas o motorista, se tiver trazido bebida de casa, nem precisa descer do veículo. Resolveria, para o senador, a fiscalização e a adoção de medidas rígidas contra os motoristas flagrados embriagados. Além de tudo, a medida provisória é inconstitucional
Fonte: Tribuna da Imprensa
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