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domingo, junho 18, 2006

CONSTITUIÇÃO É RASGADA NO MARANHÃO - Liminar de Nelma Sarney restitui os direitos políticos de Paulo Marinho

Por: Jornal Pequeno (MA)

CONSTITUIÇÃO É RASGADA NO MARANHÃO - Liminar de Nelma Sarney restitui os direitos políticos de Paulo Marinho
Da Redação
Os deputados Aderson Lago e Domingos Dutra condenaram duramente a decisão tomada pela desembargadora Nelma Sarney, que concedeu liminar, ontem, restabelecendo os direitos políticos do ex-deputado Paulo Marinho. Lago recebeu a notícia com indignação: "Isso é zombar e abusar da paciência do eleitor maranhense", declarou o parlamentar tucano. Ele frisou que Paulo Marinho foi excluído da vida pública pelo Supremo Tribunal Federal (STF) exatamente pelas irregularidades que praticou no exercício do mandato de prefeito de Caxias e teve seus direitos políticos suspensos, de modo que agora não pode, sem cumprir a sua pena, decidida pela Justiça, retornar, por ato desta mesma Justiça, a uma situação de legalidade.
O presidente do PT-MA, deputado Domingos Dutra, também reagiu indignado, dizendo que esta manobra é uma tentativa de manter Paulo Marinho em silêncio, porque "se ele abrir a boca, e revelar os segredos que ele deve carregar consigo, aí então o império cai". Dutra referiu-se a Paulo Marinho como exemplo das "companhias que Sarney sempre teve no submundo".
Na tentativa de voltar ao cenário político, Paulo Marinho ingressou, em Caxias, com uma Ação Declaratória de Ineficácia de Relação Jurídica Processual, com pedido de antecipação de tutela. Ao apreciar a ação, o juiz da Comarca de Caxias, Sidarta Maranhão, negou provimento ao pedido.
Paulo Marinho recorreu ao Tribunal de Justiça do Estado, com um Agravo de Instrumento, distribuído, inicialmente, para o desembargador Jamil Gedeon Neto, que se deu por suspeito, alegando razão de foro íntimo. O recurso teria de ser apreciado, então, por Stélio Muniz, mas este encontrava-se viajando.Conforme o JP informou na edição de ontem, o senador José Sarney entrou no circuito, tendo uma conversa com a desembargadora Nelma Sarney, que chamou o processo para si, concedendo então a liminar que restitui, por enquanto, os direitos políticos do ex-deputado e ex-prefeito de Caxias.
Para Aderson Lago, uma decisão como essa é um contra-senso. "Não se pode acreditar que a Justiça faça isso", ressaltou Lago. Paulo Marinho fora condenado à perda do mandato e a ficar seis anos inelegível. A condenação se deveu ao fato de que ele, quando prefeito de Caxias, vendeu ações da Cemar (Companhia Energética do Maranhão). Por isso, foi condenado ainda a devolver R$ 3 milhões, referentes à venda das ações.
Paulo Marinho também quase chegou a ser condenado a quatro anos de cadeia por receptação de uma carreta roubada. Ele foi arrolado em processo, que trata do crime de receptação, cujo inquérito foi realizado pela Polícia Civil no município de Colinas. De acordo com a polícia, Paulo Marinho foi indiciado por mandar esconder e atear fogo à carreta roubada. Com a conclusão das investigações, o juiz de Colinas, tendo em vistas que o então deputado possuía foro privilegiado, encaminhou o inquérito ao Supremo Tribunal Federal. Depois que o Ministério Público Federal denunciou Paulo Marinho pela receptação da carreta roubada, o relator do processo, Carlos Britto, submeteu o caso ao plenário do Supremo que, por unanimidade, decidiu acatar a denúncia por receptação e falso testemunho.
Paulo Marinho já foi condenado também por ato de improbidade administrativa, com suspensão dos direitos políticos por seis anos. Em 1999, ele foi condenado pela 1ª Vara da Fazenda de Caxias, acusado de venda ilegal de ações da Cemar. O deputado recorreu a todas as instâncias até a decisão final tomada pelo ministro Eros Grau, que confirmou a sentença condenatória.

Salvem o Tribunal de Justiça

Por: Jornal Pequeno (MA)

Nós cantamos a pedra. A liminar foi dada. A desembargadora Nelma Sarney quer Paulo Marinho de volta à cena política brasileira. Ele e toda a sua coletânea de atos de corrupção, pendurado que está num varal de improbidades administrativas, metido como sempre esteve num rolo quilométrico de processos e acusações na Justiça.
Como dissemos, há dias eles vêm tramando, nos subterrâneos do Judiciário, aqui e em Brasília, com o objetivo de restituir os direitos políticos do senhor Paulo Marinho, cassado pela Justiça, caçado pela polícia, tamanhas são as operações fraudulentas em que se envolveu; tantos são os golpes por ele aplicados na praça.
A Justiça, assim, na pessoa de Nelma Sarney, descredencia-se como Justiça, apequena-se, iguala-se aos mesmos níveis da politicalha rasteira, da bandalha que se alimenta dos cofres públicos e de indicações subreptícias para cargos leiloados nos cotovelos dos governos.
Um corrupto contumaz há de permanecer na vida pública porque a justiça maranhense, a justiça de Nelma Sarney, assim o quer e ordena.Não há mais, ao que parece, a mínima fixação nos princípios que devem nortear o Poder Judiciário. Porque é ao Judiciário que cabe, em parte, nos livrar de assaltantes. O ato da desembargadora Sarney equivale a esvaziar cadeias públicas, a conceder hábeas corpus a um grupo inteiro de mafiosos da cosa nostra.
É preciso que essa gente saiba que o mundo inteiro não está dormindo. A Justiça não pode ser manipulada, manietada, render-se aos escarros políticos de grupos com influência nos alicerces e no topo da pirâmide social.
É o ato que ninguém esperava. É o cúmulo de toda sandice da história da magistratura maranhense. E tudo porque Sarney precisa de mais um aliado, não importando que isso signifique ridicularizar até a memória póstuma do Tribunal de Justiça do Maranhão.
Os demais senhores desembargadores precisam fazer alguma coisa. Estão em jogo alianças suspeitas, favores de lei, maquinações viciadas. E isso é público. Como pública e notória é a imagem do senhor Paulo Marinho. Em defesa de tal personagem, não vale a pena expor este Tribunal às correições merecidas do Conselho Nacional de Justiça.
É um escândalo cuja circulação no pátio do Congresso, nos corredores do STJ, nas ante-salas do Supremo Tribunal Federal (STF) pode arrastar o Tribunal de Justiça do Maranhão ao estágio da pilhéria. Está além da compreensão de qualquer brasileiro inteligente que o senhor Paulo Marinho volte a ser um parlamentar. Imaginar que ele volte a representar o povo maranhense - e ainda mais por decisão da Justiça! - é demais para o fígado de qualquer cristão.
A decisão pode ser revista, através do julgamento do seu mérito. Mas aí, certamente, entrará em cena, em Brasília, outro "magistrado" da "estirpe" de Nelma Sarney, um "ministro amigo" de nível federal, para engavetar o processo até que os objetivos do "Esquema Sarney" sejam alcançados.
O Maranhão corre perigo. O perigo de ver Paulo Marinho outra vez apoiado nas traves do Poder. O perigo de ter seu Tribunal de Justiça circunscrito às histórias pensas de submissão e venalidade.
Senhores desembargadores, se assim o puderem, salvem o Tribunal de Justiça do Maranhão dessa vergonha!

O que sabe o nosso Lula?

Por: Narciso Mendes (O Rio Branco)

Quem exerce as elevadíssimas funções de presidente da República torna-se diretamente responsável por todos os crimes acontecidos no âmbito do seu governo, mormente aqueles praticados por seus ministros, seus mais destacados e visíveis assessores. O "não sabia de nada", a justificativa que vem sendo sistematicamente apresentada pelo presidente Lula a cada vez que seus ministros são alcançados com a mão no alheio, ou melhor, roubando o erário, em nada diminui sua responsabilidade criminosa. Dizer-se omisso não diminui a responsabilidade do gestor público. A omissão configura o chamado crime de responsabilidade. Quem tem a prerrogativa de nomear e demitir, na hora que lhe convier, não pode alegar que desconhece as gatunagens feitas pelos seus principais assessores.
José Dirceu, aquele a quem chamava de capitão, quer no âmbito do PT quer no âmbito do seu governo, jamais tomaria qualquer decisão sem antes falar com Lula. Senão, por questão de hierarquia, sim, pela mais absoluta intimidade entre ambos. José Dirceu arquitetou e operou o mensalão com prévio e pleno conhecimento do presidente Lula. Esta é a conclusão a que facilmente chegará qualquer ser humano com o mínimo de racionalidade.
José Genoíno, ao meu ver, o que viria logo a seguir na escala de intimidade, jamais teria avalizado os milionários empréstimos do valerioduto sem antes falar com o presidente Lula. Nenhum cidadão minimamente prevenido iria se responsabilizar por tão vultosos empréstimos sem determinadas garantias. Isto sem se levar em consideração a natureza das operações bancárias, flagrantemente ilegais e imorais. Qual o banco que emprestaria mais de R$ 50 milhões a um cliente que não tinha garantia para financiar um carrinho de pipocas? O avalista dos empréstimos que financiou o mensalão era o próprio presidente Lula.
Delúbio Soares, aquele que tem cara de ladrão, conversa de ladrão e que quando instado a prestar depoimentos às CPIs, ao Ministério Público e à Polícia Federal se comporta como ladrão, era exatamente o tesoureiro nacional do PT e foi tesoureiro da campanha vitoriosa do presidente Lula, porém, pasmem, a esquizofrenia do nosso presidente não lhe permitiu saber de nada. Pode um partido ser minimamente ético se seu tesoureiro nacional é atualmente o símbolo máximo da roubalheira nacional?
Sílvio Pereira, aquele que recebeu um Land Hover de propina por haver intermediado uma negociata junto à Petrobrás, favorecendo uma de suas empreiteiras, era exatamente o secretário nacional do PT e no governo Lula era quem escalava os elementos de sua base aliada para ocupar os mais destacados cargos da República. Novamente o presidente Lula de nada sabia.
O filho do presidente Lula - o Lulinha - recebeu um aporte de recursos para sua microempresa, de exatos R$ 15.000.000,00 oriundos de uma empresa que é concessionária de serviços públicos no governo federal, enquanto isto o nosso presidente sequer se preocupou em procurar saber de onde veio tanta dinheirama. Dá pena e dó e traz muitas preocupações quando um país com as dimensões do Brasil é governado por alguém com tão pouco ou nenhum sentimento de autocrítica.
Vavá, o irmão mais velho do presidente Lula, montou um escritório de lobby para agenciar interesses de diversas prefeituras junto à máquina pública federal e o nosso presidente nunca procurou saber de nada. Afinal de contas, de que sabe o nosso presidente?
Enquanto o presidente Lula insiste em não saber de nada, mormente daquilo que deveria saber, o povo brasileiro vai se inteirando da triste realidade que estamos vivendo. A coisa chegou a um nível tal que o presidente Lula faz campanha pela sua reeleição todo dia e o dia todo e sequer ainda sabe que é candidato. Lula chama o PMDB e oferece a vaga de vice em sua chapa e ainda diz que não sabe se é candidato. Lula faz mais de um comício por dia usando a linguagem de candidato e na maior cara-de-pau ainda diz que não sabe que é candidato.
Recentemente o seu velho companheiro e amigo Bruno Maranhão desmoralizou o Congresso Nacional e o presidente Lula disse que de nada sabia. Enquanto isso, este sujeito é fundador do PT, membro de sua executiva nacional e era o chefe de mobilização dos movimentos sociais em favor da campanha de reeleição do presidente Lula. Chega de hipocrisia!
Eu, particularmente, sem medo de errar, acredito que o presidente Lula está por trás e no comando de todas essas operações. Mais a mais, que ele é o comandante em chefe de tudo que acontece no seu partido e no seu governo. Quanto a sua reeleição, se ela vier, é outra história. Só espero que a campanha eleitoral que se aproxima faça com que o povo brasileiro acabe sabendo aquilo que o presidente Lula, em sabendo, sempre fingiu não saber.

Apocalipse já

Por: Revista Veja

Já começou a catástrofe causada peloaquecimento global, que se esperavapara daqui a trinta ou quarenta anos.A ciência não sabe como reverter seusefeitos. A saída para a geração quequase destruiu a espaçonave Terraé adaptar-se a furacões, secas,inundações e incêndios florestais


URSOS CANIBAISO aquecimento global fez diminuir em 20% a calota polar ártica nas últimas três décadas, reduzindo o território de caça dos ursos-polares. Muitos deles ficaram sem alimento. A mudança radical de seu habitat provocada pelo homem está custando caro aos ursos. Recentemente, no Mar de Beaufort, no Alasca, pesquisadores americanos que há 24 anos estudam a região identificaram um caso inédito de canibalismo na espécie: duas fêmeas, um macho jovem e um filhote foram atacados e comidos por um grupo de machos. Estimativas apontam que os ursos-polares podem desaparecer em vinte anos.
NESTA REPORTAGEM
Quadro: O efeito do calor
Quadro: O calor produz mais calor
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Outras imagens
A história do relacionamento entre o homem e a natureza é marcada pelo livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), de 1962. Nessa obra seminal, a bióloga americana Rachel Carson alertou pela primeira vez para os perigos do uso indiscriminado de pesticidas, até então encarados pela maioria das pessoas como uma bênção da ciência para solucionar o problema da fome. A descrição dramática feita por ela das primaveras "sem cantos de pássaros" sacudiu a consciência das pessoas em escala mundial e serviu de ponto de partida para o moderno movimento ambientalista. A nova consciência ecológica abriu caminho para leis de controle dos pesticidas e para acordos internacionais sobre o meio ambiente, como o que baniu a produção de químicos responsáveis pela destruição da camada de ozônio. Quase cinqüenta anos depois, o entendimento sobre o fato de que "somos parte do equilíbrio natural" – como definiu a bióloga – pode nos ser útil diante de uma catástrofe global iminente provocada pelo aquecimento global. Como uma praga apocalíptica, as mudanças climáticas já semeiam furacões, incêndios florestais, enchentes e secas com tal intensidade que ninguém mais pode se considerar a salvo de ser diretamente atingido por suas conseqüências.

Bobby Haas/National Geographic
SOLO QUE ARDE Nas últimas três décadas, o total de terras atingidas por secas severas dobrou em decorrência do aquecimento global. Na China, segundo o mais recente estudo da ONU, todos os anos 10 000 quilômetros quadrados em média – o equivalente a metade do estado de Sergipe – se transformam em deserto. Na Etiópia (foto), secas anuais condenam 6 milhões de pessoas à fome. Na Turquia, 160 000 quilômetros quadrados de terras cultiváveis sofrem com a desertificação gradativa e a conseqüente erosão do solo.
O primeiro estudo rigoroso sobre o aquecimento global foi realizado por cientistas da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, em 1979. De lá para cá, ambientalistas e governos debateram, quase sempre aos berros, questões que lhes pareciam básicas. Primeiro, o grau de responsabilidade da ação humana. Segundo, se os efeitos das mudanças no clima da Terra são iminentes. A terceira questão é o que pode ser feito para impedir que o problema se agrave. O debate, nos termos descritos acima, está morto e enterrado. As pesquisas convergiram, além do benefício da dúvida, para a constatação de que nenhuma influência da natureza poderia explicar aumento tão repentino da temperatura planetária. Até os mais céticos comungam agora da idéia apavorante de que a crise ambiental é real e seus efeitos, imediatos. O que divide os especialistas não é mais se o aquecimento global se abaterá sobre a natureza daqui a vinte ou trinta anos, mas como se pode escapar da armadilha que criamos para nós mesmos nesta esfera azul, pálida e frágil, que ocupa a terceira órbita em torno do Sol – a única, em todo o sistema, que fornece luz e calor nas proporções corretas para a manutenção da vida baseada no carbono, ou seja, nós, os bichos e as plantas.

Daniel Betra/Greenpeace/Reuters
A BAIXA DO RIO No Oceano Atlântico, a temperatura da água está meio grau mais alta do que há vinte anos. Esse calor a mais altera o padrão de circulação dos ventos, provocando deslocamento de massas de ar seco para a região amazônica. A mudança impede a formação de nuvens, causando a escassez de chuvas. Em 2005, o fenômeno provocou a maior seca dos últimos quarenta anos na Amazônia. O Rio Amazonas baixou 2 metros (foto). Mais de 35 municípios do Amazonas e do Acre ficaram isolados, sem comida, água, luz ou transporte. A grande seca pode se repetir a qualquer momento.

A VIDA EM UMA TERRA MAIS QUENTE
O que fazer para sair dessa crise é bem mais controverso, apesar de ninguém ignorar que, para evitar que a situação piore, é preciso parar de bombear na atmosfera dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Esses gases resultantes da atividade humana formam uma espécie de cobertor em torno do planeta, impedindo que a radiação solar, refletida pela superfície em forma de calor, retorne ao espaço. É o chamado efeito estufa, e a ele se atribui a responsabilidade pelo aumento da temperatura global. Há um acordo internacional que estabelece metas de redução, o Tratado de Kioto, assinado por 163 países e rejeitado pelos Estados Unidos, precisamente o país que emite 25% de todo o gás carbônico. É mais uma razão para não esperar grande coisa de documento. "Kioto tem um grande significado simbólico, mas suas metas são muito modestas", pondera o americano Jonathan Overpeck, da Universidade do Arizona. No protocolo, que entrou em vigor no ano passado, os países se comprometeram a reduzir em 5% as emissões de CO2 em relação aos níveis de 1990. "Mesmo que todos os países interrompessem imediatamente a liberação de gases do efeito estufa", disse a VEJA o americano John Reilly, diretor do programa de mudanças climáticas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), "a atmosfera já está de tal forma impregnada que a temperatura média do globo ainda subiria por mais 1 000 anos e o nível do mar continuaria a se elevar por mais 2.000."
Na realidade, as emissões de gases estão subindo e as previsões são de mais calor. Como o aquecimento global já é inevitável, cientistas e ambientalistas têm colocado uma nova questão na linha de frente da batalha das mudanças climáticas: como se preparar e se adaptar à vida em um planeta bem mais quente. O tema central desta reportagem não é a previsão de mau tempo no futuro, ainda que este seja um de seus destaques. O que se lerá aqui diz respeito, sobretudo, ao impacto do aquecimento global que já se faz sentir no mundo atual e como teremos de aprender a viver com isso. A primeira coisa que precisa ser aprendida é como conviver com a fúria da natureza injuriada. De acordo com um levantamento da Organização das Nações Unidas, em 2005 ocorreram 360 desastres naturais, dos quais 259 diretamente relacionados ao aquecimento global. O aumento foi de 20% em relação ao ano anterior. No início do século XIX, de acordo com alguns historiadores, dificilmente havia mais de meia dúzia de eventos de grandes dimensões em um ano. No total, foram 168 inundações, 69 tornados e furacões e 22 secas que transformaram a vida de 154 milhões de pessoas.

Fotos Image.net
O SUMIÇO DO GELO O norte dos Andes é a região de maior concentração de glaciares nos trópicos. Só no Peru existem 3 044 deles. Até a década de 80, essas geleiras incrustadas no interior das cordilheiras, remanescentes da era glacial, permaneciam praticamente inalteradas. Um estudo recente da ONU concluiu que houve uma drástica redução das áreas dos glaciares peruanos nos últimos quinze anos por causa das mudanças climáticas. Nas fotos, tiradas no mesmo mês de anos diferentes, a redução de um glaciar da Cordilheira Branca.

AS SEIS PRAGAS DO AQUECIMENTO
Seis mudanças de grandes proporções causadas pelo aquecimento global estão relacionadas a seguir. Todas estão ocorrendo agora, afetam não apenas o clima mas perturbam a vida das pessoas e têm como única previsão futura o agravamento da situação. É assustador observar que eventos assim, de dimensões ciclônicas, sejam o resultado do aumento de apenas 1 grau na temperatura média da Terra, uma fração do calor previsto para as próximas décadas.
• O Ártico está derretendo – A cobertura de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de 8% ao ano há três décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979, uma redução de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos territórios da França, da Alemanha e do Reino Unido.
• Os furacões estão mais fortes – Devido ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das categorias 4 e 5 – os mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans, é uma amostra dessa nova realidade.
• O Brasil na rota dos ciclones – Até então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do Brasil foi varrido por um forte ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras tempestades similares, ainda que de menor intensidade, mostra que o problema veio para ficar.
• O nível do mar subiu – A elevação desde o início do século passado está entre 8 e 20 centímetros. Em certas áreas litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço de 100 metros na maré alta. Um estudo da ONU estima que o nível das águas subirá 1 metro até o fim deste século. Cidades à beira-mar, como o Recife, precisarão ser protegidas por diques.
• Os desertos avançam – O total de áreas atingidas por secas dobrou em trinta anos. Uma quarto da superfície do planeta é agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000 quilômetros quadrados por ano, o equivalente ao território do Líbano.
• Já se contam os mortos – A Organização das Nações Unidas estima que 150.000 pessoas morrem anualmente por causa de secas, inundações e outros fatores relacionados diretamente ao aquecimento global. Em 2030, o número dobrará.

Fotos National Snow And Ice Data Center (NSIDC)
DESASTRE NO ALASCANo Alasca, onde as temperaturas médias do inverno aumentaram 4 graus nos últimos cinqüenta anos, a paisagem se modificou por completo. A camada de gelo que cobre o mar desapareceu em algumas regiões (nas fotos, o glaciar Muir com a diferença de 63 anos). No passado, 10 milhões de quilômetros quadrados do Oceano Ártico permaneciam congelados durante o verão. Hoje, segundo estudos do Arctic Climate Impact Assessment, a área congelada é pelo menos 30% menor.

HOJE

O PLANETA É GIGANTE, O EQUILÍBRIO É FRÁGIL
Em escala geológica, a temperatura da Terra sempre funcionou como um relógio pontual. A cada 100.000 anos, mudanças sutis na órbita do planeta e na sua inclinação em relação ao Sol provocam uma queda na temperatura e fazem com que as massas de gelo dos pólos aumentem de tamanho e se aproximem da linha do Equador. São as glaciações. A última terminou há 10.000 anos. Foi nessa pequena janela geológica entre o fim da última era glacial e hoje, marcada por temperaturas amenas, que a humanidade desenvolveu a agricultura, construiu as cidades e viajou à Lua. Nos últimos 120 anos, com o relógio fora de ordem devido à atividade humana, a temperatura média do planeta aumentou 1 grau. Pode parecer pouco, mas mudanças climáticas dessa magnitude têm conseqüências drásticas. Há 12.000 anos, quando a temperatura média era apenas 3 graus mais baixa que a atual, uma camada de gelo cobria a Europa até a França. Uma vez alterado, o mecanismo natural do clima, dizem os cientistas, não é fácil de ser reajustado. "Ao quebrar o equilíbrio climático, a humanidade mexeu com processos que não conhece por completo e que estão fora do alcance e da capacidade da mais avançada tecnologia", analisa o geofísico Paulo Eduardo Artaxo, da Universidade de São Paulo.
Os gases responsáveis pelo aquecimento excessivo são produzidos pelos combustíveis fósseis usados nos carros, nas indústrias e nas termelétricas e pelas queimadas nas florestas. Processos naturais, como a decomposição da matéria orgânica e as erupções vulcânicas, produzem dez vezes mais gases que o homem. Por eras, garantiram sozinhos a manutenção do efeito estufa, sem o qual a vida não seria possível na Terra. Para se manter em equilíbrio climático, o planeta precisa receber a mesma quantidade de energia que envia de volta para o espaço. Se ocorrer desequilíbrio por algum motivo, o globo esquenta ou esfria até a temperatura atingir, mais uma vez, a medida exata para a troca correta de calor. O equilíbrio natural foi rompido pela revolução industrial. Desde o século XIX, as concentrações de dióxido de carbono no ar aumentaram 30%, as de metano dobraram e as de óxido nitroso subiram 15%. A última vez em que os níveis de gases do efeito estufa estiveram tão altos quanto agora foi há 3,5 milhões de anos. O ano passado foi o mais quente desde que as temperaturas começaram a ser registradas, em 1866. Pelo que se sabe, o planeta está mais quente do que já foi em qualquer momento dos últimos dois milênios. Se mantiver o ritmo atual, no fim do século a temperatura média será a mais elevada dos últimos 2 milhões de anos.

EFEITO IRREVERSÍVEL?
Sabe-se que o próximo relatório do Painel Internacional de Mudança Climática (IPCC,) das Nações Unidas, a mais respeitada autoridade em aquecimento global, a ser divulgado em 2007, depois de revisto pelos cientistas e pelos órgãos governamentais, deve estimar um aumento na temperatura média do planeta entre 2 e 4,5 graus até 2050. "Dois graus é uma barreira psicológica para os cientistas", diz Marc Lucotte, diretor do Instituto de Ciências do Ambiente da Universidade de Quebec, no Canadá. Acima desse patamar, a probabilidade de ocorrerem tragédias muito maiores que as observadas em anos recentes, como inundações, secas, ondas de calor, furacões e epidemias, aumenta muito. "Aí será tarde demais para tentar uma volta atrás", afirma o ambientalista Carlos Rittl, coordenador da campanha de clima do Greenpeace no Brasil. Na pior das hipóteses, um aumento de 4 graus iria igualar as temperaturas do Ártico aos patamares registrados há 130.000 anos, segundo um estudo feito com base em análises geológicas por cientistas da Universidade do Arizona e do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos. Nesse passado distante, o nível dos oceanos era 6 metros mais alto e a camada de gelo do Ártico praticamente havia desaparecido. "Isso não significa que o nível do oceano subirá imediatamente a 6 metros quando o termômetro registrar um aumento de 4 graus na temperatura", disse a VEJA Jonathan Overpeck, um dos coordenadores do estudo. "Mas a partir de então o processo de derretimento dos glaciares será rápido e irreversível."
Irreversível? Muitos cientistas começam a acreditar que as mudanças climáticas chegaram a um ponto de não-retorno. Esse fenômeno leva agora o nome de tipping point, termo em inglês popularizado como título de livro por Malcolm Gladwell, escritor badalado de Nova York. Em ciência, significa o momento em que a dinâmica interna passa a encarregar-se de uma mudança iniciada previamente por forças externas. Em vários aspectos já cruzamos o limite sem volta. A limpeza da atmosfera é tarefa para gerações. O degelo nas regiões polares está além do tipping point. Obviamente, como conseqüência do volume de água do degelo, os oceanos continuarão a subir. O aquecimento dos mares alimentará novos furacões, aumentando a capacidade destrutiva desses fenômenos meteorológicos. "A violência desses desastres naturais só pode ser atenuada se houver uma redução na temperatura da água, o que parece improvável", afirma o biólogo americano Thomas Lovejoy, presidente do Centro Heinz para a Ciência, em Washington. Recentemente, Lovejoy constatou um novo efeito desastroso do excesso de gás carbônico: os mares estão ficando mais ácidos. As alterações no PH marítimo levam à redução do número de moluscos e plânctons, que estão na base da alimentação dos ecossistemas marítimos, e ameaçam aniquilar os recifes de corais. Obviamente, não há muito que se possa fazer para salvar a vida marinha.

Tom Ondway/AP
AGONIA SUBMARINA O excesso de gás carbônico na atmosfera está tornando os oceanos mais ácidos. Isso enfraquece os corais, viveiros do mar, e os plânctons, base da cadeia alimentar subaquática.

UM PACTO GLOBAL PELA SALVAÇÃO
O derretimento dos glaciares, concordam os especialistas, já atingiu dinâmica própria, impossível de ser freada. O impacto do aquecimento global pode ser percebido em toda parte, mas não há nada mais explícito que a redução das geleiras e do Ártico. Praticamente todos os glaciares da Terra estão encolhendo. Dos 150 que existiam no Glacier National Park, nos Estados Unidos, em 1880, restam cinqüenta, e a estimativa é que o último desaparecerá até 2030. O mesmo se vê nos Andes, na Patagônia e nos Alpes. Blocos de gelo do tamanho de pequenos países têm se desprendido da Antártica e boiado no Atlântico Sul até se dissolver no mar. Nos últimos cinqüenta anos, o volume de gelo no Ártico caiu quase à metade e, nessa velocidade, terá desaparecido totalmente no verão de 2080. Segundo um estudo do meteorologista americano Eric Rignot, da Nasa, o ritmo do derretimento da cobertura de gelo da Groenlândia dobrou nos últimos dez anos. Segundo o IPCC, o nível dos mares subiu entre 10 e 20 centímetros no último século. O aumento decorre da combinação do aquecimento das águas – e sua conseqüente expansão – com o derretimento do gelo nos pólos e nas montanhas. A estimativa é que suba mais 1 metro até o fim do século. Caso a camada de gelo da Groenlândia, que chega a 3,2 quilômetros de espessura em alguns pontos, derreta por completo, o nível do mar atingirá 7 metros. Cidades como Recife e Parati precisariam de diques de 8 metros de altura para sobreviver.
O cenário é adverso, mas não justifica a inércia. Os recursos para reduzir os efeitos colaterais do aquecimento são conhecidos. Basicamente, é necessário encontrar um uso mais eficiente de energia e diminuir a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Cerca de 75% desses gases vêm do combustível fóssil utilizado na produção de energia, nas indústrias e nos automóveis. Outros 25% são provenientes das queimadas – talvez o item mais fácil de consertar. Há preocupação real entre os governos. Vários países estão reconsiderando a energia nuclear, que hoje provê 16% do total. Só a China quer construir 32 usinas até 2020. Os Estados Unidos estão interessados em produzir combustível para carros usando milho, da mesma maneira que o Brasil faz com a cana. Mas nenhum país vai muito longe porque as alternativas custam caro e os riscos para a economia são altos. Campanhas de ONGs e ambientalistas propõem que cada pessoa faça sua parte, como deixar o carro na garagem alguns dias por semana. São atitudes louváveis, mas de pouco efeito prático. "São necessárias grandes estratégias e investimentos pesados para transformar o modo como o mundo viveu nos últimos vinte anos", define o americano John Reilly, do MIT. Por isso, frear o ritmo do aquecimento global exige o envolvimento de governos. Não é o caso de pôr todos eles a negociar, como ocorreu em Kioto, e convencê-los de que é hora de ajudar o planeta. Haveria tantos interesses divergentes que um consenso seria praticamente impossível. "Na realidade, para resolver o problema do efeito estufa bastaria um acordo entre as dez ou vinte maiores economias", diz David Keith, presidente do Conselho de Energia e Meio Ambiente do Canadá. Trata-se dos maiores poluidores e também são países que têm tecnologia e dinheiro para mudar o padrão energético.

OS MAUS TRIPULANTES
Os seres humanos se adaptaram aos novos ambientes – essa é a chave do sucesso evolutivo da espécie. Mas um mundo mais quente pode ser cheio de surpresas – a maioria delas desagradável. Há quatro anos, os canadenses precisaram se acostumar com a visão de urubus no verão, um fenômeno inédito. Esses pássaros preferem as regiões mais quentes e nunca eram vistos em latitudes tão altas. No Brasil, uma elevação de apenas 1 grau reduziria a área propícia para o cultivo do café em 32%. Se o aumento do calor for de 3 graus, a redução será de 58%. "Em dias com mais de 34 graus, as flores do café abortam os grãos e a produtividade cai drasticamente", diz Hilton Silveira Pinto, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Eu não ficaria surpreso se tivéssemos de importar café da Argentina." Com um aumento de 3 graus, haverá uma redução de 20% na produção de arroz; na de feijão, de 11%; e na de milho, de 7%. A temperatura mais alta pode tornar o Sul e o Sudeste atrativos para mosquitos que transmitem doenças hoje típicas da Amazônia e do Centro-Oeste. Centros de saúde terão de se preparar para atender casos de malária e de dengue. Em vinte anos, o mar estará 8 centímetros mais alto na costa brasileira. Essa pequena diferença poderá fazer com que, quando a maré estiver alta, as ondas invadam o litoral. "Será preciso construir diques em Parati e no Recife", afirma Afrânio Mesquita, oceanógrafo da Universidade de São Paulo. "Teremos de aprender com a Holanda, que tem vastas áreas abaixo do nível do mar." Adaptar-se ao clima mais quente parece ser viável para a humanidade. Se é o que nos resta fazer, teremos de fazê-lo. Isso não nos livrará, porém, da condenação das gerações futuras. Seremos sempre estigmatizados como os tripulantes que por pouco não destruíram o único, pálido, frágil e azul oásis de vida na imensidão do universo.

OS VERDES CHEGAM A WALL STREET
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O GURU DA TURMAGore: palestras para convencer empresários de que investir em energia limpa é bom negócio
Há décadas os ambientalistas alertam para os riscos da escalada do aquecimento global, mas seus argumentos raramente foram ouvidos. Pudera. As soluções apresentadas para acabar com o efeito estufa passavam por fechar indústrias, prejudicar economias e sacrificar parte do bem-estar conquistado pela humanidade ao longo do século XX. Agora que as conseqüências do aquecimento se abatem sobre várias regiões do globo e os governos se mobilizam em torno da questão por meio do Tratado de Kioto, o ambientalismo começa a conquistar seus mais céticos opositores: os grandes empresários e investidores. Parte deles acredita que a produção de energia limpa pode se transformar num excelente negócio, sem que para isso seja preciso abrir mão das premissas sagradas do capitalismo. Esses empresários avaliam que, como diz John Doerr, um dos grandes investidores do Vale do Silício, "a revolução verde pode se tornar a grande oportunidade empresarial do século XXI".
À frente desse movimento, que vem sendo chamado de nova revolução verde, está o ex-vice-presidente americano Al Gore. Afastado dos cargos públicos desde que perdeu a disputa pela Casa Branca para George W. Bush, em 2000, Gore se transformou num pregador incansável em favor da salvação do planeta por meio de investimentos em novas tecnologias e modelos de negócios. Nos últimos anos, ele já fez mais de 1 000 palestras em empresas e universidades, discursando sobre as conseqüências das mudanças climáticas e o que pode ser feito para combatê-las. Há três semanas, estreou nos cinemas americanos o documentário Aquecimento Global, uma Verdade Inconveniente, que tem Gore como protagonista e é amplamente baseado em suas palestras. A fita tem ajudado a imprimir a Gore uma certa aura de astro e guru. Ao comparecer à apresentação do filme em Cannes, no mês passado, ele atraiu mais atenção do que celebridades como Penélope Cruz e Tom Hanks.
Para provar que investir no verde pode ser um bom negócio, há dois anos Gore abriu com outros sócios a empresa Generation Investment Management, um fundo que administra 200 milhões de dólares aplicados em produção de energia sustentável. Também em sociedade com investidores, comprou por 70 milhões de dólares um canal de TV a cabo destinado a divulgar causas ecológicas. Negócios como esses seriam impensáveis até poucos anos atrás, quando a imagem que Wall Street tinha dos ambientalistas era a de um bando de chatos usando sandálias e rabo-de-cavalo.
Okky de Souza

Brasileira acusada de dirigir rede de prostitutas é presa nos EUA

Por: Agência Estado

A polícia norte-americana anunciou a prisão da capixaba Andréa Schwartz, de 31 anos, acusada de venda de drogas lavagem de dinheiro e de comandar uma rede de prostituição de luxo em Nova York. Na cadeia de Rikers Island, ela aguarda a audiência na Suprema Corte, na quarta-feira. Foram presas ainda as brasileiras Marta Nogrega, de 37, e Cláudia de Castro, de 27, acusadas de trabalhar para Andréia. Casada com um financista americano, ela disse a policiais disfarçados, antes do flagrante que lucrou US$ 1,5 milhão desde 2001 Segundo a polícia, Andrea Schwartz agenciava garotas de programa a maioria brasileiras. Os investigadores da polícia de Nova York apuraram que Andrea estaria negociando, com o apoio de investidores italianos, a compra de um andar inteiro do Plaza, um dos hotéis mais famosos de Nova York, em fase de transformação em condomínio. Por causa das acusações, todos os seus bens foram congelados Vivendo, há seis anos, nos EUA, Andrea comprou um apartamento em NY e se casou com um cidadão americano, o que lhe dá direito ao green card, o documento de residência permanente. Mas o marido foi transferido para Hong Kong, há um ano, e ela continuou no país. O flagrante foi realizado por policiais à paisana que se apresentaram como clientes. Andrea Schwartz pode ser condenada a até 25 anos de prisão. Para seu advogado, Andrew Hoffman, ela é inocente e vítima de preconceito. Ele garante ter provas de que os policiais estão mentindo e que isso já ocorreu outras vezes.

Brecha pode deixar impune quem violar a Lei Eleitoral

Por: ANA PAULA BONIda Folha de S.Paulo
A minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso em abril passado não prevê punição para candidatos e partidos que violarem algumas das regras que vão vigorar a partir das próximas eleições. Não há, por exemplo, penas previstas para quem desrespeitar a proibição da distribuição de brindes e da realização de showmícios durante a campanha eleitoral.Inicialmente desinformado sobre o assunto, o próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reconhece que a lei é falha. Questionamento feito pela Folha na última quarta-feira causou surpresa a ministros do tribunal, que ainda não sabem o que fazer, a menos de 20 dias do início oficial da campanha eleitoral -que vai de 6 de julho a 30 de setembro.A proibição de brindes e de showmícios foi aprovada pelo Congresso com o intuito declarado de reduzir os custos das campanhas. Sem uma punição específica, a regra pode ficar inócua, a menos que o tribunal emita uma instrução que contorne o problema.Uma das instruções do TSE que tratam da minirreforma -a que versa sobre propaganda eleitoral- teve seu julgamento adiado, na noite de quarta, após o ministro Cesar Asfor Rocha informar os colegas sobre a brecha na lei. A instrução deverá ser apreciada na próxima sessão do tribunal, na terça.A minirreforma veio para complementar e aprimorar a chamada Lei Eleitoral, de 1997. A Folha apurou que, ainda que a nova lei não contemple punição específica para quem distribuir brindes e fizer showmícios durante a campanha, o TSE pode buscar em outro artigo uma penalidade genérica para a propaganda irregular.O ex-presidente do TSE Carlos Velloso exemplifica que uma das alternativas seria o uso do artigo 30-A da nova lei, que diz que qualquer partido poderá representar à Justiça Eleitoral e pedir abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com a lei relativas à arrecadação e gastos de recursos."O artigo pode ser aplicado, já que o gasto [com os brindes] é ilícito porque a lei proíbe a fabricação do material", afirma Velloso. O parágrafo 6º do artigo 39 da nova lei diz que "é vedada a confecção, utilização e distribuição, por candidato ou com a sua autorização", de brindes ou outros bens que possam proporcionar vantagem ao eleitor.No julgamento de terça-feira, o TSE pode determinar que as infrações detalhadas nos parágrafos 6º e 7º do artigo 39 sejam punidas com o disposto no artigo 30-A -atenuando, dessa forma, a omissão da lei.Outras puniçõesAlém desse mecanismo, especialistas apontam outras punições que podem ser aplicadas. O ministro do TSE Gerardo Grossi, relator da minirreforma, aponta para o uso do poder de polícia para prevenir ou remediar a infração. O TSE ou os TREs mandariam, assim, recolher o material distribuído indevidamente."Se não há previsão de sanção, não há sanção. A única coisa que se pode fazer é usar o poder de polícia", afirma Grossi, que foi contra a proibição de distribuição de brindes. Mas ele admite: "Quando não há sanção, é claro que fica muito mais fácil burlar a lei".O ex-ministro do TSE Torquato Jardim aponta para uma punição prevista no Código Eleitoral. "O infrator será advertido a corrigir e não repetir o ato. Se não corrigir e/ou repetir o ato, haverá crime de desobediência." O artigo 347 da lei prevê prisão de três meses a um ano e pagamento de multa.O advogado Roberto Litman lembra que o Ministério Público, como fiscal da lei, vai fazer valer a proibição. "O Ministério Público vai tentar, através de uma ação por improbidade administrativa ou abuso do poder econômico, de alguma maneira punir quem estiver fazendo essa propaganda proibida."

Parada gay bate novo recorde e reúne 2,5 milhões de pessoas em SP

Por: DIÓGENES MUNIZda Folha Online

O público da Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) de São Paulo bateu novo recorde neste sábado. Segundo a PM (Polícia Militar), o evento --em sua décima edição-- reuniu 2,5 milhões de pessoas. Para os organizadores, o número foi ainda maior: 3 milhões.Poucas pessoas ainda se reuniam na região da avenida Paulista (centro de São Paulo), às 20h. Grande parte dos trios elétricos havia ido embora.O evento começou no final da manhã, em frente ao Masp. O prefeito Gilberto Kassab (PFL) acompanhou o lançamento da parada e declarou que "acha difícil" que o evento seja na mesma região, no ano que vem.Kassab deixou a parada por volta das 14h30, quando a drag queen Silvetty Montilla, ícone da cultura GLS paulistana, ainda discursava no trio elétrico que abriu a festa. Devido à ameaça de mudança, Silvetty, trajada com um vestido de arco-íris, puxou gritos de "a Paulista é nossa".O encontro de um novo endereço é defendido não apenas pela Prefeitura de São Paulo mas também pelo Ministério Público Estadual.Neste ano, as cores do arco-íris que identifica o movimento GLBT dividem espaço com verde e amarelo da seleção brasileira.Os participantes da parada também enfrentaram dificuldades para encontrar banheiros químicos e longas filas se formaram nos poucos estabelecimentos comerciais que permaneceram abertos.

Na Justiça, os novos problemas

Por: Carlos Chagas (Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Apesar da Copa do Mundo, acirra-se a luta política. O Superior Tribunal Eleitoral mandou pedir ao presidente Lula informações sobre os gastos do governo com publicidade, considerados abusivos pelas oposições. O prazo de resposta foi de cinco dias e termina segunda-feira. Também corre na Justiça Eleitoral pedido de providências do PSDB a respeito de estar o presidente fazendo campanha com a ajuda da máquina administrativa, coisa que contraria a lei e, na teoria, pode levar à cassação do futuro registro de sua candidatura.
Claro que só por milagre o TSE chegaria a uma decisão dessas, mas a simples existência do processo eleva a temperatura. Dá a medida das batalhas que serão travadas até outubro. Dificilmente o candidato da oposição colherá benefícios imediatos dessa tertúlia judicial, mas a campanha de Lula poderá sofrer percalços. O programa do PFL, quinta-feira, demonstrou como será a propaganda gratuita, nos sessenta dias anteriores à eleição. Vai valer tudo, a começar pela exibição de cenas externas e imagens ligadas à corrupção atribuída ao PT e ao próprio governo. A recíproca será verdadeira. O governo reagirá à altura. O melhor, para a candidatura Lula seria, por enquanto, a Seleção ir vencendo.
Por quem os foguetes explodem
Ontem não foi feriado. Na teoria, dia de trabalho normal. Na prática, uma sexta-feira comprimida entre as celebrações de Corpus Christi e o fim de semana. Em Brasília, um dia sem maiores atividades no Congresso, no Judiciário e até no Executivo, apesar de o presidente Lula não ter descansado.
Pelo menos de manhã e de tarde, porque, de noite, ninguém é de ferro. A festa de São João, na Granja do Torto, reuniu familiares, amigos, alguns ministros e líderes partidários aliados ao governo. Não terá sido uma festa de arromba, mas uma ocasião para se comemorar as pesquisas e a evidência de que o presidente sairá vitorioso na eleição. Na terça-feira a corte já se reuniu para assistir, no Palácio da Alvorada, à primeira partida do Brasil na Copa. Amanhã, com certeza, acontecerá o mesmo.
Para as oposições e seu candidato, Geraldo Alckmin, o prolongado feriado terá servido para uma análise mais profunda do quadro eleitoral. Do jeito que as coisas andam, não vai dar. É preciso mudar, antes mesmo que comece o período de propaganda eleitoral gratuita, em agosto, quando a munição mais pesada começará a explodir. Preencher essa segunda quinzena de junho e todo o mês de julho, porém, representa um problema. O "alto tucanato" e os "cardeais liberais" continuam pensando...
Resistência
Depois de dias de hesitação, o ex-governador de Brasília, Joaquim Roriz, decidiu-se pela candidatura do ex-ministro Maurício Correia ao governo local, pelo PMDB. Roriz é, inequivocamente, a maior liderança política do Distrito Federal, mas foi surpreendido pelo lançamento de seu antigo parceiro do PFL, deputado José Roberto Arruda, que até apresentou uma chapa fechada, com o senador Paulo Octávio de vice. Arruda lidera as pesquisas, mas tem um flanco exposto.
Anos atrás precisou renunciar ao mandato de senador para não ser cassado, junto com Antônio Carlos Magalhães, envolvidos na violação do painel de votações secretas do Senado. Ficou pior porque, de início, Arruda discursou negando tudo. Até chorou, na tribuna. Essas imagens não deixarão de ganhar as telinhas, quando começar a propaganda eleitoral gratuita.
Correia começa do zero. É respeitado como antigo presidente do Supremo Tribunal Federal, ex-ministro da Justiça no governo Itamar Franco, senador e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Não pode ser subestimado, em especial contando com apoio de Roriz, que se candidata ao Senado.
O PT lançou a deputada distrital Arlete Sampaio, e o PC do B o ex-ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz. A campanha promete, na corte, apesar da decisão do presidente Lula de não se intrometer e nem subir nos palanques locais. Afinal, é hóspede da cidade, qualquer que venha a ser seu governador.

Amigos do presidente são criminosos, rebate Jorge

Por: Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - O candidato a vice-presidente na chapa do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), José Jorge (PFL), voltou a atacar ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à reeleição. Jorge havia dito quinta-feira que Lula "não trabalha, viaja e bebe muito."
Em nota, o candidato do PFL a vice-presidente na chapa de Alckmin acrescenta que, além disso, "aqueles que Lula trata como companheiros são qualificados pelo procurador-geral da República (Antonio Fernando de Souza) como uma organização criminosa."
O candidato do PFL a vice-presidente disse que o comportamento dele é "mercurial" e acompanha o movimento solar: "Quando o tempo esquenta, ele abandona o 'Lulinha paz e amor' para encarnar o presidente soberbo." Jorge ironizou também a afirmação de Lula de que quer "é mostrar mais trabalho." Segundo ele, "o presidente gosta mesmo é de voar no Aerolula e discursar sobre as melhores coisas do planeta que aconteceram ou acontecem, todas, em sua gestão."

Tucano sugere que caráter falta a Lula

Por: Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - O pré-candidato a governador do Amazonas Arthur Virgílio (PSDB) devolveu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a acusação que este fez à oposição, de não ter caráter. Em nota de oito tópicos, Virgílio sugere que caráter falta a Lula, o qual, segundo ele, "compactua com o esquema de corrupção que mereceu contundente denúncia por parte do procurador-geral da República (Antonio Fernando de Souza)".
"Caráter falta a quem..." é a frase que abre cada ponto do comunicado de Virgílio, que a complementa com críticas habitualmente feitas pelo partido ao presidente: "...a quem finge desconhecer o mensalão, apesar da denúncia envolver muita gente da mais estreita confiança do presidente da República, no governo e no seu partido"; "a quem proclama que vai mandar apurar tudo, e tudo faz para impedir a apuração"; "a quem, vendo o governo e o partido envolvidos em valerioduto, silvioduto e desvio de dinheiro público, procura justificar-se dizendo que todo mundo faz assim"; "a quem aprova ou finge não saber da quebra ilegal do sigilo bancário de um caseiro (Francenildo dos Santos Costa, o Nildo) pelo simples fato de ter ousado contradizer um ministro de Estado"; "a quem não soube defender os interesses do Brasil agredidos pelo governo boliviano de Morales (Evo Morales, presidente da Bolívia)"; "a quem finge não ter ainda decidido se lançar à reeleição e, numa afronta à moral e à lei, percorre o País, diariamente, em ostensiva campanha eleitoral à custa do dinheiro público", e "a quem não aceita as regras do regime democrático e não reconhece o direito e o dever que a oposição tem de criticar o governo e o presidente da República".

Lula faz proselitismo

Por: Tribuna da Imprensa

OLINDA (PE) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva qualificou ontem de "sem caráter" os políticos que têm feito críticas a ele e ao governo. Quinta-feira, o candidato a vice-presidente na chapa do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), José Jorge (PFL), disse que Lula "é preguiçoso, viaja e bebe muito".
O mesmo partido usou a publicidade gratuita de quinta-feira à noite para insinuar que ele integrava o esquema de corrupção denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como uma "quadrilha que visava manter o PT no poder".
"Todo dia, aparece alguém para me agredir, possivelmente, porque estas pessoas estão pensando assim: 'Poxa vida, nós estamos governando o Brasil desde que Cabral pôs os pés aqui e nós não conseguimos fazer (nada). Por que este metalúrgico está fazendo?'", disse, durante o anúncio de liberação de R$ 74,9 milhões para a erradicação de palafitas e melhorias urbanas de favelas de seis cidades de Pernambuco.
A cerimônia foi realizada num palanque improvisado, às margens do Canal da Malária, em Olinda, onde se levantaram as favelas V8 e V9, um conjunto de estacarias onde famílias inteiras convivem com ratos, fezes e doenças num ambiente fétido.
"Este metalúrgico está fazendo porque tem uma coisa que eles (os políticos que o atacam) não têm", disse, para uma platéia que, vez por outra, gritava "olê, olê, olá, Lula lá" e "está reeleito". "Este metalúrgico tem caráter. Este metalúrgico só é o que é não pela quantidade de diplomas que eu tenho ou pelo apoio da elite política brasileira, mas pelo sentimento e pela alma do povo deste País", afirmou.
Emendou, em seguida, que não perderia tempo com respostas aos detratores. "A eles, que vivem transmitindo ódio todo dia, a eles, que vivem transmitindo inveja e preconceito todo dia, não quero dedicar um minuto, mas, certamente, quero dedicar a vida inteira para ajudar o povo pobre deste País a viver com dignidade e a viver com decência."
Depois, numa resposta direta aos que dizem que ele não trabalha e viaja muito, Lula desafiou-os. "Onde eles estão? Eu estou aqui, no meio de vocês." O presidente disse que a oposição vive torcendo para que ele fique nervoso e entre no jogo rasteiro. Para Lula, sempre que for atacado, a resposta será trabalhar mais e dar carinho para a população. "É a gente mostrar mais amor com o povo deste País." O presidente acrescentou que não fará jogo baixo "porque o povo não merece isso, o povo merece respeito, merece ser tratado com dignidade".
Lula repetiu o que tem dito sempre nos últimos dias, que a administração federal está cada dia melhor. O presidente disse que as manchetes dos jornais lembravam que, pela primeira vez, os recursos destinados aos pobres é maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) chinês. "Pela primeira vez, este povo está comendo, os pobres estão tomando café da manhã, almoçando e jantando. Pela primeira vez, as pessoas estão percebendo que as coisas nos supermercados estão mais baratas, as pessoas estão percebendo que até o material de construção está mais barato."
Logo pela manhã, Lula inaugurou, no Centro do Recife, uma central de teleatendimentos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que empregará cerca de 1.300 funcionários de uma empresa terceirizada. O prédio foi inaugurado antes mesmo das reformas. Só o primeiro andar tinha recebido tintura nova. Os empregados começaram a trabalhar ontem. O posto atenderá, inicialmente, pelo número 135, a chamadas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O presidente estava de cara amarrada. De acordo com assessores do Poder Executivo, ficara irado ao saber do conteúdo da fala de Jorge e da publicidade partidária gratuita do PFL. Nem quis fazer discurso, o que é raro. Quando o governador Mendonça Filho (PFL) encerrou o breve discurso, Lula deu um tapa na perna direita, mostrando toda a impaciência.
Parlamentares aliados do presidente corriam para o defender. O prefeito da capital pernambucana, João Paulo (PT), disse que o candidato do PFL a vice-presidente na chapa de Alckmin tinha sido "garoto de recados do PSDB"; o deputado Fernando Ferro (PT-PE) afirmou que Jorge é um político de segunda categoria, que "só é capaz de organizar festas de São João, assim mesmo, em Brasília", e o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE) afirmou que o PFL e o pefelista estão "nervosos". "Quanto mais eles falam, mais perdem votos. A campanha de Geraldo Alckmin é igual rabo de cavalo, só cresce para baixo", disse.

Informe da Bahia

Por: Correio da Bahia

Lula faz proselitismo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarga amanhã em Salvador, no início da tarde, para, novamente, fazer campanha com programas que foram criados no governo do antecessor e por lideranças do PFL do estado. Em Santo Estevão, o presidente participa da inauguração de cem mil novas ligações do programa Luz para Todos, que nasceu com base no Luz no Campo idealizado por Rodolpho Tourinho (PFL) quando ministro de Minas e Energia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na última visita à Bahia, Lula visitou o Complexo da Ford, em Camaçari - uma conquista do PFL e que o PT foi contrário -, e participou da inauguração da primeira fábrica de pneus da multinacional alemã Continental no país, resultado da política do estado de atrair investimentos externos. Somente este ano, quando está em plena campanha à reeleição, o presidente já esteve na Bahia em quatro oportunidades, mas, em nenhuma delas, explicou porque o seu governo discrimina o estado deixando-o de fora dos principais investimentos na área de infra-estrutura da União.
Reeleição
A Câmara dos Deputados analisa a PEC que determina a simultaneidade das eleições em todos os níveis e proíbe a reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos, bem como de quem os houver sucedido ou substituído nos seis meses anteriores ao processo eleitoral. Também fixa em cinco anos a duração dos mandatos de cargos eletivos nos poderes Executivo e Legislativo, em todos os níveis, com exceção dos senadores, que passaria a ser de dez anos.
Indignação
A população de Salvador já começa a demonstrar sinais de indignação com o prefeito João Henrique Carneiro (PDT). No afã de levantar recursos, o gestor da cidade autorizou a Superintendência de Engenharia de Tráfego (SET) a cobrar R$2 pela permanência dos carros por seis horas na orla marítima da capital. No trecho compreendido entre a Barra e Itapuã, soteropolitanos e turistas terão que se render aos desmandos praticados, agora com respaldo oficial, pelos tão conhecidos guardadores de carros.
Pesar
O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Clóvis Ferraz (PFL), apresentou moção de pesar pela morte de Edvaldo de Oliveira Flores, ex-vice-governador da Bahia, entre 1982 e 1985. Ele disse que o falecimento "traz consternação a toda sociedade baiana", destacando que o político "marcou a sua trajetória política pela probidade e honestidade no trato da coisa pública".
Saneamento
O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), concessionária pública da prefeitura de Juazeiro (BA), iniciou a obra de saneamento do bairro Itaberaba, uma das principais reivindicações da comunidade. O prefeito Misael Aguilar (PFL) visitou canteiro de obras e destacou que este é mais um compromisso constante do seu programa de governo, colocado em prática. O investimento total da obra é de R$2,4 milhões, sendo R$240 mil de contrapartida da prefeitura.
Educação
O prefeito de Itabuna, Fernando Gomes (PFL), comemorou o recorde baiano de investimentos em educação: mais de 31% do Orçamento no setor, enquanto os demais municípios gastam os 25% previstos pela Constituição. Gomes disse que, só com salários dos professores, o município gasta mais de 20% da receita. Desde o início da gestão, o prefeito tem buscado recursos e parcerias em outras esferas para melhorar a educação municipal.
Obstáculos
O vereador Emmerson José (PFL) é autor de requerimento em que solicita da Superintendência de Engenharia de Tráfego de Salvador (SET) o número de quebra-molas espalhados na cidade, de semáforos e de quem faz a aferição dos radares. "O que a SET faz é indecente. Há quebra-molas até em pista de cooper, isto é motivo de piada. Na Avenida Paralela, alguns radares ficam escondidos, o que demonstra o intuito da SET em extorquir os cidadãos", destacou o vereador.

Tucano quer saber quem lidera `quadrilha de 40 ladrões

Por: Correio da Bahia
SÃO PAULO - O candidato à Presidência da República pela coligação PFL/PSDB, o tucano Geraldo Alckmin, cobrou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que esclareça quem é o "chefe da quadrilha de 40 ladrões", na Festa de Peão de Boiadeiro de Americana, interior de SP, na noite de sexta-feira. Alckmin foi aplaudido, apesar de algumas poucas manifestações contrárias. As críticas ao presidente Lula foram contundentes. O tucano o acusou de fazer populismo cambial e fiscal, que gera "emprego na China" e leva a uma grave crise na indústria.
"Sobre caráter, acho difícil que o presidente Lula possa discorrer sobre esse tema", criticou Alckmin. Na sexta-feira, em Pernambuco, Lula dissera que falta caráter aos partidos de oposição. "O procurador geral da República disse que havia nos altos escalões da República uma quadrilha de 40 ladrões. E a população pergunta, quem é o chefe? É isso que ele precisa responder à sociedade brasileira. Enquanto não responde isso, não tem que discutir mais nada", afirmou o tucano.
Em entrevista coletiva, Alckmin disse que, se eleito, pretende mudar a política macroeconômica. "Dos dez milhões de empregos do Lula, parece que grande parte é na China", afirmou, referindo-se à promessa de campanha do presidente. "Teremos uma política fiscal melhor, qualidade do gasto público, política monetária com menos juros e vamos acabar com esse populismo cambial", defendeu.
Segundo Alckmin, a administração de Lula está levando "a uma grave crise na indústria" e "à maior crise na agricultura dos últimos 40 anos".

Lula mente sobre Bolsa-família e Luz para Todos

Por: Correio da Bahia

Uma multidão recebeu ACM e Paulo Souto em Bonito
O senador Antonio Carlos Magalhães disse ontem, no município de Bonito, no interior do estado, que o governo federal mente ao fazer propaganda eleitoreira com o Bolsa família. ACM lembrou que o programa foi criado com base no Fundo Nacional de Combate e Erradicação da Pobreza, criado por ele em 2000 e que serviu como base para a implantação, no governo de Fernando Henrique Cardoso, do Bolsa família, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou no maior cabo eleitoral de sua campanha à reeleição, sobretudo entre a população mais pobre do Nordeste.
"O governo federal mente quando eles dizem aqui que dão bolsa para combater a pobreza. É mentira. O Bolsa-família foi criado por mim em 2000. Agora, eles querem ser os donos do programa. Assim como dizem que o Luz para Todos é deles. Outra mentira. O Luz para Todos foi criado com base no Luz no Campo, que, por sua vez, foi criado pelo hoje senador Rodolpho Tourinho (PFL), quando era ministro de Minas e Energia no governo anterior, e o governador da Bahia era César Borges (PFL), hoje no Senado. O governador Paulo Souto intensificou o programa na Bahia", ressaltou o líder político baiano.
Em Bonito, ACM participou, ao lado do governador Paulo Souto, do aniversário de 17 anos de emancipação do município e da implantação do projeto Flores da Bahia. Também estiveram presentes os senadores Rodolpho Tourinho e César Borges, além de deputados federais e estaduais, secretários estaduais e outras autoridades.
"Se faz política é com trabalho. É o trabalho que nós realizamos. Cuidando de todos os assuntos da agricultura baiana e das indústrias. E Rodolpho Tourinho - guardem esse nome porque esse nome vocês vão repetir nas urnas - tem se destacado no Senado. E o trabalho do governador Paulo Souto nem se fala. Quem tem os melhores não vai querer mudar nunca", salientou o líder político baiano.
ACM começou o discurso que fez em Bonito de forma saudosista. "Recordo nesse instante a figura do meu grande amigo Cleriston Andrade, que insistia comigo, e Bonito ainda não era município, no plantio de café nesta região. Ele e o desembargador Jorge Figueira faziam sempre questão que eu viesse aqui - e eu vim -, quando lançamos um programa de cafeicultura aqui. Tratamos de fazer a estrada que liga Utinga a Bonito e a Morro do Chapéu", destacou.
"É bonito. Bonito que pede ao governador trabalho, escola, esportes. O esporte que tira a juventude das coisas que não devem ser feitas. E a cidade que é bonita não pode deixar de ser o paraíso das flores", acrescentou o senador baiano, elogiando, em seu discurso, o trabalho do secretário estadual da Agricultura, Pedro Barbosa de Deus.

Bahia é campeã nacional em casos de anemia falciforme

Por: Correio da Bahia

Doença genética com prevalência entre afrodescendentes atinge uma em cada 650 crianças nascidas na capital

As hemácias do sangue do portador de doença falciforme têm formato de foice
"Pai, faz essa dor parar". Pais e familiares de pacientes com doenças falciformes têm que aprender a conviver com as crises provocadas pela enfermidade - doença genética, com prevalência na população afro-descendente, caracterizada pela alteração na hemoglobina, pigmento responsável por transportar oxigênio nos glóbulos vermelhos para os tecidos do corpo. Em Salvador, uma em cada 650 crianças nascidas é portadora da anemia falciforme, a mais comum das doenças falciformes, e a Bahia é o estado com maior número de portadores da doença. A dor é conseqüência da falta de oxigênio nos ossos, órgãos e músculos.
Quando o indivíduo é sadio, a hemoglobina F, tipo fetal, com a qual nascemos, vai sendo substituída pela hemoglobina tipo A. No indivíduo com anemia falciforme, os genes possuem uma mutação e não se produz hemoglobina A e sim a S. Com a alteração na informação genética para hemoglobina, o glóbulo vermelho (hemácia) adquire a forma de meia lua ou foice - mais rígido e sem a maleabilidade comum à hemácia saudável. Assim, existe a dificuldade da chegada de oxigênio nos vasos mais finos do corpo, causando a obstrução destes vasos, e comprometendo a circulação sangüínea.
Depois do susto da descoberta - desde 2001, é possível verificar a ocorrência da doença na triagem neonatal, o popular teste do pezinho - é necessário aprender sobre as características desta doença, que não possui cura. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado contribuem para melhorar a qualidade de vida da pessoa com doença falciforme. Foi o que fez Altair Lira, atual coordenador geral da Associação Baiana de Pessoas com Doenças Falciformes (Abadfal). "Do diagnóstico até a primeira crise, aos sete meses de idade de Marília, nossa expectativa é de que não acontecesse nada", recorda Lira, referindo-se à filha de 7 anos.
Com a série de crises - em pouco mais de dois anos foram 12 internamentos -, e os intervalos entre elas, Lira foi aprendendo mais sobre como a doença se manifesta em Marília. "O pneumococo, por exemplo, é 600 vezes mais letal para ela. O primeiro atendimento, em caso de crise, tem que ser feito por pessoal capacitado. Nosso tempo é diferente do tempo dela", contou Lira.
Após o diagnóstico, o tratamento é feito com o uso de penicilina profilática, vacinas usuais e especiais (antipneumocóccica, antivaricela e antimeningocócica) e acompanhamento ambulatorial. Segundo a hematopediatra Silvana Fahel, é grande a variação da doença de indivíduo para indivíduo. Se alguns têm maior tendência às infecções, outros podem sofrer até mesmo um acidente vascular cerebral.
"A família é nossa aliada e é ela que assiste mais de perto e vivencia cada uma das crises. Uma febre, por exemplo, deve ser tratada de forma diferenciada, pois pode desenvolver infecção grave", explica Fahel. É importante que a família informe ao profissional de saúde sobre a condição e medicamentos do paciente, em caso de crises.
Fahel destacou o serviço oferecido pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), e o município, há pouco mais de três meses, disponibilizou para a população duas unidades de atendimento aos portadores de doenças falciformes: na Avenida Carlos Gomes e outra no Vale das Pedrinhas. Outra ação do Programa Municipal de Atenção às Pessoas com Doenças Falciformes, que começou a ser implantado pela prefeitura em março de 2005, é a oferta de medicamentos para controle da enfermidade, como penicilina oral e ácido fólico, que podem ser adquiridos nas duas unidades citadas acima, além de nas unidades de atendimento das Sete Portas e no bairro de Marechal Rondon, assim como na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba).
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SINTOMAS
Os sintomas mais comuns da anemia falciforme são: crise de dor nos pequenos vasos das mãos, ossos, tórax, abdômen, icterícia (cor amarela nos olhos), infecções freqüentes na garganta, pulmões e ossos, úlcera de perna, geralmente próxima aos tornozelos, além de seqüestro do sangue no baço, causando palidez e dor no órgão.
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Apoio psicológico à família
A Abadfal, desde 2001, vem dialogando com o governo estadual para a adoção de um programa baiano para os portadores de doenças falciformes. Atualmente, o atendimento a portadores da doença na rede pública de saúde estadual é feito na Fundação de Hematologia da Bahia (Hemoba). Já a associação oferece apoio psicológico à família de portadores de doenças falciformes e todo segundo sábado do mês realiza uma reunião mensal. A próxima acontece no próximo dia 8, das 9h às 12h, no auditório da Fundação Oswaldo Cruz (rua Waldemar Falcão, 121, Brotas). "Buscamos estimular a família, para que faça o teste, e oferecer solidariedade. A doença sobrecarrega principalmente a mãe. Por vezes, a vida do casal fica abalada e os pais enfrentam um outro conflito: o estigma de que passou a doença para o filho", explicou Lira.
Para identificação do traço falciforme, o teste pode ser feito no Hospital Universitário Professor Edgar Santos (Hupes), no Canela, que oferece ainda aconselhamento genético para os pais que possuem traço. "A decisão é do casal, que vai avaliar os riscos e optar pela preferência conjunta", conta Fahel. Os pais, em geral, são portadores assintomáticos de um único gene afetado, é o chamado traço-falciforme, presente entre 6 e 10% da população baiana, a maior porcentagem nacional. Filhos de casais com traço-falciforme têm 25% de chance de desenvolver doenças falciformes.

Só vencer não basta para a Seleção Brasileira

Por: Agência O Globo

Königstein- Depois de exibição de futebol e força de seleções como a Espanha, Argentina, Equador e Republica Checa na Copa do Mundo da Alemanha, o Brasil volta amanhã a campo com a obrigação de vencer a Austrália e convencer. O time de Carlos Alberto Parreira precisa mostrar o futebol de técnica, arte e gols que o mundo espera que os brasileiros joguem na caminhada rumo a conquista do hexacampeonato mundial. A estréia da Seleção na Copa do Mundo não foi das melhores. Uma vitória suada de 1 a 0 sobre a Croácia, onde sobraram críticas para a maior esperança de gols do time, o atacante Ronaldo. Em má fase, o Fenômeno corre até mesmo o risco de ir para no banco de reservas caso repita a atuação do primeiro jogo. Além de dar todas a oportunidades a Ronaldo, o técnico Parreira tem servido de referência para sua recuperação. No último treino da seleção na Arena Zagallo, o atacante começou bem, fez um gol, mas foi se apagando. A Copa do Mundo exige mais do que isso, como mostrou Parreira. Com a energia que dedicou do início a fim do trabalho, o técnico acabou sendo o maior destaque do treino na despedida de Königstein. "Vamos lá, isso é Copa do Mundo", gritava o treinador, ao se movimentar pelo campo com a desenvoltura que espera ver em Ronaldo no jogo de domingo. O atacante ainda está destoando dos demais. Hoje, ele era o único a usar agasalhos de nylon em cima do uniforme da seleção. Segundo os parâmetros da comissão técnica, nem Ronaldo está gordo nem o uso do casaco é recomendado para emagrecer. A exuberância do craque tem ficado escondida. No treino de finalizações, em que girava o corpo e chutava sem marcação da entrada da área, o atacante só fez um gol em 14 tentativas. Parreira estava mais afiado com as palavras. Na primeira parte do trabalho, comandou um treino alemão em que três times se revezavam no campo. Depois, armou a defesa numa metade do campo contra o ataque reserva. De posse de bola, os titulares acionavam o quarteto ofensivo que tinha apenas dois defensores para superar antes de chegar ao gol. "Agora parte em velocidade! Liga rápido", orientava o técnico. Depois de 20 minutos, Parreira inverteu o trabalho. Kaká, Ronaldo, Ronaldinho e Adriano ganharam o apoio dos laterais e volantes para superar uma defesa reserva completa e bem fechada. "Vamos fazer a jogada por fora", dizia Parreira, pedindo para o time usar mais as laterais do campo. Apesar da expectativa pelo jogo aéreo australiano, o treino terminou sem que o time treinasse escanteios e bolas paradas. Parreira preferiu optar pela movimentação. Ronaldo não tem outro caminho. Está na hora de o craque se mexer.
Ronaldinho cobra movimentação do "quadrado"
Königstein - Ronaldinho Gaúcho sabe que ficou devendo uma boa atuação na estréia do Brasil na Copa. O craque não se escora em desculpas. Assume que ficou abaixo do que poderia render. E uma das explicações é a velha história de que na seleção brasileira ele não joga da mesma forma que no Barcelona. "Comecei nem mal nem bem, fui regular. Tive que ficar mais no meio-campo, segurando, criando as jogadas, tentando ficar mais com a bola, fazendo a equipe jogar. Minha função agora é um pouquinho diferente daquela de buscar o gol toda hora, de ir para cima dos caras", disse o camisa 10, acrescentando que contra a Austrália novamente atuará como meia, sem tanta liberdade como tem no Barcelona. Ronaldinho reconhece que pode render muito mais. Também afirma que precisa haver mais movimentação. Mas não se limita a falar apenas de Ronaldo: "Falta movimentação dos quatro jogadores de ataque e não dizer que um só não se movimentou. O quadrado pode ser muito melhor, a gente tem consciência disso". O craque elogiou a entrada de Robinho na equipe. "Entrou muito bem, ele é um jogador que tem muita mobilidade. Se mexe muito para o lado do campo, que é uma característica bem diferente dos outros dois atacantes".

Brasil terá 55 milhões vivendo em favelas até 2020, diz ONU

Por: TRIBUNA DA BAHIA Notícias

Um relatório das Nações Unidas sobre os centros urbanos no mundo, divulgado ontem em Londres, diz que o número de moradores nas favelas brasileiras deve subir para 55 milhões em 2020 —o que seria equivalente a 25% da população do país, de acordo com projeções demográficas feitas pelo IBGE. Apesar do número alto, o documento frisa que a taxa de crescimento das favelas no Brasil, em 0,34% ao ano, está praticamente estabilizada. Os dados das Nações Unidas mostram que 52,3 milhões de pessoas viviam em favelas brasileiras em 2005, 28% da população do país. Isso significa que apesar do aumento absoluto no número de habitantes nas favelas nos próximos anos, eles representariam um percentual cada vez menor da população total do país. O relatório elogia diversos programas sociais brasileiros, mas alerta que a vida de quem vive nas favelas continua piorando e que os velhos preconceitos não mudaram. O documento O Estado das Cidades do Mundo 2006-2007, elaborado pelo programa Habitat, mostra como as condições de moradia afetam quem vive nas favelas: eles passam mais fome, têm menos educação, menos chances de conseguir emprego no setor formal e sofrem mais com doenças que o resto da população das cidades. Ainda assim, o Brasil foi citado como exemplo em políticas de urbanização, saneamento básico e orçamento participativo. Segundo o relatório, na América Latina, Argentina, Brasil e México vão ter a maior influência na redução da população nas favelas da região até 2020. Brasil e México já teriam atingido uma redução extraordinária na fatia de moradores de favelas nas áreas urbanas, enquanto em números absolutos, o aumento foi pequeno nos dois países. Em 2020, as populações de favelas nos dois países devem ter aumentado em 4 milhões, totalizando 71 milhões, se a desaceleração no crescimento continuar. Já na Argentina, a taxa de crescimento das favelas é de 2,21% ao ano. Atualmente, quase 1 bilhão de pessoas – um sexto da população mundial – vivem em favelas. Se a tendência atual continuar, este número vai subir para 1,4 bilhão em 2020 - o equivalente à população da China - de acordo com o relatório do programa Habitat. Para a ONU, “a comunidade internacional não pode ignorar os habitantes das favelas, porque, depois da população do campo, eles são o maior grupo nos países em desenvolvimento – e este número vai crescer quando estes países se tornarem mais urbanizados”. Até 2030, as cidades dos países em desenvolvimento vão ter cerca de 4 bilhões de habitantes, 80% da população urbana do mundo. A ONU sugere que os governantes levem as diferenças entre favela e outras áreas urbanas em conta na hora de formular políticas sociais. Para medir a performance de cem nações na redução da população de favelas, a equipe de pesquisadores dividiu os países em quatro grupos: os que estão no caminho certo, os que estão estáveis, os que estão em risco e os que estão indo pelo caminho errado. Brasil está na categoria estável, junto com países como Colômbia e Filipinas, graças ao “compromisso político – apoiado por recursos – em investir nos pobres dos centros urbanos”, de acordo com o relatório da ONU. A cidade de Fortaleza foi citada como um exemplo valioso de como o desenvolvimento de uma infra-estrutura de saneamento pode ter um resultado positivo para a saúde. O relatório mostra que a cidade nordestina teve uma redução nas taxas de mortalidade infantil de 74 a cada mil nascimentos para 28 em ca-da mil nascimentos – e isso aconteceu no mesmo período em que o saneamento básico passou a cobrir mais de metade da população.

Benefício de álcool é só para homens

Por: Tribuna da Bahia

Beber bebidas alcoólicas todos os dias - com moderação - reduz o risco de doenças do coração entre homens, de acordo com um estudo publicado no British Medical Journal. Mas, para mulheres, de acordo com a pesquisa realizada com 50 mil pessoas na Dinamarca, os benefícios não dependem da freqüência, mas da quantidade de álcool consumida. Entre as mulheres que participaram do estudo, as que bebem pelo menos uma vez por semana têm o risco de doenças coronárias reduzido. As que bebem todos os dias também. Mas a diferença entre os dois grupos foi mínima: as que consomem álcool todo dia têm 36% menos chance de sofrer do coração do que as que não bebem. E as que bebem uma vez por semana têm 35% menos chance dos que as abstêmias. Já entre os homens, os que bebem diariamente têm 41% menos chances de terem doenças do coração do que os que não bebem, contra 7% a menos de chances para os que bebem uma vez por semana. “Entre as mulheres, a quantidade de álcool ingerida parece ser a determinante entre a associação de álcool e risco reduzido de doenças coronárias”, afirma o Centro para a Pesquisa do Álcool da Dinamarca.

Assim falou...

Por: Primeira Leitura


Ética petista

“Nenhum deles foi interditado politicamente. Continuam no gozo de seus direitos políticos. O PT conhece a biografia deles e entende que, independentemente de terem cometido erros, têm biografia altamente positiva.”Do presidente do PT, Ricardo Berzoini, sobre a decisão do partido de dar legenda a deputados acusados de envolvimento com o mensalão.• 12.6.2006 – sexta-feira

Chumbo trocado

“É um governo que se caracteriza pela incompetência, pela falta de trabalho. Hoje temos um presidente que não trabalha, só viaja e bebe muito, como dizem por aí.”Do senador pefelista José Jorge (PE), candidato a vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin à Presidência da República.• 15.6.2006 – quinta-feira

“Vocês estão percebendo que todo dia tem gente destilando ódio contra mim. Isto ocorre porque eles governaram o país desde a chegada de Cabral e não fizeram nada. E eles perguntam: ´Por que este metalúrgico faz?’. Porque este metalúrgico tem o que eles não têm: este metalúrgico tem caráter. A eles, que vivem destilando inveja e ódio, não vou dedicar um minuto da minha vida, porque vou dedicar minha vida inteira ao povo. Eu quero mostrar é mais trabalho e carinho com o povo.”Do presidente Lula um dia depois das críticas feitas pelo pefelista.• 16.6.2006 – sexta-feira

Otimismo

“Nossa campanha vai ser como a seleção do Brasil na Copa de 70. Na hora certa, o talento vai aflorar, vai aparecer.”Do candidato tucano ao Planalto, Geraldo Alckmin, no dia em que a pesquisa CNI-Ibope mostrou que o presidente Lula lidera as intenções de voto no país e poderá ser reeleito já no primeiro turno.• 13.6.2006 – terça-feira
Realismo


“Ô gente! Vamos fazer oposição ou continuar esperando o horário de TV?”Do prefeito do Rio, o pefelista Cesar Maia, ao cobrar da campanha presidencial do tucano Geraldo Alckmin uma atitude mais combativa.• 14.6.2006 – quarta-feira

Risco-reeleição

“Se não houver segundo turno, a democracia corre risco. Caso Lula saia consagrado das urnas, ele vai ficar acuado para governar, sem maioria no Congresso. A tentação de Lula será de governar direto com o povo, como já faz Hugo Chávez na Venezuela.”Do pré-candidato do PDT à Presidência da República, Cristovam Buarque.• 16.6.2006 – sexta-feira

Nova ameaça

“O que acontecerá nos próximos dias é algo que deixará branco o cabelo de seus filhos: batalhas que revelarão a falsidade de seu poder, a fraqueza de seus soldados e suas mentiras.”Do novo líder da Al Qaeda no Iraque, que, segundo os EUA, se chama Abu Ayyub al Masri, ao prometer vingar a morte de seu antecessor na organização terrorista, o jordaniano Abu Musab al Zarqawi.• 13.6.2006 – terça-feira

Chavismo

“Não podemos ser tão irresponsáveis de seguir dando concessões a um pequeno grupo de pessoas para que usem um espaço, que é do Estado, que é o mesmo que dizer que é do povo, contra nós, embaixo de nossos narizes, como uma quinta coluna. Eu não me importo nem um pouco com o que o dizem os oligarcas do mundo, o que me importa é o destino da minha pátria.”Do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao justificar por que ordenou a revisão das concessões das emissoras de TV do país, que vencem em 2007.• 14.6.2006 – quarta-feira

Isto é Lula

“Então, a Petrobras teve apenas de ser educada, apenas reeducar a Petrobras, e dizer para a Petrobras: querida Petrobras, pense menos em você e pense um pouco mais neste imenso país.”Do presidente da República no na cerimônia de lançamento da pedra inaugural do complexo petroquímico que a Petrobras vai construir em Itaboraí, no Rio.• 14.6.2006 – quarta-feira

Da genealogia do buraco à genealogia de uma moral

Por: Rui Nogueira (Primeira Leitura)

Veja como o governo foi usando a superfície lunar das estradas brasileiras como elemento, a um só tempo, de propaganda e de empulhação. A resposta que não deu a um dos mais graves problemas de infra-estrutura do país expõe uma ética do poder. Na reta final de mandato, Lula decide gastar R$ 450 milhões, sem licitação, para tentar compensar a incúria de antes. E confessa por vias tortas: trata-se, sim, de campanha eleitoral Por Rui Nogueira
Governantes brasileiros, às vezes, têm ataques de “rei-filósofo”. É uma pena que Delfim Moreira, que era maluco, não tenha deixado seus pensamentos. Serviria de emulação a presidentes loquazes que vieram depois. Washington Luís, que dá nome a uma excelente rodovia de São Paulo (sob concessão), disparou uma frase-emblema: “Governar é abrir estradas”. O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) reinterpretou a máxima, adaptando-a aos modos de um outro Luiz, o Inácio da Silva.
O supremo mandatário da hora, sem ter aberto estradas e sendo incerto que tenha governado, produziu, no entanto, o maior número de máximas filosóficas da história “deste país” (pronuncia-se com acento gutural, quase raspando a garganta). Segundo Aleluia, “para Lula, governar é tapar buracos de estradas sem licitação”. O truque eleitoral do tal do PETSE (Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas), vulgo “operação tapa-buracos”, não precisa nem ser demonstrado. Foi admitido pelo próprio presidente em discurso no Rio. O que Primeira Leitura faz aqui é escarafunchar os arquivos e discursos petistas para elaborar, com a licença de Nietzsche, uma “genealogia do buraco” e, se nos permitem, da moral – a particularíssima moral petista.
Uma única vez, em abril do ano passado, Lula admitiu que nada fez pelas estradas, mas o mea-culpa durou só algumas semanas. No programa Café com o Presidente, no dia 16 de janeiro, ele arriscou uma desculpa esburacada e um desmentido sobre os bilhões supostamente investidos. “Não tivemos dinheiro no ano de 2003, tivemos apenas R$ 2,5 bilhões em 2004, e somente em 2005 é que nós tivemos R$ 6,5 bilhões empenhados (...). Era preciso juntar o dinheiro para fazer [as obras em 2006], aquilo que é obrigação do governo fazer.” A viagem pela moral esburacada petista começa na campanha eleitoral de 2002.
Em meados de 2002, Lula e aquela penca de supostos especialistas que Duda Mendonça exibiu na TV botaram no papel a convicção (!) de que a infra-estrutura não podia ser alvo de privatizações e concessões. Lula, se eleito fosse, faria tudo diferente. Afirmava-se que “o programa de privatização” do governo FHC havia sido “concebido à margem de uma visão estratégica de desenvolvimento nacional”. Dizia mais o Caderno de Diretrizes: que os tucanos deveriam ter optado por “investir em infra-estrutura”. No volume com o “programa” genérico, aquele que Lula carregava para tudo quanto era lado, em vez de uma proposta para os transportes, havia não mais do que um diagnóstico. Ali se lê que “o novo governo [desenvolveria] uma política nacional de transportes”. E constatava para gáudio do Conselheiro Acácio: “em sua característica mais determinante (...), o setor de transportes no Brasil tem mantido uma excessiva concentração da demanda no domínio rodoviário”. Era uma crônica descritiva rebuscada, não um programa.
Lula assumiu e trabalhou com o Orçamento preparado pelo governo anterior, que previa R$ 490 milhões para a recuperação da malha rodoviária. Apesar do dinheiro apertado e dos problemas fiscais herdados da convulsão financeira provocada pelo próprio PT, Lula dizia que, “por ter percorrido 90 mil quilômetros” nas Caravanas da Cidadania, sabia das condições das rodovias e que era preciso recuperar de pronto “6 mil quilômetros”. O “rei-filósofo” aprendeu tudo na estrada da vida. Nascia ali um número que perseguiria o governo até este janeiro de 2006. A ele se acrescentarão alguns milhares de quilômetros ao sabor das necessidades da propaganda oficial: 7 mil, 14 mil, 42 mil... A progressão geométrica não tem o ímpeto multiplicador que a incompetência petista exige para ser devidamente retratada. FHC deixara também um plano para concessões de rodovias federais. Como Lula e o PT eram contra, o governo que saía houve por bem deixar para o seguinte a definição do que fazer. E naquele ponto estamos. Lula agora já não diz que concessões são privatizações disfarçadas. Mudou de idéia, mas não de competência.

Faltando quatro meses para Lula terminar o primeiro ano de mandato, aconteceu algo espantoso. Em vez de prestar contas sobre aqueles R$ 490 milhões e os “6 mil quilômetros”, o boletim Em Questão (n° 62), editado pela secretaria do então ministro Luiz Gushiken e, em Brasília, chamado de Pravda, começava assim: “A recuperação da malha rodoviária brasileira é uma das prioridades (...). O governo federal, através do Programa de Recuperação e Manutenção das Rodovias, irá investir [grifo nosso] R$ 490 milhões na licitação de mais de 7 mil quilômetros”. Era o feitiço do tempo. No oitavo mês de governo, Lula não tinha como se sujar com uma gotinha de piche, mas ampliava em mil quilômetros a promessa. E o Pravda continuava: “Em parceria com Estados e municípios, 27.305 quilômetros de estradas estão em processo de manutenção e restauração”. Não satisfeito, sapecou outra enormidade e mandou informar que “outros 30 mil quilômetros, que se encontravam em estado crítico, tinham sido submetidos a uma operação de caráter emergencial, chamada de operação tapa-buracos. Metade dessas obras já está concluída, e o restante será executado até o final de outubro”. Tudo somado, chegar-se-ia a 64.305. Fora os 7 mil em processo de licitação, o total de estradas transitáveis alcançaria 57.305 quilômetros. Só para o leitor ter noção da fanfarronice: o país tem 58 mil quilômetros de rodovias federais. Mas como tudo aquilo teria sido feito se os R$ 490 milhões ainda estavam confessadamente intocados? Tirados do buraco, os fatos são os seguintes: em 2003, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) vetou os gastos que estavam previstos, rapou o dinheiro para o superávit primário e mandou o então colega dos Transportes, Anderson Adauto, dar prioridade às concessões rodoviárias. À falta do que mostrar, Gushiken produziu vontades políticas. O Pravda original, o jornal da ditadura soviética, mentia menos.
O governo Lula preparou o Orçamento de 2004, o primeiro inteiramente de sua lavra, e trombeteou que, naquele ano, o dinheiro para a recuperação da malha rodoviária chegaria a R$ 957 milhões. As manchetes, que podem ser consultadas nos arquivos abertos da internet, estampavam: “Orçamento para recuperar estradas quase dobra”. Nominalmente, é claro!
O plenário do Senado assistiu a um curioso debate na noite do dia 13, uma terça-feira. Ante uma saraivada de críticas de pefelistas e tucanos, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo, fez um discurso de prestação de contas. Começou afirmando que, no ano anterior, o governo havia recuperado “25 mil quilômetros de estradas” – pelas contas do boletim Em Questão de agosto daquele ano, que era e é a palavra oficial do governo, Lula havia recuperado mais de 57 mil quilômetros, ou 6 mil, ou 7 mil, ou 30 mil, sabe-se lá... Sem convencer os senadores da oposição, acabou entregando os pontos e arrematou com esta pérola: “O governo trabalha na perspectiva [grifo nosso], neste ano, de fazer um programa de recuperação de estradas de amplo alcance”. Ah, bom: era uma “perspectiva”.
Transcorridos seis meses do segundo ano de mandato, aquele que tinha um orçamento quase dobrado para recuperar estradas, a Fazenda havia liberado ridículos R$ 43 milhões (pouco menos de 4,5%). O buraco orçamentário era tão gritante que uma comissão de sindicatos de caminhoneiros foi a Lula e ameaçou: ou o governo investia na recuperação das rodovias ou eles promoveriam o Dia do Paradão Nacional. Os “companheiros” acabaram se contentando com promessas. Entre os dias 24 e 31 de dezembro, sob o impacto da notícia de que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2004 registraria um crescimento de 5%, Lula mandou “abrir o cofre”. Era o trivial burlesco: a Fazenda anunciou a “liberação” de R$ 956 bilhões, mas o Ministério dos Transportes teria, para ficar com o dinheiro, de empenhá-lo até as 18h do último dia do ano. Parecia gincana: gaste se puder. A pasta conseguiu usar pouco mais de R$ 300 milhões. Para recuperar estradas? Não. Para pagar dívidas com empreiteiras.
A OPERAÇÃO tapa-buraco em ação na BR-040, que liga Brasília a Minas, em janeiro
O Em Questão publica o boletim 241. Um autêntico 171: “O Ministério dos Transportes terá um reforço de caixa em 2005”. Sem dizê-lo, o boletim dava a entender que 2003 e 2004 foram desastrosos em matéria de investimentos na infra-estrutura rodoviária, mas que, dali para a frente, como na velha canção do Roberto, tudo seria diferente. O Orçamento total dos Transportes, dizia, “deve pular dos atuais R$ 2,7 bilhões para R$ 6 bilhões, montante inédito na história de investimentos em infra-estrutura de transportes. Com isso, a expectativa é que, no ano que vem [2005], 60% da malha rodoviária federal seja recuperada. Até o final de 2006, toda a malha estará em boa condição de tráfego”. Nascia ali outra lenda orçamentária: a de que o governo teria investido um total de R$ 6,5 bilhões só na recuperação de estradas. Tomava-se o orçamento global do ministério como se destinado fosse só à necessidade mais urgente. E se davam asas à síndrome do ineditismo, aquela neurose segundo a qual Lula sempre faz o que ninguém nunca fez.
A superfície lunar das estradas de 2003 só piorou em 2004, com uma administração vivendo no mundo da lua. Mas o governo assegurava que, “até março de 2005”, estaria concluída a recuperação de “20% a 25% da malha rodoviária federal, o equivalente a pouco mais de 7 mil quilômetros”. Como assim?! Se, em outubro de 2003, a malha recuperada chegava a 57 mil quilômetros, o que eram esses 7 mil anunciados ao fim de 2004? Ademais, 25% dos 58 mil quilômetros de estradas federais somam cerca de 12 mil quilômetros... Como já disse Lula, o “rei-filósofo”, o chato de mentir é que é sempre necessário inventar uma mentira nova. Ou, no caso, voltar a uma velha.
Ao completar exatos 850 dias de governo, em 29 de abril de 2005, Lula concedeu a sua primeira entrevista coletiva. Foi no Planalto. Um repórter indagou quais os três maiores erros que o presidente assumia como de sua responsabilidade. Depois de anunciar, ao longo de 2003 e 2004, milhares de quilômetros de estradas “recuperadas” e “investimentos” bilionários, ele enumerou: 1) errou ao não ter tido “uma participação maior na sucessão da Câmara”; 2) “ao não ter feito com que os juros não sejam o único padrão de controle da inflação”; 3) “ao não conseguir fazer as obras nas rodovias brasileiras”.
Menos de três meses depois do mea-culpa, Lula, com o ministro Alfredo Nascimento (Transportes) a tiracolo, foi a São Bernardo do Campo (SP) participar da abertura do 100 Festival dos Cegonheiros. Diante de 3 mil pessoas, já acuado pelo escândalo do mensalão, soltou a língua: “Nós herdamos mais de 38 mil quilômetros de estradas praticamente intransitáveis. Eu fico me perguntando às vezes: o que era feito neste país, que nem a manutenção das estradas era feita?”. Ele chamou Nascimento e pediu-lhe que dissesse o que havia feito pelos caminhoneiros. Segundo as contas do ministro, o governo já autorizara a liberação de “R$ 6,5 bilhões” para a recuperação de “7 mil quilômetros de estradas federais” em 2004. A expectativa era de mais 7 mil naquele 2005. Se o próprio Lula, na entrevista de abril, admitira que nada fizera em matéria de recuperação de rodovias, de onde o ministro sacou os 7 mil quilômetros e os R$ 6,5 bilhões? Ora, esse dinheiro, na verdade, correspondia ao total de toda a pasta. Até porque, convenha-se, se ele gastasse aquela bolada em apenas 7 mil quilômetros, a recuperação de cada um teria custado a soma astronômica de R$ 928,57 mil e seria, então, um caso de polícia. Na operação iniciada no dia 9 de janeiro, 26.506 quilômetros serão “recuperados” com R$ 440 milhões: custo médio de R$ 16.600 por quilômetro. Os recursos autorizados pelo Congresso – antes, portanto, dos cortes do Ministério da Fazenda – para esse tipo de serviço, nos anos de 2003, 2004 e 2005, pouco passam de R$ 3 bilhões. E de onde teriam saído os R$ 6 bilhões do ano passado se todo o custeio e investimento dos Transportes consumiram R$ 2,7 bilhões? Lula e Nascimento, dois líricos, cultivavam ali a máxima de Mário Quintana: “A mentira é a verdade que esqueceu de acontecer”.
No dia 10, o Em Questão voltou a mentir mais do que o antigo Partido Comunista Soviético. Com um “Resumo das principais realizações do governo federal nos seus 30 meses”, no item “Transportes”, lê-se: “O governo está recuperando a infra-estrutura de transportes do país, com obras de construção e modernização nos mais diversos setores. Nas rodovias, já foram realizados serviços de conservação em 42 mil quilômetros”. Nem a reportagem erra nem você vê errado, leitor: 42 mil quilômetros! No mesmo Em Questão, edição do dia 19, o Planalto tascou: “O governo federal promoveu, em 30 meses, a recuperação de mais de 6 mil quilômetros de rodovias, a quantidade mais expressiva dos últimos 20 anos”. Nunca fica claro o que é tapa-buraco e capina (tecnicamente uma operação de “conservação pontual” de rodovias) e o que é “recuperação”, uma obra de engenharia que refaz a base destruída de uma estrada e a asfalta para durar, em tese, pelo menos uns dez anos. A encerrar o texto desse boletim, um quadro mostrava, a título de balanço, que, em 2003, teriam sido tapados os buracos de 2,4 mil quilômetros de rodovias; em 2004, 2,8 mil, e, em 2005, até outubro, outros 800 quilômetros. Eis a soma dos tais 6 mil quilômetros de estradas que, em três anos, passaram por operações tapa-buracos. Eram as mesmas estradas que, no fim de 2005, estavam novamente intransitáveis. No Palácio da Alvorada, diante da buraqueira exibida pelas reportagens das TVs, Lula sentiu o desconforto político-eleitoral que as imagens estavam criando. Dias depois, deparou-se com outra reportagem, exibida na TV Globo, mostrando agentes da Polícia Rodoviária Federal a tapar os buracos mais perigosos de uma rodovia. Nascia ali a eleitoreira operação tapa-buracos versão 2006, batizada agora de Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas (PETSE).
Definido o PETSE, o boletim do dia 5, o de n° 389, outro 171, escrevia: “No primeiro semestre de 2006, o governo federal vai aplicar R$ 440 milhões na recuperação de 26.506 quilômetros de estradas localizadas em 25 Estados do país (...). Os recursos são provenientes de um crédito extraordinário liberado pela União (R$ 350 milhões) e do Orçamento de 2005, do Ministério dos Transportes (R$ 90 milhões)”. Afinal de contas, por que o Ministério dos Transportes, com orçamentos apregoados de até R$ 6 bilhões, precisa de créditos extras para fazer uma operação tapa-buracos? Como o Orçamento deste ano ainda está para ser aprovado, o do ano passado deveria estar bancando a operação de agora, certo? Se foi preciso abrir crédito extra, o que foi feito com os tais R$ 6,5 bilhões de 2005? Se existem 26.506 quilômetros para recuperar, o que foi feito nos 6 mil, 7 mil, 14 mil, 25 mil, 30 mil, 42 mil, 57 mil ou 64 mil quilômetros de estradas recuperadas? Raros casos, como esse, podem ser classificados de uma verdadeira anatomia de um embuste.
Em 1997, quando o PT ainda se fingia de vestal, em entrevista ao Jornal da Tarde (SP), Lula exemplificava assim a diferença entre o PT e os demais partidos: “Da mesma forma que defendo que todos os funcionários públicos sejam contratados por concurso, acho muito mais lícito que todos os serviços sejam contratados por licitação. Isso faz parte dos discursos e da prática do PT”. A maior parte dos R$ 440 milhões do PETSE será gasta sem licitação, e o governo Lula já botou para dentro da máquina pública federal, sem concurso, cerca de 10 mil servidores.
Fez-se aqui a genealogia dos buracos. E também de uma moral: a petista.
A realidade no buraco
Segundo especialista da área, falta mais competência ao governo para gastar do que propriamente dinheiro
CAFÉ COM O PRESIDENTE: sem corar, ele anuncia R$ 6 bi para as estradas
O leitor já percebeu que uma coisa é o Orçamento aprovado pelo Congresso, outra é o dinheiro empenhado, e uma terceira é o valor efetivamente gasto. Luiz Fernando Santos Reis, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Construção Pesada (Sinicon), observa: “O governo não sofre tanto de falta de dinheiro, mas de incapacidade de gerir e executar o Orçamento”. Tome-se como exemplo o orçamento de 2005 do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). Na versão inicial do Orçamento enviado para o Congresso, o órgão tinha R$ 2 bilhões. Os parlamentares elevaram para R$ 2,3 bilhões. O empenhado chegou a R$ 1,4 bilhão. O liquidado ficou em R$ 744 milhões, e o efetivamente pago, em R$ 679 milhões.
Segundo números do Ministério dos Transportes enviados à Primeira Leitura, a manutenção da malha rodoviária consumiu, em 2005, os R$ 2,3 bilhões. Será? Nos discursos de Lula, a rodovia Corredor Mercosul, por exemplo, recebeu “investimentos” no valor de R$ 729 milhões. Descontada a neurose do ineditismo, foram gastos, com efeito, R$ 156 milhões: 21,39% do anunciado.
Outro documento oficial, com um “resumo da execução orçamentária e financeira” tomando como base o dia 31 de dezembro de 2005, traz como gasto autorizado R$ 7,5 bilhões. O dinheiro pago, no entanto, foi R$ 2,7 bilhões. Lula fica corado? Que nada! No programa Café com o Presidente, no dia 16 de janeiro, não hesitou: “Vou repetir os números: em 2005, empenhamos R$ 6 bilhões, e vamos outra vez empenhar R$ 6 bilhões em 2006. Se nós continuarmos colocando essa quantidade de dinheiro, certamente, em poucos anos, teremos as estradas todas consertadas e muitas estradas novas”. Como nunca “neste país”...
Observemos agora o orçamento de R$ 440 milhões para o tal PETSE. Diz o ministério ao Tribunal de Contas da União (TCU) que pretende gastar de R$ 2,4 mil a R$ 30 mil por quilômetro para fazer a tal “recuperação pontual” (tapar os buracos), obra que agüentaria um ano. Nos trechos que têm “poucos problemas estruturais” e que exigem “recapeamento e conservação”, diz o relatório entregue ao TCU, a obra, que duraria quatro anos (!), custará de “R$ 50 mil a 120 mil” por quilômetro. Segundo Santos Reis, a manutenção das rodovias sob regime de concessão e privatizadas consome R$ 180 mil ao ano por quilômetro. Se é assim numa estrada que já tem um piso de primeira, que serviço o governo está oferecendo em vias em estado crítico, com preços que variam de R$ 2,4 mil a R$ 120 mil por quilômetro?
Lula abriu o ano tapando buracos e falando em construir “estradas novas”, mas essa é outra agonia que toma conta do setor que quer investir em infra-estrutura e esbarra no cipoal burocrático. Na entrevista-balanço concedida no dia 2 de janeiro, o ministro Alfredo Nascimento disse o seguinte: “Ainda neste mês, devemos lançar o edital para a concessão de oito lotes de rodovias”.No dia 20 de janeiro, ao falar à Primeira Leitura, o presidente do Sinicon não parecia animado: “Faltam dez dias para janeiro terminar. Se os editais não saíram, não sei como podem sair em uma semana. E, se não saírem até o fim de março, com toda a política voltada para o ano eleitoral, é que vai ser difícil sair alguma coisa. Corre-se o risco de este governo não conseguir leiloar nenhuma concessão rodoviária”. – RN
Algo que Weingarten não diz, mas fica dolorosamente evidente, é que o New Journalism, visto de perto e com lucidez, é uma fantasmagoria. Houve um momento breve e glorioso em que o grupo se identificou como um movimento e foi percebido como tal. Em realidade, foi uma brilhante invenção de Tom Wolfe para justificar o fato de que ele queria mesmo era ser romancista. Weingarten cita piamente a definição de que o “novo jornalismo” consiste em textos que “se lêem como ficção, mas possuem o som da verdade dos fatos observados”. A receita não é das melhores, e demorou pouco tempo para que os repórteres começassem a imitar o som da verdade com fatos imaginados.
Ademais, a definição não era nova. Ele mesmo cita como uma das grandes influências do grupo a repórter da New Yorker Lillian Ross, autora de famosos “perfis”, que, já na década de 1940, reivindicava o direito de escrever “peças factuais com a forma de romance” (Hemingway achava que seu perfil tinha mais de romanesco que de factual). E, antes ainda, William Faulkner havia dito que “a boa ficção é mais verdadeira do que qualquer jornalismo”. Não sei se Tom Wolfe conhece a frase, mas sua carreira posterior ao New Journalism a ilustra impecavelmente. – Hugo Estenssoro

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