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sexta-feira, março 04, 2022

Rússia invade Ucrânia: 10 questões para entender a crise




Prédios de Kiev foram destruídos por ataques da Rússia

Por Julia Braun

A Ucrânia foi invadida no dia 24 de fevereiro por comboios russos chegando de todas as direções. Desde então, há relatos de ataques em todo o país, com mortes de militares e civis.

Após meses negando qualquer intenção de atacar seu vizinho, o presidente Vladimir Putin ordenou o ataque militar em larga escala e adentrou as fronteiras ucranianas por terra, mar e ar.

À medida em que o número de mortos aumenta, Putin é acusado de colocar em risco a paz no continente europeu. Putin colocou a força nuclear estratégica da Rússia em "alerta especial" — o nível mais alto. Os Países europeus e EUA reagiram com sanções e ajuda à Ucrânia, mas já manifestaram que não pretendem enviar tropas para conter a invasão russa.

A seguir, a BBC News Brasil reuniu os principais tópicos necessários para entender o conflito e as perguntas que ainda precisam ser respondidas nos próximos dias.

1. Quais as justificativas da Rússia para invadir a Ucrânia?

Vladimir Putin anunciou uma "operação militar" na região de Donbas, no leste da Ucrânia, em um pronunciamento televisionado na manhã do dia 24 de fevereiro.

O presidente russo disse que estava intervindo como um ato de legítima defesa. Segundo ele, a Rússia não queria ocupar a Ucrânia, mas sim proteger a população local de um genocídio e desmilitarizar e "desnazificar" o país.

Putin afirma com frequência que a Ucrânia está sendo tomada por extremistas desde que seu presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, foi deposto em 2014 após meses de protestos contra seu governo.

Após a queda do chefe de Estado ucraniano, a Rússia invadiu e anexou a região da Crimeia, no leste do país. A movimentação desencadeou uma rebelião separatista nas regiões de Donetsk e Luhansk, onde os rebeldes apoiados por Moscou lutam desde então, em uma guerra que já custou 14.000 vidas.

No final do ano passado, Putin passou a enviar tropas para as regiões de fronteira com a Ucrânia e no dia 21 de fevereiro — três dias antes da invasão — reconheceu a independência das duas regiões separatistas.

O líder russo ainda afirmou que os acordos de Minsk, acordados em 2014 e 2015 entre Ucrânia e Rússia para estabelecer um cessar-fogo, já não eram mais válidos.

Para além das acusações de extremismo, Putin há muito resiste ao movimento da Ucrânia de aproximação com instituições controladas pelos americanos e europeus, como a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Ele exige garantias que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro e, ao anunciar a invasão da Rússia, acusou a Otan de ameaçar "nosso futuro histórico como nação".

Putin quer ainda que a Otan abandone totalmente sua presença militar no leste europeu, que inclui também exercícios militares regulares na Lituânia, Letônia e Estônia. Esses ex-estados soviéticos passaram a fazer parte da aliança militar comandada pelos Estados Unidos e Europa, ampliando ainda mais os temores de Moscou de perder o controla sobre a região.

2. Por que a invasão ocorreu agora?

É difícil saber exatamente qual a estratégia do governo russo nesse momento. Mas a resposta para entender por que Putin escolheu agir agora pode passar pelo equilíbrio de poder.

Enquanto se aproxima cada vez mais da Otan e da União Europeia, a Ucrânia vem se fortalecendo lentamente e conseguiu reconstruir seu exército desde a anexação da Crimeia em 2014.

O conflito há oito anos e as lutas separatistas desde então também serviram como uma valiosa experiência no combate contra as forças russas.

Ao mesmo tempo, as Forças Armadas russas também se encontram em sua melhor forma desde a Guerra Fria.

As finanças públicas de Moscou estão equilibradas, com as reservas do Banco Central atingindo US$ 640 bilhões, segundo a revista Forbes. O total é um recorde para o país e equivale a 17 meses de receita integrais obtidas com as exportações nacionais.

Dessa forma, é possível que Putin acredite que este é o melhor momento para agir do ponto de vista militar. O líder russo também parece acreditar que tem condições de arcar com os custos do conflito e das inevitáveis ​​sanções.

3. O que a Ucrânia diz sobre o ataque?

Desde que a Rússia deslocou suas primeiras tropas para a fronteira com a Ucrânia, o governo do presidente Volodymyr Zelensky tem protestado contra os avanços e pedido apoio da Otan e outros aliados.

Pouco antes do anúncio de Putin sobre a invasão, o líder ucraniano foi enfático ao afirmar que um ataque ao seu território poderia "marcar o início de uma grande guerra no continente europeu".

Zelenski disse que tentou entrar em contato com Putin, mas o líder russo se recusou a atendê-lo. O ucraniano rejeitou as alegações do Kremlin de que seu país está tomado por extremistas ou representaria alguma ameaça à Rússia, e disse que uma possível invasão iria custar milhares de vidas.

"Você diz que somos nazistas, mas como um povo pode apoiar os nazistas sendo que demos mais de oito milhões de vidas pela vitória sobre o nazismo?", questionou Zelensky em um discurso televisionado, fazendo referência às disputas da Segunda Guerra Mundial.

Quando o ataque se tornou uma realidade incontestável, a Ucrânia decretou lei marcial — o que significa que os militares assumem o controle temporariamente — e cortou relações diplomáticas com a Rússia.

O presidente Zelensky instou os russos a protestar contra a invasão e disse que armas seriam distribuídas a qualquer pessoa na Ucrânia que desejasse.

Com o avanço de forças russas na direção da capital Kiev, autoridades locais pediram à população que faça todo o possível para resistir às tropas invasoras.

Os ministérios da Defesa e do Interior passaram a pedir a moradores de Kiev que "nos informem sobre movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo".

Um folheto com instruções, passo a passo, sobre como produzir bombas de gasolina improvisadas foi publicado na conta do Ministério do Interior nas redes sociais.

Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, implorou ao mundo que imponha sanções devastadoras à Rússia, incluindo excluir o país do sistema internacional de transferência bancária Swift.

'Putin quer que a Otan interrompa sua expansão e retorne ao tamanho que tinha em 1997'

4. Quais os interesses russos nas Províncias separatistas?

O decreto de reconhecimento da independência de Donetsk e Luhansk permite que a Rússia construa bases militares e envie tropas russas em "missões de paz" para as duas regiões. Os líderes dessas separatistas solicitaram apoio militar russo depois do reconhecimento de sua independência.

Tecnicamente, os militares russos agora têm sinal verde para entrar na área disputada, que além de ser historicamente ligada a Moscou por laços culturais e políticos, também representa um ganho do ponto de vista econômico e estratégico para Rússia.

Ambas as províncias estão localizadas no chamado "cinturão da ferrugem" da Ucrânia, uma área rica em minerais, principalmente aço. Donetsk e Luhansk também fazem parte de uma região conhecida como bacia de Donbass, na fronteira com a Rússia, que abriga vastas reservas de carvão.

Devido à sua localização geográfica, a área ainda constitui uma via natural de acesso à Crimeia, península anexada pelo Kremlin em 2014.

Grande parte da população da região fala russo, fato que é um dos principais argumentos do Kremlin para justificar seu apoio aos insurgentes da região.

5. Há risco de uma 3ª Guerra Mundial?

Por pior que seja a situação entre Rússia e Ucrânia neste momento, não se imagina um confronto militar direto entre a Otan e a Rússia.

Ao que parece até o momento, a linha vermelha para a Otan é se a Rússia ameaçar algum de seus Estados membros.

De acordo com o Artigo 5º da organização, a aliança militar é obrigada a defender qualquer Estado membro que seja atacado.

A Ucrânia não é membro da Otan, embora tenha dito que quer se juntar à aliança militar — algo que Putin está determinado a impedir.

Países do Leste Europeu como Estônia, Letônia, Lituânia ou Polônia — que já fizeram parte da órbita de Moscou nos tempos soviéticos — são todos membros da Otan.

Esses governos estão claramente temerosos de que as forças russas possam não parar na Ucrânia e usar algum pretexto de "ajudar" minorias étnicas russas no Báltico para continuar invadindo outros países.

Por isso, a Otan recentemente enviou reforços a seus membros do Leste Europeu.

Mas quão preocupado você deve estar? Segundo especialistas que estudam o tema, enquanto não houver conflito direto entre a Rússia e a Otan, não há razão para que essa crise, por pior que seja, vire uma guerra mundial em grande escala.

"Putin não está prestes a atacar a Otan. Ele só quer transformar a Ucrânia em um Estado vassalo como Belarus", disse uma importante fonte militar britânica na terça-feira (22/2) à BBC.

6. Quais as chances do conflito se transformar em disputa nuclear?

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse colocou a força nuclear estratégica da Rússia em "alerta especial" — o nível mais alto. Putin disse que as nações ocidentais tomaram "ações hostis" em relação à Rússia e impuseram "sanções ilegítimas".

A secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, reagiu ao anúncio de Putin afirmando que em nenhum momento a Rússia esteve sob ameaça da Otan.

A Rússia e os EUA têm, entre eles, mais de 8 mil ogivas nucleares, o que desperta temores em todo o mundo de um conflito violento.

A apreensão em torno dessa questão se tornou ainda maior depois que Moscou organizou um exercício militar com armas nucleares na última semana e as forças armadas russas avançaram contra a planta nuclear desativada de Chernobyl, próximo à cidade fantasma de Pripyat, nesta quinta-feira.

Mas segundo especialistas em segurança e política nuclear, não há motivos para pânico no momento. Por ora, acredita-se que o conflito atual não deve escalar para uma guerra envolvendo outras potências tão facilmente, e a Ucrânia não possui um arsenal nuclear próprio.

"Putin disse que qualquer interferência externa no conflito, ou qualquer ação contra a Rússia, gerariam uma resposta forte. Nas entrelinhas, há uma ameaça nuclear", diz Alexander Lanoszka, professor de Relações Internacionais da Universidade de Waterloo e especialista em segurança nuclear.

"Mas há um interesse comum de todas as partes de restringir esse conflito à Ucrânia, então eu ficaria muito surpreso se armas nucleares fossem usadas neste momento".

Segundo o especialista, as armas nucleares estão sendo usadas pela Rússia neste contexto apenas como ameaças para barrar qualquer intenção dos EUA ou outra potência de interferir no confronto.

A Rússia, assim como outros países que têm apoiado a Ucrânia como os EUA, o Reino Unido, e a França, assinaram no início deste ano um tratado em que se comprometem na prevenção de uma guerra nuclear e contra a corrida armamentista. Essas nações também são signatárias do Tratado de não proliferação de armas nucleares (TNP), válido desde 1970.

7. O que a população russa pensa sobre a invasão?

A invasão é recente e é difícil saber exatamente como a população russa enxerga os últimos acontecimentos na Ucrânia.

Mas desde que a tensão começou a escalar na região, a popularidade de Vladimir Putin cresceu na Rússia. Levantamento do centro independente Levada Center mostra que atualmente cerca de 69% dos russos aprovam o governo do presidente, contra 61% em agosto de 2021.

E se 29% dos russos desaprovam o governo de Putin hoje, 37% o reprovavam há cerca de seis meses.

Uma outra pesquisa divulgada também pelo Levada Center na última terça-feira (22/02) mostrou ainda que 45% dos russos apoiam a decisão do presidente de reconhecer a independência das Províncias de Donetsk e Luhansk.

Nas redes de televisão e jornais estatais, controlados pelo Kremlin, a invasão também é retratada com tons positivos.

Já entre ativistas e jornalistas independentes se multiplicam as expressões de rejeição e revolta. Uma petição organizada pela repórter Elena Chernenko, do jornal local Kommersant, reuniu assinaturas de 100 outros jornalistas que condenam a operação militar russa.

'São Petersburgo foi um dos palcos de protestos contra Putin e a invasão da Ucrânia'

Mais de 140 deputados e funcionários municipais de Moscou, São Petersburgo, Samara, Ryazan e outras cidades assinaram uma carta aberta aos cidadãos russo, exortando-os a não apoiar de nenhuma forma a invasão e se pronunciarem ativamente para condenar os atos de Putin.

Celebridades, organizações em prol dos direitos humanos e da democracia e ativistas contrários ao atual governo também se mostraram insatisfeitos com os últimos acontecimentos e usaram as redes sociais para protestar.

Nas ruas de Moscou, capital da Rússia, repórteres do serviço russo da BBC ouviram relatos de jovens que descrevem seus sentimentos atuais com termos como choque, horror e perplexidade. Mas há uma divisão de opiniões sobre se as ações do presidente Vladimir Putin devem ser condenadas ou aplaudidas.

Diversas cidades da Rússia também foram palco de protestos.

No domingo, a polícia prendeu mais de 900 pessoas que protestavam contra a invasão da Ucrânia em 44 cidades, de acordo com dados divulgados por um grupo de monitoramento independente. O grupo OVD-Info diz que 4 mil manifestantes antiguerra foram detidos na Rússia desde que o conflito começou, há quatro dias. A BBC não conseguiu verificar de forma independente esses números.

8. Que países condenaram e que países apoiaram a Rússia?

A invasão russa provocou reações fortes na Europa e nos Estados Unidos — com a interrupção de negociações diplomáticas e o anúncio de diversas sanções.

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin "escolheu uma guerra premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano".

Em um pronunciamento no primeiro dia da invasão, o americano ainda anunciou novas sanções contra a Rússia que atingem as transações do governo russo em moedas estrangeiras e bloqueiam os ativos dos quatro grandes bancos russos.

Biden também reiterou que as forças dos EUA "não estão e não estarão" envolvidas no conflito entre Rússia e Ucrânia.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar "chocado com os eventos horríveis na Ucrânia" e que Putin "escolheu um caminho de derramamento de sangue e destruição ao lançar este ataque sem provocação".

Johnson anunciou ainda as sanções que o Reino Unido aplicará à Rússia, entre elas o congelamento de ativos de indivíduos e de bancos russos e a exclusão destas instituições do sistema financeiro britânico, veto a financiamentos ou empréstimos a empresas russas, proibição de que a companhia aérea Aeroflot pouse no Reino Unido, suspensão das licenças de exportação de itens que podem ser usados para fins militares, de alta tecnologia e de refinamento de petróleo, além de outras medidas.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou o "ataque irresponsável" da Rússia, dizendo que "coloca em risco inúmeras vidas de civis".

Jessica Parker, correspondente de política da BBC, informou que a União Europeia (UE) poderia, em represália à Rússia, suspender parte de seu acordo de facilitação de vistos com o país como parte de seu novo pacote de sanções.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que Rússia corre o risco de um "isolamento sem precedentes" por sua ação militar na Ucrânia. "Condenamos veementemente o ataque injustificado da Rússia à Ucrânia", disse.

França, Alemanha, Itália, Polônia, Espanha e outras nações europeias também condenaram a ação. Japão e Austrália classificaram a ação como uma violação das normas internacionais.

Mas apesar dos muitos posicionamentos contrários, a Rússia possui aliados que manifestaram apoio direto e indireto à Moscou.

Os principais parceiros russos pertencem a um bloco chamado de Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), que além da própria Rússia inclui Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.

Belarus concordou em receber milhares de soldados russos em seu território a partir de 2020, e essas tropas apoiaram a ofensiva contra a Ucrânia na manhã desta quinta-feira, usando suas posições para fogo de artilharia.

Os governos da Síria, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irã também se pronunciaram de forma favorável à Rússia, fazendo coro às acusações de Moscou contra a Otan.

A China, por sua vez, vem se aproximando cada vez mais da Rússia, apesar de nunca ter apoiado diretamente uma incursão na Ucrânia.

Em uma coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, evitou usar a palavra invasão. O diplomata disse ainda que Pequim entende as preocupações de segurança da Rússia.

'Putin conversou algumas vezes com Joe Biden, sem chegar a um acordo'

9. Qual foi a reação do Brasil?

No Brasil, as respostas oficiais do Executivo à invasão começaram com manifestações do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e do vice-presidente, Hamilton Mourão.

Em conversa com a imprensa no domingo, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil manterá "neutralidade" no conflito.

A declaração de Bolsonaro contradiz o voto dado pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Na sexta-feira (25/2), o Brasil foi um dos 11 países a votar para condenar a invasão da Rússia à Ucrânia.

"Não tem nenhuma sanção ou condenação ao presidente Putin", disse Bolsonaro no domingo. "O voto do Brasil não está definido e não está atrelado a qualquer potência. Nosso voto é livre e vai ser dado nessa direção. A nossa posição com o ministro Carlos França é de equilíbrio. E nós não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer consequências para cá;"

O Itamaraty divulgou uma nota em que não condena explicitamente as ações russas, mas afirma que o país acompanha as operações militares na região com "grave preocupação" e pede a "suspensão imediata das hostilidades".

"O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil", diz um trecho da nota divulgada pelo MRE.

Além da nota divulgada pelo Itamaraty, a Embaixada do Brasil em Kiev divulgou orientações aos brasileiros que vivem no país.

O vice-presidente, Hamilton Mourão, por sua vez, usou um tom mais crítico ao comentar o assunto. Ele comparou as ações russas na Ucrânia às ações da Alemanha nazista comandada por Adolf Hitler entre os anos 1930 e 1940.

"Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo será a Bulgária, depois os Estados bálticos, e assim sucessivamente, assim como a Alemanha hitlerista fez nos anos 30", disse Mourão, segundo o jornal O Globo.

Em live nas redes sociais, Bolsonaro desautorizou a fala.

"Deixar bem claro: o artigo 84 diz que quem fala sobre esse assunto é o presidente. E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro. E ponto final. Com todo respeito a essa pessoa que falou isso — e falou mesmo, eu vi as imagens — está falando algo que não deve. Não é de competência dela. É de competência nossa", disse Bolsonaro.

A reação comedida do Brasil condiz com a tradição da diplomacia nacional de tentar se manter sempre o mais neutra possível. Apesar disso, segundo especialistas, o país precisará se posicionar agora que assumiu um assento não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas no início de janeiro.

"A tradição brasileira em casos como esse sempre foi de manter uma posição 'neutra', então é de se esperar que o Brasil não se posicionaria de maneira clara apesar da atuação russa obviamente representar uma violação do direito internacional e da soberania da Ucrânia", diz o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel "Porém, como membro do Conselho de Segurança, o país não pode ficar de fora do radar".

A primeira grande manifestação no Conselho aconteceu na noite desta sexta-feira (25/02), quando o Brasil apoiou uma resolução apresentada pelo governo dos EUA que condena a invasão.

Apesar do documento ter sido rejeitado pela Rússia, membro permanente do órgão com poder de veto, a iniciativa é considerada importante do ponto de vista diplomático.

O embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse que o Conselho de Segurança deve agir urgentemente diante da agressão da Rússia. "O enquadramento do uso da força contra a Ucrânia como um ato de agressão, precedente pouco utilizado neste Conselho, sinaliza ao mundo a gravidade da situação", afirmou.

Segundo o analista, a posição que o Brasil adotar nas próximas semanas influenciará muito mais sua percepção pela comunidade internacional do que qualquer comentário feito pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua visita a Moscou na semana passada.

Em pronunciamentos após seu encontro com Vladimir Putin no Kremlin na última terça-feira (16/02), Bolsonaro evitou mencionar a Ucrânia, mas enfatizou o compromisso do Brasil e da Rússia com a paz. Em outro momento, o presidente brasileiro ainda ressaltou a proximidade de valores cultivados pelas duas nações.

As declarações de Bolsonaro foram na contramão de governos como o dos EUA e, segundo analistas, a própria visita em um momento de tanta tensão pode ter causado desconforto.

Na sexta-feira (18/2), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, chegou a afirmar que o Brasil "parece estar do lado oposto à maioria da comunidade global" em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia.

10. Como o Brasil pode ser afetado?

Segundo especialistas consultados pela BBC News Brasil, os principais efeitos da crise na Ucrânia serão sentidos na economia brasileira. Esse impacto pode chegar aqui na forma de um aumento na inflação e na alta nos preços do petróleo e seus derivados.

A Rússia é atualmente um dos maiores produtores de petróleo do mundo e o conflito militar e a imposição de sanções podem paralisar a produção e a exportação da commodity.

"Uma invasão deve ser respondida com sanções mais graves do que as que já estão sendo aplicadas atualmente. Isso impacta diretamente na subido dos preços do petróleo e, consequentemente, no aumento dos preços dos combustíveis no Brasil", afirmou o economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, à BBC News Brasil.

Por sua vez, o aumento no preço do petróleo impacta diretamente na inflação mundial e, consequentemente, na brasileira, que já vem sofrendo uma alta desde o ano passado.

Economistas apontam ainda que a imposição de sanções contra a Rússia pode prejudicar indiretamente o mercado nacional, em especial o agronegócio brasileiro, que tem a Rússia como sua principal fonte exportadora de fertilizantes.

"Com as sanções ou até a perda de capacidade de exportação russa, os fertilizantes se tornam mais caros e a rentabilidade dos produtores brasileiros cai, afetando sua capacidade de continuar a ampliar a oferta nos próximos anos", avalia Maílson da Nóbrega.

Tudo isso pode ainda impactar diretamente no resultado das eleições presidenciais, marcadas para outubro, já que o peso de problemas econômicos e inflação alta costuma sempre cair sobre o chefe de Estado atual.

Nos últimos três dias, o conflito ucraniano ainda gerou um impacto na cotação do dólar em relação ao real. A moeda americana atingiu seus menores valor desde junho do ano passado, fechando a R$ 5,004 na quarta-feira (23/2), antes da concretização da invasão.

O movimento, segundo analistas, foi consequência não só do aumento da taxa Selic pelo Banco Central, mas também da entrada de capital estrangeiro no país em tempos de alto risco. No fim da semana, porém, a tendência foi revertida e os rumos da taxa de câmbio deram um salto diante da onda global de incerteza.

BBC Brasil

Grã-Bretanha diz que coluna russa se aproxima de Kiev, refugiados ucranianos chegam a 1 milhão




Mulheres caminham entre restos de prédios residenciais destruídos por bombardeios, enquanto a invasão russa da Ucrânia continua, em Zhytomyr; 2 de março de 2022

Analistas militares dizem que o avanço russo tem sido um fiasco tático até agora, paralisado por falhas de logística e manutenção de equipamentos, com colunas agora confinadas às estradas enquanto o degelo da primavera transforma o solo ucraniano em lama. A cada dia que a principal força de ataque permanece parada na estrada ao norte de Kiev, sua condição se deteriora ainda mais, disse Michael Kofman, especialista em militares russos no Wilson Center, em Washington DC.

A invasão russa da Ucrânia entrou em sua segunda semana nesta quinta-feira (3) como um aparente fracasso tático até agora, com sua principal força de assalto paralisada por dias em uma rodovia ao norte de Kiev e outros avanços interrompidos nos arredores das cidades. Está bombardeando em terrenos baldios.

O número de refugiados da Ucrânia subiu para mais de 1 milhão, segundo a ONU. Centenas de soldados russos e civis ucranianos foram mortos, e a própria Rússia foi mergulhada em um isolamento nunca antes experimentado por uma economia de tal tamanho.

Apesar de um plano de batalha inicial que os países ocidentais disseram ter como objetivo derrubar rapidamente o governo de Kiev, a Rússia capturou apenas uma cidade ucraniana até agora - o porto de Kherson, no sul do rio Dnipro, no qual seus tanques entraram nessa quarta-feira.

"O corpo principal da grande coluna russa que avança sobre Kiev permanece a mais de 30 km (19 milhas) do centro da cidade, tendo sido atrasado pela forte resistência ucraniana, avaria mecânica e congestionamento", disse o Ministério da Defesa britânico em uma atualização de inteligência.

"A coluna fez pouco progresso discernível em mais de três dias", disse. "Apesar dos bombardeios russos pesados, as cidades de Kharkiv, Chernihiv e Mariupol continuam em mãos ucranianas."

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, permanece em Kiev, divulgando atualizações regulares de vídeo para a nação. Em sua última mensagem, ele disse que as linhas ucranianas estavam em espera. "Não temos nada a perder a não ser nossa própria liberdade", disse ele.

Em Borodyanka, uma pequena cidade a 60 km (40 milhas) a noroeste de Kiev, onde os moradores repeliram um ataque russo, cascos queimados de blindados russos destruídos foram espalhados em uma estrada, cercados por prédios explodidos em ruínas. As chamas de um prédio de apartamentos iluminaram o céu antes do amanhecer. Um cachorro latiu enquanto os socorristas caminhavam pelos escombros na escuridão.

"Eles começaram a atirar em direção ao parque em frente aos correios", contou um homem no apartamento onde estava abrigado com sua família. "Aí aqueles desgraçados acionaram o tanque e começaram a atirar no supermercado que já estava queimado. Pegou fogo de novo".

"Um velho correu para fora como um louco, com grandes olhos abertos, e disse 'me dê um coquetel Molotov! Acabei de colocar fogo no APC deles!... Me dê um pouco de gasolina, vamos fazer um coquetel Molotov e queimar o tanque !'."

SEGUNDA RODADA DE PALESTRAS

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, caracterizou a resposta ocidental às ações da Rússia como "histeria", que ele disse que passaria. Ele disse esperar que uma segunda rodada de negociações de paz com uma delegação ucraniana ocorra nesta quinta-feira (3). Uma primeira reunião na segunda-feira na Bielorrússia não produziu nenhum progresso.

Apenas Bielorrússia, Eritreia, Síria e Coreia do Norte votaram contra uma resolução de emergência na Assembleia Geral da ONU condenando a "agressão" da Rússia. Em Pequim, os organizadores enviaram atletas russos e bielorrussos para casa dos Jogos Paralímpicos.

"Para os atletas dos países afetados, sentimos muito que vocês sejam alcançados pelas decisões que seus governos tomaram na semana passada ao violar a Trégua Olímpica. Vocês são vítimas das ações de seus governos", disseram.

Na própria Rússia, onde quase todas as principais figuras da oposição foram presas ou exiladas em uma repressão no ano passado, as autoridades proibiram reportagens que descrevem a "operação militar especial" lançada pelo presidente Vladimir Putin em 24 de fevereiro como uma invasão ou guerra.

As duas últimas grandes emissoras independentes, a Dozhd TV e a rádio Ekho Moskvy, foram retiradas do ar. A agência Tass informou nesta quinta-feira que a Ekho Moskvy seria fechada para sempre. As manifestações contra a guerra foram pequenas e rapidamente encerradas pela polícia que prendeu milhares de pessoas. A tropa de choque arrancou manifestantes pacíficos das ruas de São Petersburgo na noite de quarta-feira.

Tendo falhado em capturar as principais cidades ucranianas, a Rússia mudou de tática nos últimos dias, aumentando o bombardeio delas. Faixas do centro de Kharkiv, uma cidade de 1,5 milhão de pessoas, foram transformadas em escombros.

Mariupol, o principal porto do leste da Ucrânia, foi cercado por pesados bombardeios, sem água ou energia. Autoridades dizem que não podem evacuar os feridos. O conselho da cidade comparou a situação lá com o cerco de Leningrado na Segunda Guerra Mundial, chamando-o de "genocídio do povo ucraniano".

"Em apenas sete dias, um milhão de pessoas fugiram da Ucrânia, desenraizadas por esta guerra sem sentido. Trabalhei em emergências de refugiados por quase 40 anos e raramente vi um êxodo tão rápido quanto este", disse Filippo Grandi, representante da ONU - Alto Comissário para os Refugiados.

"Hora a hora, minuto a minuto, mais pessoas estão fugindo da terrível realidade da violência."

AVANÇO PARADO

Analistas militares dizem que o avanço russo tem sido um fiasco tático até agora, paralisado por falhas de logística e manutenção de equipamentos, com colunas agora confinadas às estradas enquanto o degelo da primavera transforma o solo ucraniano em lama. A cada dia que a principal força de ataque permanece parada na estrada ao norte de Kiev, sua condição se deteriora ainda mais, disse Michael Kofman, especialista em militares russos no Wilson Center, em Washington DC.

"Quanto mais tempo as forças russas ficarem à frente, menor será sua prontidão e desempenho. Tudo, desde o estado dos pneus até a disponibilidade de suprimentos e, no final, o moral", ele twittou.

Mas o grande medo é que, à medida que a probabilidade de qualquer vitória rápida diminuir, a Rússia recorra às táticas que usou na Síria e na Chechênia, que deixaram as grandes cidades de Aleppo e Grozny em ruínas antes de serem finalmente superadas.

A Rússia já reconheceu quase 500 de seus soldados mortos. A Ucrânia diz que matou quase 9.000, embora isso não possa ser confirmado. As autoridades ucranianas se ofereceram para libertar quaisquer prisioneiros russos se suas mães vierem buscá-los.

Kherson, uma capital provincial de cerca de 250.000 pessoas, foi o primeiro centro urbano significativo a cair. O prefeito Igor Kolykhayev disse nessa quarta-feira que tropas russas estavam nas ruas e entraram no prédio do conselho.

"Não fiz nenhuma promessa a eles... apenas pedi que não atirassem nas pessoas", disse ele em um comunicado.

O Departamento de Estado dos EUA pediu a Putin e ao governo russo que "cessem imediatamente esse derramamento de sangue" e retirem as forças da Ucrânia.

O Tribunal Penal Internacional disse que abriria uma investigação sobre possíveis crimes de guerra na Ucrânia, após pedidos de 39 de seus estados membros. A Rússia nega atacar civis e diz que seu objetivo é "desarmar" a Ucrânia e prender líderes que falsamente chama de neonazistas.

A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo e tanto ela quanto a Ucrânia são grandes exportadores de alimentos. Os preços do petróleo e das commodities subiram cada vez mais nesta quinta-feira em um presságio sombrio para a inflação global. 

Reuters / Jornal do Brasil

Os cúmplices de Putin




Extrema-esquerda e extrema-direita? Sim, mas convém também incluir os líderes europeus que ignoraram os riscos de uma dependência econômica e energética com uma autocracia com ambições imperialistas. 

Por Alexandre Homem Cristo (foto)

A estratégia de Putin não assentou apenas em acções sobre territórios fronteiriços e repressão política. Durante todos estes anos, Putin nunca perdeu de vista que a afirmação geopolítica do Kremlin dependeria do enfraquecimento da UE. Por isso, abraçou a China como seu parceiro privilegiado. Investiu em espionagem para monitorizar instituições e empresas europeias. Abriu os cofres ao financiamento de movimentos e partidos eurocépticos (à esquerda e à direita), percebendo que quanto mais estes crescessem mais destabilizadas ficariam as potências europeias. Tentou interferir em campanhas eleitorais de outros países, ampliando a propaganda anti-UE e colocando pelotões de hackers a disseminar desinformação pró-Moscovo. E, assim, entre as elites políticas, económicas e culturais, Putin criou aliados no coração do Ocidente que, por adesão ideológica ou oportunismo, se tornaram defensores de uma relação especial com a Rússia.

Com altos e baixos nas tensões diplomáticas, nada disto realmente impressionou os líderes políticos ocidentais, que preservaram a sua relação com a Rússia ou, em alguns casos, até a aprofundaram. Em 2017, quando se sentou na cadeira de poder do Élysée, Emmanuel Macron foi rápido a convidar Putin para encontros em Versailles e, meses depois, na sua residência de Verão. O objectivo era redesenhar a relação com Moscovo, manter um diálogo aberto e ultrapassar uma NATO “em morte cerebral”, para desenvolver interesses estratégicos franceses: em 2018, Macron assumia que França ambicionava ser o país com mais investimentos na Rússia. Enquanto isso, na Alemanha, a tolerância para com o regime de Putin foi ainda maior, sustentada na dependência do gás natural e nas lucrativas trocas comerciais, que incluíram uma polémica venda de equipamento militar para simulações de combate e treinos das tropas russas. Sem coincidência, Schröder, antigo chanceler alemão que assinou a autorização para a construção do gaseoduto Nord Stream 1, está hoje na administração da Gazprom — a empresa estatal russa para o gás. Os exemplos internacionais multiplicam-se e traduzem-se nos dados das exportações russas: em 2019, 64% do gás natural foi para a UE, assim como 50% do crude e de produtos petrolíferos. Esta interdependência foi, até agora, uma arma de Putin contra o Ocidente.

Em 2022, com a invasão da Ucrânia, tudo mudou. Os laços económicos romperam, sanções mais duras aplicaram-se e a Rússia ficou isolada. A posição forte e unânime da UE pode ser moderadamente animadora, mas ficou claro que surgiu demasiado tarde e a um custo terrível para os ucranianos e o continente europeu. Quando pensamos nos cúmplices de Putin, convém por isso não olhar apenas para os partidos dos extremos — à esquerda, os que se agarram à nostalgia do projecto soviético; à direita, os que admiram o nacionalismo e agradecem os petrodólares que financiam os seus partidos. Nas contas de cumplicidades, há que incluir os líderes das principais economias europeias, que escolheram ignorar os riscos de uma interdependência económica e energética com uma autocracia corrupta e com ambições imperialistas. Quem vende a alma ao Diabo tende a esquecer-se como pode ser dolorosa a cobrança.

Tudo isto conduz a duas lições. Primeira lição: os “valores europeus” são como os unicórnios — podem ficar bonitos no papel e soar bem nos discursos, mas na prática não se vislumbram. O facto é que, durante largos anos, a UE tem tolerado as atrocidades de Putin em nome de vantagens económicas e políticas, seguindo até estratégias de dependência energética que, no plano geopolítico, fragilizaram a segurança dos cidadãos do continente. Segunda lição: entregar sectores estratégicos a regimes autocráticos implica ficar à mercê das suas estratégias de poder, que afectam preços, autonomia política e a segurança das populações. E se esta segunda lição está hoje a ser vivida na pele pelos alemães, dependentes dos russos para o gás natural e a mãos com o impacto das sanções impostas à Rússia, talvez valha a pena pensar na encruzilhada em que se meteram Portugal e Grécia, por exemplo, vendendo-se à China. Já que não aprendemos estas lições antes, pode ser que agora fiquem assimiladas.

Observador (PT)

China se tornou decisiva para a paz na Europa - Editorial

 




Contra os mísseis e tanques russos na Ucrânia, o Ocidente montou uma contraofensiva econômica sem precedentes. Nunca antes uma economia do porte da russa tinha sido alvo de sanções tão duras. Com a Rússia virtualmente sem acesso ao sistema financeiro internacional, assistindo à saída e ao boicote de multinacionais, sua sustentação econômica dependerá cada vez mais da China. Por isso todos os olhos estão voltados para Pequim. Faz um mês que Xi Jinping trocou juras de “amizade sem limites” com Vladimir Putin. É improvável que tenha se arrependido, embora algo tenha mudado na atitude chinesa.

Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em conversa com o colega ucraniano, Dmytro Kuleba, afirmou que seu país está pronto para ajudar a acabar com a guerra. Um eventual esforço chinês para fazer deslanchar as negociações de paz será bem-vindo. Um país simpático a Putin, que se absteve nas duas últimas votações contrárias à Rússia nas Nações Unidas, teria papel especialmente relevante neste momento.

A conversa entre os dois diplomatas foi interpretada como mudança. A China, de acordo com essa versão, percebeu o custo de ser vista como cúmplice de Putin, formando uma dupla autoritária que age em sintonia. Debate-se também se Xi foi informado dos planos de invasão por Putin ou se pediu para que fosse adiada até depois da Olimpíada de Inverno em Pequim. Caso tenha sido ludibriado, teria motivos para rever a relação com a Rússia. Mas é um debate irrelevante.

Tradicionalmente, a diplomacia chinesa fica em cima do muro nos conflitos em que não tem envolvimento direto. Desta vez, como mostram as votações na ONU, escolheu um lado. Na conversa com Kuleba, Wang disse que “a segurança de um país não pode ser alcançada em detrimento da segurança de outros ou pela expansão de blocos militares”. Tradução: a culpa pela guerra não é de Putin, mas do Ocidente ao querer expandir a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para a Europa Oriental.

De que a China corre o risco de perder com essa postura, não há dúvida. Seus maiores parceiros comerciais são os Estados Unidos e a União Europeia, agora mais coesa do que nunca. Mas os chineses também ganham com essa posição. Quem cogita um dia retomar Taiwan não pode ser muito crítico à decisão de Putin. Fora isso, a ameaça russa na Europa desvia a atenção americana da Ásia — e, em Pequim, existe a convicção de que os Estados Unidos são uma superpotência em decadência, decidida a barrar a ascensão chinesa. Essa leitura não mudou.

Em busca de aliados, Xi investiu num relacionamento estreito com Putin. Desde que assumiu o poder, há uma década, encontrou-o 38 vezes. O dois festejaram aniversários juntos e se chamam de “melhores amigos”. Na abertura da Olimpíada em fevereiro, boicotada por autoridades americanas, Putin foi um dos poucos líderes mundiais a viajar para Pequim. Até o momento, não há sinais de que a química entre o chinês e o russo tenha se alterado. Também não há evidência de que a China tenha mudado sua visão do mundo. Ao mesmo tempo, o resgate da paz na Europa nunca dependeu tanto da disposição dos chineses em impor limites a Putin.

O Globo

Transporte de armamentos pode detonar a Terceira Guerra na Europa

 



Logística para a entrega de armas é um desafio em meio à invasão

Por Pedro do Coutto

Numa excelente reportagem que foi ao ar na noite de terça-feira no Jornal Nacional da TV Globo e no Em Pauta da GloboNews, o jornalista Felipe Saldaña destacou o problema do transporte de armamentos prometidos por 16 países para o governo de Kiev resistir à brutal invasão da Rússia, violando todos os direitos humanos e a autodeterminação do mundo.

Com a invasão, Putin garante o seu lugar ao lado de Hitler no esgoto da história universal. Mas a questão essencial no momento, afirmou muito bem o jornalista, é o transporte de armas que só pode ser feito através da Polônia ou da Romênia.

GARANTIAS – O enigma que paira sobre o transporte destinado à resistência e até mesmo à expulsão das forças russas tem que ser garantidos por tropas dos países envolvidos porque caso contrário os suprimentos ficarão expostos à uma ação russa para impedi-los de chegar ao seu destino e com isso anular os efeitos de uma apoio indispensável para o presidente Zelenski.

Está assim colocada uma perceptiva sensível na questão do apoio militar. Ele não pode ser por parcelas, sendo uma delas, os armamentos em si, mas sobretudo uma garantia de que chegarão ao governo de Kiev. Tem que ter proteção de forças terrestres no percurso, sobretudo nas proximidades da fronteira com a Polônia.

A invasão russa perdeu grande parte de suas forças nas últimas horas. O Kremlin não parece disposto a recuar, pelo contrário. O lance de dados marca uma etapa do possível destino do conflito e do confronto, tornando impossível o recuo dos 16 países em apoiar a Ucrânia e dificultando o recuo de Moscou após as ameaças feitas. Nas duas hipóteses, Putin está derrotado.

SUBSTITUIÇÃO – Há certamente nos bastidores uma movimentação russa para a hipótese da sua substituição. O poder tem sempre personagens à espreita aguardando uma queda. De qualquer forma, a posição russa é das mais conflitadas e vulneráveis aos acontecimentos que se seguem.

Reportagem de Igor Gielow, Folha de S.Paulo, focaliza o fantasma de uma Terceira Guerra que ameaça a própria existência da humanidade. Se detonado, o conflito terá proporções gigantescas. É um enfrentamento terrível entre a Rússia e os Estados Unidos, acrescidos dos países europeus que já se manifestaram contra Putin.

ITAMARATY E PLANALTO – Bernardo Mello Franco na edição de ontem de O Globo, focalizou a posição do Itamaraty de condenar a violação da autodeterminação dos povos. Já Bolsonaro não avaliou todos os aspectos da Ucrânia. É incrível a posição do presidente da República que não está sendo seguida pela Chancelaria.

O próprio embaixador Rodrigo Costa Filho votou a favor da condenação da Rússia. O confronto entre o Itamaraty e o Planalto deixa o último muito mal perante a população brasileira.

LIBERAÇÃO –  Reportagem De Geralda Doca, O Globo de ontem, revela que o ministro Paulo Guedes está propondo ao governo isentar os investidores estrangeiros do pagamento de 15% do Imposto de Renda resultante de aplicação de título em empresas brasileiras.

É incrível que isso possa ser proposto por um ministro do Brasil. Quer dizer que os estrangeiros que comprarem ações da Petrobras, Banco do Brasil, assumirem títulos públicos, ficam isentos do Imposto de Renda. E os brasileiros não atingem a mesma oferta tributária. Inacreditável.

CHAPLIN  – Muito bom o editorial de O Globo de ontem condenando a posição do presidente Jair Bolsonaro em relação à brutal invasão de Putin à Ucrânia. No texto, o editorial focaliza uma frase irônica e pejorativa de Bolsonaro em relação ao presidente Zelinsk, por ter sido um ator de comédia. Aproveito a oportunidade para lembrar que um dos maiores gênios do século XX, Charles Chaplin,  também foi um comediante, o maior de todos os tempos.

Além disso, Chaplin em 1941 nos primeiro tempos da guerra, produziu o filme “O Grande Ditador” em que ridicularizava Hitler e Mussolini. Expôs-se à fúria dos fanáticos e dos apoiadores do nazismo. Mas foi em frente. Se não tivesse realizado a obra colossal que realizou, bastaria “O Grande Ditador” para garantir o seu lugar na luta pela liberdade. Tornou-se um artista imortal .

Tribuna da Internet

Rússia reivindica controle total da cidade ucraniana de Kherson




Ucrânia diz que linhas de defesa continuam a resistir

No oitavo dia da invasão da Ucrânia, as forças da Rússia reivindicam o controle total de Kherson, cidade com aproximadamente 290 mil habitantes no Sul do país. A partir de Kiev, que continua a ser alvo de contínuos bombardeios russos, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, assegura que as linhas de defesa continuam a resistir.

Kherson é a maior cidade tomada pelas tropas russas desde 24 de janeiro, o primeiro dia da invasão da Ucrânia. Gennadi Lakhouta, responsável pela administração regional, apelou aos habitantes, com recurso à plataforma Telegram, para que permaneçam em suas casas, já que “os ocupantes estão em todas as áreas da cidade e são muito perigosos”. O gabinete do presidente da Ucrânia recusou-se a comentar a aparente progressão das tropas da Rússia na cidade portuária de Kherson enquanto perdurarem os combates.

O presidente da câmara, Igor Kolykhaiev, disse que viu tropas russas em prédio da administração de Kherson.

"Não tínhamos armas e não fomos agressivos. Mostramos que estamos trabalhando para proteger a cidade e  tentar lidar com as consequências da invasão", disse no Facebook. "Temos enormes dificuldades com o recolhimento de corpos e enterros, entrega de alimentos e remédios, recolhimento de lixo e gestão de acidentes", acrescentou.

Ele assegurou que "não fez promessas" aos militares russos, que "simplesmente pediu que não disparassem contra as pessoas" e que fosse permitido o recolhimento dos corpos nas ruas.

Kharkiv

Em Kharkiv, no Leste da Ucrânia, segunda maior cidade do país, as ondas de bombardeios aéreos russos atingiram três escolas e a catedral. A notícia foi dada pela cadeia norte-americana CNN, após verificação de vídeos e fotografias publicados nas redes sociais. O número de pessoas que fogem da guerra já supera 1 milhão, de acordo com as Nações Unidas.

Os bombardeios russos destruíram ainda o telhado do prédio da sede da polícia regional em Kharkiv. Atingiram também a sede dos serviços de informações e um prédio da universidade local, além de edifícios residenciais.

O que se prevê ser o plano para o ataque final à capital da Ucrânia ainda não foi concretizado, quando a invasão entra em sua segunda semana.

“O corpo principal da grande coluna russa que avança para Kiev continua a mais de 30 quilômetros do centro da cidade, tendo sido atrasado por dura resistência ucraniana, problemas mecânicos e congestão”, diz o Ministério britânico da Defesa, numa atualização de dados recolhidos pelos serviços de informações.

“A coluna fez poucos progressos ao longo de três dias. Apesar de pesados bombardeios russos, as cidades de Kharkiv, Chernihiv e Mariupol continuam em mãos ucranianas”, afirma Londres.

O presidente da Ucrânia voltou, no entanto a se pronunciar. Volodymyr Zelensky acusou os russos de atingirem as únicas rotas de evacuação das cidades e prometeu exigir reparações.

Acrescentou que, apesar das dificuldades da noite, todos os ataques aéreos foram travados com sucesso.

Poucas horas antes da segunda rodada de negociações entre russos e ucranianos, com os incessantes bombardeios como pano de fundo, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, voltou a caracterizar a resposta ocidental à invasão como “histeria”.

RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Agência Brasil

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Rússia acusa Ucrânia de usar comunidade pacífica como escudo vivo

Exército ucraniano é neonazista, diz Maria Zakharova

Por Marieta Cazarré 

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, deu hoje (3) uma longa declaração à imprensa em que acusa a Ucrânia de ser um instrumento da política ocidental e de ameaçar diretamente a Rússia. Ela disse que o exército ucraniano é neonazista e se esconde atrás de um falso nacionalismo.

"A Ucrânia recebia armamentos do ocidente em grandes volumes, se transformando num bloco militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que ameaça diretamente a Rússia. Tudo isso acontecia diante da ausência de garantias de segurança do nosso país", disse Zakharova, que afirmou ter documentos por escrito que comprovam que países do ocidente se negaram a dialogar com a Rússia.

"O regime de Kiev (capital do país) transformou a Ucrânia, o povo ucraniano, em um instrumento da política do ocidente, da Otan e de todos que governam esse bloco. Não há nenhum dúvida de que no poder estão os bandidos. Os bandidos que agora recebem armas do ocidente, que usam os civis, que se escondem nas casas ao preço da vida dos seus cidadãos, cidadãos de outros países também e da sociedade civil em geral", afirmou a porta-voz russa.

Ela disse ainda que o exército ucraniano usa vários símbolos nazistas, usando princípios nacionalistas, se escondendo atrás das costas das mulheres e das crianças, manipulando a consciência pública, com ajuda colossal dos serviços especiais dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e dos países da Otan.

"Os neonazistas, o exército ucraniano, usa uma comunidade pacífica como um escudo vivo. Isso é um fato. Eu falo da CNN, BBC e outros (veículos de comunicação). Vocês podem não mostrar isso, mas as pessoas distinguirão, vão saber diferenciar as fake news da verdade. Eles (as forças armadas da Ucrânia) não organizam saídas das cidades, eles fazem toque de recolher. Isso é uma tática usada pelos terroristas. O aumento do nível de criminalidade foi provocado especialmente pelo governo ucraniano. Armas sem qualquer controle foram distribuídas para qualquer pessoa, foram liberados criminosos das prisões que também estão recebendo armas, formando bandos e atacando as pessoas. Eles matam os seus, violam os seus. O país está cheio de ondas de assassinatos e violência", disse Zakharova.

Agência Brasil

Por que os momentos mais perigosos da guerra na Ucrânia podem estar por vir




Os momentos mais perigosos da guerra na Ucrânia estão por vir. A invasão russa está sendo mais devagar e encontrando uma resistência muito maior do que o presidente Vladimir Putin esperava.

Por Fergal Keane, Lviv

Há graves problemas de logística, comando, moral e eficácia de combate. Mas os russos vão seguir em frente. E, à medida que fazem isso, as baixas civis nas áreas atingidas pelos bombardeios vão aumentar.

Embora as sanções e boicotes ocidentais tenham revelado um raro grau de unanimidade, vão levar tempo para surtir efeito. E não vão parar esta guerra.

Isso porque se tornou uma luta existencial para Vladimir Putin. Se ele perder, ele sabe que seus dias no poder estão contados.

A possibilidade de ser deposto ou enfrentar um tribunal penal internacional estará em sua mente.

Seu objetivo é derrubar o governo de Kiev e instalar um regime fantoche. Qualquer coisa aquém disso o deixa vulnerável a uma resistência interminável na Ucrânia.

Para quem conhece o país e sabe como ele mudou nos últimos oito anos, seu objetivo de supressão parece muito irrealista, mesmo que ele obtenha uma vitória militar de curto prazo.

'Moradores de Kiev se abrigam em estações de metrô enquanto a capital continua a ser alvo de ataques'

Ainda assim, nesta fase, ele tem todos os motivos para continuar prosseguindo com sua guerra, por maior que seja o custo em vidas.

Os ucranianos se mostraram mais do que experientes na guerra da informação. Eles se adaptam rapidamente e são inovadores nos confrontos militares. Lutam como pessoas que temem perder sua terra natal para um invasor estrangeiro.

Mas diante de uma força militar com imensa superioridade numérica, sua melhor opção é levar os russos para uma desgastante guerra de atrito.

Conforme mais cidades são bombardeadas e a Rússia aumenta o sofrimento dos civis, à medida que surgem detalhes dos crimes de guerra, como os aliados respondem quando as sanções não são capazes de silenciar a artilharia?

Após ter descartado envolvimento militar, por receio de uma horrenda guerra europeia mais ampla, o Ocidente terá que considerar como responder às imagens de cidades sitiadas sob bombardeio russo.

Não há respostas fáceis. Estamos verdadeiramente numa paisagem desconhecida.

BBC Brasil

Ganhar perdendo




Por Merval Pereira (foto)

Uma guerra que se ganha perdendo parece ser o destino da Rússia de Vladimir Putin na escalada militar contra a Ucrânia. O discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, diante do Congresso americano, muito assertivo, fez uma análise geopolítica sobre a guerra interessante, que parece ser consensual: Putin está saindo enfraquecido dessa guerra, e seu desejo de menos Otan em seu entorno parece estar proporcionando o ambiente político internacional para que mais países queiram se proteger na aliança militar ocidental.

A provável derrota militar de Volodymyr Zelensky poderá se transformar numa derrota política de consequências inimagináveis para a ambição de Putin de recriar a Grande Rússia. Se não for morto na guerra, Zelensky, que era o alvo número um do aparato militar russo, será o líder da resistência à dominação, com grande capacidade de comunicação e uma rede de apoio político que poucos líderes têm.

Digo que Zelensky era o alvo, e não é, porque, a esta altura, um assassinato dele poderá ser o estopim de uma reação internacional com reflexos internos, que podem levar à deposição de Putin. Os interesses financeiros dos oligarcas que literalmente o sustentam estão fortemente abalados pelas sanções impostas pelo Ocidente.

Havia muito tempo não se viam países ocidentais reagindo em conjunto, não restando dúvida de que a Rússia pagará caro pelo ataque. Constatar que, além de EUA e Europa, estão juntos contra a invasão países como o Japão e a Austrália, e agora até mesmo a China vai cautelosamente mudando de posição, colocando-se como possível mediadora do conflito, mostra que o mundo não está mais disposto a aceitar invasões como a Rússia vinha fazendo na Crimeia, na Geórgia.

Os três países que votaram contra a moção da Assembleia Geral da ONU contra a invasão da Ucrânia, além da própria Rússia e de seu satélite Bielorrússia, são ditaduras: Coreia do Norte, Eritreia e Síria. Ter mais ou menos Otan em volta da Rússia significa hoje não mais uma ação opressora como quer Putin, mas uma reação a favor da democracia. As forças democráticas ocidentais de um lado, e um governo autocrático, dirigido por um protoditador, de outro.

A Rússia tem uma democracia formal, não real, tanto que quem está protestando nas ruas é preso violentamente. E Putin monta sempre manobras para ficar no poder. A Rússia é dessas democracias aparentes, como Venezuela e Nicarágua. Tem eleição, Suprema Corte, Congresso funcionando. É como na nossa época da ditadura militar, uma democracia formal, todas as instituições funcionando, mas o governo tinha poderes excessivos para reprimir a oposição. É o que acontece na Ucrânia. O mundo ocidental já entendeu que está em jogo ser ou não democrático. O fortalecimento da democracia é um sinal do enfraquecimento de Putin.

A Finlândia, que nunca anunciou que gostaria de entrar na Otan, e era uma preocupação de Putin, agora já quer entrar; a Ucrânia está pedindo para entrar na União Europeia em caráter emergencial. A Otan, uma força que poderia ser vista como intervenção americana na Europa, passou a ser uma força de defesa da democracia no mundo, ganhou outra dimensão, e isso Putin não imaginava.

Se continuar avançando, a Rússia de Putin acabará dominando a Ucrânia, mas uma Ucrânia arrasada, falida, assim como seu algoz, uma Rússia falida, sem capacidade de se reorganizar, e uma resistência cidadã que já se demonstra heroica. Com guerrilhas, emboscadas, se transformará num inferno aquela região, e um inferno a dominação da Rússia sobre a Ucrânia.

Putin não imaginava que poderia acontecer uma resistência tão forte, que está adiando a vitória dele, que parece inevitável. Mas será daquelas derrotas, para a Ucrânia, que se transformam em vitória moral e reforçam o sentimento de pertencimento de uma população.

O Globo

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