Elio Gaspari
O Globo/Folha
Javier Milei é classificado como um anarcocapitalista. Em Dubai, Lula lançou a sua anarcodiplomacia ao propor uma “governança global” para as questões ambientais. Algo como um superpoder mundial.
Nas suas palavras: “Nós precisamos ter uma governança global para ajudar a cuidar do planeta. Porque, se você toma uma decisão qualquer em benefício do mundo e ela tiver que votar internamente pelo seu Congresso Nacional, significa que ninguém vai cumprir”.
TESE DISPARATADA -Se a Liga das Nações naufragou no século 20, e a ONU não consegue impor suas decisões no 21, Lula quer resolver o problema com uma nova governança. Ele, que condena de maneira geral a aplicação de sanções internacionais a países que desrespeitam direitos humanos, quer uma nova governança para a defesa de vegetais e contenção dos gases.
O Sol vai congelar antes que cidadãos americanos, russos ou chineses aceitem que uma instituição supranacional se meta nas suas vidas. Lula, por exemplo, não é um aliado do Tribunal Penal Internacional.
O anarcodiplomata defende soluções fantásticas, sabendo que são inviáveis. Para um presidente que já defendeu votos secretos para ministros do Supremo Tribunal Federal, a proposta anarcodiplomática de Lula é ruim por inviável. Infelizmente, como as falas de Milei com seus cachorros, tem algo de ridículo.
LEMBRANDO KISSINGER – Henry Kissinger morreu aos 100 anos. Ele foi o primeiro em muitas coisas. Foi o primeiro professor de Harvard a se tornar um conselheiro de 12 presidentes americanos. Foi o primeiro alemão a se tornar secretário de Estado e foi o primeiro diplomata elevado à condição de celebridade pop.
Foi também o primeiro de sua espécie a conviver com a revelação dos segredos de sua diplomacia. Nisso, faltou-lhe sorte.
Num exemplo de jornalismo de alta qualidade, o repórter David Sanger dedicou-lhe um extenso obituário no New York Times, colocou cada pedra no seu lugar e encolheu-lhe o pedestal. Seu texto clama por alguém que o traduza para o português.