Cézar Feitoza
Folha
Especialistas e pesquisadores das Forças Armadas criticam a estratégia de Múcio e dos comandantes Tomás Paiva (Exército), Marcelo Damasceno (Aeronáutica) e Marcos Olsen (Marinha) de buscar um reajuste salarial para aumentar a valorização dos militares, a pretexto de não terem atendido a praças e suboficiais nos últimos reajustes, que beneficiaram os oficiais superiores.
“Os praças se sentiram muito traídos [na reestruturação da carreira], sem dúvida a reforma privilegiou as camadas de cima”, avalia a pós-doutoranda em ciência políticas da Unicamp, Ana Penido, pesquisadora sobre os militares.
PLANO MAIS AMPLO – Para ela, as distorções criadas em 2019 deveriam ser revistas num plano mais amplo, e não em um reajuste para os praças. “Quase todo o dinheiro que entra no Ministério da Defesa vai para o pagamento de pessoal. Para vocês reverem isso, precisa haver a política de pessoal, quantificar o número de oficiais e praças. Precisa de recrutamento obrigatório? Aquele tiro de guerra no interior, para que serve?”, afirma.
Ana Penido destaca que, para resolver o problema, será preciso o Ministério da Defesa abrir para a sociedade civil a discussão sobre a Política Nacional de Defesa.
“Só o controle civil pode definir, de fato, como deve ser o gasto com as Forças Armadas e pensar uma política de defesa pertinente com a grandeza do Brasil”, conclui.
MÚCIO CONIVENTE – Lucas Pereira Rezende, professor de ciência política da UFMG, avalia que Múcio está agindo como um “embaixador dos militares junto ao poder político, quando seu papel deveria ser o contrário: o ator político para levar as instruções aos militares”.
“Quando o Múcio leva essa demanda, como um embaixador do militares, ele não está fazendo o passo que deveria fazer, que é discutir o orçamento da Defesa com a sociedade, com o Parlamento. Mais uma vez, ele demonstra essa pressão, o poder assombroso que os militares têm dentro da máquina estatal brasileira.”
O pesquisador conta que as Forças Armadas de países como os Estados Unidos e a França reduziram seus tamanhos e investiram em tecnologia e equipamentos, enquanto o Brasil permanece com mais de 80% do orçamento comprometido com pessoal.
SEM CONTROLE CIVIL – “Precisamos investir em alta tecnologia, nos programas estratégicos, em ciência e tecnologia da defesa, precisamos ter satélites. Mas isso não vai acontecer enquanto o governo enxergar as Forças Armadas como algo intocável, sem realizar de fato o controle civil”, afirma.
Professora do curso de defesa e gestão estratégica internacional da UFRJ, Adriana Marques afirma que a lógica da Defesa de conceder o mesmo reajuste para servidores civis e militares não tem razão.
“Os militares foram a categoria profissional que mais conseguiu aumento na reforma previdenciária. Reforma é para tirar direito, mas eles não só aumentaram os direitos como aumentaram os salários”, contesta. “Múcio está ali para atender os interesses das Forças Armadas. Depois de tudo o que a gente passou nos últimos anos e também do compromisso que esse governo fez para ser eleito, fortalecimento da democracia e frente ampla, é lamentável que o ministro da Defesa reforce o corporativismo das Forças.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – José Múcio é um ministro fraco, que não se impõe perante os militares. Deveria pedir o boné e ir cuidar dos netos. Seu prazo de validade está vencido. Vai completar 75 anos em setembro, é tempo de se aposentar. (C.N.)