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sexta-feira, abril 01, 2022

Ocidente diz que Putin é mal informado sobre a guerra




Serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido afirmam que assessores do presidente russo têm medo de expor a real situação das tropas russas na Ucrânia e as consequências das sanções para a economia.

Agências de inteligência do Estados Unidos e do Reino Unido afirmaram nesta quarta-feira (30/03) que o presidente russo, Vladimir Putin, não estaria sendo devidamente informado sobre a real situação da guerra na Ucrânia. Seus assessores estariam com medo de lhe expor a verdade.

Putin teria superestimado tanto a capacidade militar de seu país em uma ofensiva desse porte quanto a resistência ucraniana, assim como o impacto de sanções econômicas do Ocidente. 

"Acreditamos que ele [Putin] esteja sendo mal informado por seus assessores sobre quão ruim é a performance dos militares russos e como as sanções estão prejudicando a economia russa", disse a diretora de comunicações da Casa Branca, Kate Bedingfield, em Washington, citando informações da inteligência americana. Segundo ela, os principais conselheiros de Putin estariam "com medo de lhe dizer a verdade".

Bedingfield disse ainda que, de acordo com informações da inteligência, Putin se sentiu enganado pelo Exército russo, causando tensões contínuas entre o presidente e sua liderança militar.

Putin teria superestimado capacidade russa

A inteligência britânica corrobora as alegações. "Acreditamos que os assessores de Putin tenham medo de lhe dizer a verdade", disse Jeremy Fleming, chefe do Government Communications Headquarters (GCHQ), o serviço de inteligência e segurança britânico. 

"Vimos soldados russos, com falta de armas e moral, recusando-se a obedecer ordens, sabotando seu próprio equipamento e até mesmo derrubando acidentalmente seu próprio avião", afirmou Fleming em discurso na Universidade Nacional da Austrália, em Camberra.

Segundo ele, há erros logísticos, muitas baixas russas e caos dentro da liderança militar. "Vimos como Putin mentiu para seu próprio povo para esconder a incompetência militar", afirmou Fleming. "Ele superestimou a capacidade de seus militares de alcançar uma vitória rápida."

A guerra de Putin

O porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA, John Kirby, concordou com a avaliação da Casa Branca de que Putin está mal informado sobre a guerra.

"São os militares [de Putin]. É a guerra dele. Ele escolheu isso. O fato de que ele pode não entender completamente o grau em que suas forças estão falhando na Ucrânia é um pouco perturbador", disse.

Para Fleming, Putin fez um erro de cálculo estratégico para o qual líderes ocidentais haviam alertado. "Tornou-se sua guerra pessoal, com o custo sendo pago por pessoas inocentes na Ucrânia e, cada vez mais, por russos comuns também", disse Fleming.

Compensação de erros

Fleming acredita que o fracasso em alcançar uma vitória rápida pode estar causando discórdia no Kremlin. "Embora acreditemos que os assessores de Putin tenham medo de lhe dizer a verdade, o que está acontecendo e a extensão desses erros de julgamento devem ser claros para o regime", disse.

Segundo ele, agora, Putin tenta compensar os erros, também dentro na própria Rússia. "Ele busca controle brutal sobre a mídia e o acesso à internet, procura sufocar as vozes da oposição e investe pesadamente em propaganda e atividades secretas."

'Em Moscou, mulher russa é detida por se manifestar contra a guerra na Rússia'

Para Marcus Hellyer, analista de defesa do Instituto Australiano de Política Estratégica, em Camberra, é "bastante óbvio" que Putin está mal aconselhado. Segundo ele, assessores de líderes autoritários aprendem rapidamente "o que o chefe quer ouvir". 

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, também sugeriu haver uma dinâmica dentro do Kremlin em que assessores não estão dispostos a falar com Putin de maneira franca. "Um dos calcanhares de Aquiles das autocracias é que nesses sistemas não há pessoas que falem a verdade aos poderosos ou tenham a capacidade de falar a verdade para os poderosos. E acho que é isso que estamos vendo na Rússia", afirmou. 

Recentemente, a Rússia afirmou que mudaria de estratégiae deixaria de tentar invadir Kiev para se concentrar na região de Donbass. Se a mudança de fato será colocada em prática, porém, ainda é uma incógnita.

"Pode ser que eles tenham percebido que não podem derrotar completamente a Ucrânia, então vão adotar uma estratégia diferente, que é ocupar todo o Donbass, ocupar o máximo possível da costa do Mar Negro e usar isso para a sua estratégia de negociação", considerou Hellyer.

Ele também disse suspeitar que, ao divulgar que Putin estaria sendo mal informado por assessores, além de tentar explicar os eventos, as agências ocidentais possam ter a intenção de semear a dissidência ou alimentar dúvidas sobre o julgamento de Putin dentro da Rússia.

Deutsche Welle

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