Moscou disse que helicópteros ucranianos realizaram ataque, negado por Kiev. Presidente da Ucrânia vê recuo "lento mas perceptível" de tropas russas no norte do país. Tentativa de evacuação em Mariupol fracassa.
A guerra na Ucrânia nesta sexta-feira (01/04), 37º dia desde o início do conflito militar, foi marcada pelo ataque a um depósito de combustível da estatal russa Rosneft. O local fica no território da Rússia, na cidade de Belgorod, a cerca de 40 quilômetros da fronteira com a Ucrânia, e serve de centro logístico para as forças russas.
Moscou acusou Kiev de ter conduzido o ataque, realizado por dois helicópteros, e indicou que a investida afetaria as negociações par um acordo de paz. A Ucrânia negou ter responsabilidade pelo incidente.
Um relatório de inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido afirmou que o ataque provavelmente teria repercussões negativas para a logística de guerra russa, em especial o suprimento de combustível para tropas que cercam a cidade ucraniana de Kharkhiv.
Tentativa de evacuação em Mariupol fracassa
Novos esforços para enviar comboios humanitários à cidade de Mariupol, no sudeste ucraniano, falharam nesta sexta-feira, segundo a Cruz Vermelha da Ucrânia. Olena Stokoz, diretora da organização, afirmou à DW que seus veículos foram impedidos de prosseguir por soldados russos quando estavam na cidade de Berdyansk, a cerca de uma hora de Mariupol.
Porém, a Cruz Vermelha conseguiu evacuar moradores de Mariupol que, por conta própria, já tinham conseguido chegar a Berdyansk. Stokoz disse ainda que a Cruz Vermelha não tinha notícias de alguns de seus integrantes e voluntários em Mariupol e não tinha certeza se eles estavam vivos.
"Infelizmente, a situação em Mariupol está piorando a cada dia. Não temos nenhuma notícia de nosso pessoal em Mariupol há mais de uma semana", afirmou.
O plano inicial era que os veículos da Cruz Vermelha fariam a escolta de dezenas de carros e ônibus que tirariam milhares de civis da cidade. Representantes da Rússia e da Ucrânia já chegaram a um acordo sobre o corredor humanitário, mas não está claro se a mensagem foi recebida pelas tropas na área.
Russos recuam no norte, mas atacam leste e Odessa
O presidente ucraniano, Vladimir Zelenski, afirmou que os militares russos estavam recuando no norte do país, de forma "lenta mas perceptível". Porém, ele disse que a situação no leste ainda estava "extremamente difícil", e afirmou que a Rússia estava preparando novos ataques nas regiões de Donbass e Kharkiv.
No início da semana, a Rússia havia dito que iria reduzir parte de suas operações militares na Ucrânia, nas áreas de Tchernihiv e Kiev, o que foi recebido com ceticismo por Kiev e países do Ocidente.
Uma autoridade ucraniana também relatou à agência de notícias Associated Press que pelo menos três mísseis balísticos russos atingiram a cidade de Odessa nesta sexta-feira, onde fica o maior porto da Ucrânia e a sede de sua Marinha. Segundo o relato, os mísseis foram disparados a partir da Península da Crimeia, que a Rússia controla desde 2014, e houve vítimas.
Presidente do Parlamento da UE em Kiev
A presidente do Parlamento da União Europeia (UE), Roberta Metsola, chegou a Kiev nesta sexta-feira. Ela é a primeira autoridade do primeiro escalão do bloco a ir à Ucrânia desde a invasão russa.
Ao chegar à capital ucraniana, Mestola tuitou uma foto abraçando o presidente do Parlamento da Ucrânia, Ruslan Stefanchuk, e escreveu: "Estou em Kiev para dar uma mensagem de esperança".
Em um pronunciamento, Mestola fez três promessas. "Primeiro, a invasão criminosa de [Vladimir] Putin na Ucrânia coloca a Rússia em confronto direto com a Europa, a comunidade internacional e a ordem mundial baseada em leis. Isso não é algo que deixaremos que ele faça sem ser confrontado", disse.
"Segundo, a União Europeia reconhece as suas ambições europeias e sua aspiração de ser um país candidato [para aderir ao bloco]. E vocês podem contar com o apoio total do Parlamento da UE para alcançar esse objetivo."
"Terceiro, nós vamos ajudá-los a reconstruir suas cidades e vilas quando esta guerra ilegal, não provocada e desnecessária tiver acabado. Já fornecemos assistência financeira, militar e humanitária. Isso irá continuar e aumentar", afirmou.
Cúpula UE-China trata da Ucrânia
Os principais líderes da União Europeia reuniram-se nesta sexta-feira por videoconferência com líderes da China para discutir assuntos urgentes, incluindo a guerra na Ucrânia.
Participaram da cúpula o presidente chinês, Xi Jinping, o primeiro-ministro do Conselho de Estado da China, Li Keqiang, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell.
Em sua fala, Xi apelou para que a UE e a China "evitem repercussões da crise". Li disse que Pequim "se opõe à divisão em blocos e a tomar um lado", relatou um diplomata chinês à agência de notícias alemã DPA. Segundo a emissora estatal chinesa CCTV, ele também afirmou que a China está fazendo esforços pela paz "à sua própria maneira".
Von der Leyen afirmou: "Deixamos muito claro que a China deveria, senão apoiar, pelo menos não interferir nas nossas sanções [contra a Rússia]". Ela também disse a Pequim que o apoio à invasão russa "causaria grandes danos à reputação" da China na Europa. A chefe da Comissão Europeia afirmou ainda que a UE não tinha recebido nenhuma garantia explícita da China sobre esse assunto.
A China tem oferecido apoio político a Moscou e à narrativa de que os Estados Unidos, países europeus e a Otan seriam os responsáveis pela guerra que a Rússia está promovendo na Ucrânia. A UE discorda frontalmente dessa avaliação e espera usar sua influência e poder econômico para influenciar a China a mudar de rumo.
Daniela Schwarzer, diretora executiva da Open Society Foundations na Europa e Eurásia, disse à DW que esse conflito poderia reverberar de muitas maneiras. "Se a China se envolver nesta guerra, haverá um debate totalmente novo sobre sancionar a China, o que sairia muito caro para a Europa", afirmou. "A UE precisa da China de várias maneiras".
Os investimentos e o comércio compõem o aspecto econômico. Mas desafios globais maiores, como as mudanças climáticas, exigem a cooperação dos Estados Unidos e da China, apontou.
Deutsche Welle