Kharkiv foi alvo de novos ataques na quarta-feira
Segunda maior cidade da Ucrânia tem sido alvo de bombardeios.
A Rússia intensificou os ataques contra cidades-chave da Ucrânia na quarta-feira (2/3), sétimo dia de invasão ao país.
Moscou afirmou ter tomado controle da cidade portuária de Kherson, no sul. O prefeito, Igor Kolykhaev, confirmou a informação em uma mensagem no Facebook, na qual escreveu ainda que a os russos impuseram um toque de recolher das 20h às 6h, que os carros devem dirigir em velocidade "mínima" e que os pedestres estão proibidos de circular em mais de dois.
A BBC, contudo, não pode verificar esta declaração de forma independente, e oficiais de Defesa dos Estados Unidos disseram que "a disputa pela cidade segue intensa".
Caso a vitória russa se confirme, esta seria a maior cidade do país capturada até agora, com cerca de 250 mil pessoas. Estrategicamente, a cidade seria uma base importante para os militares russos para avançarem mais para o interior e para oeste, ao longo da costa até a cidade portuária de Odesa.
No sudeste, na cidade de Mariupol, que fica na fronteira com a Rússia, ataques podem ter deixado feito muitas vítimas, segundo as autoridades locais.
O prefeito da cidade, Vadym Boychenko, disse que dezenas de civis foram mortos nos últimos bombardeios e acusou as tropas de Moscou de impedirem a evacuação de civis.
"Um genocídio em grande escala do povo ucraniano está em andamento", disse Boychenko.
O vice-prefeito da cidade, Sergiy Orlov, disse que um distrito de Mariupol foi "quase totalmente destruído".
"Não podemos contar o número de vítimas, mas acreditamos que pelo menos centenas de pessoas estão mortas. Não podemos entrar para recuperar os corpos", disse Orlov à BBC por telefone.
Mariupol fica em uma localização estratégica, separando as forças russas na península anexada da Crimeia das tropas separatistas no leste da Ucrânia.
'Maripuol, considerada estratégica, está sob forte ataque'
Em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, localizada no nordeste do país, paraquedistas russos teriam pousado e estariam lutando com soldados ucranianos para tomar a mesma.
Há relatos ainda de que Kharkiv foi alvo de um ataque com foguetes, que teria atingido o prédio do departamento regional de polícia, parte da Universidade Karazin e um edifício da Câmara Municipal.
Uma explosão perto da estação ferroviária central foi causada por destroços de um míssil derrubado pelas defesas aéreas da Ucrânia, segundo um assessor do Ministério do Interior.
Anton Herashchenko postou no Facebook que os destroços atingiram um cano de aquecimento, causando a explosão.
Mas ele disse que, se o míssil tivesse atingido o centro de Kiev, as baixas e os danos teriam sido terríveis. Herashchenko não disse se houve feridos como resultado da explosão.
Kharkiv fica a 48 km da fronteira com a Rússia e foi alvo de intensos bombardeios nos últimos dois dias.
Pelo menos 21 pessoas morreram e 112 ficaram feridas em bombardeios em Kharkiv até agora, segundo o prefeito da cidade.
A Rússia disse também ter sob seu controle a área ao redor da maior usina nuclear da Ucrânia, perto da cidade de Zaporizhzhia, no sul do país.
Segundo a Rússia, os funcionários da usina continuam suas operações normais, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de vigilância nuclear global.
A operadora nuclear da Ucrânia diz que está em contato com todas as suas usinas e as operações continuam em todas elas.
A usina de Zaporizhzhia tem seis dos 15 reatores de energia nuclear do país, segundo a AIEA.
A Ucrânia disse que um ataque com mísseis russos durante a noite matou pelo menos duas pessoas e feriu outras 16 na cidade de Zhytomyr, que fica a 120 km a oeste de Kiev.
O ataque, direcionado a uma base aérea na cidade, atingiu residências próximas.
'Ataque em Zhytomyr atingiu área residencial'
Os moradores de Kiev, a capital do país, tiveram uma noite relativamente calma, embora as sirenes de ataque aéreo tenham sido acionadas novamente.
A capital permanece nas mãos da Ucrânia, mas vem sendo alvo de ataques.
Na véspera, mísseis russos atingiram uma torre de TV, matando cinco pessoas e deixando outras cinco feridas. As transmissões foram brevemente interrompidas.
Um enorme comboio militar russo, de 64 km de extensão, também avança muito lentamente em direção à cidade.
Houve pouco deslocamento durante esta madrugada, e o comboio está agora a cerca de 25 km da capital, no norte do país.
Confira a seguir os acontecimentos mais recentes e importantes da guerra.
ONU aprova resolução que condena invasão russa
A sessão da Assembleia-Geral da ONU, convocada pelo Conselho de Segurança da entidade, aprovou nesta quarta-feira uma resolução condenando a invasão russa da Ucrânia e pedindo a retirada das tropas.
O encontro, que começou na segunda-feira, reune os 193 países-membros.
O texto foi aprovado por 141 votos - entre eles, o do Brasil.
Cinco países foram contrários - a Rússia, obviamente, foi um deles.
'Texto foi aprovado por 141 votos - entre eles, o do Brasil'
Belarus, aliado russo de longa data e acusado pelo Ocidente de ajudar na invasão, também se opôs à moção de repúdio.
Outro a se opor foi a Síria - cujo líder Bashar al-Assad contou com a assistência militar russa em larga escala para permanecer no poder durante a guerra civil.
A Eritreia, na África, e a Coreia do Norte na Ásia, completam a lista.
Outros 35 se abstiveram de votar, entre eles a China, que no início deste ano se juntou à Rússia em oposição à expansão da aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e, na semana passada, absteve-se durante uma votação semelhante no Conselho de Segurança da ONU.
Antes da votação, o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, disse que a Rússia quer "privar a Ucrânia do próprio direito de existir".
O embaixador russo, Vassily Nebenzia, disse que a Rússia queria parar um conflito separatista no leste da Ucrânia e acusou o Ocidente de usar "ameaças abertas e cínicas" para fazer os países votarem a favor da resolução.
A resolução tem valor mais simbólico, já que as medidas previstas por ela não serão vinculativas.
Esta é apenas a 11ª sessão especial de emergência da Assembleia Geral da ONU desde a primeira, em 1956. A natureza rara desta reunião ressalta a enorme preocupação em torno desta crise.
Tribunal Penal Internacional abre investigação contra Rússia por crimes de guerra
'Manifestantes pedem que Putin seja julgado em Haia'
O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, anunciou na noite de quarta a abertura de um inquérito para apurar o possível envolvimento da Rússia em crimes de guerra durante a invasão ao território ucraniano.
"Em uma análise preliminar da situação na Ucrânia, meu escritório já encontrou base razoável para acreditar que crimes no âmbito da jurisdição do Tribunal tenham sido cometidos", escreveu o procurador-geral.
Mais cedo, a Corte, que fica localizada em Haia, havia recebido uma denúncia assinada por 38 países contra Moscou, que supostamente estaria alvejando civis e destruindo edifícios residenciais em meio à ofensiva.
Embora a Rússia seja signatária da Convenção de Genebra, o tratado internacional que define crimes de guerra, ela se desligou do Tribunal de Haia em 2016, depois que a anexação da Península da Crimeia foi classificada como uma ocupação.
Os indivíduos condenados pelo tribunal têm que ser detidos em países que aceitam sua jurisdição. Assim, caso seja eventualmente considerado culpado do fim do processo, Putin teria de ficar restrito à Rússia e a Estados aliados para que não fosse preso.
Nova rodada de negociações
'Negociações de paz devem ser retomadas'
Uma segunda rodada de negociações entre representantes dos governos russo e ucraniano deve ocorrer em breve.
Os dois lados se encontraram na segunda-feira, mas não houve avanços.
Uma delegação russa está se dirigindo a um ponto de encontro para negociações, de acordo com a agência de notícias Belta da Bielorrússia.
Não foi dito onde ou quando as discussões ocorreriam.
Mais cedo, a agência de notícias estatal russa Tass informou que o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia tinha uma delegação pronta para continuar as negociações.
E o conselheiro presidencial ucraniano Olexiy Arestovych disse anteriormente à Suspilne TV que as negociações ocorreriam.
Mas ele afirmou: "Acho que as coisas vão continuar as mesmas. Nada vai mudar. Vamos manter nossa posição".
Mais de 874 mil ucranianos já fugiram do país
A agência de refugiados da ONU, a Acnur, disse na terça-feira que mais de 874 mil pessoas - a maioria delas mulheres e crianças - deixaram a Ucrânia desde o início da guerra.
A Polônia foi o destino de metade desse total até agora.
O ACNUR fez um apelo por quase US$ 2 bilhões (R$ 10,2 bilhões) para sua operação de socorro e disse que sua previsão original de que até 4 milhões de ucranianos poderiam acabar fugindo do país pode ter sido ser subestimada.
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crânia diz que guerra matou mais de 2 mil civis até agora
Autoridades ucranianas disseram que mais de 2 mil civis foram mortos até agora na invasão da Rússia.
Dez socorristas também foram mortos, informou o Serviço de Emergências.
Equipes de resgate apagaram mais de 400 incêndios que eclodiram após bombardeios russos em todo o país e desarmaram 416 explosivos.
Moscou afirma que quase 500 soldados russos foram mortos
O Ministério da Defesa da Rússia divulgou seus primeiros números de baixas sofridas durante a invasão da Ucrânia.
Ele diz que 498 soldados russos foram mortos e 1.597 ficaram feridos até agora, de acordo com relatos da mídia russa.
A alegação é significativamente menor do que a avaliação da Ucrânia sobre as baixas russas - Kiev afirma ter matado 5.840 soldados russos.
A Rússia também afirmou que mais de 2.870 militares ucranianos foram mortos e cerca de 3.700 ficaram feridos. Kiev não deu números.
A BBC não pode verificar independentemente as alegações russas ou ucranianas, mas o Ministério da Defesa do Reino Unido acredita que as forças de Moscou sofreram pesadas perdas.
Geórgia pede para entrar na UE
A Geórgia - um ex-Estado soviético, assim como a Ucrânia - solicitará "imediatamente" a adesão à UE, um dia depois que o Parlamento Europeu apoiou a iniciativa da Ucrânia de se candidatar a membro do bloco.
Têm ocorrido grandes manifestações contra a invasão russa da Ucrânia na Geórgia e com críticas ao governo por não aderir às sanções internacionais contra a Rússia.
A Rússia controla duas regiões do país - a Ossétia do Sul e a Abkhazia - desde 2008, quando as forças russas expulsaram as tropas nacionais de lá.
O governo da Geórgia não quer, portanto, provocar a Rússia, por causa das bases militares instaladas por Moscou nas regiões separatistas.
Mas está sob pressão internamente para mostrar que continua comprometido com a adesão à Otan e à UE.
Macron: 'Europa deve pagar preço por paz, liberdade e democracia'
'Macron fez discurso à nação'
O presidente da França, Emmanuel Macron, fez um discurso televisionado à nação, denunciando a "mentira" da Rússia de que está lutando contra o nazismo na Ucrânia e condenando-a como "agressora".
Ele diz que, embora a Otan não esteja em conflito com a Rússia, houve uma "mudança de era" na Europa.
Em resposta, Macron diz que a França aumentará os gastos com Defesa enquanto defende uma maior independência energética europeia.
"A guerra na Europa não pertence mais aos nossos livros de história: está lá, diante de nossos olhos", diz Macron.
Ele elogia a unidade da resposta europeia, acrescentando: "A Europa agora deve concordar em pagar o preço pela paz, liberdade e democracia".
Petróleo atinge valor mais alto desde 2014
À medida que os combates continuam na Ucrânia, o conflito segue impulsionando os preços do petróleo — apesar das novas medidas destinadas a acalmar os mercados.
O petróleo do tipo Brent — referência internacional para os preços do petróleo — atingiu US$ 113 (cerca de R$ 580) o barril, registrando o nível mais alto desde junho de 2014.
O preço subiu mesmo depois que os membros da Agência Internacional de Energia concordaram em liberar 60 milhões de barris de petróleo das reservas de emergência.
A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo, e os investidores estão preocupados que o fornecimento de petróleo ou gás possa ser afetado.
Prefeito de Kiev: 'Civis estão pegando em armas. Estamos orgulhosos'
Vitali Klitschko e seu irmão Wladimir falaram à BBC
O prefeito de Kiev diz estar orgulhoso das pessoas que ficaram na cidade para defendê-la das forças russas.
Vitali Klitschko e seu irmão Wladimir - ambos pugilistas de renome internacional - falaram com a BBC de Kiev.
Vitali disse ter visto uma fila de "horas" de civis fazendo fila para pegar armas e se juntar à luta.
Ele disse que o patriotismo das pessoas o surpreendeu - de médicos a atores, as pessoas estão pegando em armas.
"Neste momento, as pessoas estão orgulhosas", diz ele.
Quando perguntado se os irmãos vão ficar na cidade para lutar, Wladimir disse: "Esta é a nossa casa. Nossos pais [estão] enterrados aqui, [nossos] filhos vão para a escola aqui. Por que devemos fugir? O que você faria se alguém entra na sua casa? Você a defende".
Wladimir também instou a comunidade internacional a dar mais apoio à Ucrânia. Ele disse que há uma "enorme demanda" por comida e água e, embora alguma ajuda esteja começando a chegar, "absolutamente não é suficiente".
Russos competirão como neutros nos Jogos Paralímpicos
Atletas paralímpicos da Rússia e da Belarus devem competir como neutros nos próximos Jogos Paralímpicos de Inverno de Pequim 2022.
Um comunicado do Comitê Paralímpico Internacional diz que os atletas - que já chegaram à China - competirão sob a bandeira paralímpica.
Eles não serão incluídos no quadro de medalhas, disse o IPC.
O IPC disse que tomou "as ações mais fortes possíveis" dentro dos parâmetros disponíveis.
Os Jogos Paralímpicos começam na sexta-feira (4/2), com a competição começando de fato no sábado.
BBC Brasil