Publicado em 3 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet
Hélio Schwartsman
Folha
Pela primeira vez, a China superou os EUA em produção científica. Em 2020, instituições chinesas publicaram 788 mil artigos contra 767 mil das americanas. É possível relativizar esse dado. A China tem uma população quatro vezes maior que a americana, de modo que a produção per capita dos EUA ainda é superior.
A China também não tem ganhado tantos prêmios Nobel quanto os EUA, o que faz supor que, nas áreas mais relevantes, os americanos liderem. Tudo isso é verdade, mas o fato, insofismável, é que a ciência chinesa vem evoluindo de forma robusta. Nada indica que um apagão esteja próximo.
LIBERDADE – A questão é relevante para os economistas liberais, particularmente os da escola institucionalista. Para eles, o crescimento sustentável só é possível quando as instituições políticas de um país são inclusivas e seus cidadãos gozam de liberdade para decidir o que farão de suas vidas e recursos.
Isso ocorre porque a prosperidade duradoura depende de um fluxo constante de inovações, que resulte em ganhos de produtividade.
Ainda segundo os institucionalistas, regimes autoritários, como o chinês, não asseguram a liberdade necessária para que o binômio ciência e tecnologia se desenvolva.
HÁ DÚVIDAS – É possível que tais economistas, entre os quais se destacam Daron Acemoglu e James Robinson, tenham razão e que a China, por um déficit de liberdade, não consiga manter o ritmo. Já vimos ditaduras colapsarem porque ficaram para trás na corrida tecnológica.
O caso mais notório é o da URSS, que, embora tenha chegado a liderar a ciência espacial, não foi capaz de manter-se competitiva em outras áreas, com reflexos na economia.
Mas não dá para descartar a hipótese de que os institucionalistas estejam errados. Não me parece em princípio impossível para um regime assegurar as liberdades necessárias para manter a ciência e a economia funcionando sem estendê-las à política. Ditaduras podem se reinventar.