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sábado, janeiro 08, 2022

A fumaça do Capitólio brasileiro




Apesar de armistício, acrobacias antidemocráticas do presidente terão efeito em 2022 e no futuro

Por Bruno Boghossian (foto)

Donald Trump não conseguiu melar a eleição de 2020, mas teve sucesso em seu plano B. Um ano depois da invasão do Capitólio, um terço dos americanos acredita na informação falsa de que a disputa foi fraudada para favorecer Joe Biden, e quase metade dos republicanos não aceita até hoje a vitória do democrata.

O ex-presidente adubou o terreno político dos EUA para preservar sua influência. Mesmo derrotado, ele se consolidou como líder de um processo de divisão da sociedade americana que se tornou uma importante ferramenta eleitoral da direita.

O trumpismo se firmou como uma linha central do Partido Republicano. Dirigentes se recusam a condenar a tentativa de golpe de 6 de janeiro de 2021, tratam o ex-presidente como um candidato competitivo para 2024 e pegam carona nas fantasiosas alegações de fraude para aprovar medidas que restringem o voto de potenciais eleitores democratas.

O golpismo de Trump sobreviveu à tentativa de golpe. Instalou-se como projeto político, infiltrado no eleitorado e na máquina partidária, acelerando um processo de erosão da democracia americana. O mesmo prejuízo pode ocorrer como consequência das acrobacias autoritárias conduzidas por Jair Bolsonaro ao longo de seu mandato.

Embora tenha sido forçado a aderir a um armistício nos últimos meses, o presidente brasileiro conseguiu disseminar uma desconfiança extraordinária sobre o sistema de votação do país. Sua campanha agitou policiais militares dispostos a participar da micareta golpista de 7 de setembro e estimulou o TSE a escalar um general como xerife das próximas eleições.

O primeiro ataque de Bolsonaro ao Capitólio já ocorreu, no último Dia da Independência. O presidente não teve êxito em sua manobra para roubar a eleição com antecedência, mas lançou fumaça suficiente para tumultuar a votação deste ano, alimentar suspeitas sobre o resultado em caso de derrota, gerar dúvidas sobre a posse de seu sucessor e sobreviver na era pós-Bolsonaro.

Folha de São Paulo

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