Publicado em 5 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet
Celeste Silveira
Poder 360
Luiz Carlos Trabuco Cappi, hoje presidente do Conselho de Administração do Bradesco, foi presidente por 9 anos do segundo maior banco brasileiro. Na hora de organizar as suas próprias finanças, porém, ele é um banqueiro globalizado: guarda parte das suas economias em uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe. Não há qualquer ilegalidade com a offshore de Trabuco. Ela foi declarada à Receita Federal, como manda a lei brasileira.
Na cúpula do sistema bancário brasileiro, o uso de offshores para investimentos e pagar menos impostos é comum. É uma prática que vai das instituições tradicionais – como Bradesco ou Santander – aos novos bancos, caso do Inter ou Agibank. E passa pelas instituições públicas, como o BRB (do governo do Distrito Federal).
CONTAS MILIONÁRIAS – Trabuco Cappi, que presidiu o Bradesco por 9 anos, é dono da Capvel Overseas Investments Limited. Junto com os filhos, ele tem ao menos US$ 5 milhões na conta dessa offshore, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas.
A herdeira do Bradesco e presidente da fundação do banco, Denise Aguiar, também tem três offshores nesse mesmo paraíso fiscal. Outros quatro executivos ou ex-dirigentes do banco são donos de empresas nas Ilhas Virgens Britânicas.
São eles: Cassiano Ricardo Scarpelli, vice-presidente do banco, criou a Monte Gennaro International para investir em títulos internacionais; Eurico Ramos Fabri, diretor de Crédito do Bradesco, abriu no Caribe a Vincenza Inc. com a mulher e uma filha; Samuel Monteiro dos Santos Junior, foi vice-presidente da holding Bradesco Seguro e Previdência, é dono da Idaho Holding Company com a mulher e 2 filhos; Antonio Bornia, que presidiu o Bradesco na Argentina e integrou o Conselho de Administração até 2015, tem a Anfamar & Sons Limited com 2 filhos.
OUTROS BANQUEIROS – Do Santander, terceiro banco privado no ranking brasileiro, Sérgio Rial, diretor-executivo, também é usuário antigo de offshores. Ele trabalhou no exterior por mais de 20 anos. É dessa época a abertura da Celtic Associates Ltd nas Ilhas Virgens Britânicas. O patrimônio da empresa é de pelo menos US$ 10 milhões. Rial diz que a sua offshore foi declarada à Receita Federal.
O Brasil só cobra impostos de offshore em situações pontuais: quando há distribuição de lucros, empréstimos ou a repatriação dos recursos. As alíquotas nesses casos variam de 15% a 27,5%.
Nenhum dos banqueiros aqui citados respondeu a uma pergunta enviada pelo Poder360: por que eles preferem investir fora do Brasil se são donos de bancos ou dirigentes no país.
JORNALISTAS INVESTIGATIVOS – Os documentos desta reportagem foram obtidos pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em inglês), uma entidade sem fins lucrativos com base em Washington D.C., nos Estados Unidos.
Participaram da investigação 615 jornalistas de 149 veículos em 117 países. O material está sendo analisado há cerca de 1 ano para a preparação da série. No Brasil, fazem parte da apuração jornalistas do Poder360, da revista Piauí, da Agência Pública e do site Metrópoles.
O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos realizou algumas das maiores investigações de impacto dos últimos anos, como Panama Papers e Swiss Leaks, revelando o lado mais sombrio das finanças e da corrupção.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como dizia Marx, o capitalismo não tem pátria. É difícil encontrar um banqueiro no Brasil que não use empresas offshore para pagar menos impostos e ter lucros nas desvalorizações do real. Por isso, a meu ver, todos os bancos deveriam ser estatais, como o BB, a Caixa e o BNDES. O capital deve ser usado para produzir riquezas, não para se reproduzir esterilmente, sem gerar empregos nem distribuir renda. Pense sobre isso. Os inacreditáveis juros nos cartões de créditos, mais de 300% ao ano, explorando o povo trabalhador, deveriam ser motivo para condenação e prisão de todos os banqueiros. Todos eles, sem exceção. Pense nisso, também. (C.N.)