Vicente Nunes
Correio Braziliense
Conhecedores dos meandros do mercado financeiro e dos mecanismos para fugir das garras da Receita Federal, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, não têm do que reclamar. Mesmo com todas as turbulências políticas no país, com o crescimento pífio da economia e a inflação dando uma sova no orçamento das famílias, Guedes e Campos Neto viram o patrimônio que eles têm depositados em paraísos fiscais aumentar 38,3% desde que assumiram seus cargos no governo de Jair Bolsonaro.
No último dia do governo de Michel Temer, 31 de dezembro de 2018, o dólar estava cotado a R$ 3,881. Na última sexta-feira (1º de outubro), a moeda norte-americana valia R$ 5,368. Portanto, quanto mais o dólar sobe, mais ricos ficam Guedes e Campos Neto, cujas contas em paraísos fiscais foram reveladas por um consórcio internacional de jornalistas.
TRABALHADOR PERDE – No mesmo período, a renda do trabalhador teve perda real de 18,29%. Em 31 de dezembro de 2018, o salário médio dos brasileiros era de R$ 2.254, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando descontada a inflação (para 2021, o cálculo inclui a projeção de 8,5% do Banco Central, o rendimento médio fica em R$ 1.905.
Não à toa, Paulo Guedes diz, em alto e bom som, que um dólar acima de R$ 5 é bom. Certamente, está falando em benefício próprio, pois, para os brasileiros comuns, quanto mais a moeda norte-americana sobe, pior. O dólar encarece dos combustíveis a medicamentos.
###
ARAS ABRE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR
Jorge Vasconcellos
O procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu, nesta segunda-feira (4/10), uma investigação preliminar sobre as empresas que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, têm em paraísos fiscais.
A revelação sobre a existência das offshores (empresas criadas no exterior) foi feita, no domingo, pelo projeto Pandora Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).
PARAÍSOS FISCAIS – O Pandora Papers investigou milhões de documentos de paraísos fiscais em todo o mundo. Segundo o calhamaço, Guedes criou a Dreadnoughts International Group em 2014, nas Ilhas Virgens Britânicas.
Na ocasião, com pelo menos US$ 8 milhões investidos, a companhia foi registrada no nome do ministro, da esposa, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes, e da filha, Paula Drumond Guedes. Os investimentos na offshore saltaram para US$ 9,5 milhões no ano seguinte, ainda conforme a investigação jornalística.
NÃO É CRIME… – Segundo a legislação brasileira, não é crime ter uma offshore, desde que declarada à Receita Federal. Guedes afirmou, nesta segunda-feira, por meio da assessoria, que a empresa nas Ilhas Virgens Britânicas foi devidamente declarada à Receita antes dele assumir o ministério.
Campos Neto, também em nota, afirmou que “está tudo declarado” e que não fez nenhuma movimentação desde que chegou ao governo. Segundo o presidente do BC, está tudo “bastante claro” e é importante seguir com a agenda.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG- Não é crime, mas é imoral, patético e desclassificante. Guedes e Campos Neto deveriam pedir demissão, pela honra do serviço público, como as pessoas de bem faziam antigamente. (C.N.)