Publicado em 12 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Ao rezar na manhã de domingo a missa da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco anunciou que levará à frente o maior processo de consulta popular da história da Igreja Católica para adaptá-la aos novos tempos. O processo baseia-se num plebiscito gigantesco através do qual poderão ser ouvidos 1,3 bilhão de católicos a respeito do futuro da Igreja.Todos os católicos poderão votar e as mudanças mudarão as estruturas de poder do Vaticano.
O plebiscito, que assim pode ser chamado, será realizado ao longo de dois anos, contados a partir deste 2021. Na minha opinião, será também a maior reforma da Igreja Católica depois da implantada pelo Papa João XXIII, na qual o Vaticano reconheceu que o ser humano deve se realizar tanto no céu quanto na Terra. A Encíclica de João XXIII abordou também o tema social, desdobrando-se numa outra importante iniciativa, propondo a união da população com o Congresso.
GRANDES REFORMISTAS – João XXIII e o Papa Francisco são os grandes reformistas da Igreja Católica. Na manhã de domingo, na Praça de São Pedro, Francisco indagou: “estamos prontos para a aventura ou estamos com medo do desconhecido, preferindo o refúgio nas desculpas habituais ? Mas não vamos isolar os nossos corações, não vamos nos abrigar em nossas certezas”, acrescentou.Vários pontos serão debatidos: ordenamento de mulheres, o divórcio, o celibato e também os relacionamentos homossexuais. Serão pontos essenciais da reforma para que a Igreja contenha a perda de fiéis, inclusive acentuada pelos escândalos de abusos sexuais e corrupção cometidos por uma estrutura que pouco mudou através dos séculos.
Da mesma forma que os conservadores que em 1958 se opuseram a João XXIII, os conservadores de hoje também se opõem ao Papa Francisco e já começaram a se manifestar contra o plebiscito de renovação. Para mim, no fundo, encontra-se também em jogo a manutenção da riqueza e de uma aliança que atravessa o tempo entre o poder político, o poder econômico e o poder do Vaticano, que no passado pesava muito mais do que no presente, mas que mantém a sua aliança com um sistema de poder e de concentração de renda.
CONTRADIÇÕES – A fome, inclusive, continua e o trabalho semi-escravo permanece num universo marcado por pelo menos quatro contradições fundamentais: existência e eternidade, corpo e espírito, um sinal de mais e um sinal de menos, o capital e o trabalho. Inclusive, trata-se de um elenco de símbolos que regem a vida e asseguram o equilíbrio da espécie humana.
Mas, dos quatro símbolos, a contradição entre o capital e o trabalho é a única que pode ser solucionada dentro do espírito cristão que nem sempre prevaleceu no Vaticano. O período de Eugênio Pacelli, Pio XII, que se estendeu de 1941 a 1958, quando faleceu, foi um espaço de tempo em que a Igreja de Roma ficou em silêncio diante do nazismo. Mas este fato pertence ao passado. João XXIII propôs e conseguiu uma reforma dentro do espírito cristão, dentro do exemplo de Jesus Cristo.
Agora, vamos aguardar o conteúdo concreto da reforma que o Papa Francisco coloca diante da humanidade. Os obstáculos surgirão para medir a força de uma reforma que se destina a ser tão humana quanto Divina: talvez na visão do Papa, um encontro entre Deus e o ser humano. Aquele encontro que não chegou a se realizar num toque de mãos como MIchelangelo pintou e eternizou na Capela Sistina. A pintura retrata Deus com o braço estendido para tocar a mão de Adão e Adão com a mão estendida para tocar a mão de Deus. Mas fica o espaço entre elas. A pintura foi feita há 500 anos e, no fundo, desafia o passar do tempo.
DESENTENDIMENTO – Correntes evangélicas, como a do pastor Silas Malafaia, reportagem de Igor Gielow e Anna Virginia Balloussier , Folha de S. Paulo de segunda-feira, se desentenderam com as articulações do ministro Ciro Nogueira, do ministro Fábio Faria e da ministra Flávia Arruda no sentido de que o presidente Jair Bolsonaro substitua a indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal, uma vez que o nome de Mendonça encontra fortes resistências no Senado Federal.
Ciro Nogueira, Fábio Faria e Flávia Arruda começaram a dar curso a uma articulação em torno de Alexandre Cordeiro de Macedo, atual presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) , que pode ser evangélico, mas está distante de ser “terrivelmente envagélico”. Aliás, diga-se de passagem, evangélicos são todos aqueles católicos e protestantes que adotam o Novo Testamento como norte religioso. Isso fica claro quando se focaliza a obra conjunta de Mateus, João, Lucas e Marcos.
SENTIMENTO DE CONFRONTO – Para os que, assim como eu assistiram a final da Copa de 1950 no Maracanã, quando a seleção brasileira enfrenta a do Uruguai, um sentimento de confronto esportivo se acentua. Tem sido assim através do tempo, a começar pelo Pan-Americano de 1952, em Santiago do Chile, quando derrotamos o Uruguai por 4 a 2, com nossa seleção treinada por Zezé Moreira. Um técnico que mostrou que um time não vence apenas do meio para a frente, no ataque, mas também com base na defesa do meio para trás. Mas agora o problema não é mais esse. O futebol brasileiro incorporou as ações defensivas em seu desempenho. O que está acontecendo, como se verificou nas partidas contra a Venezuela e a Colômbia, especialmente no jogo de domingo passado, foi a dificuldade de se chegar à área adversária.
Reportagem de Marcelo Neves, no O Globo de ontem, focaliza o problema, incluindo o mal desempenho de Neymar e uma declaração feita por ele de que a Copa de 2022 será a sua última participação. Mas esta é uma outra questão. Os jogadores surgem e encerram as suas carreiras, um processo natural de renovação. A questão essencial é que o esquema armado pelo treinador Tite está amarrando o desempenho da equipe.
A equipe está centralizando demais o jogo na figura de Neymar cuja presença dos lances tem se revelado enigmática.Nos últimos anos, por exemplo, só tem atuando bem no Barcelona e no Paris Saint Germain. Não tem figurado bem na camisa verde e amarela. Não está satisfeito como deixou claro em suas próprias palavras.