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quinta-feira, outubro 07, 2021

Desespero eleitoral inflaciona custo Bolsonaro




Por Vera Magalhães (foto)

Nunca houve um presidente da República que tenha provocado tantos retrocessos ao Brasil como Jair Bolsonaro nem um governo tão disfuncional quanto o seu. O fato novo a menos de um ano das eleições é que nunca existiu um candidato à reeleição com tantos flancos de exposição e tantos recordes negativos quanto ele. E isso é um fator a agravar exponencialmente o já impagável custo Bolsonaro.

Temos o primeiro presidente a buscar ser reeleito sem ter sequer um partido, que não lidera as intenções de voto, que tem o governo mais mal avaliado desde que o instituto da reeleição foi criado, que ostenta o maior índice de desempregados e que é, de todos os que disputaram novo mandato, aquele cujo governo enfrenta a maior inflação (acima dos 10% em 12 meses) um ano antes do pleito.

Saindo dos índices mensuráveis, quando se entra na seara política, o que se tem é um presidente isolado, inconfiável aos olhos das instituições, cujas decisões passaram a ser manietadas, quando não abertamente tuteladas, pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Congresso.

Um quadro assim é de difícil reversão. Daqui até o fim do ano, os dissabores no caminho de Bolsonaro tendem a se avolumar. Outubro terminará com o presidente indiciado pela CPI da Covid e com seus crimes, de responsabilidade e comuns, cometidos na gestão da pandemia enunciados em voz alta. Provavelmente o aliado Augusto Aras não fará nada com isso, mas os propósitos de registro histórico, denúncia internacional e reparação para os milhões de enlutados da pandemia tratarão de aumentar a queda livre de popularidade do capitão.

Novembro e dezembro serão meses de desespero orçamentário. E é um risco ter alguém como Bolsonaro, sem apreço algum a equilíbrio, do fiscal ao democrático, assim acuado. Lula tende a consolidar sua liderança, as definições de candidatos no campo do centro devem avançar, e ao presidente só restarão os truques populistas para tentar se viabilizar eleitoralmente.

Paulo Guedes ainda resiste aos apelos pela prorrogação pura e simples do auxílio emergencial, o que desobrigaria o governo de tirar uma receita da cartola para cobri-lo, ou aos palpites para que o benefício seja elevado para além dos R$ 300 com que aquiesceu. Mas está nas cordas diante da necessidade de explicar as condições em que manteve ativa uma empresa offshore enquanto esteve no posto, e seus adversários, na oposição e no governo, estão dispostos a explorar isso.

Além disso, mesmo se resolver fazer o milagre do crescimento do Bolsa Família afetando responsabilidade fiscal, o governo ainda tem um caminho tortuoso pela frente, que passa pela aprovação da reforma do Imposto de Renda e de uma Proposta de Emenda à Constituição que dê um verniz de legalidade à pedalada com precatórios. Isso tudo num Congresso em que senadores e deputados estarão cada vez mais preocupados com a própria reeleição e medirão sempre a conveniência de se atrelar a um governo em franca decomposição.

Tudo isso significa que Bolsonaro é carta fora do baralho e o segundo turno sem ele é o cenário mais provável? Não. Com o instituto da reeleição, o peso da máquina e da vantagem de o governante disputar no exercício do mandato é imenso.

Basta lembrar que Dilma Rousseff se reelegeu na bacia das almas, contando com um marketing de destruição dos rivais e adiando o cavalo de pau numa economia que já ruía.

Bolsonaro pode barbarizar no fiscal e ainda recorrer a toda a caixa de ferramentas de crimes virtuais usada em 2018 sem controle da Justiça Eleitoral nem o devido cuidado por parte da imprensa e dos adversários. Sua intenção de tentar inclusive melar o pleito, se for preciso, está dada.

Por tudo isso, a candidatura Bolsonaro vai aprofundar o estrago ao Brasil que sua Presidência acidental e desastrosa já causou. Será mais um ano de crise permanente.

O Globo

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