Publicado em 26 de julho de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Reportagem de Jan Niklas e Bianca Gomes, edição de domingo de O Globo, destaca o protesto contra o governo Jair Bolsonaro que levou milhares de pessoas às ruas de cidades do país e também tiveram a adesão de brasileiros residentes no exterior. Todos pedindo pela vacinação e o impeachment do presidente da República, além de estenderem o movimento contra o esquema de corrupção que surgiu na questão de compra de imunizantes.
A repercussão foi muito grande, mas a ausência do ex-governador Ciro Gomes representou uma oportunidade perdida por ele de se afirmar como um candidato independente de Lula, mas ao mesmo tempo contrário à reeleição e às ameaças de Bolsonaro. Faltou perspectiva porque no fundo da questão Ciro Gomes é de fato o único nome que pode ser colocado no centro da polarização entre o ex-presidente Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro.
ALTERNATIVA – Mas é preciso considerar que ele, Ciro Gomes, para tentar chegar ao segundo turno nas urnas de outubro de 2022 só possui um caminho, além do pequeno percentual de votos que possui; arrebatar os bolsonaristas arrependidos.
Fora daí, não há espaço para ele. Não consegue tirar dez votos do líder do PT. O título deste artigo está inspirado no filme do diretor Carol Reed, “O terceiro homem”, com a participação da Orson Welles no elenco.
PRAZO – O presidente Jair Bolsonaro desde que se desfiliou do PSL não ingressou em nenhuma outra legenda partidária e terá que fazê-lo até outubro, pois a lei partidária estabelece que qualquer pessoa para se candidatar tem que ter filiação até um ano antes das eleições. O prazo colocado para Bolsonaro tem o limite de 3 de outubro deste ano.
Por incrível que pareça, Bolsonaro tem encontrado dificuldades em inscrever-se em alguma legenda, uma situação singular na história política moderna do país. De modo geral, as direções partidárias estão sempre abertas para a inscrição de um presidente da República. Mas não é o caso que se aplica a Bolsonaro.
Reportagem de Ricardo Della Coletta, Julia Chaib e Daniel Carvalho, Folha de S. Paulo, revelou ontem que o próprio PP, que participa do governo, encontra-se dividido sobre se aceita ou não o ingresso de Bolsonaro em seus quadros. Não conseguindo inscrição, Bolsonaro cria um caso único na Justiça Eleitoral; um presidente da República inelegível por falta de inscrição partidária.
RESTRIÇÕES – Correntes de outros partidos, além de uma fração PP, também levantam restrições a conceder registro eleitoral ao presidente que dentro de menos de 18 meses se dispõe a tentar a reeleição, chegando ao ponto de fazer ameaças de cancelar o pleito se as urnas eletrônicas não forem substituídas pelo voto impresso.
É claro que após o pronunciamento dos generais Braga Netto e Hamilton Mourão, o presidente da República ficou sem espaço político e terá que recuar. Aliás, já recuou. Não há outro caminho e vale lembrar que a política é a arte de comunicar coisas e situações que os lábios não pronunciam.
CONSUMO – Falei há pouco sobre o erro de Ciro Gomes ao não comparecer às manifestações. São muitas as queixas populares contra o governo que congela salários e aceita o aumento de preços, tornando o consumo alimentar dos brasileiros de menor renda impossivel. Estes, provavelmente, terão que comer um dia sim e outro não. Incluindo seus filhos e suas famílias.
Paulo Soprana, Leonardo Vieceli e Daniela Arcanjo, Folha de S.Paulo, revelam que as classes pobres sentem muito mais a alta de preços do que as classes médias e os de renda mais elevada. Isso porque para os de menor remuneração, mais atingidos inclusive pelo desemprego, o peso percentual da alimentação é maior do que para as demais categorias sociais.
Com isso, amplia-se a fome que forma, ao lado da escassez de saneamento, transporte e habitação, uma válvula de pressão e opressão permanente contra aqueles que ganham até um salário mínimo. Uma faixa que reúne também aqueles que nem o mínimo recebem por mês. Por tudo isso, ratifico, o terceiro homem para as urnas de 2022 evaporou-se no meio da multidão.