Publicado em 25 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Está um tiroteio danado, porque não existe vazamento de informações no Alto Comando do Exército, portanto ninguém sabe o desfecho do caso do general de Divisão Eduardo Pazuello, que o presidente Jair Bolsonaro, seu companheiro de academia militar, conseguiu transformar num problema ambulante e desmoralizante para as Forças Armadas.
A situação é delicadíssimo, porque o trêfego Pazuello está na profissão errada, não se comporta como militar, mente sob juramento e desonra a farda que não mais deveria vestir.
DESAFIOU O COMANDANTE – Como se sabe, ele tem de ser punido por afrontar as normas internas das Forças Armadas e desafiar a autoridade do comandante-geral do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, ao participar de uma manifestação política a favor do presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, na manhã deste domingo (dia 23), tendo inclusive discursado na ocasião, em cima do carro de som.
Nesta segunda-feira, aguardava-se que o Alto Comando do Exército se reunisse para discutir a punição de Pazuello, dada a invulgar importância do assunto, mas o ministro da Defesa, general Braga Netto, se adiantou e convocou uma reunião com o comandante Nogueira.
Braga Netto tentou “amaciar” a situação de Pazuello, que cometeu uma transgressão disciplinar clara, ao afrontar publicamente a autoridade do comandante do Exército.
PROBLEMA GRAVÍSSIMO – O fato concreto é que se trata de um problema gravíssimo, porque o presidente Bolsonaro pode revogar qualquer punição ao general Pazuello e até demitir o atual comandante do Exército.
Em Brasília, os bastidores do Forte Apache dão conta de que a solução encontrada é empurrar o problema para a frente. Isso significa que será obedecido o trâmite militar, com o máximo de lerdeza. Primeiro, Pazuello será comunicado de que cometeu transgressão disciplinar, e vai ganhar três dias para responder.
Em seguida, quando a punição estiver em estudo no Alto Comando, pedirá passagem para a reserva, que no seu caso específico tem de ser decisão individual.
IGUAL A MOURÃO – Ou seja, será reprisado o caso do general Hamilton Mourão, que em 2015 deu várias declarações defendendo a tortura no regime militar e fazendo críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff, mas não foi punido. O comandante Eduardo Villas Bôas apenas tirou Mourão do Comando do Sul e colocou-o na Secretaria de Economia, um cargo burocrático.
Mas Mourão não ficou quieto. Em 2017, vestiu o uniforme de gala e fez um longo pronunciamento na Maçonaria, falando sobre a possibilidade de uma intervenção militar. E novamente não foi punido. O comandante Villas Bôas sugeriu que ele passasse para a reserva, Mourão concordou, logo virou presidente do Clube Militar e depois foi eleito vice-presidente da República, nota-se que é um homem de sorte.
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P.S. – Diante do curriculum vitae de Mourão, causou surpresa no Alto Comando sua atitude, defendendo a punição de Pazuello, cujas transgressões foram muito menos graves do que as cometidas por ele no governo Dilma. Mas parece que o general Mourão está com problemas de memória, não é mesmo? (C.N.)