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quarta-feira, fevereiro 10, 2021

‘Impeachment se faz com 14 milhões na rua, não com carreata’, diz Kalil, prefeito de BH


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Alexandre Kalil defende o isolamento e o uso de máscaras

Fernanda Canofre
Folha

Mesmo com a retomada das atividades não-essenciais em Belo Horizonte, depois de uma nova suspensão de três semanas em janeiro, a porta principal da prefeitura segue fechada. Reeleito em primeiro turno em 2020, confirmando as pesquisas que apontavam distância folgada para os demais adversários, Alexandre Kalil (PSD) conta que segue a mesma rotina do início da pandemia, indo de três a quatro vezes por semana ao gabinete e mantendo distanciamento social.

“Estou fazendo o que estou pedindo ao povo para fazer. Não entro em avião, bar, restaurante, não viajo, não tirei férias”, diz ele à Folha, sentado a uma distância de três metros em uma sala da prefeitura, o que permitiu que tirasse a máscara.

MENOS MORTES – A decisão de segurar o comércio fechado por mais tempo que outras capitais acarretou em críticas a Kalil durante a campanha eleitoral, mas garantiu um desempenho melhor que da maioria na pandemia: com 2,5 milhões de habitantes, a capital mineira tinha 2.369 mortes até a sexta-feira (5).

Durante a entrevista de cerca de uma hora, feita logo após a primeira reunião com os líderes da nova legislatura da Câmara Municipal, na terça-feira, Kalil falou sobre a gestão da pandemia, os governos Romeu Zema (Novo) e Jair Bolsonaro (sem partido), impeachment e eleições de 2022.

BH reabriu o comércio depois de quase três semanas fechado, devido aos índices da pandemia. O senhor avalia fechar novamente?
Sempre. Eu peguei os meses quentes do comércio, o Natal, antecipei o 13º e os salários em novembro, para que o comércio se aquecesse mais ainda, mas com distanciamento. Quando chegou janeiro, todo mundo voltou [das praias] e os índices de contaminação [subiram]. A pandemia é matemática, ela não é só problema de virologia.

O senhor não realizou evento para marcar o início da vacinação em BH, nem participou de agenda com o governador Zema relacionada às vacinas. Foi na contramão da maioria dos mandatários. Por quê?
Primeiro, por temperamento, eu sou meio avesso. Eu não inaugurei nenhuma obra que eu fiz, e não fiz poucas. Não tenho mérito nenhum na vacina. Não paguei por ela, eu ganhei. A vacina é do João Doria (PSDB), ele pagou, investiu. Não estou fazendo apologia a ele, mas o pai da CoronaVac é São Paulo.

E quando chegar a hora de o senhor se vacinar?
Eu quero fazer uma vacinação pública. Aí sim. Porque é uma questão de mostrar que vacinar não é problema, é um ato institucional até para a população mal informada, mas que mostrou que confia no líder, pela votação que eu tive.

Durante a pandemia, o governador Zema fez críticas duras às medidas adotadas em Belo Horizonte, chegou a dizer que era ‘um ponto fora da curva’. Como o senhor vê essas críticas?
Você acha que fechar a cidade dá ganho político para alguém? É só ele raciocinar um pouquinho. Foi muito desgastante. A grande surpresa que eles tiveram, que não sabiam, nem eu, nem ninguém, é qual seria o resultado do fechamento da cidade na urna.

No início da pandemia, o senhor publicou no Twitter que teve uma conversa com o governador, por telefone, e que não teria sido cumprido o acordo de vocês sobre fechamento das atividades. Depois disso, vocês voltaram a se comunicar?
Não, os prefeitos foram chamados, eu fui lá, como todos. O governo serve para a prefeitura para fazer convênio, dar dinheiro. Aqui é ele que está me devendo. Vou fazer o que lá, tomar café? Eu tenho aqui. Amigo novo não vou fazer, porque eu tenho 60 anos. Foi instalado o gabinete do ódio lá. Eu tinha uma relação cordial com ele, aí arrumou meia dúzia de assessores que me viram como inimigo número 1 do governador.

Como o senhor avalia o governo Zema?
O governo está quebrado, não fez uma reforma administrativa, não paga servidor em dia. Desde o Fernando Pimentel [PT] é o mesmo governo. Não mudou nada.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) publicou no Twitter um trecho da participação do senhor no programa Roda Viva, no fim de 2020, onde o senhor fala sobre fechar a cidade, e o chamou de ‘belo projeto de ditador’. O presidente Jair Bolsonaro usou o mesmo termo, no fim de janeiro. Como o senhor avalia a sua condução da pandemia?
Eu não tenho tempo de ficar brincando de Twitter. Ele quer falar de Belo Horizonte? Quando a cidade foi destruída pela maior chuva da história, ele veio com o AeroLula aqui, posou com o governador e ministros, falando em R$ 1 bilhão. Largou R$ 7 milhões aqui, e a reconstrução da cidade custou R$ 200 milhões, bancada unicamente pela prefeitura. “Eu sou contra fechar”. Temos 230 mil provas que tem que fechar, que tem que usar máscara.

O senhor chegou a receber Bolsonaro em BH, antes de ele ser candidato, mas apoiou Ciro Gomes (PDT) em 2018. Como o senhor avalia o governo dele?
Eu apoiei o Ciro, no primeiro turno, porque o achava mais bem preparado, e fiquei neutro no segundo turno. Estou esperando a entrega [do que o governo prometeu], porque não entregaram nada. Pauta econômica, tributária, desemprego, está certo que tem a pandemia, tem que dar um desconto. Se entregar o que prometeu, vai ser reeleito, se não entregar, vai perder eleição para qualquer um.

O senhor é a favor do impeachment? BH é uma das capitais que teve carreata recente a favor.
Não, não sou a favor. Impeachment se faz com 14 milhões de pessoas na rua, não com uma carreata. Nós não temos 14 milhões de pessoas na rua — e Deus me livre, com essa pandemia. Hoje não vejo clima, não vejo condição. Quando se fala em impeachment, vira um pandemônio o país. Nós estamos falando em alimentar quem está passando fome. Temos que olhar esse plano de dar cesta básica, um cartão, ajuda para esse pessoal que está abaixo da linha da pobreza.

Por que o senhor não apoiou Bolsonaro nem no segundo turno?
Trinta anos de vida pública, né? ‘Eu não vou te estuprar porque você é muito feia’, isso não se fala nem com uma cadela. Isso é uma frase que me marcou profundamente. Durante a campanha, ‘posto Ipiranga’. Pô, tem que estudar um pouco economia, uai.

E a posição dele sobre a ditadura militar?
Um golpe igual o de 1964 não é construído do dia para a noite. Quando tiraram o Jango, eu estava de calça curta. Eu vim conhecer o golpe com o Elio Gaspari, naqueles livros que ele escreveu. Conhecer o que foi, por que, onde, o que era DOI-Codi. No colégio, não podia ensinar, porque estávamos vivendo o regime militar. Eu vim entender a revolução depois que ela acabou.

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