Carlos Newton
Os generais que garantem a segurança do presidente Jair Bolsonaro no Planalto, digamos assim, vinham fugindo dos jornalistas e mantendo um silêncio obsequioso acerca dos novos rumos desse governo paramilitar, que abriga mais de 6 mil oficiais. E não interessa se são da ativa ou da reserva – para todos os efeitos, trata-se de militares, uma classe que os brasileiros desde cedo aprendem a respeitar.
Não mais que de repente, lembremos Vinicius de Moraes, o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, quebra esse silêncio estratégico dos generais do Planalto não somente para declarar que não se envergonha de articular com Centrão, mas também garantir que os militares da ativa entendem o momento político por que passa o governo.
PEGA NA MENTIRA – Ao fazer essa patética declaração ao repórter Felipe Frazão, do Estado de S. Paulo, o general Luiz Eduardo Ramos conseguiu escorregar duas vezes. Embora este ano não vá haver carnaval, ele tentou vestir a fantasia de articulador político, função que ele jamais conseguiu desempenhar. Parodiando Ruy Barbosa, até as paredes do Planalto sabem que Ramos até tentou fazer isso, mas foi um fracasso.
Com 28 anos de Câmara, o ex-deputado Bolsonaro não precisa de ninguém para fazer sua articulação política. Foi ele quem comandou tudo, com a ajuda do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), dos deputados Ricardo Barros (PP-PR), Osmar Terra (MDB-RS) e outros parlamentares de sua confiança pessoal.
Ramos fez apenas o trabalho burocrático de organizar e comandar os repasses de verbas e cargos para o Centrão, que incluiu cerca de R$ 3 bilhões em verbas extras, distribuídas para contemplar 285 parlamentares. Em matéria de articulação política, desempenho zero.
ENVOLVER OS MILITARES – O pior ponto da entrevista de Ramos foi a tentativa de envolver as Forças Armadas com essa virada de rumo de Bolsonaro, cujo objetivo é evitar o impeachment e blindar os filhos e amigos.
O ministro quis responder ás acusações do general da reserva do Francisco Mamede de Brito Filho, de uma das mais tradicionais famílias do Exército. “A imagem da instituição já está arranhada. Ficam do lado de um governo que comete as barbaridades que estamos presenciando”, afirmou o atual general Mamede, que apoia a oposição que fazem dois outros generais – Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, e Rêgo Barros, ex-porta-voz da Presidência, integrante da equipe direta de Ramos.
“Tenho contato com vários generais, amigos meus, não há isso, não. Eles entendem que é o momento político, que estou cumprindo uma missão. Não há (constrangimento), muito pelo contrário”, afirmou Ramos, que não tem autoridade para falar em nome dos militares.
MILITARES DIVIDIDOS – Tudo isso é muito desagradável. O general Ramos deveria ter se esquivado de dar declarações. Com essa inoportuna entrevista, quebrou o silêncio dos generais do Planalto e botou na rua o bloco de sujos, mesmo sem haver carnaval.
O fato concreto que resulta é a evidência de que os militares estão cada vez mais divididos em relação ao governo Bolsonaro. Aliás, desde o início, como instituições, as Forças Armadas colaboraram ao máximo com o governo, porém jamais compactuaram com o comportamento extravagante do presidente da República, que não sabe agir como militar de verdade.
E Bolsonaro, na sua ignorância, se acha cada vez mais fortalecido, porém as aparências enganam. Os militares brasileiros jamais compactuarão com um desgoverno de desmoraliza o Brasil interna e externamente. O resto é folclore.