Roberto Nascimento
Fernando Gabeira, que teve seu mais recente artigo publicado aqui na TI e brilhantemente comentado por Pedro do Coutto, foi homenageado no Segundo Caderno do O Globo, com farta reportagem sobre os oitenta anos de sua revolucionária vida de militante das causas progressistas.
No artigo, Gabeira descreve os rumos precoces da disputa presidencial de 2022. Na realidade, o presidente e a oposição já começaram a planejar essa distante realidade desde os primeiros dias de 2019.
CAMPANHA PERMANENTE – Bolsonaro, por exemplo, está em campanha permanente, desde o primeiro dia de mandato ele trabalha a reeleição. Além das “lives” das quintas-feiras, imitando os tijolaços de Leonel Brizola, o presidente dá entrevistas diárias no puxadinho do Alvorada,
Os estrategistas militares palacianos (bom dia, general Ramos), montaram a teia da nova direção do Congresso pelos próximos dois anos, elegendo os presidentes Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado).
Com o novo quadro, as pautas governistas terão caminho livre para passar as Reformas Administrativa e tributária, além do passe livre para compra de armas e projetos na linha de costumes para agradar a bancada evangélica.
ENFRAQUECIMENTO DOS PARTIDOS – Simultaneamente, o Planalto está conseguindo alcançar um importantíssimo objetivo, que é o enfraquecimento dos partidos políticos.
Rodrigo Maia brigou com ACM Neto e rachou o DEM, antigo partido PFL, eterno aliado do PSDB. Ao mesmo tempo, o presidenciável governador de Sampa, João Dória, brigou com Aécio Neves dividindo ainda mais os tucanos do PSDB. E no PT, Lula lançou prematuramente Fernando Haddad na estrada para concorrer em 2022, deixando novamente enfurecido o candidato Ciro Gomes, do PDT.
O outrora maior partido do Congresso, o PMDB de Ulisses Guimarães, “refundado” de MDB, tirando o P, com a derrota do deputado federal e presidente da sigla, Baleia Rossi, na Câmara, e da senadora Simone Tebet no Senado, o partido que combateu a ditadura militar também se dividiu ao meio.
TUDO POR DINHEIRO – Em meio a esses imbróglios, um número expressivo de deputados das legendas citadas acena para o Planalto em busca de emendas parlamentares para impulsionar obras em seus currais eleitorais e obtiveram a promessa de ministérios que furam poço.
Sem dinheiro do governo, torna-se difícil a reeleição dos parlamentares, que são profundamente pragmáticos e, portanto, não se importam se o presidente é conservador ou progressista. O que importa mesmo, é o voto do eleitor e a grana para cooptá-lo. São egoístas, a ponto de exaltar o espelho e suas santas individualidades.
VANTAGEM DOS BOLSONARISTAS – Por enquanto, o juiz e a bola do jogo estão com os governistas, mas tal e qual Fernando Gabeira entende, vejo o quadro com otimismo, pois isso tudo pode mudar até lá, em 2022.
Temos a questão da Covid-19, a falta de vacinas para todo mundo, o desemprego em alta, a economia balança com a volta da inflação, o Trump perdeu nos EUA e o vice Hamilton Mourão está sendo descartado pelo presidente e talvez concorra ao Senado pelo Rio Grande do Sul.
Enfim, ainda estamos no primeiro tempo da partida, muita água vai passar por essa ponte e parece que vamos novamente para a prorrogação.
MANTER A DEMOCRACIA – O importante é o resguardo do regime democrático, dos direitos humanos e sociais, a volta do pleno emprego, a proteção do meio ambiente e a valorização da Ciência.
A cereja do bolo é a manutenção das instituições democráticas, com o Judiciário e o Legislativo agindo como contrapeso ao Executivo para garantir a alternância do poder. O Congresso está dominado, mas tudo tem limites, e o Supremo dá sinais de independência. Há esperanças..