Publicado em 3 de fevereiro de 2021 por Tribuna da Internet
Natália Portinari, Bruno Góes e Paulo Cappelli
O Globo
Abandonado na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados por seu próprio partido, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Casa, vem dizendo que quer deixar o DEM. O presidente do partido, ACM Neto, tenta convencê-lo a ficar, mas a relação entre os dois se deteriorou às vésperas da eleição da Mesa Diretora da Câmara nesta segunda-feira.
Maia também tem sido convencido a não agir no calor dos acontecimentos. PSDB, Cidadania e PSL são siglas que poderiam receber o ex-presidente. Maia culpa ACM Neto por ter sido abandonado pela bancada do DEM e alega ter sido traído.
NEUTRALIDADE – Os deputados da sigla optaram por ficar neutros na disputa entre Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Maia, pela presidência. Aliados de Neto, porém, argumentam que o presidente do partido é que impediu que os deputados aderissem de vez à candidatura de Lira.
De acordo com esse argumento, o ex-prefeito de Salvador teria agido para minimizar a exposição da derrota de Maia na corrida, já que os aliados de Lira tinham assinaturas suficientes para migrar para o bloco rival. O desembarque do DEM é visto como um dos motivos para a votação expressiva de Arthur Lira para presidente da Câmara. Foi encarado pelos deputados como uma derrota simbólica de Maia.
BOMBEIROS – Após a eleição, o presidente do DEM procurou Maia por mensagem. A conversa foi cordial, mas interlocutores avaliam que a relação entre os dois está desgastada. Alguns tentam atuar como bombeiros para que Maia reflita e não tome ainda a decisão de sair do partido.
Uma eventual desfiliação precisaria ser aceita por Neto como uma expulsão voluntária, já que a lei não permite que deputados mudem de partido fora da janela partidária. O próximo período de mudanças é em março 2022. Por isso, aliados de Maia o aconselham a ter cautela e deixar a poeira da eleição abaixar.
COMPOSIÇÃO COM PSDB – Pela proximidade com o governador de São Paulo, João Doria, aliados de Maia acreditam que o caminho natural para o ex-presidente seria buscar uma composição com o PSDB, partido pelo qual sempre nutriu simpatia e foi próximo. Outras opções seriam o PSL e o Cidadania, pela boa relação que Maia tem com os parlamentares dessas siglas.
O PDT, partido ao qual Maia foi filiado no início da sua carreira política, também é citado. Procurado, Carlos Lupi, presidente do PDT, disse que não houve convite nem tratativas com Maia, mas frisa que o ex-presidente da Câmara é bem-vindo. “A porta está aberta para Rodrigo Maia”, diz
SOLIDARIEDADE – Maia já começou a conversar com políticos de outras legendas. Nesta terça-feira, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, ligou para Maia e prestou solidariedade. Não fez um convite formal para recebê-lo na legenda, mas reforçou que ambos devem caminhar juntos em uma frente que possa superar Jair Bolsonaro e o PT em 2022.
Para sair do DEM, Maia precisaria costurar com aliados um projeto para o futuro. Pessoas próximas ao ex-presidente da Câmara entendem que não há como sair do DEM sem o endosso de aliados importantes, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes.
ALIANÇA – O futuro de Maia também já é discutido pelo entorno de João Doria. Ao O Globo, um integrante do primeiro escalão do governo paulista disse que o tucano trabalharia para colocá-lo em posição de relevante para construção de uma aliança em 2022. Em São Paulo, DEM e PSDB têm uma aliança que Maia ajudou a costurar com Rodrigo Garcia (DEM), vice-governador do estado.
Oferecer uma secretaria, entretanto, seria “pouco” para a liderança de de Maia. Há também a avaliação de que Maia ficaria deslocado em São Paulo, em um momento em que precisa fortalecer a relação com seu eleitorado no Rio. A aliados, Doria nega a possibilidade de convidar Maia para seu governo.