por Fernando Duarte
Foto: Reprodução/ Blog do Miro
Farinha pouca, meu pirão primeiro. O ditado familiar que cresci ouvindo não para de fazer sentido quando paro para analisar o comportamento dos políticos brasileiros. Nesta terça-feira (21) veio a público que deputados e senadores receberam, junto com o já gordo contracheque do mês de junho, a primeira parcela da gratificação natalina, o equivalente ao 13º salário dos parlamentares. É a cota de sacrifício que eles fazem, né?
Desde o início da pandemia, é esperado algum gesto da classe política para tentar colaborar com a iminente crise econômica que vai abater o país por conta do coronavírus. Ainda no começo da quarentena, chegou a haver uma pressão para uma redução dos salários de deputados e senadores, porém o assunto caiu no esquecimento com a mesma velocidade com que surgiu. Não era interessante diminuir as benesses, imagina cortar os próprios proventos? Melhor fazer caridade com o chapéu alheio...
Em um contexto em que 9,3 milhões de trabalhadores da iniciativa privada tiveram salários suspensos ou reduzidos em até 75%, é uma piada de muito mau gosto saber que os “representantes do povo” sequer se deram ao trabalho de adiar, mesmo que temporariamente, o acesso a uma gratificação típica do final de ano. Infelizmente, não surpreende ninguém. Mesmo que o Congresso Nacional tenha tido uma atuação menos constrangedora do que o Executivo ao longo dos últimos meses.
Antes que os defensores de deputados e senadores ressaltem que é uma tradição o pagamento antecipado de metade da gratificação natalina no meio do ano, pergunte a um trabalhador que teve a renda reduzida por conta da Covid-19 se ele concorda. Ou se os milhares de brasileiros que perderam a renda e estão no vácuo da ausência do Estado, por não terem conseguido acesso ao auxílio-emergencial, concordam com esse direito. Tenho certeza que esses são apenas dois exemplos de pessoas que não estariam nem um pouco contentes com Vossas Excelências.
Não era uma questão de deixar de ter acesso ao 13º salário (travestido de gratificação natalina). Era segurar um pouco para não demonstrar tanto desprezo pela população que está à beira do colapso econômico por conta da falta de tato, também, do sistema político. Ninguém quer tolher os direitos dos ilustríssimos parlamentares. No máximo, torcer para que esse dinheiro público fosse mais bem gasto do que para engordar as contas de quem não está passando aperto.
Ah, e não espere ver qualquer crítica de um parlamentar, de direita, de centro ou de esquerda. Quando o assunto é o próprio benefício, ninguém vai meter uma colher nesse pirão...
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