Pedro do Coutto
Estudantes, professores e até reitores encontraram-se nas ruas de duzentas cidades brasileiras na tarde de quarta-feira mobilizados por um impulso entusiasmado e legítimo para tentar salvar da iminência do corte de recursos financeiros que atingiriam o próprio processo de ensino. Não importa que os cortes estejam disfarçados de contingenciamento previstos pelo ministro Paulo Guedes, que parece primeiro-ministro de um governo presidencialista.
Adepto da mão mágica do mercado, Paulo Guedes não leva em conta o princípio heigeliano de que a lei é a conciliação dos contrários. Só vê um lado e, com isso, abre espaço para a reação da sociedade contra o governo do qual faz parte. O que aconteceu? O presidente da República reagiu pessimamente ao episódio, ofendendo os que protestavam e, assim, radicalizando o processo político.
BOMBEIROS – Enquanto isso o vice-presidente Hamilton Mourão e o general Rego Barros, porta-voz do Palácio do Planalto, começaram a apagar o incêndio aceitando as críticas desde que partissem com base em fins pacíficos. Os dois generais lembraram que o direito de protestar é próprio da democracia, como se constata na reportagem de Henrique Gomes Batista, Paola Orte e Paula Ferreira, edição de ontem de O Globo. Vale destacar que o porta-voz do Planalto não estava em sintonia com a voz que veio de Dallas.
Dois detalhes importantes. O primeiro é este da falta de sintonia, e o segundo é a constatação de que existem duas correntes na Esplanada de Brasília. Uma joga na radicalização. Outra que se volta para flexibilizar os movimentos do governo tentando evitar ondas que batam no convés do poder. Os fatos repetidos nas últimas semanas abriram perspectivas para analisar-se o lado menos aparente dos bastidores de Brasília.
DESGASTE – O triste episódio do ministro Abraham Weintraub desgastou o Executivo como um todo. Acentuo que em mais de 60 anos no jornalismo nunca ocorreu algo semelhante. As emissoras de televisão, as redes sociais e os jornais levaram a atuação deprimente a população do país.
Weintraub é um ministro deseducado que, por sua ação tácita, praticamente se autodemitiu. A exoneração, se não sair hoje, sairá amanhã. Se não sair amanhã, ocorrerá proximamente.
DESPREPARO – Depois de ofensas a deputados que lhe dirigiram perguntas e críticas, o futuro ex-ministro revelou ao país seu absoluto despreparo para o cargo. Não possui conhecimento por mínimo de seja para comandar a Pasta com a qual não tem afinidade.
Um desastre absoluto total. Depois do que houve, perdeu todas as condições para dialogar com os reitores, professores e estudantes. Cada dia de sua permanência será um peso para Jair Bolsonaro.