Carlos Newton
Um dos problemas de Jair Bolsonaro, que tem muitos, é a precariedade de sua assessoria. Cercar-se de oficiais-generais é muito bom, nesta fase em que o Brasil precisa de seriedade e dedicação, mas isso não basta. É preciso incluir na entourage direta alguns intelectuais, que possam dar enfoques especiais aos pronunciamentos do chefe do governo. Essa participação em Davos, por exemplo, foi uma oportunidade de ouro, que Bolsonaro não soube aproveitar em todo o potencial.
Com a ausências de Donald Trump (EUA), Theresa May (Reino Unido) Emmanuel Macron (França), Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China), o estreante Jair Bolsonaro se transformou na maior atração do Fórum Econômico Mundial e atraía todas atenções. Era a hora e a vez de acontecer, diria o diplomata Guimarães Rosa, mas seu discurso deixou a desejar.
SEM DETALHES – Não sei quem foi o autor do pronunciamento, o maior suspeito é o ministro Paulo Guedes, mas deve ter sido escrito a várias mãos, e isso às vezes tira o brilho, porque o texto cai numa simplicidade entediante, quando necessita de detalhes, lampejos, com tiradas inteligentes e até alguns instantes de humor. Faltou essa pimenta, embora os principais objetivos tenham sido focalizados.
O mais importante foi a constatação de que Bolsonaro se livrou da influência patética dos filhos adoradores de Olavo de Carvalho e passou a respeitar a opinião do núcleo duro do Planalto, formado por três militares (Augusto Heleno, Hamilton Mourão e Santos Cruz) e dois civis (Gustavo Bebianno e Onyx Lorenzoni).
Em seu reduto na Virginia, interior dos EUA, Olavo de Carvalho está desesperado com a volta por cima de Bolsonaro, que libertou o governo e não segue mais as instruções políticas e econômicas que o defensor do ultraliberalismo tentou impingir, com destaque para a submissão aos interesses dos Estados Unidos.
SEM PRESTÍGIO – A mensagem mais relevante do discurso de Bolsonaro foi a política externa sem viés ideológico, uma característica marcante da diplomacia brasileira, que o PT do chanceler Celso Amorim jogou na lata do lixo.
Lembrem-se que o novo chanceler Ernesto Araújo tentou impor o estilo ensandecido de Olavo de Carvalho no Itamaraty, só faltou adotar a verborragia chula e pornográfica. Mas sua festa durou pouco. No discurso de posse, com trechos em grego e tupi-guarani, logo se percebeu que Araújo tem problemas e foi blindado pelo governo, para evitar maiores problemas.
Hoje quem manda na política externa é o núcleo duro do Planalto, e os postos-chave do Itamaraty estão sendo preenchidos por embaixadores de larga experiência, como ocorria desde sempre.
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P.S. – Ainda no tocante ao discurso, percebe-se um erro absurdo. “Tenham certeza de que, até o final do meu mandato, nossa equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios”, disse Bolsonaro, esquecido de que o Brasil é a nona economia e o quinto maior pais em número de habitantes, o que significa uma grande mercado consumidor. Por isso, estão instaladas aqui mais de 400 das 500 maiores multinacionais do mundo. Dizer que o Brasil não está na lista dos 50 melhores país para investimentos é Piada do Ano. Este tal ranking pode até existir, mas jamais deveria ser levado a sério. Fica claro que Bolsonaro precisa melhorar sua assessoria. (C.N.)
P.S. – Ainda no tocante ao discurso, percebe-se um erro absurdo. “Tenham certeza de que, até o final do meu mandato, nossa equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios”, disse Bolsonaro, esquecido de que o Brasil é a nona economia e o quinto maior pais em número de habitantes, o que significa uma grande mercado consumidor. Por isso, estão instaladas aqui mais de 400 das 500 maiores multinacionais do mundo. Dizer que o Brasil não está na lista dos 50 melhores país para investimentos é Piada do Ano. Este tal ranking pode até existir, mas jamais deveria ser levado a sério. Fica claro que Bolsonaro precisa melhorar sua assessoria. (C.N.)