Carlos Chagas
�
Ontem foi o Dia do Corte, com o governo Dilma começando a definir de onde sairão os 50 bilhões de economia no orçamento da União. Boa parte deles, das emendas individuais de deputados e senadores, mas, também, de investimentos nos diversos ministérios, da Defesa à Educação e ao Turismo, entre todos.
A partir de hoje começaremos a saber das reações parlamentares, a começar pelo estado de espírito dos 77 deputados do PMDB, dispostos a votar unidos desde o projeto do salário mínimo. Naquela oportunidade, votaram a favor. Na próxima, ninguém garante.
�
Para sorte do palácio do Planalto, entramos em ritmo de Carnaval, com menos gente do que o necessário, em Brasília, nesta e na próxima semana. Apesar disso, os estrilos já começaram, atingindo outros partidos da base oficial.
�
Não poderia ser diferente, nos dois pólos: o governo tinha mesmo de cortar, mas o PMDB tem toda razão de não gostar. Ao contrário do que muita gente pensa, as emendas individuais não constituem necessariamente sinecuras. Trata-se de verbas que os parlamentares destinam a obras e serviços em suas regiões de atuação: estradas, pontes, escolas, postos de saúde e similares. Além, é claro, de dinheiro para ONGs e associações pouco claras sob sua influência, controle e até propriedade.
A palavra de ordem no partido é aguardar o preenchimento dos cargos de segundo escalão, no correr de março, mas fazendo acender a luz amarela no semáforo postado diante da sede do governo. Haverá que aguardar as primeiras votações de projetos ou medidas provisórias de interesse do Executivo, mas sabendo que depois do Dia do Corte virá o Dia do Troco.�
�
FANTASIAS (1)
�
Começam a ser preparadas as fantasias para o desfile dos políticos, semana que vem. Vale divulgar, ao longo da semana, as preferências de Suas Excelências, começando pela maior parte do ministério, que formará o “Bloco do Retorno dos Que Não Partiram”. No meio deles estará a ministra da Pesca, Ideli Salvatti, com um imenso peixe nas costas e anzóis no pescoço.
O ministro do Turismo, Pedro Novaes, levará na ponta do barbante um aviãozinho de papel com os dizeres “Miami É Mais Barato”, enquanto o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, aparecerá como o “Dr. Silvana”. Os ministros da Agricultura, Wagner Rossi, e do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, dirigirão um singular trator que anda de marcha-a-ré. Já o ministro das Cidades, Mário Negromonte, estará fantasiado de “Floresta Tropical”, e o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, vestirá a fantasia de “Mandarim Chinês”.
Como “Monteiro Lobato no Cadafalso” poderá ser visto o ministro da Educação, Fernando Haddad, ao tempo em que Nelson Jobim, da Defesa, aparecerá como “Piloto de Caça Prisioneiro no Vietnam”. Alfredo Nascimento, dos Transportes, virá como “A Volta do Carro-de-Boi”, e Garibaldi Alves, da Previdência Social, em andrajos, levantará o cartaz de “Apesar de Tudo, Damos Lucro”.
Antônio Patriota, das Relações Exteriores, passará como “Tio Sam Forever”, de cartola e camisa de listas vermelhas e brancas. Fernando Bezerra, da Integração Nacional, num barco com carranca e tudo, como “São Francisco, Adeus”, e Isabela Teixeira, do Meio Ambiente, de “Tocha Humana”. Leônidas Cristino, dos Portos, arrancará aplausos vestido de “D. João VI Antes de Fugir Para o Brasil”. (Amanhã veremos o restante do governo)
�
OS EX-PRESIDENTES�
�
Dilma Rousseff anunciou a disposição de dar tarefas excepcionais aos ex-presidentes da República, de preferência no campo da política externa. Do jeito que Itamar Franco vem criando problemas para o governo, no Senado, logo surgirá a sugestão de mandá-lo dar vinte voltas ao mundo, cada uma durante oitenta semanas, a fim de relatar a influência das tempestades asiáticas no comportamento das araras azuis do Pantanal.
�
Blagues à parte, a proposta é digna de elogios, pois a experiência dos ex-presidentes, quaisquer que tenham sido seus partidos, só poderá contribuir para as decisões atuais de governo. Quem sabe mais cedo do que se pensa venham a ser incluídos no Conselho da República, que jamais se reuniu.
�
OUTRAS RAZÕES PARA O POVO IR ÀS RUAS
�
Claro que jamais existirão motivos, no Brasil, para o povo ir às ruas como na Tunísia, Egito, Líbia e similares. Aqui não prevalece a falta de liberdade, muito menos a ditadura e a corrupção como privilégio dos detentores do poder. Mesmo assim é bom tomar cuidado, porque outros motivos existem para motivar a exasperação popular. Os paulistanos, por exemplo, qualquer dia desses explodirão. Tem que ser quando não estiver chovendo, mas será, com certeza, por conta da chuva. Ou da falta de medidas para evitar o caos que toma conta da cidade toda vez que São Pedro abre as torneiras. Toda semana, dia sim, outro também, rios, ruas, praças e avenidas transbordam e causam tragédias. Infernizam o trânsito e prejudicam o trabalho dos cidadãos.
Ninguém faz nada: nem a prefeitura, nem o governo estadual, nem o governo federal. Sequer o óbvio, como obras de dragagem, saneamento e simples desobstrução de galerias pluviais e bocas de lobo. Nas tempestades, os bombeiros e a Polícia Militar atual como podem, resgatando vítimas, mas da autoridade pública que deveria prevenir e aparecer, nem sinal. Qualquer dia desses o povo vai para a rua.
Fonte: Tribuna da Imprensa