Carlos Chagas
Ontem, pouco antes das 11 da manhã, foram chegando à ante-sala da presidente Dilma os líderes dos partidos da base oficial. Senão revolta, havia insatisfação entre eles, por conta do corte de 18 bilhões nas emendas individuais ao orçamento. Já tinham discutido na véspera e mais conversavam sobre a necessidade de uma demonstração de inconformismo. Foi quando um deles encerrou as lamentações com uma pergunta: “e quem vai colocar o guiso no gato?”
Ninguém se apresentou, logo depois foram introduzidos no gabinete presidencial, congratulando-se todos, senão com o gato, ao menos coma chefe do governo. Faltou coragem, apesar da simpatia distribuída aos montes pela presidente da República ao exaltar a lealdade das bancadas dos partidos que a apoiam, no caso pela votação do projeto do salário mínimo. Faltou apenas o líder do PDT na Câmara, propositadamente não convidado, única voz que na semana passada insurgiu-se contra os baixos índices de reajuste para o salário mínimo.
É assim que as coisas funcionam, quando se trata do relacionamento entre Executivo e Legislativo. Ainda mais no governo do gato. Os poderes são harmônicos e independentes, preceitua a Constituição, mas faltou ao constituinte de 1988 imaginação para acrescentar que funcionam sob a égide da caneta presidencial.
Qualquer reclamação ostensiva diante dos cortes orçamentários poderia despertar conseqüências ainda piores para a classe político-parlamentar. Afinal, ainda sobraram dois bilhões para atender às emendas individuais. Alguns líderes poderão ser aquinhoados.
A CACHAÇA E O MERCADO
Pegou mal o reconhecimento pelo líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, de que mesmo servindo para comprar uma garrafa de cachaça, o reajuste do bolsa-família irrigará o mercado. Começa que são as donas de casa a administrar essa dádiva-esmola do governo para com os menos favorecidos.
Deve-se reconhecer não serem as mulheres as maiores consumidoras de cachaça no país. Depois, haverá que ponderar: um mercado movido a cachaça condena-se ao fracasso. Já basta verificar as dificuldades no extremo oposto, onde o combustível das elites costuma ser o uísque de trinta anos.
O reajuste do bolsa-família é mais do que necessário, bastando atentar para o estrilo do andar de cima diante do anúncio feito esta semana. Quando os poderosos protestam é porque a razão estará com os fracos.
NEM TROMBONES NEM TROMBETAS
Agripino Grieco, o mais implacável crítico literário de nossa História, foi responsável pela exaltação de bons autores e envio de muito mais para as profundezas. Duas vezes por mês frequentava um salão de barbeiro no subúrbio do Meyer, onde morava, no Rio. Durante anos o Fígaro tropical importunou o mestre para que os originais de um romance de sua autoria, destinado a revolucionar a literatura mundial, algo parecido com a Eneida ou o D. Quixote.
Diante das protelações, em determinado dia o barbeiro apelou, pedindo que se não podia ler aquelas centenas de páginas manuscritas, Grieco sugerisse apenas o título da fantástica obra. O crítico cedeu e perguntou: “No seu romance tem trombones?” “Não”. “Tem trombetas?” “Também não.” “Então aí está o título: Nem trombones, nem trombetas”…
Essa historinha se conta a propósito das comissões especiais formadas no Senado e na Câmara para elaborarem a reforma política. O conteúdo do trabalho não será conhecido sequer em oito anos, mas o título parece pronto: “Nem reforma, nem política”…
FANTASIAS (3)
Dando continuidade às sugestões de fantasias para o mundo político usar no Carnaval, a vez agora é do Congresso. No Senado, a comissão de frente entrará na avenida trajando roupas de bebê, com fraldas e tudo. Claro que com José Sarney à frente do bloco intitulado “Renovação”, seguido de Renan Calheiros, Garibaldi Alves Pai, Epitácio Cafeteira, Romero Jucá e outros.
Uma ala dissidente denominada “Filho de D. Quixote” desfilará na contra-mão, composta por Pedro Simon, Roberto Requião, Jarbas Vasconcelos, Eduardo Suplicy e Luís Henrique.
O grupo das “Bonecas Barbie” terá Marta Suplicy de porta-estandarte, seguida de Kátia Abreu, Lídice de Mata, Lúcia Vânia, Marisa Serrano, Marinor Brito, Gleisi Hofmann, Ana Amélia Lemos, Rosalba Ciarlini e Marluci Pinto.
Um bloco independente chamado de “Adoradores de Harry Potter” arrancará aplausos das arquibancadas com Randolfe Rodrigues, Lindberg Farias, Aécio Neves e Eduardo Braga, entre muitos galãs.
“O Retorno Dos Que Não Partiram” terá como mestre-sala Paulo Paim, e destaques Álvaro Dias, Cristóvam Buarque, Inácio Arruda, Magno Malta, Rodrigo Rollemberg e Walter Pinheiro.
Fechando o desfile de senadores, Fernando Collor e Itamar Franco “A Volta Do Zorro”. Amanhã focalizaremos a Câmara.
Fonte: Tribuna da Imprensa