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sábado, setembro 01, 2007

Para aliados, batalha está perdida

Renan decidiu que vai ocupar todos os espaços políticos para ter maior capacidade de articulação

BRASÍLIA - A decisão do Conselho de Ética de adotar o sistema de voto aberto para o julgamento do processo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez com que ele admitisse que a batalha nessa comissão está praticamente perdida. Renan confiava no sigilo do voto para ganhar no conselho e já passou a priorizar o julgamento do plenário da Casa, onde os senadores não precisarão revelar os votos.
Dentro dessa estratégia, Renan decidiu que vai ocupar todos os espaços políticos destinados ao presidente do Senado, justamente para ter maior capacidade de articulação para pedir votos a seu favor. Mesmo que seja derrotado no Conselho de Ética, Renan não vai renunciar à Presidência.
A avaliação de Renan e seus aliados é que uma saída do comando do Senado retiraria a pouca musculatura política que ainda conserva. Por conta disso, Renan decidiu exercer plenamente a presidência do Senado, justamente para ter capacidade de influenciar decisões e se manter forte na busca apoios para sua absolvição.
Ontem, por exemplo, alguns de seus assessores chegaram a sugerir que ele se preservasse e deixasse o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), com a tarefa de receber o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que foi encaminhar a proposta de Orçamento da União para 2008 para o Congresso.
Como seria um ato público entre dois Poderes, auxiliares de Renan acharam que ele poderia ficar exposto demais, com acesso à imprensa, menos de 24 horas depois da apresentação no Conselho de Ética do relatório dos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS), que pediu sua cassação.
Renan descartou imediatamente a hipótese de abrir mão do encontro e se reuniu com Paulo Bernardo. Da mesma forma, o presidente do Congresso também tem mantido conversas regulares com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sentou ao lado do presidente na solenidade de lançamento do livro "Direito à memória e à verdade" da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, na última quarta-feira.
Logo depois, se reuniu com o presidente, num encontro intermediado pelo senador José Sarney (PMDB-AP), para pedir ajuda de Lula na busca de votos contra a cassação dentro do PT. Para evitar a cassação no plenário, Renan nem precisa ter votos.
Apoio
Basta que a proposta de cassação não receba o apoio de 41 votos, quorum exigido para a aprovação de uma medida desse tipo. Assim, para ajudar Renan, os petistas nem precisariam votar a seu favor. Basta não participarem da sessão ou anularem seus votos.
E Renan espera que Lula ajude, nesse sentido, com sua influência entre os senadores do PT e de outros partidos da base governistas. Em troca, o presidente manteria um aliado grato no comando do Senado. Para essa tática ter maior sucesso, Renan avalia que precisa permanecer na Presidência do Senado.
Ele se baseia no caso do ex-senador e atual deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA), que chegou a ser eleito presidente do Senado, mas precisou abrir mão do cargo na tentativa de salvar o mandato parlamentar, depois de sofrer acusações por envolvimento em supostas irregularidades com recursos públicos.
Na avaliação de Renan e seus aliados, Jader teria chances de se manter como senador se não tivesse aberto mão da Presidência. Fora do comando da Casa, foi praticamente abandonado à própria sorte até pelos aliados, sendo obrigado a renunciar. Esse erro, Renan já avisou aos aliados que não vai cometer.
O presidente do Senado afirmou ontem que não vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra os 10 votos do Conselho de Ética que decidiram pela realização de votação aberta, na sessão de quarta-feira, para definir se dá ou não andamento ao processo contra ele, por quebra de decoro parlamentar.
"Eu não vou mexer com isso, não. Eu não", afirmou, ao chegar a seu gabinete. Logo em seguida, o presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), entrou no gabinete junto com o ministro, acompanhado do senador João Pedro (PT-AM), autor de um dos 5 votos favorável à votação sigilosa.
Outros parlamentares presentes afirmam ter ouvido um comentário de Renan a Quintanilha, segundo o qual ele teria dito: "Eu tinha 9 votos", provavelmente se referindo ao total de senadores que votariam com ele, se a votação fosse fechada.
Principal defensor da idéia de questionar o STF sobre a forma do voto no Conselho de Ética, o senador Gilvan Borges (PMDB-AP) também desistiu da idéia. Segundo sua assessoria, ele mudou de idéia por considerar que a matéria foi vencida pela votação dos membros do Conselho de Ética. E não apareceu até agora, nenhum aliado de Calheiros dispostos a avançar com a iniciativa.
Anomalias
Os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Demóstenes Torres (DEM-GO) acreditam que a medida seria improdutiva, diante da prática adotada pelo Supremo de não interferir no que considera questões internas do Congresso.
Para Wellington Salgado (PMDB-MG), aliado de Renan, a questão deve ser solucionada com a aprovação de seu voto em separado. "Quero ver as cenas de anomalias que existem no relatório, há ali um monte de absurdos que precisam ser desmentidos", disse.
Salgado promete fazer um relatório "mais substancial" do que o de Almeida Lima (PMDB-SE), outro aliado de Renan. O senador Salgado concorda que a votação fechada daria vitória para Renan Calheiros no Conselho. "Você ouviu (os ministros) o STF falar sobre faca na garganta? É a mesma coisa. Ali a imprensa colocou a faca na garganta de todo mundo. Ninguém está votando com a consciência", alegou. O senador acredita com, com o voto fechado, "a faca fica do lado de fora, não entra em local secreto".
Fonte: Tribuna da Imprensa

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