SÃO PAULO - Quem atacou o bispo Edir Macedo na internet pode receber em casa uma intimação judicial. A Google Brasil foi condenada pelo Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo a retirar do site de relacionamentos Orkut toda e qualquer comunidade que, na expressão dos advogados de Macedo, "ofendem a honra" do criador da Igreja Universal do Reino de Deus. A multa, em caso de descumprimento, é de R$ 1 mil por dia. Além disso, a Google deverá revelar a identidade dos internautas acusados de xingar o bispo, para serem processados individualmente."Entramos com a ação porque existiam comunidades extremamente negativas, inclusive incitando à morte de Edir Macedo", disse a advogada Mônica Inglez. "Além de retirá-las do ar, ganhamos o direito de ter acesso às informações pessoais dos internautas, para estudarmos as medidas civis e criminais cabíveis."A Google tentou recorrer da decisão, afirmando que é uma empresa brasileira e, por isso, só a matriz, na Califórnia, teria condições de retirar as páginas do site. Disse também que não poderia violar direitos fundamentais ao informar os IPs (espécie de identificação digital) dos participantes de comunidades.Esses argumentos foram rejeitados, na semana passada, pela desembargadora Maria Olívia Alves, do TJ. Ela entendeu que a Google Brasil funciona, na prática, como extensão das empresa americana e "suspender a decisão causaria perigo irreparável contra o bispo". Precedente Apesar de a advogada Mônica Inglez afirmar que as comunidades já saíram do ar, o Orkut continua repleto de menções ao bispo. Edir Macedo é atualmente tema de cerca de 40 comunidades - para o bem ou para o mal. Entre as mais populares estão "Eu admiro Edir Macedo" (com 2.397 membros), "Chuck Norris fuzile o Edir Macedo" (83 membros) e "Edir Macedo é o Satanás" (que conta com 66 membros). Não é a primeira vez que os internautas terão as identidades reveladas por decisão judicial. Em abril do ano passado, a Google Brasil forneceu à Justiça de São Paulo todas as informações relativas aos usuários que criaram perfis falsos da socialite paulistana Yara Rossi Baumgart. Ela ficou furiosa quando descobriu que seu nome havia sido indevidamente inscrito na comunidade "Bregas Assumidos"."O mais irônico dessa história é que a Google revela rapidamente essas informações quando é processada por celebridades. Quando o Ministério Público Federal pede a identificação dos internautas pedófilos e racistas, a empresa diz que não pode fazer isso", afirmou Thiago Tavares, presidente da Safernet, entidade que combate crimes na internet. "Isto sim é absurdo."
Fonte: Tribuna da Imprensa
Certificado Lei geral de proteção de dados
terça-feira, junho 05, 2007
segunda-feira, junho 04, 2007
Petrobrás oferece 163 vagas para cargos do nível técnico e superior
A Petrobrás abre hoje a inscrição para o concurso que oferece 163 vagas em cargos de níveis técnico e superior. Tem vagas para administrador, advogado, analista de sistemas, contador, dentista, enfermeiro, engenheiro e biólogo.
O concurso também oferece oportunidades para técnicos, nas áreas de telecomunicações, eletricidade, eletrônica, mecânica, contabilidade, enfermagem, geologia, edificações, química e segurança.
A inscrição vai até o dia 26 de junho, pela internet. O endereço é www.cespe.unb.br. A taxa é de R$40 para nível superior e R$27 para nível técnico.
Fonte: Jornal da Manhã
O concurso também oferece oportunidades para técnicos, nas áreas de telecomunicações, eletricidade, eletrônica, mecânica, contabilidade, enfermagem, geologia, edificações, química e segurança.
A inscrição vai até o dia 26 de junho, pela internet. O endereço é www.cespe.unb.br. A taxa é de R$40 para nível superior e R$27 para nível técnico.
Fonte: Jornal da Manhã
Perdeu o prazo para recorrer do Plano Bresser? Veja o que fazer
Os consumidores que não conseguiram entrar na Justiça até a última quinta-feira (31 de maio) para reivindicar as perdas com o Plano Bresser ainda têm duas chances de conseguir reaver o dinheiro devido pelos bancos.
A primeira, e mais recomendada pelos especialistas, é esperar o resultado das ações coletivas movidas por vários por vários institutos de defesa do consumidor em todo o país. Caso haja uma decisão positiva da Justiça, ela vai beneficiar todos os consumidores que têm algum dinheiro a receber.
“As pessoas que por alguma razão não conseguiram entrar com as ações podem ficar tranqüilas, porque estão amparadas por algumas ações públicas que foram promovidas por entidades de defesa do consumidor. E o pedido é extensivo a todos os poupadores”, diz o presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-SP, José Eduardo Tavolieri de Oliveira.
A segunda é mais complicada. Alguns advogados entendem que o prazo de 20 anos para reclamar as perdas só acaba no próximo dia 15. Outros defendem que ele vai até o final do mês de junho. Mas essa tese não é reconhecida ainda pela Justiça. Ou seja, quem entrar agora com uma ação individual baseada nessa possibilidade não tem garantia de receber o dinheiro, ao contrário daqueles que fizeram isso até o dia 31.
O que fazer por enquanto
“As pessoas devem continuar atrás dos extratos. Quem ainda não conseguiu, vá atrás, não deixe para depois”, diz a advogada Maria Elisa Novais, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Segundo ela, quem estiver com os extratos na mão quando sair o resultado das ações coletivas já poderá executar a decisão e receber o dinheiro mais rápido. Além disso, há o risco de que os bancos comecem a destruir os extratos (já há ações na Justiça para impedir isso também).
Quem não sabe se tinha poupança na época ou tem dúvidas sobre o saldo deve procurar o banco. Se a agência foi fechada, deve procurar outra agência do mesmo banco - é possível localizar a conta pelo CPF. No caso dos bancos que foram vendidos ou faliram, é preciso procurar o banco que comprou a instituição ou ligar para o Banco Central (0800-9792345) para obter essa informação.
Fonte: G1
Fonte: Correio da Bahia
A primeira, e mais recomendada pelos especialistas, é esperar o resultado das ações coletivas movidas por vários por vários institutos de defesa do consumidor em todo o país. Caso haja uma decisão positiva da Justiça, ela vai beneficiar todos os consumidores que têm algum dinheiro a receber.
“As pessoas que por alguma razão não conseguiram entrar com as ações podem ficar tranqüilas, porque estão amparadas por algumas ações públicas que foram promovidas por entidades de defesa do consumidor. E o pedido é extensivo a todos os poupadores”, diz o presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-SP, José Eduardo Tavolieri de Oliveira.
A segunda é mais complicada. Alguns advogados entendem que o prazo de 20 anos para reclamar as perdas só acaba no próximo dia 15. Outros defendem que ele vai até o final do mês de junho. Mas essa tese não é reconhecida ainda pela Justiça. Ou seja, quem entrar agora com uma ação individual baseada nessa possibilidade não tem garantia de receber o dinheiro, ao contrário daqueles que fizeram isso até o dia 31.
O que fazer por enquanto
“As pessoas devem continuar atrás dos extratos. Quem ainda não conseguiu, vá atrás, não deixe para depois”, diz a advogada Maria Elisa Novais, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Segundo ela, quem estiver com os extratos na mão quando sair o resultado das ações coletivas já poderá executar a decisão e receber o dinheiro mais rápido. Além disso, há o risco de que os bancos comecem a destruir os extratos (já há ações na Justiça para impedir isso também).
Quem não sabe se tinha poupança na época ou tem dúvidas sobre o saldo deve procurar o banco. Se a agência foi fechada, deve procurar outra agência do mesmo banco - é possível localizar a conta pelo CPF. No caso dos bancos que foram vendidos ou faliram, é preciso procurar o banco que comprou a instituição ou ligar para o Banco Central (0800-9792345) para obter essa informação.
Fonte: G1
Fonte: Correio da Bahia
domingo, junho 03, 2007
“O BRASIL NÃO TEM POVO”
por Maria Lucia Victor BarbosaEm 1881, em sua obra, "L’esclavage au Brésil", Louis Couty afirmou:“O Brasil não tem povo”, pois, “em nenhuma parte se acharão massas de eleitores sabendo pensar e votar, capazes de impor ao governo uma direção definida”.Cento e vinte e seis anos se passaram desde que Couty apontou o triste fato: “O Brasil não tem povo”. Mas, será que já tem, apesar das mudanças ocorridas?Como é impossível analisar num pequeno artigo mais de um século de história, tomo como marco importante o processo de industrialização, iniciado nos governos de Getúlio Vargas e JK, que desembocou no atual perfil do Brasil urbano e em parte modernizado. Persistem, é verdade, os contrastes sociais. Predominam na pirâmide social os mais pobres. Mas, bem diferente do século em que Couty nos visitou agora temos classes médias e uma elite econômica. Mesmo assim, perdura nosso subdesenvolvimento político que, associado ao vácuo de valores que hoje se observa, leva a indagar se Couty continua ou não tendo razão. Afinal, são eleitos e reeleitos notórios bandidos, trambiqueiros, mentirosos, tanto para o Poder Legislativo quanto para o Executivo e, em muitos casos, não se distingue entre desembargadores, juízes, advogados, políticos, bicheiros e qualquer tipo de marginal. Isto pode significar que são poucos os eleitores que sabem pensar e votar, sendo ao mesmo tempo incapazes de impor ao governo uma direção definida.A péssima escolha de nossos representantes pode ainda refletir uma profunda identificação popular com seus eleitos no que eles têm de pior, o que indicaria que não temos povo, mas plebe. Ao mesmo tempo, há muita ignorância relativa aos candidatos no que concerne às suas trajetórias políticas, demonstração de que conhecimento e informação não são coisas idênticas, pois não faltam, ainda que filtradas, informações sobre o festival de falcatruas prodigalizado por quem deveria dar o bom exemplo. Paradoxalmente isso acontece apesar da profusão de ONGs, centrais sindicais, associações de artistas e de intelectuais, dos chamados movimentos sociais, enfim, de tantas entidades que vão das associações de moradores à OAB, à ABI, à UNE, à CNBB e muitas outras, agora denominadas de redes sociais que alguns imaginam ser fontes de conscientização, civismo e solidariedade. Portanto, as redes sociais que sempre existiram, mas que com a complexidade urbana aliada à velocidade dos meios de transporte e comunicação (Internet e telefonia celular entre as mais recentes e notáveis revoluções da comunicação) se multiplicaram, não produzem necessariamente o cidadão cônscio, o indivíduo capaz de otimizar seu livre arbítrio, o ator que interfere em seu tempo. Novas “comunidades” nem sempre são atestados de “novo cidadão” solidário. Na diversidade do mundo atual onde os grupos “primários” como a família são trocados por grupos “secundários”, estes podem também abrigar redes, por exemplo, de criminosos, de terroristas, de narcotraficantes que possuem um tipo de solidariedade, de aprendizado e de projetos comuns, mas que estão bem longe do homem naturalmente bom de Rousseau ou do revolucionário “para si” de Karl Marx, que o conteúdo do termo rede social quer ressuscitar.Conferir à humanidade de hoje virtudes excelsas que ela jamais possuiu, é tão falso quanto o dilema indivíduo x sociedade, pois o que existe é uma interação entre o ser humano e seu ambiente sócio-cultural.Finalmente, se mudanças sempre estão ocorrendo, pois a vida é dinâmica, por trás das transformações materiais, valorativas e comportamentais certas essências humanas nunca mudam e a humanidade como um todo permanece ignorante, crédula e facilmente manipulável. No nosso caso, apesar das redes sociais prevalece o “mesmismo” de que falou Roberto Campos e uma acachapante e piorada passividade que tudo aceita como natural e politicamente correto. E continuamos, como, aliás, acontece com todos os povos, tangidos por poderes mais altos e ocultos em bastidores inacessíveis ao vulgo.Concluindo, apesar das redes sociais o homem continua, como disse Henry Louis Mencken, “o caipira par excellence, um ingênuo incomparável, o bobo da corte cósmica. Ele é crônica e inevitavelmente tapeado, não apenas pelos outros animais e pelas artimanhas da natureza, mas também (e mais particularmente) por si mesmo – por seu incomparável talento para pesquisar e adotar o que é falso, e por negar ou desmentir o que é verdadeiro”. No nosso caso, isso muito se acentua e de certo modo explica, entre outras causas históricas e culturais aqui não abordadas, porque o Brasil não tem povo.Maria Lucia Victor Barbosa é formada em sociologia e administração pública e tem especialização em ciência política pela Universidade de Brasília. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Começou a escrever em jornais aos 18 anos. Tem artigos publicados no Jornal da Tarde, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Gazeta do Povo, O Estado do Paraná e Valor Econômico, entre outros. É autora de cinco livros, incluindo “O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – A Ética da Malandragem” e “América Latina – Em busca do Paraíso Perdido”.
Publicado no site DIEGOCASAGRANDE.COM.BR.Sexta-feira, 27 de abril de 2007.
Fonte: blogger.com
Publicado no site DIEGOCASAGRANDE.COM.BR.Sexta-feira, 27 de abril de 2007.
Fonte: blogger.com
“O BRASIL NÃO TEM POVO”
por Maria Lucia Victor BarbosaEm 1881, em sua obra, "L’esclavage au Brésil", Louis Couty afirmou:“O Brasil não tem povo”, pois, “em nenhuma parte se acharão massas de eleitores sabendo pensar e votar, capazes de impor ao governo uma direção definida”.Cento e vinte e seis anos se passaram desde que Couty apontou o triste fato: “O Brasil não tem povo”. Mas, será que já tem, apesar das mudanças ocorridas?Como é impossível analisar num pequeno artigo mais de um século de história, tomo como marco importante o processo de industrialização, iniciado nos governos de Getúlio Vargas e JK, que desembocou no atual perfil do Brasil urbano e em parte modernizado. Persistem, é verdade, os contrastes sociais. Predominam na pirâmide social os mais pobres. Mas, bem diferente do século em que Couty nos visitou agora temos classes médias e uma elite econômica. Mesmo assim, perdura nosso subdesenvolvimento político que, associado ao vácuo de valores que hoje se observa, leva a indagar se Couty continua ou não tendo razão. Afinal, são eleitos e reeleitos notórios bandidos, trambiqueiros, mentirosos, tanto para o Poder Legislativo quanto para o Executivo e, em muitos casos, não se distingue entre desembargadores, juízes, advogados, políticos, bicheiros e qualquer tipo de marginal. Isto pode significar que são poucos os eleitores que sabem pensar e votar, sendo ao mesmo tempo incapazes de impor ao governo uma direção definida.A péssima escolha de nossos representantes pode ainda refletir uma profunda identificação popular com seus eleitos no que eles têm de pior, o que indicaria que não temos povo, mas plebe. Ao mesmo tempo, há muita ignorância relativa aos candidatos no que concerne às suas trajetórias políticas, demonstração de que conhecimento e informação não são coisas idênticas, pois não faltam, ainda que filtradas, informações sobre o festival de falcatruas prodigalizado por quem deveria dar o bom exemplo. Paradoxalmente isso acontece apesar da profusão de ONGs, centrais sindicais, associações de artistas e de intelectuais, dos chamados movimentos sociais, enfim, de tantas entidades que vão das associações de moradores à OAB, à ABI, à UNE, à CNBB e muitas outras, agora denominadas de redes sociais que alguns imaginam ser fontes de conscientização, civismo e solidariedade. Portanto, as redes sociais que sempre existiram, mas que com a complexidade urbana aliada à velocidade dos meios de transporte e comunicação (Internet e telefonia celular entre as mais recentes e notáveis revoluções da comunicação) se multiplicaram, não produzem necessariamente o cidadão cônscio, o indivíduo capaz de otimizar seu livre arbítrio, o ator que interfere em seu tempo. Novas “comunidades” nem sempre são atestados de “novo cidadão” solidário. Na diversidade do mundo atual onde os grupos “primários” como a família são trocados por grupos “secundários”, estes podem também abrigar redes, por exemplo, de criminosos, de terroristas, de narcotraficantes que possuem um tipo de solidariedade, de aprendizado e de projetos comuns, mas que estão bem longe do homem naturalmente bom de Rousseau ou do revolucionário “para si” de Karl Marx, que o conteúdo do termo rede social quer ressuscitar.Conferir à humanidade de hoje virtudes excelsas que ela jamais possuiu, é tão falso quanto o dilema indivíduo x sociedade, pois o que existe é uma interação entre o ser humano e seu ambiente sócio-cultural.Finalmente, se mudanças sempre estão ocorrendo, pois a vida é dinâmica, por trás das transformações materiais, valorativas e comportamentais certas essências humanas nunca mudam e a humanidade como um todo permanece ignorante, crédula e facilmente manipulável. No nosso caso, apesar das redes sociais prevalece o “mesmismo” de que falou Roberto Campos e uma acachapante e piorada passividade que tudo aceita como natural e politicamente correto. E continuamos, como, aliás, acontece com todos os povos, tangidos por poderes mais altos e ocultos em bastidores inacessíveis ao vulgo.Concluindo, apesar das redes sociais o homem continua, como disse Henry Louis Mencken, “o caipira par excellence, um ingênuo incomparável, o bobo da corte cósmica. Ele é crônica e inevitavelmente tapeado, não apenas pelos outros animais e pelas artimanhas da natureza, mas também (e mais particularmente) por si mesmo – por seu incomparável talento para pesquisar e adotar o que é falso, e por negar ou desmentir o que é verdadeiro”. No nosso caso, isso muito se acentua e de certo modo explica, entre outras causas históricas e culturais aqui não abordadas, porque o Brasil não tem povo.Maria Lucia Victor Barbosa é formada em sociologia e administração pública e tem especialização em ciência política pela Universidade de Brasília. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Começou a escrever em jornais aos 18 anos. Tem artigos publicados no Jornal da Tarde, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Gazeta do Povo, O Estado do Paraná e Valor Econômico, entre outros. É autora de cinco livros, incluindo “O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – A Ética da Malandragem” e “América Latina – Em busca do Paraíso Perdido”.
Publicado no site DIEGOCASAGRANDE.COM.BR.Sexta-feira, 27 de abril de 2007.
Fonte: blogger.com
Publicado no site DIEGOCASAGRANDE.COM.BR.Sexta-feira, 27 de abril de 2007.
Fonte: blogger.com
Hugo Chávez e a “sala de controle” de Washington
por Josias de SouzaHugo Chávez considera-se um gênio. Gênio do socialismo pós-pós. Em casos do gênero, só há três alternativas: ou o sujeito é maluco, ou é idiota, ou é gênio mesmo. As evidências encarregaram-se de refutar a última hipótese. Remanesce, porém, a dúvida: tolo ou débil mental?Tudo leva a crer que o caso é de esquizofrenia. A maioria dos venezuelanos ainda acha que votou em São Jorge. Mas, em vez de salvar a donzela, Chávez casou-se com o dragão. Lança chamas em todas as direções. Na noite passada, esquentou os miolos dos congressistas do Brasil.Entre uma explicação de Renan ‘Encrenca’ Calheiros e uma entrevista de Romeu ‘Quero Absolvê-lo’ Tuma, o Senado brasileiro encontrou tempo, no meio da semana, para aprovar uma mensagem dirigida a Chávez. No texto, pedia-se a São Jorge que recolocasse no ar emissora RCTV.Abespinhado, o dragão venezuelano fumegou: “O Senado brasileiro age como um papagaio do Congresso americano”. Disse que é mais fácil o Brasil voltar a ser colônia portuguesa do que o seu governo devolver a concessão ao canal retirado do ar. Em Brasília, houve repúdio e indignação. Lula, de passagem por Londres, também esboçou uma reação.Chávez, por doido, tem dificuldade para enxergar a realidade. Há, de fato, uma salinha em Washington. Fica nos fundos do prédio do Departamento de Estado. Abriga os nossos controladores –três funcionários obscuros, que decidem o futuro do Brasil. Preocupam-se, porém, com o Executivo, não com o Legislativo.Durante anos, os controladores do Brasil apostaram nos militares. Cansados, idealizaram a redemocratização lenta e gradual. Depois de uma seqüência de apostas erradas, decidiram que Fernando Henrique Cardoso era o homem para executar a tarefa no Brasil. Deram-lhe duas chances. Mas acharam que FHC não entregou tudo o que combinara. Para punir o tucanato, autorizaram a eleição de Lula. O objetivo de nossos controladores era dar um susto de quatro anos. Depois, retomariam o “Tucano’s Project”. Porém, os três funcionários da sala de controle surpreenderam-se com Lula. Acharam que ele se revelou um FHC melhor do que o original.Sem nenhuma combinação, Lula aparou a barba, vestiu Armani, manteve a abertura econômica, preservou o rigor fiscal e pagou a dívida com o FMI. De quebra, tornou-se amigo de Bush. Os controladores o rebatizaram de “Fernando Terceiro”. E lhe deram mais um mandato.As declarações de Hugo Chávez levaram os controladores do Brasil às gargalhadas. Ninguém mais do que os funcionários da salinha do Departamento de Estado sabem da irrelevância do Congresso brasileiro. Sossegados em relação ao Brasil, eles decidiram que, nos próximos meses, para passar o tempo, vão se divertir assistindo às transmissões da venezuelana RCTV pela internet.
Josias de Souza, nascido em 1962, é jornalista desde 1984. Trabalha na Folha de S.Paulo há 20 anos. Nesse período, ocupou diferentes funções, de repórter a Secretário de Redação do jornal. Hoje, é colunista da Folha. Publicou em 1994 o livro "A História Real" (Editora Ática), em co-autoria com Gilberto Dimenstein. O trabalho revela os bastidores da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2001, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de "Os Papéis Secretos do Exército".
Josias de Souza, nascido em 1962, é jornalista desde 1984. Trabalha na Folha de S.Paulo há 20 anos. Nesse período, ocupou diferentes funções, de repórter a Secretário de Redação do jornal. Hoje, é colunista da Folha. Publicou em 1994 o livro "A História Real" (Editora Ática), em co-autoria com Gilberto Dimenstein. O trabalho revela os bastidores da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2001, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de "Os Papéis Secretos do Exército".
Vossa Excelência
Titãs (P.Miklos, T.Bellotto e C.Gavin)
Estão nas mangas dos Senhores MinistrosNas capas dos Senhores MagistradosNas golas dos Senhores DeputadosNos fundilhos dos Senhores VereadoresNas perucas dos Senhores SenadoresSenhores!Senhores!Senhores!Minha Senhora!Senhores!Senhores!Filha da Puta!Bandido!Corrupto!Ladrão!Sorrindo para a câmeraSem saber que estamos vendoChorando que dá penaQuando sabem que estão em cenaSorrindo para as câmerasSem saber que são filmadosUm dia o sol ainda vai nascerQuadradoIsso não prova nada!Sob pressão da opinião públicaÉ que não haveremos de tomar nenhuma decisão!Vamos esperar que tudo caia no esquecimentoAí então...Faça-se a justiça!Estamos preparando vossas acomodações, Excelência.Filha da Puta! Bandido! Senhores! Corrupto! Ladrão!Filha da Puta! Bandido! Corrupto! Ladrão!
Escrito por Josias de Souza
Fonte: Folha Online
Estão nas mangas dos Senhores MinistrosNas capas dos Senhores MagistradosNas golas dos Senhores DeputadosNos fundilhos dos Senhores VereadoresNas perucas dos Senhores SenadoresSenhores!Senhores!Senhores!Minha Senhora!Senhores!Senhores!Filha da Puta!Bandido!Corrupto!Ladrão!Sorrindo para a câmeraSem saber que estamos vendoChorando que dá penaQuando sabem que estão em cenaSorrindo para as câmerasSem saber que são filmadosUm dia o sol ainda vai nascerQuadradoIsso não prova nada!Sob pressão da opinião públicaÉ que não haveremos de tomar nenhuma decisão!Vamos esperar que tudo caia no esquecimentoAí então...Faça-se a justiça!Estamos preparando vossas acomodações, Excelência.Filha da Puta! Bandido! Senhores! Corrupto! Ladrão!Filha da Puta! Bandido! Corrupto! Ladrão!
Escrito por Josias de Souza
Fonte: Folha Online
Renan mostra extratos, mas deixa dúvidas
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentou documentos que deixam dúvidas sobre a origem do dinheiro usado para o pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem o peemedebista tem uma filha. A documentação foi divulgada pela revista "Época" que circula neste final de semana.
Segundo a revista, Renan entregou à corregedoria do Senado extratos bancários com sua movimentação financeira entre janeiro de 2003 e dezembro de 2006 para provar que tinha saldo para pagar R$ 8.000 mensais de pensão, em dinheiro.
Os extratos mostrariam, no entanto, que em apenas 6 dos 21 meses do período houve saques com valores superiores a esse valor nos dias anteriores ao pagamento à jornalista.
Para que a versão de Renan Calheiros seja verdadeira é necessário acreditar num hábito incomum: o senador teria o costume de sacar numerário em espécie e guardá-lo em casa para quando tem a necessidade de usar dinheiro vivo.
Da documentação entregue pelo presidente do Congresso constam ainda dois recibos que comprovam o recebimento, por Mônica, de duas parcelas de R$ 50 mil para a constituição de um fundo para o "desenvolvimento cultural" da menina, em maio e junho de 2006. Mas os recibos, assinados pela jornalista, não provam que o dinheiro era proveniente das contas de Renan.
Outra curiosidade: o peemedebista entregou as duas prestações em dinheiro vivo. Se a transação era legal, com recibo assinado, nada o impediria de fazer tal pagamento por meio eletrônico ou cheque.
Outro documento que consta da reportagem de "Época" é o recibo do pagamento à vista de um ano do aluguel de uma casa em Brasília pela jornalista, no valor de R$ 43.200.
Novamente, não é possível dizer que o dinheiro era realmente de Renan Calheiros.
Venda de gado
O presidente do Senado apresentou também declarações de renda e patrimônio que mostrariam um ganho de R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos com a venda de gado. Também há registro de depósitos regulares em sua conta em valores de R$ 10 mil a R$ 50 mil, mas não é possível dizer se esse dinheiro veio realmente desses ganhos agropecuários.
Já a revista "Veja" desta semana tem reportagem que exibe fac-símiles do que seriam contratos de aluguel de Mônica Veloso nos quais o fiador é o lobista Claudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.
São documentos que constam também de um dossiê apócrifo que circulou desde a metade da semana passada em Brasília --um papelório com transcrições de supostas gravações de conversas íntimas entre Renan e a jornalista.
Vítima
Na estratégia de defesa do senador estava incluída a divulgação tanto do dossiê apócrifo como dos extratos bancários de Renan --embora o político alagoano negue participação no vazamento.
O presidente do Congresso tinha a expectativa de que a divulgação do dossiê o colocaria num papel de vítima no episódio. Assessores do senador insistentemente diziam a jornalistas na semana passada que o chefe havia sido gravado por Mônica Veloso.
Fonte: Folha Online
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentou documentos que deixam dúvidas sobre a origem do dinheiro usado para o pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem o peemedebista tem uma filha. A documentação foi divulgada pela revista "Época" que circula neste final de semana.
Segundo a revista, Renan entregou à corregedoria do Senado extratos bancários com sua movimentação financeira entre janeiro de 2003 e dezembro de 2006 para provar que tinha saldo para pagar R$ 8.000 mensais de pensão, em dinheiro.
Os extratos mostrariam, no entanto, que em apenas 6 dos 21 meses do período houve saques com valores superiores a esse valor nos dias anteriores ao pagamento à jornalista.
Para que a versão de Renan Calheiros seja verdadeira é necessário acreditar num hábito incomum: o senador teria o costume de sacar numerário em espécie e guardá-lo em casa para quando tem a necessidade de usar dinheiro vivo.
Da documentação entregue pelo presidente do Congresso constam ainda dois recibos que comprovam o recebimento, por Mônica, de duas parcelas de R$ 50 mil para a constituição de um fundo para o "desenvolvimento cultural" da menina, em maio e junho de 2006. Mas os recibos, assinados pela jornalista, não provam que o dinheiro era proveniente das contas de Renan.
Outra curiosidade: o peemedebista entregou as duas prestações em dinheiro vivo. Se a transação era legal, com recibo assinado, nada o impediria de fazer tal pagamento por meio eletrônico ou cheque.
Outro documento que consta da reportagem de "Época" é o recibo do pagamento à vista de um ano do aluguel de uma casa em Brasília pela jornalista, no valor de R$ 43.200.
Novamente, não é possível dizer que o dinheiro era realmente de Renan Calheiros.
Venda de gado
O presidente do Senado apresentou também declarações de renda e patrimônio que mostrariam um ganho de R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos com a venda de gado. Também há registro de depósitos regulares em sua conta em valores de R$ 10 mil a R$ 50 mil, mas não é possível dizer se esse dinheiro veio realmente desses ganhos agropecuários.
Já a revista "Veja" desta semana tem reportagem que exibe fac-símiles do que seriam contratos de aluguel de Mônica Veloso nos quais o fiador é o lobista Claudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.
São documentos que constam também de um dossiê apócrifo que circulou desde a metade da semana passada em Brasília --um papelório com transcrições de supostas gravações de conversas íntimas entre Renan e a jornalista.
Vítima
Na estratégia de defesa do senador estava incluída a divulgação tanto do dossiê apócrifo como dos extratos bancários de Renan --embora o político alagoano negue participação no vazamento.
O presidente do Congresso tinha a expectativa de que a divulgação do dossiê o colocaria num papel de vítima no episódio. Assessores do senador insistentemente diziam a jornalistas na semana passada que o chefe havia sido gravado por Mônica Veloso.
Fonte: Folha Online
Renan expande patrimônio em Alagoas
MP investiga voracidade da família Calheiros por fazendas na região de Murici
Eduardo Nunomura
SÃO PAULO - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), viu sua vida financeira devassada na semana passada. Deve ter sido devidamente informado pelos cartórios de Murici e Flecheiras, onde a família tem propriedades rurais, de que dezenas de certidões foram emitidas. Pudera, é de lá que o presidente do Senado afirma que vem o rendimento de R$ 1,9 milhão com atividades agropecuárias obtido em 2006. A renda comprovaria o dinheiro que dava de pensão à filha que teve numa relação extraconjugal com a jornalista Mônica Veloso.
Se vivesse só da política, Renan não poderia justificar a renda para pagar uma pensão alimentícia tão generosa, de R$ 12.500. O salário de um senador é de R$ 12.720. Mas para quem saiu do padrão de um Fusca em 1978 para o atual patrimônio, seu rendimento financeiro no mundo rural é um caso de sucesso. Em Murici está a única fazenda registrada em seu nome, a Novo Largo. Seu amigo e empresário Ildefonso Antonio Tito Uchoa Lopes afirma que o senador possui outras duas, Forquilha e Alagoas, e arrenda outras duas do irmão deputado Olavo Calheiros (PMDB), a Bananeira e Poço Dantas. Somadas, as cinco propriedades possuem 2.874 hectares.
“Ele é parlamentar, tem um salário que banca seus gastos e tudo o que as fazendas produzem pode ser reinvestido”, diz Tito Uchoa, que assume ter em seu nome uma das fazendas que seriam, na prática, do senador do PMDB. A fazenda é a Corte Novo, atual Alagoas, em Murici.
De Murici a Joaquim Gomes, passando por Flecheiras, o clã Calheiros vem comprando terras que antes pertenciam à Usina Bititinga. O Ministério Público Federal investiga a voracidade da família por propriedades na região de Murici, terra natal do senador. Segundo denúncia, para criar pasto para gado, os Calheiros vêm desmatando até áreas de mata atlântica que deveriam fazer parte de uma reserva florestal. Eles não divulgam o número de cabeças de boi que têm.
O filho do senador, Renan Calheiros Filho, de 27 anos, é prefeito de Murici. Desde que assumiu o cargo, o município de 22 mil habitantes já recebeu mais de R$ 3 milhões em emendas familiares, já que o pai é senador e os tios Olavo e Renildo são deputados federal e estadual. Do ponto de vista empresarial, ele também vai bem. É sócio, com Tito Uchoa, de uma rádio de concessão conquistada pelo pai e de uma gráfica em Maceió.
Na cidade de Murici, todos medem a força do clã Calheiros pelas terras e pela capacidade de fechar bons negócios. Em 2003, Olavo pegou R$ 5,9 milhões emprestados com bancos federais e estaduais e montou a Conny Indústria de Sucos e Refrigerantes. Três anos depois, a empresa que nunca chegou a ser conhecida por seus produtos foi vendida à Schincariol por R$ 26 milhões.
O presidente do Congresso tem reunido provas para mostrar que não precisa de ajuda da Construtora Mendes Júnior, cujo lobista Cláudio Gontijo entregava envelopes com dinheiro a Mônica Veloso.
Além das fazendas, Renan possui apartamento na Praia da Ponta Verde, avaliado em R$ 600 mil. Há três anos, comprou casa na badalada praia de Barra de São Miguel. Em terreno de 1.300 metros quadrados, ela tem quatro quartos, piscina e garagem para carros e barcos. Foi escriturada por R$ 300 mil, mas a avaliação de mercado é de que supere R$ 1 milhão.
Fonte: Estadao.com
Eduardo Nunomura
SÃO PAULO - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), viu sua vida financeira devassada na semana passada. Deve ter sido devidamente informado pelos cartórios de Murici e Flecheiras, onde a família tem propriedades rurais, de que dezenas de certidões foram emitidas. Pudera, é de lá que o presidente do Senado afirma que vem o rendimento de R$ 1,9 milhão com atividades agropecuárias obtido em 2006. A renda comprovaria o dinheiro que dava de pensão à filha que teve numa relação extraconjugal com a jornalista Mônica Veloso.
Se vivesse só da política, Renan não poderia justificar a renda para pagar uma pensão alimentícia tão generosa, de R$ 12.500. O salário de um senador é de R$ 12.720. Mas para quem saiu do padrão de um Fusca em 1978 para o atual patrimônio, seu rendimento financeiro no mundo rural é um caso de sucesso. Em Murici está a única fazenda registrada em seu nome, a Novo Largo. Seu amigo e empresário Ildefonso Antonio Tito Uchoa Lopes afirma que o senador possui outras duas, Forquilha e Alagoas, e arrenda outras duas do irmão deputado Olavo Calheiros (PMDB), a Bananeira e Poço Dantas. Somadas, as cinco propriedades possuem 2.874 hectares.
“Ele é parlamentar, tem um salário que banca seus gastos e tudo o que as fazendas produzem pode ser reinvestido”, diz Tito Uchoa, que assume ter em seu nome uma das fazendas que seriam, na prática, do senador do PMDB. A fazenda é a Corte Novo, atual Alagoas, em Murici.
De Murici a Joaquim Gomes, passando por Flecheiras, o clã Calheiros vem comprando terras que antes pertenciam à Usina Bititinga. O Ministério Público Federal investiga a voracidade da família por propriedades na região de Murici, terra natal do senador. Segundo denúncia, para criar pasto para gado, os Calheiros vêm desmatando até áreas de mata atlântica que deveriam fazer parte de uma reserva florestal. Eles não divulgam o número de cabeças de boi que têm.
O filho do senador, Renan Calheiros Filho, de 27 anos, é prefeito de Murici. Desde que assumiu o cargo, o município de 22 mil habitantes já recebeu mais de R$ 3 milhões em emendas familiares, já que o pai é senador e os tios Olavo e Renildo são deputados federal e estadual. Do ponto de vista empresarial, ele também vai bem. É sócio, com Tito Uchoa, de uma rádio de concessão conquistada pelo pai e de uma gráfica em Maceió.
Na cidade de Murici, todos medem a força do clã Calheiros pelas terras e pela capacidade de fechar bons negócios. Em 2003, Olavo pegou R$ 5,9 milhões emprestados com bancos federais e estaduais e montou a Conny Indústria de Sucos e Refrigerantes. Três anos depois, a empresa que nunca chegou a ser conhecida por seus produtos foi vendida à Schincariol por R$ 26 milhões.
O presidente do Congresso tem reunido provas para mostrar que não precisa de ajuda da Construtora Mendes Júnior, cujo lobista Cláudio Gontijo entregava envelopes com dinheiro a Mônica Veloso.
Além das fazendas, Renan possui apartamento na Praia da Ponta Verde, avaliado em R$ 600 mil. Há três anos, comprou casa na badalada praia de Barra de São Miguel. Em terreno de 1.300 metros quadrados, ela tem quatro quartos, piscina e garagem para carros e barcos. Foi escriturada por R$ 300 mil, mas a avaliação de mercado é de que supere R$ 1 milhão.
Fonte: Estadao.com
Empreiteira financia bancada do Orçamento
Maioria da comissão no Congresso recebeu doações de empresas ligadas ao setor nas eleições passadas
Wilson Tosta
Empreiteiras, construtoras e congêneres contribuíram financeiramente para as campanhas de 66,6% dos 42 membros titulares da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, mostra levantamento feito pelo Estado em contas dos candidatos arquivadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O setor apoiou com doações pelo menos 28 de 41 integrantes analisados - não foi encontrada a contabilidade de uma deputada da comissão.A proporção contrasta com o conjunto do Congresso, no qual só 46,94% dos parlamentares tiveram ajuda oficial de empreiteiros nas eleições. A Comissão de Orçamento recebe a proposta orçamentária do Executivo, preparando-a para votação, e tem sido apontada como terreno para lobistas interessados em obter recursos para obras.“Esse raciocínio é muito importante”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Moreira, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS). “Mostra que existe uma relação direta entre financiamento de campanha e as pessoas que disputam posição na Comissão de Orçamento.” Os ataques à comissão, comuns desde o escândalo dos anões do Orçamento, nos anos 90, voltaram a ganhar força com a Operação Navalha da Polícia Federal, que apontou a atuação da Construtora Gautama em esquema de fraude de licitações para obras públicas.O presidente da comissão, senador José Maranhão (PMDB-PB), porém, contesta as críticas à atuação do órgão. “Se tiver transparência na preparação do Orçamento e na sua execução, vamos reduzir muito a possibilidade de desvio de recursos públicos”, argumenta.No Senado, a proporção de parlamentares com apoio legal de empresas de construção foi de 44,4%, o equivalente a 36 dos 81 senadores. Na Câmara, a porcentagem de políticos que receberam colaborações do setor de construção em suas campanhas é de 46% (233 em 506 pesquisados - não foi possível localizar as contas de 7 deputados).O levantamento mostra, porém, que o peso das empreiteiras nas campanhas dos parlamentares que vieram a integrar a Comissão de Orçamento este ano variou. Nas contas do deputado Fábio Ramalho (PV-MG), por exemplo, R$ 140 mil dos R$ 294.455,47 que captou foram bancados pelo setor. Isso foi equivalente a quase metade, 47,54%, do total. Já o deputado Eduardo Sciarra (DEM-PR) recebeu de empreiteiras e congêneres apenas R$ 25 mil (2,78%) da sua receita de R$ 898.320,15.O senador Maranhão diz não acreditar na possibilidade de influências nocivas no trabalho atual da comissão, mas concorda com as críticas quando se referem ao passado. “A Comissão de Orçamento era muito solta. Não tinha nenhuma norma interna. Havia o jogo político de grupos que se organizavam para dominá-la. É certo que havia alianças entre membros da comissão e empresas”, relata. “Mas a efetivação das fraudes começa no processo licitatório. E quem faz licitação não é a comissão, é o Poder Executivo federal, estadual e municipal.”Maranhão lembra ainda que são os partidos que indicam os integrantes da comissão. “Pessoalmente conheço todos. Acho que, se tivermos uma boa gestão e uma estrutura legal adequada, eficiente, pode-se evitar irregularidades.”MUDANÇA DE REGRASEle explica que a partir do ano passado, quando foi editada a Resolução número 1/2006 do Congresso, a Comissão de Orçamento passou por mudanças que dificultam as ações ilegais. “Agora, nenhum membro da comissão pode integrá-la mais de uma vez no mandato”, conta.O número de membros foi reduzido de 168 (84 titulares e 84 suplentes) para 80 (40 titulares e 40 suplentes) - duas vagas foram abertas para resolver questões de proporcionalidade. “A composição anterior dificultava as reuniões, o quórum ficava alto demais”, diz Maranhão. Ele acredita ainda que as comissões técnicas se fortaleceram.Mas o senador critica a proposta de acabar com as emendas individuais ao Orçamento, que considera uma “volta ao regime de 64”. Na época, diz, o governo enviava a proposta orçamentária e, se o Congresso não a aprovasse, ela passava do mesmo jeito, por decurso de prazo. “Se concordarmos que o Executivo é a expressão da pureza , e o Legislativo, um antro, aí essa idéia vai emplacar”, declara.Uma análise de alguns números da comissão mostra outras peculiaridades. Há, em sua composição, diferenças significativas entre as representações dos Estados, que não correspondem necessariamente a seu peso econômico ou mesmo ao tamanho das suas populações. Contando titulares e suplentes, Bahia e Minas, por exemplo têm oito representantes cada; São Paulo, sete; Paraíba, cinco; Piauí e Maranhão, quatro cada. Já o Rio de Janeiro tem apenas dois suplentes, mesma quantidade de Rondônia e Roraima, Estados que têm população e eleitorado bem menores.
Fonte: Estadao.com
Wilson Tosta
Empreiteiras, construtoras e congêneres contribuíram financeiramente para as campanhas de 66,6% dos 42 membros titulares da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, mostra levantamento feito pelo Estado em contas dos candidatos arquivadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O setor apoiou com doações pelo menos 28 de 41 integrantes analisados - não foi encontrada a contabilidade de uma deputada da comissão.A proporção contrasta com o conjunto do Congresso, no qual só 46,94% dos parlamentares tiveram ajuda oficial de empreiteiros nas eleições. A Comissão de Orçamento recebe a proposta orçamentária do Executivo, preparando-a para votação, e tem sido apontada como terreno para lobistas interessados em obter recursos para obras.“Esse raciocínio é muito importante”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Moreira, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS). “Mostra que existe uma relação direta entre financiamento de campanha e as pessoas que disputam posição na Comissão de Orçamento.” Os ataques à comissão, comuns desde o escândalo dos anões do Orçamento, nos anos 90, voltaram a ganhar força com a Operação Navalha da Polícia Federal, que apontou a atuação da Construtora Gautama em esquema de fraude de licitações para obras públicas.O presidente da comissão, senador José Maranhão (PMDB-PB), porém, contesta as críticas à atuação do órgão. “Se tiver transparência na preparação do Orçamento e na sua execução, vamos reduzir muito a possibilidade de desvio de recursos públicos”, argumenta.No Senado, a proporção de parlamentares com apoio legal de empresas de construção foi de 44,4%, o equivalente a 36 dos 81 senadores. Na Câmara, a porcentagem de políticos que receberam colaborações do setor de construção em suas campanhas é de 46% (233 em 506 pesquisados - não foi possível localizar as contas de 7 deputados).O levantamento mostra, porém, que o peso das empreiteiras nas campanhas dos parlamentares que vieram a integrar a Comissão de Orçamento este ano variou. Nas contas do deputado Fábio Ramalho (PV-MG), por exemplo, R$ 140 mil dos R$ 294.455,47 que captou foram bancados pelo setor. Isso foi equivalente a quase metade, 47,54%, do total. Já o deputado Eduardo Sciarra (DEM-PR) recebeu de empreiteiras e congêneres apenas R$ 25 mil (2,78%) da sua receita de R$ 898.320,15.O senador Maranhão diz não acreditar na possibilidade de influências nocivas no trabalho atual da comissão, mas concorda com as críticas quando se referem ao passado. “A Comissão de Orçamento era muito solta. Não tinha nenhuma norma interna. Havia o jogo político de grupos que se organizavam para dominá-la. É certo que havia alianças entre membros da comissão e empresas”, relata. “Mas a efetivação das fraudes começa no processo licitatório. E quem faz licitação não é a comissão, é o Poder Executivo federal, estadual e municipal.”Maranhão lembra ainda que são os partidos que indicam os integrantes da comissão. “Pessoalmente conheço todos. Acho que, se tivermos uma boa gestão e uma estrutura legal adequada, eficiente, pode-se evitar irregularidades.”MUDANÇA DE REGRASEle explica que a partir do ano passado, quando foi editada a Resolução número 1/2006 do Congresso, a Comissão de Orçamento passou por mudanças que dificultam as ações ilegais. “Agora, nenhum membro da comissão pode integrá-la mais de uma vez no mandato”, conta.O número de membros foi reduzido de 168 (84 titulares e 84 suplentes) para 80 (40 titulares e 40 suplentes) - duas vagas foram abertas para resolver questões de proporcionalidade. “A composição anterior dificultava as reuniões, o quórum ficava alto demais”, diz Maranhão. Ele acredita ainda que as comissões técnicas se fortaleceram.Mas o senador critica a proposta de acabar com as emendas individuais ao Orçamento, que considera uma “volta ao regime de 64”. Na época, diz, o governo enviava a proposta orçamentária e, se o Congresso não a aprovasse, ela passava do mesmo jeito, por decurso de prazo. “Se concordarmos que o Executivo é a expressão da pureza , e o Legislativo, um antro, aí essa idéia vai emplacar”, declara.Uma análise de alguns números da comissão mostra outras peculiaridades. Há, em sua composição, diferenças significativas entre as representações dos Estados, que não correspondem necessariamente a seu peso econômico ou mesmo ao tamanho das suas populações. Contando titulares e suplentes, Bahia e Minas, por exemplo têm oito representantes cada; São Paulo, sete; Paraíba, cinco; Piauí e Maranhão, quatro cada. Já o Rio de Janeiro tem apenas dois suplentes, mesma quantidade de Rondônia e Roraima, Estados que têm população e eleitorado bem menores.
Fonte: Estadao.com
Fazenda dos Calheiros está em nome de doméstica morta. Primo acusa Renan e irmão de comprarem terras em nome de laranjas
Reinaldo Azevedo
"Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem"Robert Musil em O Homem sem Qualidades
No Globo deste domingo, ficamos sabendo um pouco mais do que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) talvez insista em chamar de sua “vida privada”. Será mesmo? E, reitero, trata-se de mais um assunto pelo qual a revista Contigo não se interessaria porque se ocupa de outro tipo de artista. Leiam trecho de reportagem de Alan Gripp. Volto depois:Primo e irmão adotivo do presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dimário Cavalcante Calheiros causou alvoroço ao denunciar ao Ministério Público Federal que foi usado como laranja pela própria família na compra da Fazenda Cocal, em Murici, berço político dos Calheiros. Agora, novas evidências lançam suspeitas sobre a negociação.Uma escritura da propriedade de mesmo nome, emitida pelo cartório de imóveis do município, em janeiro de 2006, diz que as terras pertenciam, naquele ano, à agricultora Marlene Gomes da Silva. Mas documentos obtidos pelo GLOBO revelam que Marlene, na verdade, era uma ex-empregada doméstica da fazenda, morta nove anos antes, em 1997.A Cocal é uma faz propriedades adquiridas pelos Calheiros e anexadas à principal fazenda da família, a Santa Rosa. Na entrevista ao GLOBO da última terça-feira, o gerente das fazendas da família afirmou que a Cocal pertence a Renan Calheiros, embora, oficialmente, não faça parte da declaração de bens do senador.Também em entrevista ao jornal, Dimário Caheiros disse que Renan participou diretamente da negociação e deu a ordem para a compra da Cocal. Ex-gerente das fazendas da família, Dimário descobriu, em 2005, que era dono, no papel, da propriedade de 108 hectares. Ele denunciou o Ministério Público que nunca a adquiriu. Outro primo de Renan, Antônio Gomes Vasconcelos, acusou Renan e seu irmão, deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), de usarem laranjas para adquirirem fazendas e, com o auxílio do cartório de Murici, “aumentarem” o tamanho das terras.(...)A certidão que atribui a propriedade da Fazenda Cocal a Marlene Gomes da Silva foi emitida meses depois das primeiras denúncias feitas por Dimário. Contrariando o padrão dos registros de bens, o documento não traz informações sobre o tamanho e os limites da propriedade, nem o valor do negócio. Procurada na terça-feira, a tabeliã Maria de Lourdes Ferreira, que assinou a certidão, não foi encontrada no cartório.(...)As suspeitas de que laranjas foram transformados em donos de grandes pedaços de terra surgiu depois que o Ibama iniciou um levantamento da situação fundiária da Estação Ecológica do Murici, que fica em região de Mata Atlântica. O órgão ambiental pretende desapropriar fazendas para executar plano de recuperação ambiental da reserva. Para isso, pagará indenizações milionárias.Diante do registro nebuloso das propriedades, o trabalho do Ibama foi interrompido.Procurado, Renan não retornou a ligação. Durante a semana, a assessoria do senador informou que os bens dele estão todos declarados no Imposto de Renda.
Para ler íntegra, clique aqui. (É preciso se cadastrar)VolteiA questão se resolve facilmente. A fazenda está em nome Marlene, já morta? Como seu marido morreu também, e eles deixaram seis filhos, o Ibama pode desapropriar a Cocal e entregar o dinheiro aos herdeiros do casal. Renan Calheiros não deve ficar triste, já que, segundo o que está no papel, as terras pertencem mesmo à sua ex-empregada. Mais: nem a Receita Federal sabe que a propriedade é dele.Lembro-me, de novo, da fala do senador Romeu Tuma e de sua declarada vontade de absolver. Eu entendo, já disse. Alma generosa como a dele sempre vê partido o coração quando diante de uma pessoa da altitude de Renan, que vem a ser, como é mesmo?, o pai da filha da “gestante anônima” — quer dizer, da ex-gestante, a jornalista Mônica Veloso.A história é cabeluda do começo ao fim. Mas não duvidem: Renan deve ter uma boa explicação pra ela.
Fonte: VEJA online
"Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem"Robert Musil em O Homem sem Qualidades
No Globo deste domingo, ficamos sabendo um pouco mais do que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) talvez insista em chamar de sua “vida privada”. Será mesmo? E, reitero, trata-se de mais um assunto pelo qual a revista Contigo não se interessaria porque se ocupa de outro tipo de artista. Leiam trecho de reportagem de Alan Gripp. Volto depois:Primo e irmão adotivo do presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dimário Cavalcante Calheiros causou alvoroço ao denunciar ao Ministério Público Federal que foi usado como laranja pela própria família na compra da Fazenda Cocal, em Murici, berço político dos Calheiros. Agora, novas evidências lançam suspeitas sobre a negociação.Uma escritura da propriedade de mesmo nome, emitida pelo cartório de imóveis do município, em janeiro de 2006, diz que as terras pertenciam, naquele ano, à agricultora Marlene Gomes da Silva. Mas documentos obtidos pelo GLOBO revelam que Marlene, na verdade, era uma ex-empregada doméstica da fazenda, morta nove anos antes, em 1997.A Cocal é uma faz propriedades adquiridas pelos Calheiros e anexadas à principal fazenda da família, a Santa Rosa. Na entrevista ao GLOBO da última terça-feira, o gerente das fazendas da família afirmou que a Cocal pertence a Renan Calheiros, embora, oficialmente, não faça parte da declaração de bens do senador.Também em entrevista ao jornal, Dimário Caheiros disse que Renan participou diretamente da negociação e deu a ordem para a compra da Cocal. Ex-gerente das fazendas da família, Dimário descobriu, em 2005, que era dono, no papel, da propriedade de 108 hectares. Ele denunciou o Ministério Público que nunca a adquiriu. Outro primo de Renan, Antônio Gomes Vasconcelos, acusou Renan e seu irmão, deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), de usarem laranjas para adquirirem fazendas e, com o auxílio do cartório de Murici, “aumentarem” o tamanho das terras.(...)A certidão que atribui a propriedade da Fazenda Cocal a Marlene Gomes da Silva foi emitida meses depois das primeiras denúncias feitas por Dimário. Contrariando o padrão dos registros de bens, o documento não traz informações sobre o tamanho e os limites da propriedade, nem o valor do negócio. Procurada na terça-feira, a tabeliã Maria de Lourdes Ferreira, que assinou a certidão, não foi encontrada no cartório.(...)As suspeitas de que laranjas foram transformados em donos de grandes pedaços de terra surgiu depois que o Ibama iniciou um levantamento da situação fundiária da Estação Ecológica do Murici, que fica em região de Mata Atlântica. O órgão ambiental pretende desapropriar fazendas para executar plano de recuperação ambiental da reserva. Para isso, pagará indenizações milionárias.Diante do registro nebuloso das propriedades, o trabalho do Ibama foi interrompido.Procurado, Renan não retornou a ligação. Durante a semana, a assessoria do senador informou que os bens dele estão todos declarados no Imposto de Renda.
Para ler íntegra, clique aqui. (É preciso se cadastrar)VolteiA questão se resolve facilmente. A fazenda está em nome Marlene, já morta? Como seu marido morreu também, e eles deixaram seis filhos, o Ibama pode desapropriar a Cocal e entregar o dinheiro aos herdeiros do casal. Renan Calheiros não deve ficar triste, já que, segundo o que está no papel, as terras pertencem mesmo à sua ex-empregada. Mais: nem a Receita Federal sabe que a propriedade é dele.Lembro-me, de novo, da fala do senador Romeu Tuma e de sua declarada vontade de absolver. Eu entendo, já disse. Alma generosa como a dele sempre vê partido o coração quando diante de uma pessoa da altitude de Renan, que vem a ser, como é mesmo?, o pai da filha da “gestante anônima” — quer dizer, da ex-gestante, a jornalista Mônica Veloso.A história é cabeluda do começo ao fim. Mas não duvidem: Renan deve ter uma boa explicação pra ela.
Fonte: VEJA online
Eles são unha e carne
Contratos de locação obtidos por VEJA mostram queo lobista Gontijo era devedor solidário de tudo o queo senador Renan diz que pagava a Mônica. A venda doflat e os pagamentos feitos no escritório da Mendes Júniortêm mais jeito de sociedade do que de amizade
Policarpo Junior
A reportagem de capa da edição passada de VEJA informava que certas despesas do senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, foram pagas por um velho amigo, o mineiro Cláudio Gontijo, lobista da Mendes Júnior, uma das maiores empreiteiras do país. A reportagem mostrou que o lobista se ocupou do pagamento da pensão para uma filha do senador e do aluguel do apartamento onde a criança morava com a mãe, a jornalista Mônica Veloso. Na própria reportagem, o lobista admitiu que fazia os pagamentos, mas negou que o dinheiro lhe pertencesse. Na segunda-feira passada, diante da gravidade da denúncia, Renan Calheiros leu uma explicação no Senado em que admitiu ter usado os serviços do lobista, mas apenas como seu pombo-correio. Como fizera a VEJA antes, ele garantiu aos seus pares que o dinheiro era seu. O senador disse ter provas da origem do dinheiro em relação aos pagamentos feitos de dezembro de 2005 em diante.
Na semana passada, VEJA descobriu uma intrigante sobreposição de fatos. Justamente no período em que Renan diz não ter provas dos pagamentos – antes de dezembro de 2005 – o lobista Gontijo surge em documentos como devedor solidário do presidente do Senado. A revista obteve cópias de contratos em que esses favores estão registrados. Coincidência apenas? O Conselho de Ética, que examina a relação de Renan com o lobista, tem o poder de desvendar se o dinheiro usado por Gontijo para pagar as despesas de Renan era dele mesmo, do senador ou de outra fonte qualquer. O advogado de Mônica e a própria jornalista têm convicção formada a respeito da origem do dinheiro e não a escondem. Será muito útil ouvi-los oficialmente a respeito.
Luiz Antonio/Ag. Lar
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A CASA Até março de 2005, Mônica Veloso e sua filha moraram numa casa (à esq.). No contrato de aluguel, reproduzido à direita, o fiador era o lobista Cláudio Gontijo
Nos dois contratos de aluguel de Mônica Veloso, o fiador é sempre o lobista. O primeiro contrato foi firmado em 16 de março de 2004 e se referia ao aluguel de uma ampla casa, com quatro quartos, piscina e churrasqueira, localizada no Lago Norte, um dos bairros nobres de Brasília. O aluguel saía por 4.500 reais. Mônica e a filha do senador residiram nessa casa por um ano apenas, de março de 2004 a março de 2005 – e o aluguel foi pago adiantado, numa parcela só, em torno de 40 000 reais. O segundo contrato, assinado em 3 de março de 2005, é de um apartamento. O aluguel, nesse caso, é de 4.000 reais. O lobista deixou de pagar o aluguel do apartamento em novembro de 2005, um mês antes do início da contagem oficial do senador para o período em que diz ter como comprovar que o dinheiro era seu. Desde então, tendo o lobista deixado de bancar o aluguel, o assunto foi parar na Justiça. Mônica responde a uma ação de despejo, mas ainda mora no imóvel.
Do ponto de vista estritamente legal, a existência dos contratos de aluguel, com a fiança do lobista da Mendes Júnior, enfraquece o cerne das explicações do senador. O responsável legal – e último – pelo pagamento do aluguel é o fiador. O lobista era, portanto, a garantia de que o pagamento seria honrado perante o locador, a imobiliária e a Justiça. Na semana passada, o advogado Pedro Calmon Filho, que trabalha para Mônica, negou que sua cliente fosse amiga de Gontijo, desmentindo a afirmação do senador. "A minha cliente nunca tinha visto Cláudio Gontijo, não tinha relação de amizade nenhuma com ele, foi apresentada pelo senador", disse o advogado em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Por que o lobista aceitaria ser fiador de uma mulher que mal conhecia? Ele o fez a pedido do senador e, assim, tornou-se o responsável legal pelo aluguel de uma estranha. Mas será que efetivamente pagou os aluguéis? Na semana passada, por meio do seu advogado, a jornalista confirmou que suas despesas corriam por conta do lobista. Sabe-se que, no decorrer das negociações mais tensas entre Renan e Mônica no passado, o lobista sempre aparecia com propostas ousadas de conciliação, a ponto de ela se queixar disso ao senador e a seu advogado. Mas isso, por enquanto, não vem ao caso do dinheiro.
Luiz Antonio/Ag. Lar
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A SEGURANÇAAcima, o prédio onde fica a empresa Artec, que prestou segurança para Mônica Veloso e sua filha. À direita, o contrato do serviço
Para garantir a versão do senador, seus advogados chegaram a procurar o advogado de Mônica no sábado 26. Propuseram que ela assinasse uma declaração dizendo que o lobista era apenas intermediário do dinheiro, mas não o dono dos recursos. A jornalista se recusou a participar da farsa. É possível que os contratos de aluguel, salvo algum documento que ainda não tenha vindo a público, sejam a prova mais contundente possível da promiscuidade financeira entre o senador e o lobista. Isso porque os pagamentos do lobista à jornalista eram feitos em dinheiro vivo, justamente para não deixar rastro, o que dificulta o surgimento de provas cabais. Todos os meses, a jornalista ia até o escritório da Mendes Júnior, localizado no 11º andar de um edifício no centro de Brasília. Ali, apanhava um envelope com o dinheiro, da pensão alimentícia e, quando era o caso, do aluguel. Na semana passada, VEJA teve acesso – mas não obteve cópia – de mais um elemento a comprovar o esquema. Foram oito envelopes pardos dentro dos quais o dinheiro foi entregue. Num deles, por exemplo, consta o nome da empreiteira ("Mendes Júnior Trading e Engenharia") e uma anotação manuscrita do destinatário ("Mônica Veloso"). No verso do envelope, também manuscrito, um valor ("12.000,00"). Há outros envelopes com valores diferentes, sugerindo que talvez os pagamentos não fossem feitos com rigor de datas e valores.
Luiz Antonio/Ag. Lar
O advogado Calmon e sua cliente, Mônica: "Quem fazia os pagamentos era o Cláudio Gontijo"
O conjunto de evidências complica a situação do senador. Afinal, o lobista confirmou que fazia os pagamentos, mas dizia que o dinheiro não era dele nem da Mendes Júnior. O senador também confirmou que usou os serviços do lobista, mas disse que o dinheiro lhe pertencia, embora tenha afirmado que não podia provar. A jornalista igualmente confirmou que o lobista lhe fazia os pagamentos e garantiu que pegava o dinheiro no escritório da Mendes Júnior. E, agora, aparecem dois contratos de aluguel a provar o papel central do lobista como patrocinador da jornalista que ele não conhecia. Será possível reunir indícios mais eloqüentes de que o lobista tinha uma relação financeira com o senador? Renan Calheiros alegou que não tinha documentos sobre os pagamentos feitos antes de dezembro de 2005 porque só nessa data reconheceu a paternidade de sua filha, oficializando a situação. "Por que ia haver comprovantes de depósito se a relação não era oficial?", disse o senador. É uma explicação curiosa. É precisamente no período da "relação não-oficial" que o senador deveria ter tomado o cuidado de guardar provas dos pagamentos, mas fez o contrário.
Mais curioso ainda é que no dia seguinte à confissão do senador, segundo a qual não tinha provas dos pagamentos anteriores a dezembro de 2005 porque "a relação não era oficial", seu advogado, Eduardo Ferrão, veio a público desmenti-lo. O advogado entregou à Corregedoria do Senado um maço de documentos e disse que ali estava a comprovação das transações. "Todos os recursos, absolutamente todos, e não há exceção, têm sua fonte definida nesses extratos", disse o advogado. Ficou a dúvida: afinal, sendo a relação "não-oficial", os pagamentos podiam ou não ter comprovantes? As contradições entre o senador e seu advogado talvez se expliquem na análise dos extratos. Suspeita-se que Renan, sabendo que quem fazia os pagamentos era o lobista, foi logo dizendo que não tinha prova. Seu advogado, porém, pode ter examinado os extratos bancários do senador anteriores a dezembro de 2005 e encontrado ali saques de valores que, numa conta de chegar, poderiam se encaixar na versão de que eram destinados a pagamentos à jornalista. Parece que nem o senador tinha pensado nisso antes.
Cristiano Mariz
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O APARTAMENTO Mônica Veloso e sua filha moram num apartamento do edifício à esquerda. No contrato de aluguel (à dir.), o fiador, de novo, é Cláudio Gontijo, o lobista da empreiteira Mendes Júnior
Em seu discurso, Renan, além de silenciar sobre o que interessa, que é a origem do dinheiro, falou sobre o que não interessa, que é sua relação pessoal com a jornalista e sua filha. Disse que pagou 8.000 reais por mês de "assistência à gestante" (mas não precisou o período) e que, de dezembro de 2005 em diante, pagou pensão de 3.000 reais (mas não explicou o motivo da redução no valor). Com a intenção de aparecer como vítima da violação de sua privacidade, e apresentando-se na figura de pai zeloso, contou que criou um fundo de 100.000 reais para assegurar o futuro educacional de sua filha, a quem tratou o tempo todo como "a beneficiária" e "a criança". Mostrou dois recibos, de 50.000 reais cada um, provando o pagamento. Ninguém queria saber se pagou ou não, mas de onde veio o dinheiro. Com documentos, Renan provou que tinha rendimentos para pagar – mas pagou? No caso dos 100.000 reais, informou que os recursos foram entregues à jornalista em dinheiro vivo. O advogado da jornalista disse que não se tratava de um "fundo educacional", explicação usada nos recibos só para fazer constar. Na verdade, seriam atrasados das pensões não pagas de dezembro de 2005 a julho de 2006. Isso interessa quase nada. O incrível é que, no Senado, ninguém mostrou espanto com a operação. Dinheiro vivo! Em duas malas com 50.000 reais cada uma! Em qualquer delegacia de bairro, uma transação como essa desperta suspeitas. No Senado da nação passou como a norma. Um espanto!
Ana Araujo
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O FLATEm declaração de 2002, o senador disse que era dono do flat 1014 do hotel Blue Tree (à esq.). Mas, em maio do ano passado, o imóvel foi vendido direto da construtora para o lobista Gontijo
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O carnê do IPTU do flat 2018, que sempre foi do lobista e era usado pelo senador
Cláudio Gontigo tem 52 anos, formou-se em administração de empresas e trabalha há quinze anos na Mendes Júnior. Separado, dois filhos, vive num flat no Blue Tree, um dos melhores hotéis de Brasília. Como lobista da Mendes Júnior, encarregado de defender os interesses da empreiteira junto ao governo, tem sido fiel ao senador Renan Calheiros nas horas mais difíceis. Em agosto de 2004, quando Mônica passou a temer por sua segurança e de sua filha, então recém-nascida, depois que seu automóvel foi alvejado por um tiro, foi Cláudio Gontijo quem, a pedido do senador, mais uma vez se ocupou de pagar por serviços a Mônica. O contrato de segurança foi feito com a empresa Artec, que, apesar de se classificar como "construtora", controla uma empresa de segurança. Custava 2.800 reais por mês. Mônica assinou o contrato, mas quem bancava a conta era o lobista. "O Claudinho não tem nada a ver com isso, nem sabia que ele era amigo dela", diz Mauro Lacerda, diretor da Artec e amigo de Cláudio Gontijo, o "Claudinho". Amigo dela não é mesmo. Era apenas patrocinador, a pedido de Renan. Em seu discurso de defesa no Senado, Renan não fez referência ao contrato de segurança. Em vez disso, disse, sempre, que recorreu a Gontijo porque são amigos há mais de vinte anos e desejava manter tudo sob discrição. Não explicou por que um lobista lidando com dinheiro vivo em envelopes entregues na sede de uma grande empresa seria um movimento mais discreto do que fazer uma simples transferência bancária pela internet.
Ana Araujo
Obras no Porto de Maceió, para as quais o senador Renan fez emendas de mais de 13 milhões de reais: trabalho da Mendes Junior
O senador e o lobista são mais que velhos conhecidos. A relação deles tem mais jeito de sociedade do que de amizade. VEJA obteve provas documentais sobre uma transação. Em 2002, em sua declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral, Renan informou que era proprietário do flat de número 1014 no mesmo hotel Blue Tree, em Brasília. O empreendimento foi construído pela empresa Paulo Octavio. Uma certidão obtida em cartório mostra que o flat 1014 pertence ao lobista Cláudio Gontijo desde 19 de maio do ano passado. O aspecto misterioso, interessante é que, pelos documentos de cartório, a empreiteira vendeu o flat diretamente ao lobista, por 183.000 reais. Isso significa que Renan não chegou a colocar o imóvel em seu nome e, para efeitos oficiais, a venda foi diretamente da construtora para o lobista. Aparentemente, não há irregularidade na transação. O negócio só mostra que a relação entre o senador e o lobista não se limitava a laços de amizade, mas chegava ao mundo das transações imobiliárias. Tanto que o senador, em vez de usar seu próprio flat no Blue Tree, o de número 1014, preferia ficar no flat do lobista, de número 2018. Sobre o uso do flat de Cláudio Gontijo, Renan silenciou.
Ed Ferreira/AE
O corregedor Romeu Tuma: "Eu não quero condená-lo"
Já havia suspeita de que a Mendes Júnior pudesse ter se beneficiado da proximidade entre o senador e o lobista, sobretudo porque a empreiteira tem contratos com Infraero, Eletrobrás e Petrobras – três estatais nas quais o senador tem influência. Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo descobriu um laço mais consistente. Em 2004 e 2005, o senador apresentou três emendas ao Orçamento destinando um total de 13,2 milhões de reais para a construção de um cais para contêineres no Porto de Maceió. A obra é de responsabilidade da Mendes Júnior, mas estava parada desde 2001, por irregularidades constatadas em auditorias do Tribunal de Contas da União. Mesmo assim, o senador achou que devia despachar dinheiro para lá. Conseguiu aprovar 1 milhão de reais. A explicação do senador é que continuará lutando, com todas as suas forças, para ajudar o Brasil e Alagoas. Talvez possa, talvez não. No Senado, na semana passada, a disposição de proteger Renan era evidente. O corregedor, Romeu Tuma, chegou a dizer que não gostaria de puni-lo. "Eu não quero condená-lo, quero absolvê-lo, mas quero ter a certeza de que ele não vai ser pego na primeira esquina." O desafio é saber onde fica a primeira esquina do senador Renan Calheiros.
Com reportagem de Ricardo Brito
Fonte: Veja online
Policarpo Junior
A reportagem de capa da edição passada de VEJA informava que certas despesas do senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, foram pagas por um velho amigo, o mineiro Cláudio Gontijo, lobista da Mendes Júnior, uma das maiores empreiteiras do país. A reportagem mostrou que o lobista se ocupou do pagamento da pensão para uma filha do senador e do aluguel do apartamento onde a criança morava com a mãe, a jornalista Mônica Veloso. Na própria reportagem, o lobista admitiu que fazia os pagamentos, mas negou que o dinheiro lhe pertencesse. Na segunda-feira passada, diante da gravidade da denúncia, Renan Calheiros leu uma explicação no Senado em que admitiu ter usado os serviços do lobista, mas apenas como seu pombo-correio. Como fizera a VEJA antes, ele garantiu aos seus pares que o dinheiro era seu. O senador disse ter provas da origem do dinheiro em relação aos pagamentos feitos de dezembro de 2005 em diante.
Na semana passada, VEJA descobriu uma intrigante sobreposição de fatos. Justamente no período em que Renan diz não ter provas dos pagamentos – antes de dezembro de 2005 – o lobista Gontijo surge em documentos como devedor solidário do presidente do Senado. A revista obteve cópias de contratos em que esses favores estão registrados. Coincidência apenas? O Conselho de Ética, que examina a relação de Renan com o lobista, tem o poder de desvendar se o dinheiro usado por Gontijo para pagar as despesas de Renan era dele mesmo, do senador ou de outra fonte qualquer. O advogado de Mônica e a própria jornalista têm convicção formada a respeito da origem do dinheiro e não a escondem. Será muito útil ouvi-los oficialmente a respeito.
Luiz Antonio/Ag. Lar
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A CASA Até março de 2005, Mônica Veloso e sua filha moraram numa casa (à esq.). No contrato de aluguel, reproduzido à direita, o fiador era o lobista Cláudio Gontijo
Nos dois contratos de aluguel de Mônica Veloso, o fiador é sempre o lobista. O primeiro contrato foi firmado em 16 de março de 2004 e se referia ao aluguel de uma ampla casa, com quatro quartos, piscina e churrasqueira, localizada no Lago Norte, um dos bairros nobres de Brasília. O aluguel saía por 4.500 reais. Mônica e a filha do senador residiram nessa casa por um ano apenas, de março de 2004 a março de 2005 – e o aluguel foi pago adiantado, numa parcela só, em torno de 40 000 reais. O segundo contrato, assinado em 3 de março de 2005, é de um apartamento. O aluguel, nesse caso, é de 4.000 reais. O lobista deixou de pagar o aluguel do apartamento em novembro de 2005, um mês antes do início da contagem oficial do senador para o período em que diz ter como comprovar que o dinheiro era seu. Desde então, tendo o lobista deixado de bancar o aluguel, o assunto foi parar na Justiça. Mônica responde a uma ação de despejo, mas ainda mora no imóvel.
Do ponto de vista estritamente legal, a existência dos contratos de aluguel, com a fiança do lobista da Mendes Júnior, enfraquece o cerne das explicações do senador. O responsável legal – e último – pelo pagamento do aluguel é o fiador. O lobista era, portanto, a garantia de que o pagamento seria honrado perante o locador, a imobiliária e a Justiça. Na semana passada, o advogado Pedro Calmon Filho, que trabalha para Mônica, negou que sua cliente fosse amiga de Gontijo, desmentindo a afirmação do senador. "A minha cliente nunca tinha visto Cláudio Gontijo, não tinha relação de amizade nenhuma com ele, foi apresentada pelo senador", disse o advogado em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Por que o lobista aceitaria ser fiador de uma mulher que mal conhecia? Ele o fez a pedido do senador e, assim, tornou-se o responsável legal pelo aluguel de uma estranha. Mas será que efetivamente pagou os aluguéis? Na semana passada, por meio do seu advogado, a jornalista confirmou que suas despesas corriam por conta do lobista. Sabe-se que, no decorrer das negociações mais tensas entre Renan e Mônica no passado, o lobista sempre aparecia com propostas ousadas de conciliação, a ponto de ela se queixar disso ao senador e a seu advogado. Mas isso, por enquanto, não vem ao caso do dinheiro.
Luiz Antonio/Ag. Lar
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A SEGURANÇAAcima, o prédio onde fica a empresa Artec, que prestou segurança para Mônica Veloso e sua filha. À direita, o contrato do serviço
Para garantir a versão do senador, seus advogados chegaram a procurar o advogado de Mônica no sábado 26. Propuseram que ela assinasse uma declaração dizendo que o lobista era apenas intermediário do dinheiro, mas não o dono dos recursos. A jornalista se recusou a participar da farsa. É possível que os contratos de aluguel, salvo algum documento que ainda não tenha vindo a público, sejam a prova mais contundente possível da promiscuidade financeira entre o senador e o lobista. Isso porque os pagamentos do lobista à jornalista eram feitos em dinheiro vivo, justamente para não deixar rastro, o que dificulta o surgimento de provas cabais. Todos os meses, a jornalista ia até o escritório da Mendes Júnior, localizado no 11º andar de um edifício no centro de Brasília. Ali, apanhava um envelope com o dinheiro, da pensão alimentícia e, quando era o caso, do aluguel. Na semana passada, VEJA teve acesso – mas não obteve cópia – de mais um elemento a comprovar o esquema. Foram oito envelopes pardos dentro dos quais o dinheiro foi entregue. Num deles, por exemplo, consta o nome da empreiteira ("Mendes Júnior Trading e Engenharia") e uma anotação manuscrita do destinatário ("Mônica Veloso"). No verso do envelope, também manuscrito, um valor ("12.000,00"). Há outros envelopes com valores diferentes, sugerindo que talvez os pagamentos não fossem feitos com rigor de datas e valores.
Luiz Antonio/Ag. Lar
O advogado Calmon e sua cliente, Mônica: "Quem fazia os pagamentos era o Cláudio Gontijo"
O conjunto de evidências complica a situação do senador. Afinal, o lobista confirmou que fazia os pagamentos, mas dizia que o dinheiro não era dele nem da Mendes Júnior. O senador também confirmou que usou os serviços do lobista, mas disse que o dinheiro lhe pertencia, embora tenha afirmado que não podia provar. A jornalista igualmente confirmou que o lobista lhe fazia os pagamentos e garantiu que pegava o dinheiro no escritório da Mendes Júnior. E, agora, aparecem dois contratos de aluguel a provar o papel central do lobista como patrocinador da jornalista que ele não conhecia. Será possível reunir indícios mais eloqüentes de que o lobista tinha uma relação financeira com o senador? Renan Calheiros alegou que não tinha documentos sobre os pagamentos feitos antes de dezembro de 2005 porque só nessa data reconheceu a paternidade de sua filha, oficializando a situação. "Por que ia haver comprovantes de depósito se a relação não era oficial?", disse o senador. É uma explicação curiosa. É precisamente no período da "relação não-oficial" que o senador deveria ter tomado o cuidado de guardar provas dos pagamentos, mas fez o contrário.
Mais curioso ainda é que no dia seguinte à confissão do senador, segundo a qual não tinha provas dos pagamentos anteriores a dezembro de 2005 porque "a relação não era oficial", seu advogado, Eduardo Ferrão, veio a público desmenti-lo. O advogado entregou à Corregedoria do Senado um maço de documentos e disse que ali estava a comprovação das transações. "Todos os recursos, absolutamente todos, e não há exceção, têm sua fonte definida nesses extratos", disse o advogado. Ficou a dúvida: afinal, sendo a relação "não-oficial", os pagamentos podiam ou não ter comprovantes? As contradições entre o senador e seu advogado talvez se expliquem na análise dos extratos. Suspeita-se que Renan, sabendo que quem fazia os pagamentos era o lobista, foi logo dizendo que não tinha prova. Seu advogado, porém, pode ter examinado os extratos bancários do senador anteriores a dezembro de 2005 e encontrado ali saques de valores que, numa conta de chegar, poderiam se encaixar na versão de que eram destinados a pagamentos à jornalista. Parece que nem o senador tinha pensado nisso antes.
Cristiano Mariz
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O APARTAMENTO Mônica Veloso e sua filha moram num apartamento do edifício à esquerda. No contrato de aluguel (à dir.), o fiador, de novo, é Cláudio Gontijo, o lobista da empreiteira Mendes Júnior
Em seu discurso, Renan, além de silenciar sobre o que interessa, que é a origem do dinheiro, falou sobre o que não interessa, que é sua relação pessoal com a jornalista e sua filha. Disse que pagou 8.000 reais por mês de "assistência à gestante" (mas não precisou o período) e que, de dezembro de 2005 em diante, pagou pensão de 3.000 reais (mas não explicou o motivo da redução no valor). Com a intenção de aparecer como vítima da violação de sua privacidade, e apresentando-se na figura de pai zeloso, contou que criou um fundo de 100.000 reais para assegurar o futuro educacional de sua filha, a quem tratou o tempo todo como "a beneficiária" e "a criança". Mostrou dois recibos, de 50.000 reais cada um, provando o pagamento. Ninguém queria saber se pagou ou não, mas de onde veio o dinheiro. Com documentos, Renan provou que tinha rendimentos para pagar – mas pagou? No caso dos 100.000 reais, informou que os recursos foram entregues à jornalista em dinheiro vivo. O advogado da jornalista disse que não se tratava de um "fundo educacional", explicação usada nos recibos só para fazer constar. Na verdade, seriam atrasados das pensões não pagas de dezembro de 2005 a julho de 2006. Isso interessa quase nada. O incrível é que, no Senado, ninguém mostrou espanto com a operação. Dinheiro vivo! Em duas malas com 50.000 reais cada uma! Em qualquer delegacia de bairro, uma transação como essa desperta suspeitas. No Senado da nação passou como a norma. Um espanto!
Ana Araujo
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O FLATEm declaração de 2002, o senador disse que era dono do flat 1014 do hotel Blue Tree (à esq.). Mas, em maio do ano passado, o imóvel foi vendido direto da construtora para o lobista Gontijo
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O carnê do IPTU do flat 2018, que sempre foi do lobista e era usado pelo senador
Cláudio Gontigo tem 52 anos, formou-se em administração de empresas e trabalha há quinze anos na Mendes Júnior. Separado, dois filhos, vive num flat no Blue Tree, um dos melhores hotéis de Brasília. Como lobista da Mendes Júnior, encarregado de defender os interesses da empreiteira junto ao governo, tem sido fiel ao senador Renan Calheiros nas horas mais difíceis. Em agosto de 2004, quando Mônica passou a temer por sua segurança e de sua filha, então recém-nascida, depois que seu automóvel foi alvejado por um tiro, foi Cláudio Gontijo quem, a pedido do senador, mais uma vez se ocupou de pagar por serviços a Mônica. O contrato de segurança foi feito com a empresa Artec, que, apesar de se classificar como "construtora", controla uma empresa de segurança. Custava 2.800 reais por mês. Mônica assinou o contrato, mas quem bancava a conta era o lobista. "O Claudinho não tem nada a ver com isso, nem sabia que ele era amigo dela", diz Mauro Lacerda, diretor da Artec e amigo de Cláudio Gontijo, o "Claudinho". Amigo dela não é mesmo. Era apenas patrocinador, a pedido de Renan. Em seu discurso de defesa no Senado, Renan não fez referência ao contrato de segurança. Em vez disso, disse, sempre, que recorreu a Gontijo porque são amigos há mais de vinte anos e desejava manter tudo sob discrição. Não explicou por que um lobista lidando com dinheiro vivo em envelopes entregues na sede de uma grande empresa seria um movimento mais discreto do que fazer uma simples transferência bancária pela internet.
Ana Araujo
Obras no Porto de Maceió, para as quais o senador Renan fez emendas de mais de 13 milhões de reais: trabalho da Mendes Junior
O senador e o lobista são mais que velhos conhecidos. A relação deles tem mais jeito de sociedade do que de amizade. VEJA obteve provas documentais sobre uma transação. Em 2002, em sua declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral, Renan informou que era proprietário do flat de número 1014 no mesmo hotel Blue Tree, em Brasília. O empreendimento foi construído pela empresa Paulo Octavio. Uma certidão obtida em cartório mostra que o flat 1014 pertence ao lobista Cláudio Gontijo desde 19 de maio do ano passado. O aspecto misterioso, interessante é que, pelos documentos de cartório, a empreiteira vendeu o flat diretamente ao lobista, por 183.000 reais. Isso significa que Renan não chegou a colocar o imóvel em seu nome e, para efeitos oficiais, a venda foi diretamente da construtora para o lobista. Aparentemente, não há irregularidade na transação. O negócio só mostra que a relação entre o senador e o lobista não se limitava a laços de amizade, mas chegava ao mundo das transações imobiliárias. Tanto que o senador, em vez de usar seu próprio flat no Blue Tree, o de número 1014, preferia ficar no flat do lobista, de número 2018. Sobre o uso do flat de Cláudio Gontijo, Renan silenciou.
Ed Ferreira/AE
O corregedor Romeu Tuma: "Eu não quero condená-lo"
Já havia suspeita de que a Mendes Júnior pudesse ter se beneficiado da proximidade entre o senador e o lobista, sobretudo porque a empreiteira tem contratos com Infraero, Eletrobrás e Petrobras – três estatais nas quais o senador tem influência. Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo descobriu um laço mais consistente. Em 2004 e 2005, o senador apresentou três emendas ao Orçamento destinando um total de 13,2 milhões de reais para a construção de um cais para contêineres no Porto de Maceió. A obra é de responsabilidade da Mendes Júnior, mas estava parada desde 2001, por irregularidades constatadas em auditorias do Tribunal de Contas da União. Mesmo assim, o senador achou que devia despachar dinheiro para lá. Conseguiu aprovar 1 milhão de reais. A explicação do senador é que continuará lutando, com todas as suas forças, para ajudar o Brasil e Alagoas. Talvez possa, talvez não. No Senado, na semana passada, a disposição de proteger Renan era evidente. O corregedor, Romeu Tuma, chegou a dizer que não gostaria de puni-lo. "Eu não quero condená-lo, quero absolvê-lo, mas quero ter a certeza de que ele não vai ser pego na primeira esquina." O desafio é saber onde fica a primeira esquina do senador Renan Calheiros.
Com reportagem de Ricardo Brito
Fonte: Veja online
Outro braço do mensalão?
Construtora ARG, de Belo Horizonte, sacou R$ 102 milhões em dinheiro vivo do banco rural e documento do ministério público a vincula ao mensalãoHUGO MARQUES E HUGO STUDART
DenúnciaEra uma obra pequena para os padrões nacionais, a construção do aeroporto de Jaguaruna, sul de Santa Catarina. Um contrato de R$ 20,4 milhões, de uma construtora pouco conhecida, a ARG, de Belo Horizonte. Um dia uma auditoria do Tribunal de Contas da União apareceu por lá e verificou um superfaturamento de R$ 4,3 milhões. Os auditores abriram processo no TCU em Brasília e mandaram uma cópia da papelada para o Ministério Público no Estado de Santa Catarina. Os procuradores catarinenses constataram que a ARG já tinha registro de outras irregularidades em obras federais. Eles pediram então à Justiça Federal de Santa Catarina a quebra do sigilo bancário da construtora. Foi uma briga judicial de dois anos. Em fevereiro deste ano, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal, no Rio Grande do Sul, mandou quebrar o sigilo da empreiteira e dois meses depois os extratos chegaram a Porto Alegre. Estão todos lá, sem segredo de Justiça. E o que mostram? Que entre 2002 e 2005 a construtora ARG sacou R$ 102 milhões, em dinheiro vivo, do Banco Rural. Mais: na agência do Rural de Belo Horizonte, com o mesmo gerente que operou para o famoso Marcos Valério, Lucas da Silva Roque. O MP passou a achar, então, que pode não ser mera coincidência.
Na semana passada, toda a documentação das contas da empreiteira chegou às mãos do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. "O dinheiro público entregue à ARG desaguou, precisamente, no núcleo operacional e financeiro do mensalão, qual seja, o Banco Rural", registra o ofício do MP a Antônio Fernando, assinado por um dos procuradores do caso, Celso Antônio Três. "A par dos momentosos desvios através de empreiteiras (v.g., Operação Navalha), claro está aqui outra fonte de financiamento do mensalão", acrescenta o ofício. O MP de Santa Catarina enviou outras cópias da documentação para a Polícia Federal e o MP em Minas a fim de aprofundar as investigações. Os procuradores pediram à PF para investigar as atividades financeiras dos três sócios da empreiteira ARG: Adolfo Geo, Adolfo Geo Filho e Rodolfo Giannetti Geo. Procurado por ISTOÉ, Rodolfo Giannetti Geo admitiu os saques em dinheiro vivo, mas negou que tenham qualquer irregularidade ou relação com o mensalão. "Os valores sacados em conta corrente da ARG são utilizados para pagamento de suas legítimas operações comerciais", explicou Rodolfo Geo. Ele não quer, no entanto, comentar como foram utilizados os R$ 102 milhões sacados no Banco Rural. Além da construtora, os Geo têm lojas de pneus e criação de peixes.
Na célebre denúncia do mensalão, aquela que indicia 40 membros de uma suposta "organização criminosa", o procurador- geral da República, Antônio Fernando de Souza, cita a ARG, na página 92. Esse trecho da denúncia faz referência a uma vistoria do Banco Central demonstrando que o Banco Rural estava envolvido em "uma série de operações ilegítimas, contabilizadas de forma a mascarar a verdadeira natureza da operação, encobrindo a lavagem de dinheiro resultante de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional". Um processo do Banco Central revela que a ARG Ltda. estaria envolvida em "outras situações caracterizadoras de práticas fraudulentas". Como nada mais tinha sobre a construtora quando redigiu a denúncia, o procurador enviou os documentos para apuração no Ministério Público de Belo Horizonte. A grande descoberta, contudo, surgiu agora, extraída do processo de superfaturamento na obra do aeroporto Jaguaruna, que tramita na Justiça Federal em Porto Alegre. São documentos relativos a 1.800 saques em dinheiro vivo, com valores que variam de R$ 10 mil a R$ 1 milhão, num inquérito que já soma 35 mil páginas.
A ARG é velha conhecida das autoridades federais. O grande nicho de mercado da construtora mineira são obras concedidas pelo Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, o DNIT. A construtora tem hoje 11 grandes obras em andamento no país, das quais sete são contratos diretos com o DNIT. São obras de duplicação, restauração e pavimentação de rodovias. Segundo pesquisa do site Contas Abertas, a ARG Ltda. recebeu R$ 246 milhões do governo de 2002 a 2005. No TCU há cinco decisões dos ministros acusando as obras da ARG de licitação direcionada e superfaturamento. Num dos processos, o TCU calcula que uma obra tocada pela empreiteira, um trecho da BR-342 entre Minas e Espírito Santo, foi superfaturada em 83,84%. Em outro processo, o do contorno ferroviário de Jaraguá do Sul (SC), o TCU calcula que o valor do prejuízo ao erário foi de R$ 33 milhões. O diretor nacional do órgão, Mauro Barbosa, disse, por intermédio de sua assessoria, que "nenhum tribunal considera a empresa ARG inidônea juridicamente". A Construtora Gautama também era juridicamente idônea - até estourar a Operação Navalha.
"Os valores sacados são utilizados para pagamento de legítimas operações comerciais", diz o sócio Rodolfo Geo
O TCU calcula que um trecho da BR-342 tocado pela ARG foi superfaturado em 83,84%
Fonte: ISTOÉ
DenúnciaEra uma obra pequena para os padrões nacionais, a construção do aeroporto de Jaguaruna, sul de Santa Catarina. Um contrato de R$ 20,4 milhões, de uma construtora pouco conhecida, a ARG, de Belo Horizonte. Um dia uma auditoria do Tribunal de Contas da União apareceu por lá e verificou um superfaturamento de R$ 4,3 milhões. Os auditores abriram processo no TCU em Brasília e mandaram uma cópia da papelada para o Ministério Público no Estado de Santa Catarina. Os procuradores catarinenses constataram que a ARG já tinha registro de outras irregularidades em obras federais. Eles pediram então à Justiça Federal de Santa Catarina a quebra do sigilo bancário da construtora. Foi uma briga judicial de dois anos. Em fevereiro deste ano, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal, no Rio Grande do Sul, mandou quebrar o sigilo da empreiteira e dois meses depois os extratos chegaram a Porto Alegre. Estão todos lá, sem segredo de Justiça. E o que mostram? Que entre 2002 e 2005 a construtora ARG sacou R$ 102 milhões, em dinheiro vivo, do Banco Rural. Mais: na agência do Rural de Belo Horizonte, com o mesmo gerente que operou para o famoso Marcos Valério, Lucas da Silva Roque. O MP passou a achar, então, que pode não ser mera coincidência.
Na semana passada, toda a documentação das contas da empreiteira chegou às mãos do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. "O dinheiro público entregue à ARG desaguou, precisamente, no núcleo operacional e financeiro do mensalão, qual seja, o Banco Rural", registra o ofício do MP a Antônio Fernando, assinado por um dos procuradores do caso, Celso Antônio Três. "A par dos momentosos desvios através de empreiteiras (v.g., Operação Navalha), claro está aqui outra fonte de financiamento do mensalão", acrescenta o ofício. O MP de Santa Catarina enviou outras cópias da documentação para a Polícia Federal e o MP em Minas a fim de aprofundar as investigações. Os procuradores pediram à PF para investigar as atividades financeiras dos três sócios da empreiteira ARG: Adolfo Geo, Adolfo Geo Filho e Rodolfo Giannetti Geo. Procurado por ISTOÉ, Rodolfo Giannetti Geo admitiu os saques em dinheiro vivo, mas negou que tenham qualquer irregularidade ou relação com o mensalão. "Os valores sacados em conta corrente da ARG são utilizados para pagamento de suas legítimas operações comerciais", explicou Rodolfo Geo. Ele não quer, no entanto, comentar como foram utilizados os R$ 102 milhões sacados no Banco Rural. Além da construtora, os Geo têm lojas de pneus e criação de peixes.
Na célebre denúncia do mensalão, aquela que indicia 40 membros de uma suposta "organização criminosa", o procurador- geral da República, Antônio Fernando de Souza, cita a ARG, na página 92. Esse trecho da denúncia faz referência a uma vistoria do Banco Central demonstrando que o Banco Rural estava envolvido em "uma série de operações ilegítimas, contabilizadas de forma a mascarar a verdadeira natureza da operação, encobrindo a lavagem de dinheiro resultante de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional". Um processo do Banco Central revela que a ARG Ltda. estaria envolvida em "outras situações caracterizadoras de práticas fraudulentas". Como nada mais tinha sobre a construtora quando redigiu a denúncia, o procurador enviou os documentos para apuração no Ministério Público de Belo Horizonte. A grande descoberta, contudo, surgiu agora, extraída do processo de superfaturamento na obra do aeroporto Jaguaruna, que tramita na Justiça Federal em Porto Alegre. São documentos relativos a 1.800 saques em dinheiro vivo, com valores que variam de R$ 10 mil a R$ 1 milhão, num inquérito que já soma 35 mil páginas.
A ARG é velha conhecida das autoridades federais. O grande nicho de mercado da construtora mineira são obras concedidas pelo Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, o DNIT. A construtora tem hoje 11 grandes obras em andamento no país, das quais sete são contratos diretos com o DNIT. São obras de duplicação, restauração e pavimentação de rodovias. Segundo pesquisa do site Contas Abertas, a ARG Ltda. recebeu R$ 246 milhões do governo de 2002 a 2005. No TCU há cinco decisões dos ministros acusando as obras da ARG de licitação direcionada e superfaturamento. Num dos processos, o TCU calcula que uma obra tocada pela empreiteira, um trecho da BR-342 entre Minas e Espírito Santo, foi superfaturada em 83,84%. Em outro processo, o do contorno ferroviário de Jaraguá do Sul (SC), o TCU calcula que o valor do prejuízo ao erário foi de R$ 33 milhões. O diretor nacional do órgão, Mauro Barbosa, disse, por intermédio de sua assessoria, que "nenhum tribunal considera a empresa ARG inidônea juridicamente". A Construtora Gautama também era juridicamente idônea - até estourar a Operação Navalha.
"Os valores sacados são utilizados para pagamento de legítimas operações comerciais", diz o sócio Rodolfo Geo
O TCU calcula que um trecho da BR-342 tocado pela ARG foi superfaturado em 83,84%
Fonte: ISTOÉ
FERNANDO GABEIRA - ''Toda greve tem seus limites''
deputado critica a ocupação da USP, o movimento no Ibama, a invasão de Tucuruí e modera o discurso sobre liberação da maconhaPor HUGO STUDART E RUDOLFO LAGO
Da clandestinidade da guerrilha urbana na época do regime militar à política do corpo, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) construiu ao longo de 40 anos uma biografia de transgressor. Na política, já foi petista e é fundador do Partido Verde. Com quatro mandatos de deputado federal pelo PV, é um notório militante das causas ambientalistas, defensor do casamento gay e da legalização do consumo da maconha - só que, agora, com nuances. Aos 66 anos, duas filhas adultas, Gabeira continua atento às transgressões. Neste momento, observa as que estão em curso no País, como a ocupação da reitoria da USP pelos estudantes, a greve dos servidores do Ibama e a invasão da usina de Tucuruí. Mas o ex-guerrilheiro, quem diria, virou um crítico das transgressões exageradas. Mais: prega mais firmeza das autoridades.
ISTOÉ - Como o sr. avalia o movimento dos estudantes na USP? Fernando Gabeira - A forma de luta mais adequada seria a político-jurídica. O professor Dalmo Dallari diz que os decretos são inconstitucionais. Logo, haveria a possibilidade de uma ação jurídica. Toda greve tem seus limites éticos, e o bom é que essa questão já está sendo discutida dentro da própria USP. Os estudantes de odontologia, por exemplo, decidiram não fazer greve porque acham que ela significaria um prejuízo à saúde alheia. Esse é o tipo do dilema que nós temos visto em outras greves.
ISTOÉ - Que dilema? Gabeira - Um exemplo é a greve do Ibama. A paralisação dificulta a negociação daqueles que querem ajudar, enfraquece o setor ambiental no conjunto. De certa forma, você abandona a questão ambiental para fazer greve. Dá a impressão de que a sua luta é mais importante que o próprio meio ambiente. Na USP, da mesma forma, existe a mesma discussão. De um lado, quem acha que tem de parar porque a razão é justa, e outros que acham que a paralisação provoca um prejuízo maior à sociedade.
ISTOÉ - Na USP, a discussão é sobre a autonomia universitária, uma velha bandeira do movimento estudantil. Gabeira - Um grupo diz: "Estão quebrando a autonomia." O outro grupo diz: "Não, não estamos quebrando a autonomia, mas a autonomia se dará dentro de circunstâncias." A margem para negociação, imagino, é grande. O conceito de autonomia diz respeito à liberdade que a universidade deve ter de usar o seu dinheiro. Mas isso não significa deixar de dar satisfações à sociedade. Tem que dar satisfações, sim. Então o problema maior que se coloca na USP é o seguinte: o movimento passa a acontecer à margem da lei. A Justiça já determinou que a invasão da reitoria é ilegal. A questão agora é como lidar com isso.
ISTOÉ - E como se deve lidar com isso? Gabeira - O Estado democrático dá dois caminhos: o uso da força ou a negociação. A simples negociação talvez não resolva. Mas o uso da força também não resolverá. A alternativa seria um processo de negociação no qual, simultaneamente, se retiram as condições de sobrevivência da invasão. Tira a luz, a água, vai tornando a situação insustentável para os estudantes. E aumentando a negociação.
ISTOÉ - Existe um conflito entre a sociedade e os interesses corporativos de quem comanda movimentos como os da USP e do Ibama? Gabeira - A autonomia universitária significa para a universidade liberdade de atuação. Mas autonomia para quê? Isso não está claro. Essa autonomia não pode se circunscrever aos interesses universitários. Qual vai ser o uso do orçamento autônomo? Se você comparar a luta estudantil atual com as do passado, a de hoje parece ser muito mais uma defesade interesses particulares dos estudantes. A antiga luta estudantil estava articulada a uma luta política maior, a mudar o sistema político.
ISTOÉ - Os movimentos políticos perderam as grandes bandeiras e viraram meramente corporativos? Gabeira - Não totalmente. Entre os estudantes da USP, deve haver aqueles que ainda têm essas preocupações mais amplas. Mas são tão minoritários que ficam escondidos. Na verdade, tanto a greve do Ibama como os movimentos dos servidores públicos são movimentos setoriais. Como um setor que quer se definir, ainda que provocando prejuízos ao meio ambiente ou a quem quer estudar. No caso do Ibama, quando você arranha essa tese, o argumento é que se está causando um prejuízo momentâneo para ter um ganho maior no futuro. Mas, mesmo assim, isso é contraditório. Existem formas de lutas que significam, simultaneamente, uma vontade de preservar seus interesses e também de envolver a sociedade. No caso da USP, entrar na Justiça, fazer valer os direitos sem prejudicar as atividades da universidade. A estratégia política tanto dos estudantes da USP quanto dos servidores do Ibama me parece fora do tempo.
ISTOÉ - O que o sr. sugere? Gabeira - Uma estratégia política mais condizente com o atual curso da democracia no Brasil. Que possibilitaria atrair mais forças a seu favor. A mídia está aberta, a Justiça respondendo mais rapidamente. Assim, há como fazer a coisa crescer na sociedade.
ISTOÉ - O sr. pegou em armas, seqüestrou um embaixador. Por que a transgressão era válida naquela época e hoje não é mais? Gabeira - Naquela época, tudo o que se fazia era vinculado a uma visão de transformação global. E achava-se que a estrutura legal impedia essa transformação, porque era uma estrutura legal burguesa criada exatamente para evitar essas transformações. Agora, no Estado Democrático de Direito, não é essa a relação que você tem com a lei. Se você não tem mais a expectativa de romper com o Estado Democrático de Direito, você tem outros caminhos para recorrer. Nossas opções naquela época implicavam prisão, tortura, perda de vida... Hoje são apenas estudantes lutando para que a sua concepção de universidade seja vitoriosa.
ISTOÉ - O movimento estudantil não está mais vinculado a uma discussão política mais ampla? Gabeira - No passado, havia uma visão global de trocar o capitalismo pelo socialismo. Hoje, vivermos uma situação em que o capitalismo é uma realidade. As alternativas postas em prática pela história não deram certo. Então, hoje nada mais resta senão aceitar o capitalismo e tentar transformá-lo, não derrubá-lo. Hoje é possível utilizar outras formas de luta, que não rompem com os requisitos legais, com uma capacidade de êxito maior. Um contra-exemplo drástico é a invasão de Tucuruí.
ISTOÉ - Mas o sr. não defende o movimento das populações atingidas pelas barragens? Gabeira - Defendo. Já estive muitas vezes com eles. Mas aquela invasão foi um equívoco muito grande. Um equívoco porque Tucuruí representa uma central de eletricidade que atende muita gente. Um equívoco porque a ação foi feita com violência, usando bombas caseiras. Um equívoco porque apertaram botões que eles não sabiam para que serviam. Podiam ter provocado um desastre muito grande. O próprio líder do movimento quando sai, diz: "Agora, eu vou derrubar uma torre." Em qualquer país do mundo, ele seria chamado a uma delegacia ou a um juiz e se explicaria a ele o tamanho do transtorno que ele poderia causar. Você pode tirar a energia de um hospital no meio de cirurgias graves. Provocar acidentes. Colocar doentes que dependem de aparelhos em risco de vida.
ISTOÉ - Faltou autoridade, então? Gabeira - Em vários casos tem faltado uma clareza. E isso é explicável. Esses movimentos apoiaram a eleição de Lula. E eles meio que se sentem à vontade para tentar fazer as coisas andarem mais rápido. O governo Salvador Allende, no Chile, viveu isso o tempo todo. Agora, quando se dirige o País com uma perspectiva de estabilidade e não de transformação, então tem de tomar atitudes que deixem isso claro. Tem que impor os limites legais. Responsabilizar as pessoas.
ISTOÉ - É o que acontece também no Movimento dos Sem Terra? Gabeira - Sim. É mais uma vez um movimento tentando pressionar o País para andar mais rápido. Mas, andar mais rápido para onde? Até que ponto a idéia que se tinha de reforma agrária se mantém? O governo já viu que a reforma agrária não se limita a dar um pedaço de terra. O Lula entende que aí precisa haver um ajuste. Mas, ao mesmo tempo, ele evita um confronto. O problema é que, quando você evita o confronto, talvez o processo posterior seja mais grave. Vai adiando e criando as bases, depois, para um novo confronto. No caso de Tucuruí, o governo agiu certo ao mandar as Forças Armadas ocuparem a usina. Porque é um bem ligado à segurança nacional. Mas, por outro lado, não houve uma condenação política clara quanto à ocupação.
ISTOÉ - No caso da USP, como o governo estadual pode negociar? Gabeira - O governador Serra é um exlíder estudantil. Creio que ele tem medo de um desgaste na sua biografia se endurecer com os estudantes. Ao mesmo tempo, ele sabe que forças políticas adversárias estão integradas ao movimento dos estudantes. Isso gera uma relativa cautela. Mas essa cautela tem que ter limites.
ISTOÉ - Se fosse estudante hoje, o sr. estaria na reitoria ou na sala de aula? Gabeira - A gente percebe que existe uma divisão entre os cursos de humanidades e os cursos técnicos. Se eu estivesse num curso técnico, talvez estivesse trabalhando. Mas, mesmo que estivesse no movimento, eu teria uma discordância. Eu sou mais pela luta política dentro dos limites legais. Possivelmente, estaria junto, mas discordando do caminho.
ISTOÉ - O governo criou regras para estabelecer limites para a programação das TVs. Essa programação deveria ter limites? Gabeira - O único limite aceitável é o do controle remoto. Muda de canal, desliga a tevê.
ISTOÉ - Chegou a hora da união civil entre pessoas do mesmo sexo? Gabeira - Se você entender o casamento como deve ser, sem conotação religiosa, mas como uma união entre duas pessoas, mais do que chegou a hora. É como a abolição da escravatura. Será que, de novo, nós só vamos fazer quando já tiver acontecido em todo o mundo? Nossa sociedade já está madura para isso.
ISTOÉ - E, no caso da legalização das drogas, a sociedade também está madura? Gabeira - Nesse caso, não. Não aconteceu a liberação das drogas onde a polícia, a autoridade, também não tenha evoluído. Na Holanda, por exemplo, é liberado nos coffe-shops, mas com câmeras ligadas. Na Inglaterra, quem pediu para liberar em certas áreas foi a própria polícia. Não é um conceito de liberou geral. Mas de estabelecer um controle mais sutil. O Estado tem de se fortalecer para garantir esse direito. A verdade é que o nível de controle em uma sociedade em que a droga é liberada acaba sendo um nível de controle maior do que os que existem em lugares onde é proibido.
ISTOÉ - O sr. retrocedeu em relação ao que defendia antes sobre isso? Gabeira - Quando comecei a examinar isso de perto, vi que a liberação só se dava em sociedades mais avançadas, e não em sociedades corrompidas como a nossa.
ISTOÉ - O sr. falou em corporativismos. No Congresso o debate dos escândalos se dá também mais no nível da defesa uns dos outros. Gabeira - A solidariedade no Congresso se dá mais em torno dos denunciados do que com relação aos flagelados que não tiveram as suas casas concluídas por conta de obras de habitação superfaturadas. Existe uma visão de "nós, os eleitos" e a sociedade. Muitas vezes, a sociedade ganha o nome de "mídia". E, aí, gera uma hostilidade contra aqueles que procuram responder à sociedade através da mídia. Interpretam como uma vontade de aparecer. A relação com a mídia tem de ser um trabalho cotidiano.
Fonte: ISTOÉ
Da clandestinidade da guerrilha urbana na época do regime militar à política do corpo, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) construiu ao longo de 40 anos uma biografia de transgressor. Na política, já foi petista e é fundador do Partido Verde. Com quatro mandatos de deputado federal pelo PV, é um notório militante das causas ambientalistas, defensor do casamento gay e da legalização do consumo da maconha - só que, agora, com nuances. Aos 66 anos, duas filhas adultas, Gabeira continua atento às transgressões. Neste momento, observa as que estão em curso no País, como a ocupação da reitoria da USP pelos estudantes, a greve dos servidores do Ibama e a invasão da usina de Tucuruí. Mas o ex-guerrilheiro, quem diria, virou um crítico das transgressões exageradas. Mais: prega mais firmeza das autoridades.
ISTOÉ - Como o sr. avalia o movimento dos estudantes na USP? Fernando Gabeira - A forma de luta mais adequada seria a político-jurídica. O professor Dalmo Dallari diz que os decretos são inconstitucionais. Logo, haveria a possibilidade de uma ação jurídica. Toda greve tem seus limites éticos, e o bom é que essa questão já está sendo discutida dentro da própria USP. Os estudantes de odontologia, por exemplo, decidiram não fazer greve porque acham que ela significaria um prejuízo à saúde alheia. Esse é o tipo do dilema que nós temos visto em outras greves.
ISTOÉ - Que dilema? Gabeira - Um exemplo é a greve do Ibama. A paralisação dificulta a negociação daqueles que querem ajudar, enfraquece o setor ambiental no conjunto. De certa forma, você abandona a questão ambiental para fazer greve. Dá a impressão de que a sua luta é mais importante que o próprio meio ambiente. Na USP, da mesma forma, existe a mesma discussão. De um lado, quem acha que tem de parar porque a razão é justa, e outros que acham que a paralisação provoca um prejuízo maior à sociedade.
ISTOÉ - Na USP, a discussão é sobre a autonomia universitária, uma velha bandeira do movimento estudantil. Gabeira - Um grupo diz: "Estão quebrando a autonomia." O outro grupo diz: "Não, não estamos quebrando a autonomia, mas a autonomia se dará dentro de circunstâncias." A margem para negociação, imagino, é grande. O conceito de autonomia diz respeito à liberdade que a universidade deve ter de usar o seu dinheiro. Mas isso não significa deixar de dar satisfações à sociedade. Tem que dar satisfações, sim. Então o problema maior que se coloca na USP é o seguinte: o movimento passa a acontecer à margem da lei. A Justiça já determinou que a invasão da reitoria é ilegal. A questão agora é como lidar com isso.
ISTOÉ - E como se deve lidar com isso? Gabeira - O Estado democrático dá dois caminhos: o uso da força ou a negociação. A simples negociação talvez não resolva. Mas o uso da força também não resolverá. A alternativa seria um processo de negociação no qual, simultaneamente, se retiram as condições de sobrevivência da invasão. Tira a luz, a água, vai tornando a situação insustentável para os estudantes. E aumentando a negociação.
ISTOÉ - Existe um conflito entre a sociedade e os interesses corporativos de quem comanda movimentos como os da USP e do Ibama? Gabeira - A autonomia universitária significa para a universidade liberdade de atuação. Mas autonomia para quê? Isso não está claro. Essa autonomia não pode se circunscrever aos interesses universitários. Qual vai ser o uso do orçamento autônomo? Se você comparar a luta estudantil atual com as do passado, a de hoje parece ser muito mais uma defesade interesses particulares dos estudantes. A antiga luta estudantil estava articulada a uma luta política maior, a mudar o sistema político.
ISTOÉ - Os movimentos políticos perderam as grandes bandeiras e viraram meramente corporativos? Gabeira - Não totalmente. Entre os estudantes da USP, deve haver aqueles que ainda têm essas preocupações mais amplas. Mas são tão minoritários que ficam escondidos. Na verdade, tanto a greve do Ibama como os movimentos dos servidores públicos são movimentos setoriais. Como um setor que quer se definir, ainda que provocando prejuízos ao meio ambiente ou a quem quer estudar. No caso do Ibama, quando você arranha essa tese, o argumento é que se está causando um prejuízo momentâneo para ter um ganho maior no futuro. Mas, mesmo assim, isso é contraditório. Existem formas de lutas que significam, simultaneamente, uma vontade de preservar seus interesses e também de envolver a sociedade. No caso da USP, entrar na Justiça, fazer valer os direitos sem prejudicar as atividades da universidade. A estratégia política tanto dos estudantes da USP quanto dos servidores do Ibama me parece fora do tempo.
ISTOÉ - O que o sr. sugere? Gabeira - Uma estratégia política mais condizente com o atual curso da democracia no Brasil. Que possibilitaria atrair mais forças a seu favor. A mídia está aberta, a Justiça respondendo mais rapidamente. Assim, há como fazer a coisa crescer na sociedade.
ISTOÉ - O sr. pegou em armas, seqüestrou um embaixador. Por que a transgressão era válida naquela época e hoje não é mais? Gabeira - Naquela época, tudo o que se fazia era vinculado a uma visão de transformação global. E achava-se que a estrutura legal impedia essa transformação, porque era uma estrutura legal burguesa criada exatamente para evitar essas transformações. Agora, no Estado Democrático de Direito, não é essa a relação que você tem com a lei. Se você não tem mais a expectativa de romper com o Estado Democrático de Direito, você tem outros caminhos para recorrer. Nossas opções naquela época implicavam prisão, tortura, perda de vida... Hoje são apenas estudantes lutando para que a sua concepção de universidade seja vitoriosa.
ISTOÉ - O movimento estudantil não está mais vinculado a uma discussão política mais ampla? Gabeira - No passado, havia uma visão global de trocar o capitalismo pelo socialismo. Hoje, vivermos uma situação em que o capitalismo é uma realidade. As alternativas postas em prática pela história não deram certo. Então, hoje nada mais resta senão aceitar o capitalismo e tentar transformá-lo, não derrubá-lo. Hoje é possível utilizar outras formas de luta, que não rompem com os requisitos legais, com uma capacidade de êxito maior. Um contra-exemplo drástico é a invasão de Tucuruí.
ISTOÉ - Mas o sr. não defende o movimento das populações atingidas pelas barragens? Gabeira - Defendo. Já estive muitas vezes com eles. Mas aquela invasão foi um equívoco muito grande. Um equívoco porque Tucuruí representa uma central de eletricidade que atende muita gente. Um equívoco porque a ação foi feita com violência, usando bombas caseiras. Um equívoco porque apertaram botões que eles não sabiam para que serviam. Podiam ter provocado um desastre muito grande. O próprio líder do movimento quando sai, diz: "Agora, eu vou derrubar uma torre." Em qualquer país do mundo, ele seria chamado a uma delegacia ou a um juiz e se explicaria a ele o tamanho do transtorno que ele poderia causar. Você pode tirar a energia de um hospital no meio de cirurgias graves. Provocar acidentes. Colocar doentes que dependem de aparelhos em risco de vida.
ISTOÉ - Faltou autoridade, então? Gabeira - Em vários casos tem faltado uma clareza. E isso é explicável. Esses movimentos apoiaram a eleição de Lula. E eles meio que se sentem à vontade para tentar fazer as coisas andarem mais rápido. O governo Salvador Allende, no Chile, viveu isso o tempo todo. Agora, quando se dirige o País com uma perspectiva de estabilidade e não de transformação, então tem de tomar atitudes que deixem isso claro. Tem que impor os limites legais. Responsabilizar as pessoas.
ISTOÉ - É o que acontece também no Movimento dos Sem Terra? Gabeira - Sim. É mais uma vez um movimento tentando pressionar o País para andar mais rápido. Mas, andar mais rápido para onde? Até que ponto a idéia que se tinha de reforma agrária se mantém? O governo já viu que a reforma agrária não se limita a dar um pedaço de terra. O Lula entende que aí precisa haver um ajuste. Mas, ao mesmo tempo, ele evita um confronto. O problema é que, quando você evita o confronto, talvez o processo posterior seja mais grave. Vai adiando e criando as bases, depois, para um novo confronto. No caso de Tucuruí, o governo agiu certo ao mandar as Forças Armadas ocuparem a usina. Porque é um bem ligado à segurança nacional. Mas, por outro lado, não houve uma condenação política clara quanto à ocupação.
ISTOÉ - No caso da USP, como o governo estadual pode negociar? Gabeira - O governador Serra é um exlíder estudantil. Creio que ele tem medo de um desgaste na sua biografia se endurecer com os estudantes. Ao mesmo tempo, ele sabe que forças políticas adversárias estão integradas ao movimento dos estudantes. Isso gera uma relativa cautela. Mas essa cautela tem que ter limites.
ISTOÉ - Se fosse estudante hoje, o sr. estaria na reitoria ou na sala de aula? Gabeira - A gente percebe que existe uma divisão entre os cursos de humanidades e os cursos técnicos. Se eu estivesse num curso técnico, talvez estivesse trabalhando. Mas, mesmo que estivesse no movimento, eu teria uma discordância. Eu sou mais pela luta política dentro dos limites legais. Possivelmente, estaria junto, mas discordando do caminho.
ISTOÉ - O governo criou regras para estabelecer limites para a programação das TVs. Essa programação deveria ter limites? Gabeira - O único limite aceitável é o do controle remoto. Muda de canal, desliga a tevê.
ISTOÉ - Chegou a hora da união civil entre pessoas do mesmo sexo? Gabeira - Se você entender o casamento como deve ser, sem conotação religiosa, mas como uma união entre duas pessoas, mais do que chegou a hora. É como a abolição da escravatura. Será que, de novo, nós só vamos fazer quando já tiver acontecido em todo o mundo? Nossa sociedade já está madura para isso.
ISTOÉ - E, no caso da legalização das drogas, a sociedade também está madura? Gabeira - Nesse caso, não. Não aconteceu a liberação das drogas onde a polícia, a autoridade, também não tenha evoluído. Na Holanda, por exemplo, é liberado nos coffe-shops, mas com câmeras ligadas. Na Inglaterra, quem pediu para liberar em certas áreas foi a própria polícia. Não é um conceito de liberou geral. Mas de estabelecer um controle mais sutil. O Estado tem de se fortalecer para garantir esse direito. A verdade é que o nível de controle em uma sociedade em que a droga é liberada acaba sendo um nível de controle maior do que os que existem em lugares onde é proibido.
ISTOÉ - O sr. retrocedeu em relação ao que defendia antes sobre isso? Gabeira - Quando comecei a examinar isso de perto, vi que a liberação só se dava em sociedades mais avançadas, e não em sociedades corrompidas como a nossa.
ISTOÉ - O sr. falou em corporativismos. No Congresso o debate dos escândalos se dá também mais no nível da defesa uns dos outros. Gabeira - A solidariedade no Congresso se dá mais em torno dos denunciados do que com relação aos flagelados que não tiveram as suas casas concluídas por conta de obras de habitação superfaturadas. Existe uma visão de "nós, os eleitos" e a sociedade. Muitas vezes, a sociedade ganha o nome de "mídia". E, aí, gera uma hostilidade contra aqueles que procuram responder à sociedade através da mídia. Interpretam como uma vontade de aparecer. A relação com a mídia tem de ser um trabalho cotidiano.
Fonte: ISTOÉ
"Eu te falei que podia ficar muito pior " De Mônica Veloso para Renan Calheiros, em conversa que ela mesmo gravou
Um senador, sua amante e uma filha. o enredo dessa história tem por trás os ingredientes clássicos de uma chantagem que vinha se desenhando há anos. Documentos bancários e as gravações dos diálogos íntimos de Mônica Veloso e Renan Calheiros, obtidos por Istoé, ajudam a elucidar a trama dessa novelaPor RUDOLFO LAGO
“Preciso abrir a boca pra esse filho existir”
A reação de Verônica
No domingo 27, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou boa parte do tempo consultando o livro História viva, da senadora americana Hillary Clinton, mulher do ex-presidente Bill Clinton. Renan preparava o discurso que teria de fazer no dia seguinte para se defender da acusação de que poderia estar usando dinheiro da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha. No dia seguinte, ao se defender no plenário, diante do olhar da mulher com quem está casado há 30 anos, Verônica Calheiros (leia entrevista à pág. 35), ele seria o centro das atenções no País. Enquanto juntava os documentos que comprovariam que pagara pensão com recursos próprios, Renan se inspirava com o livro em que Hillary Clinton conta a sua versão do drama semelhante. “Foi humilhante eu, da presidência do Senado, ter que confessar um pecado”, desabafou Renan a ISTOÉ.
MÔNICA
O presidente do Senado evita admitir que possa ter sido vítima de chantagem por parte de Mônica Veloso. “Eu não falo mal dela”, diz. “Ela é mãe de uma filha minha. E eu vou fazer de tudo para proteger a minha filha.” O que, porém, foi revelado ao longo da semana sobre a sua relação com a jornalista está muito próximo do “ato de extorquir dinheiro, favores ou vantagens de alguém sob ameaça de revelações escandalosas ou secretas”. Essa é a definição de chantagem no Dicionário Aurélio.
Desde 2003, quando Mônica engravidou, Renan tem negociado com ela formas de tentar manter a relação entre os dois – e a filha, fruto desse relacionamento – distante das páginas da imprensa. No mesmo período, Mônica gravou conversas íntimas, e notas insinuando o relacionamento saíram em colunas de jornal. A disputa entre Renan e Mônica acabou na 4ª Vara de Família de Brasília, no processo 2005.01.1.14933. Renan, então, pagava a Mônica uma pensão de R$ 3 mil, e ela queria aumentá-la para R$ 12 mil. No exato dia da audiência que ambos teriam perante o juiz, surgiu a denúncia de que a pensão e outras despesas de Mônica seriam pagas pela Mendes Júnior, através do lobista da empreiteira, Cláudio Gontijo.
“Todos os recursos são meus”, garante Renan. Para comprovar isso, na quarta- feira 30, o advogado de Renan, Eduardo Ferrão, entregou uma série de documentos ao corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). Um dos principais documentos, ao qual ISTOÉ teve acesso, é uma tabela com os rendimentos detalhados de Renan desde 2003. As mesmas informações que constam das suas declarações de Imposto de Renda. Elas demonstram que Renan teria recursos suficientes para pagar o que acertou com Mônica sem recorrer a terceiros.
O CASAL CALHEIROS: ataques e o apoio em casa
De dezembro de 2004 a janeiro de 2006, ele pagou, em média, R$ 8 mil mensais de ajuda à jornalista e mais R$ 4 mil do aluguel do apartamento. Formou ainda, em duas parcelas, um fundo de R$ 100 mil para ajudar na educação da filha. Um total, portanto, de R$ 268 mil, pelo menos. Em 2003, Renan declarou R$ 821,1 mil em rendimentos. Em 2004, quando vendeu uma casa no Lago Sul em Brasília por R$ 600 mil, esses rendimentos pularam para R$ 1,4 milhão. Em 2005, somaram pouco mais de R$ 1 milhão; em 2006, declarou R$ 1,1 milhão.
A Romeu Tuma, foram entregues também extratos da conta bancária de Renan que demonstrariam as retiradas para pagar Mônica. “Os documentos comprovam que ele não precisaria usar recursos de terceiros para fazer os pagamentos relatados pela jornalista”, disse Tuma após uma primeira análise na papelada. Em tese, o desafio de Tuma seria encontrar todo o percurso feito pelo dinheiro desde a saída das contas de Renan. Mas, na quarta-feira 30, a própria Mônica tratou de minimizar esse desafio. Por intermédio de seu advogado, ela afirmou que jamais dissera que o dinheiro recebido de Renan fosse proveniente da empreiteira.
E é aí que está a questão central. Se não houve dinheiro da empreiteira, não se pode fazer a ilação de tráfico de influência e não existe crime cometido pelo senador. Renan pode ainda vir a ser julgado por quebra de decoro pela Comissão de Ética do Senado por supostamente ter mentido sobre o dinheiro do fundo educacional para a criança. Mas, como se viu 48 horas depois de seu discurso no plenário, quem se enganou sobre isso foi o advogado de Mônica, Pedro Calmon Filho, que chegou a assinar dois recibos de R$ 50 mil, nos quais está explicitamente escrito que o dinheiro se destina à educação da filha. A menos que fatos novos provem o contrário, toda a história serviu apenas para a exposição pública, em rede nacional, de um romance privado do presidente do Senado.
“Os documentos comprovam que ele não precisaria usar recursos de terceiros” Romeu Tuma, corregedor do senado
Ex-apresentadora de telejornais da Rede Globo na década de 1990, em Brasília, Mônica trabalhava numa produtora de vídeo quando foi contratada para apresentar um programa político do PMDB. Foi assim que Renan a conheceu. Os dois começaram a sair juntos – e num intervalo entre uma tentativa de afastamento e uma breve reconciliação, Mônica engravidou. Numa das conversas com ele, que ela própria gravou, a jornalista dá a entender que esse encontro teria ocorrido no próprio gabinete do senador (na época, ele era líder do PMDB).
Um ou dois meses depois, Mônica voltaria a procurar Renan. “Estou grávida”, disse Mônica. “Eu duvido que esse filho seja meu”, reagiu. Foi quando ela disse a ele que gravara várias das conversas que os dois tiveram. Ela poderia facilmente comprovar o relacionamento. Se a coisa se tornasse pública, Renan só poderia tirar a prova da paternidade oito meses depois. O estrago, então, já estaria feito. Ao mesmo tempo, segundo o senador contou a amigos, Mônica passou a pressioná- lo com ligações para sua residência. Notas começaram a aparecer em colunas de jornal. A vida conjugal de Renan entrou em grande turbulência. Durante todo o período, a ansiedade e o nervosismo fizeram Verônica, a mulher de Renan, engordar até 20 quilos.
Diante do risco de acabar com o casamento e comprometer a vida política, Renan fez um acordo com Mônica. Se ele era uma pessoa pública e não queria escândalo, ela, então, teria de ficar preservada. Porque iam perguntar de quem era a criança. Se tinha de sumir, ela ficaria impedida de trabalhar. Mônica diz a Renan que seus rendimentos mensais na produtora giravam em torno de R$ 8 mil. Fora o aluguel da sua casa. O senador, então, aceitou pagar esse valor a ela – R$ 12 mil no total e não os R$ 16,5 mil que chegaram a ser inicialmente divulgados. No primeiro ano, Mônica morou numa casa no Lago Norte, bairro nobre de Brasília. Renan pagou o aluguel do ano inteiro adiantado: R$ 40 mil. Em 2006, ela mudou-se para o apartamento dúplex da quadra 309 Norte, onde vive hoje. Em muitos meses, Mônica pediu mais dinheiro. Em determinado momento, disse que estava ameaçada e pediu a contratação de seguranças. Foi apenas aí, nesse caso específico, que o valor chegou a R$ 16 mil, somados pensão e aluguel.
É por conta desses acertos com Renan que o lobista Cláudio Gontijo, da Construtora Mendes Júnior, entrou na vida de Mônica. As conversas de Renan com Mônica foram se tornando mais tensas. Renan queria evitar as chances de vir a ser visto ao lado dela e não podia fazer os pagamentos com cheques ou transferência eletrônica para não estabelecer um piso para a pensão que seria discutida na Justiça. Gontijo, amigo de Renan desde o governo Fernando Collor, aceitou a tarefa de fazer essa ponte. Renan afirma que chegou a temer pelo fato de ele ser funcionário de uma empreiteira. “Mas quem quisesse faria ilações, quem quer que fosse a pessoa e qualquer que fosse a sua profissão”, argumenta.
ZULEIDO (ao centro): Enquanto o País era envolvido no Caso Renan, os 47 presos da Operação Navalha eram liberados e voltavam para casa
A menina nasceu em julho de 2004. Mas Renan só fez o exame da DNA para comprovar a paternidade um ano e meio depois, em dezembro de 2005. Depois de não ter mais dúvidas de que era realmente o pai, ele resolveu regularizar a situação. Chamou Verônica e seu filho mais velho, o prefeito de Murici (AL), Renan Filho. “A filha é minha”, revelou. Para os dois outros filhos mais novos de Renan, Rodrigo e Rodolpho, a história continuaria um segredo até a semana passada. No dia 21 de dezembro de 2005, Renan foi ao cartório do 2º Ofício de Notas e Protesto de Brasília e assumiu a menina. E entrou com a ação na Justiça para estabelecer o valor da pensão. Propôs, legalmente, pagar R$ 3 mil a ela.
Mônica, então, contratou o advogado Pedro Calmon Filho para tentar elevar a pensão. E anexou ao processo todas as conversas que gravou com Renan. Nas transcrições Cláudio Gontijo é identificado como “Cláudio Mendes” ou “Cláudio da Mendes”. Com a pensão reduzida apenas aos R$ 3 mil descontados no contracheque do senador, Mônica deixou de pagar o aluguel do dúplex. Chegou a sofrer uma ação de despejo. Nessa época, Renan resolveu pagar a ela mais R$ 100 mil, numa tentativa de evitar novas pressões. O advogado do senador sugeriu que o dinheiro fosse dado com o caráter de um fundo extra para custear as despesas de educação com a menina. E recomendou que Renan exigisse um recibo no qual isso ficasse claro.
A disputa judicial por uma pensão maior, no entanto, continuou. Na semana passada, já não era mais no ambiente reservado da Vara de Família que Renan tinha de se defender. Colocado no centro do picadeiro, ele enfrenta agora pressões dos que tentam vinculá-lo à Mendes Júnior e outras empreiteiras, como a Gautama. Numa conversa gravada pela Polícia Federal na Operação Navalha, o secretário e o subsecretário de Infra-Estrutura de Alagoas, Adeilson Teixeira Bezerra e Denílson de Luna Tenório, comentam que Renan pressionaria a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para conseguir liberar as verbas para a construção da barragem do rio Pratagy, obra que a Gautama tocava no Estado. “Eu não tenho nada a ver com supostas irregularidades. Havia um pedido do governador para tocar a obra, e eu o atendi”, defende-se. O senador também fez uma emenda para uma obra tocada pela Mendes Júnior, no porto de Maceió. “Quem faz a emenda não é quem contrata a empreiteira. Eu sempre farei emendas para levar verbas para o meu Estado”, diz. Ao mesmo tempo, adversários de Renan em Alagoas tratavam de suprir a imprensa com dossiês requentados de campanhas eleitorais passadas. Mesmo para quem não enxergou nos documentos a prova de que não havia um conflito de interesses no pagamento da pensão à filha, é fato que até agora não surgiu nada que comprove algum ato de corrupção do senador. E, assim, enquanto o País discutia detalhes da vida sexual do presidente do Congresso, o Supremo Tribunal Federal libertava os 47 presos na Operação Navalha.
Fonte: ISTOÉ
“Preciso abrir a boca pra esse filho existir”
A reação de Verônica
No domingo 27, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou boa parte do tempo consultando o livro História viva, da senadora americana Hillary Clinton, mulher do ex-presidente Bill Clinton. Renan preparava o discurso que teria de fazer no dia seguinte para se defender da acusação de que poderia estar usando dinheiro da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha. No dia seguinte, ao se defender no plenário, diante do olhar da mulher com quem está casado há 30 anos, Verônica Calheiros (leia entrevista à pág. 35), ele seria o centro das atenções no País. Enquanto juntava os documentos que comprovariam que pagara pensão com recursos próprios, Renan se inspirava com o livro em que Hillary Clinton conta a sua versão do drama semelhante. “Foi humilhante eu, da presidência do Senado, ter que confessar um pecado”, desabafou Renan a ISTOÉ.
MÔNICA
O presidente do Senado evita admitir que possa ter sido vítima de chantagem por parte de Mônica Veloso. “Eu não falo mal dela”, diz. “Ela é mãe de uma filha minha. E eu vou fazer de tudo para proteger a minha filha.” O que, porém, foi revelado ao longo da semana sobre a sua relação com a jornalista está muito próximo do “ato de extorquir dinheiro, favores ou vantagens de alguém sob ameaça de revelações escandalosas ou secretas”. Essa é a definição de chantagem no Dicionário Aurélio.
Desde 2003, quando Mônica engravidou, Renan tem negociado com ela formas de tentar manter a relação entre os dois – e a filha, fruto desse relacionamento – distante das páginas da imprensa. No mesmo período, Mônica gravou conversas íntimas, e notas insinuando o relacionamento saíram em colunas de jornal. A disputa entre Renan e Mônica acabou na 4ª Vara de Família de Brasília, no processo 2005.01.1.14933. Renan, então, pagava a Mônica uma pensão de R$ 3 mil, e ela queria aumentá-la para R$ 12 mil. No exato dia da audiência que ambos teriam perante o juiz, surgiu a denúncia de que a pensão e outras despesas de Mônica seriam pagas pela Mendes Júnior, através do lobista da empreiteira, Cláudio Gontijo.
“Todos os recursos são meus”, garante Renan. Para comprovar isso, na quarta- feira 30, o advogado de Renan, Eduardo Ferrão, entregou uma série de documentos ao corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). Um dos principais documentos, ao qual ISTOÉ teve acesso, é uma tabela com os rendimentos detalhados de Renan desde 2003. As mesmas informações que constam das suas declarações de Imposto de Renda. Elas demonstram que Renan teria recursos suficientes para pagar o que acertou com Mônica sem recorrer a terceiros.
O CASAL CALHEIROS: ataques e o apoio em casa
De dezembro de 2004 a janeiro de 2006, ele pagou, em média, R$ 8 mil mensais de ajuda à jornalista e mais R$ 4 mil do aluguel do apartamento. Formou ainda, em duas parcelas, um fundo de R$ 100 mil para ajudar na educação da filha. Um total, portanto, de R$ 268 mil, pelo menos. Em 2003, Renan declarou R$ 821,1 mil em rendimentos. Em 2004, quando vendeu uma casa no Lago Sul em Brasília por R$ 600 mil, esses rendimentos pularam para R$ 1,4 milhão. Em 2005, somaram pouco mais de R$ 1 milhão; em 2006, declarou R$ 1,1 milhão.
A Romeu Tuma, foram entregues também extratos da conta bancária de Renan que demonstrariam as retiradas para pagar Mônica. “Os documentos comprovam que ele não precisaria usar recursos de terceiros para fazer os pagamentos relatados pela jornalista”, disse Tuma após uma primeira análise na papelada. Em tese, o desafio de Tuma seria encontrar todo o percurso feito pelo dinheiro desde a saída das contas de Renan. Mas, na quarta-feira 30, a própria Mônica tratou de minimizar esse desafio. Por intermédio de seu advogado, ela afirmou que jamais dissera que o dinheiro recebido de Renan fosse proveniente da empreiteira.
E é aí que está a questão central. Se não houve dinheiro da empreiteira, não se pode fazer a ilação de tráfico de influência e não existe crime cometido pelo senador. Renan pode ainda vir a ser julgado por quebra de decoro pela Comissão de Ética do Senado por supostamente ter mentido sobre o dinheiro do fundo educacional para a criança. Mas, como se viu 48 horas depois de seu discurso no plenário, quem se enganou sobre isso foi o advogado de Mônica, Pedro Calmon Filho, que chegou a assinar dois recibos de R$ 50 mil, nos quais está explicitamente escrito que o dinheiro se destina à educação da filha. A menos que fatos novos provem o contrário, toda a história serviu apenas para a exposição pública, em rede nacional, de um romance privado do presidente do Senado.
“Os documentos comprovam que ele não precisaria usar recursos de terceiros” Romeu Tuma, corregedor do senado
Ex-apresentadora de telejornais da Rede Globo na década de 1990, em Brasília, Mônica trabalhava numa produtora de vídeo quando foi contratada para apresentar um programa político do PMDB. Foi assim que Renan a conheceu. Os dois começaram a sair juntos – e num intervalo entre uma tentativa de afastamento e uma breve reconciliação, Mônica engravidou. Numa das conversas com ele, que ela própria gravou, a jornalista dá a entender que esse encontro teria ocorrido no próprio gabinete do senador (na época, ele era líder do PMDB).
Um ou dois meses depois, Mônica voltaria a procurar Renan. “Estou grávida”, disse Mônica. “Eu duvido que esse filho seja meu”, reagiu. Foi quando ela disse a ele que gravara várias das conversas que os dois tiveram. Ela poderia facilmente comprovar o relacionamento. Se a coisa se tornasse pública, Renan só poderia tirar a prova da paternidade oito meses depois. O estrago, então, já estaria feito. Ao mesmo tempo, segundo o senador contou a amigos, Mônica passou a pressioná- lo com ligações para sua residência. Notas começaram a aparecer em colunas de jornal. A vida conjugal de Renan entrou em grande turbulência. Durante todo o período, a ansiedade e o nervosismo fizeram Verônica, a mulher de Renan, engordar até 20 quilos.
Diante do risco de acabar com o casamento e comprometer a vida política, Renan fez um acordo com Mônica. Se ele era uma pessoa pública e não queria escândalo, ela, então, teria de ficar preservada. Porque iam perguntar de quem era a criança. Se tinha de sumir, ela ficaria impedida de trabalhar. Mônica diz a Renan que seus rendimentos mensais na produtora giravam em torno de R$ 8 mil. Fora o aluguel da sua casa. O senador, então, aceitou pagar esse valor a ela – R$ 12 mil no total e não os R$ 16,5 mil que chegaram a ser inicialmente divulgados. No primeiro ano, Mônica morou numa casa no Lago Norte, bairro nobre de Brasília. Renan pagou o aluguel do ano inteiro adiantado: R$ 40 mil. Em 2006, ela mudou-se para o apartamento dúplex da quadra 309 Norte, onde vive hoje. Em muitos meses, Mônica pediu mais dinheiro. Em determinado momento, disse que estava ameaçada e pediu a contratação de seguranças. Foi apenas aí, nesse caso específico, que o valor chegou a R$ 16 mil, somados pensão e aluguel.
É por conta desses acertos com Renan que o lobista Cláudio Gontijo, da Construtora Mendes Júnior, entrou na vida de Mônica. As conversas de Renan com Mônica foram se tornando mais tensas. Renan queria evitar as chances de vir a ser visto ao lado dela e não podia fazer os pagamentos com cheques ou transferência eletrônica para não estabelecer um piso para a pensão que seria discutida na Justiça. Gontijo, amigo de Renan desde o governo Fernando Collor, aceitou a tarefa de fazer essa ponte. Renan afirma que chegou a temer pelo fato de ele ser funcionário de uma empreiteira. “Mas quem quisesse faria ilações, quem quer que fosse a pessoa e qualquer que fosse a sua profissão”, argumenta.
ZULEIDO (ao centro): Enquanto o País era envolvido no Caso Renan, os 47 presos da Operação Navalha eram liberados e voltavam para casa
A menina nasceu em julho de 2004. Mas Renan só fez o exame da DNA para comprovar a paternidade um ano e meio depois, em dezembro de 2005. Depois de não ter mais dúvidas de que era realmente o pai, ele resolveu regularizar a situação. Chamou Verônica e seu filho mais velho, o prefeito de Murici (AL), Renan Filho. “A filha é minha”, revelou. Para os dois outros filhos mais novos de Renan, Rodrigo e Rodolpho, a história continuaria um segredo até a semana passada. No dia 21 de dezembro de 2005, Renan foi ao cartório do 2º Ofício de Notas e Protesto de Brasília e assumiu a menina. E entrou com a ação na Justiça para estabelecer o valor da pensão. Propôs, legalmente, pagar R$ 3 mil a ela.
Mônica, então, contratou o advogado Pedro Calmon Filho para tentar elevar a pensão. E anexou ao processo todas as conversas que gravou com Renan. Nas transcrições Cláudio Gontijo é identificado como “Cláudio Mendes” ou “Cláudio da Mendes”. Com a pensão reduzida apenas aos R$ 3 mil descontados no contracheque do senador, Mônica deixou de pagar o aluguel do dúplex. Chegou a sofrer uma ação de despejo. Nessa época, Renan resolveu pagar a ela mais R$ 100 mil, numa tentativa de evitar novas pressões. O advogado do senador sugeriu que o dinheiro fosse dado com o caráter de um fundo extra para custear as despesas de educação com a menina. E recomendou que Renan exigisse um recibo no qual isso ficasse claro.
A disputa judicial por uma pensão maior, no entanto, continuou. Na semana passada, já não era mais no ambiente reservado da Vara de Família que Renan tinha de se defender. Colocado no centro do picadeiro, ele enfrenta agora pressões dos que tentam vinculá-lo à Mendes Júnior e outras empreiteiras, como a Gautama. Numa conversa gravada pela Polícia Federal na Operação Navalha, o secretário e o subsecretário de Infra-Estrutura de Alagoas, Adeilson Teixeira Bezerra e Denílson de Luna Tenório, comentam que Renan pressionaria a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para conseguir liberar as verbas para a construção da barragem do rio Pratagy, obra que a Gautama tocava no Estado. “Eu não tenho nada a ver com supostas irregularidades. Havia um pedido do governador para tocar a obra, e eu o atendi”, defende-se. O senador também fez uma emenda para uma obra tocada pela Mendes Júnior, no porto de Maceió. “Quem faz a emenda não é quem contrata a empreiteira. Eu sempre farei emendas para levar verbas para o meu Estado”, diz. Ao mesmo tempo, adversários de Renan em Alagoas tratavam de suprir a imprensa com dossiês requentados de campanhas eleitorais passadas. Mesmo para quem não enxergou nos documentos a prova de que não havia um conflito de interesses no pagamento da pensão à filha, é fato que até agora não surgiu nada que comprove algum ato de corrupção do senador. E, assim, enquanto o País discutia detalhes da vida sexual do presidente do Congresso, o Supremo Tribunal Federal libertava os 47 presos na Operação Navalha.
Fonte: ISTOÉ
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