Publicado em 24 de junho de 2024 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Ao se recusar a responder às indagações do presidente da subcomissão de Direitos Humanos da Câmara dos Estados Unidos, deputado republicano Chris Smith, o ministro Alexandre de Moraes tenta demonstrar que o Brasil não é filial dos Estados Unidos e nossas questões internas são resolvidas sem qualquer interferência externa.
Ele está certíssimo nessa posição, pois o Brasil, como país soberano, não pode aceitar pressões de qualquer natureza, não importa se estejam certas ou equivocadas.
JOGO DOS SETE ERROS – Nesse caso, a saída via soberania e nacionalismo é a única possível, o ministro precisa ser apoiado com entusiasmo. No entanto, o affaire diplomático pode ter outra leitura. O fato concreto é que Moraes tem extrapolado seus poderes e ficou sem condição de responder negativamente a nenhuma das setes questões levantadas pelo Comitê de Direitos Humanos da Câmara americana. Se não, vejamos:
1) “Existem atualmente jornalistas ou outros indivíduos cujo conteúdo está sujeito à censura prévia por sua ordem, incluindo, mas não se limitando a medidas como bloqueio de contas em redes sociais, remoção de sites ou conteúdo online, ou quaisquer outras ações que impeçam a publicação ou livre disseminação de informações?”
A resposta é “sim”, porque se refere a blogueiros como Allan dos Santos e Monark.
2) “O senhor tem conhecimento de quaisquer ações tomadas por uma entidade governamental que tenham dificultado jornalistas de exercer suas funções profissionais, como o congelamento de seus ativos financeiros ou a imposição de restrições às suas liberdades civis, incluindo ordens de prisão ou o cancelamento de seus passaportes?”
A resposta continua sendo “sim”, porque a pergunta também se refere a blogueiros como Allan dos Santos e Monark.
3) “Algum integrante do Congresso brasileiro foi processado, investigado ou sujeito a medidas preventivas, como congelamento de bens ou restrições de viagem, devido a opiniões expressas ou ações tomadas no curso do exercício de suas funções legislativas?”
A resposta também é “sim”, pois a pergunta se refere ao deputado Daniel Silveira, e Moraes bloqueou até a conta bancária da mulher dele, num ato de selvageria.
4) “Em suas investigações e processos contra civis, o senhor observou o devido processo legal, incluindo fazer as devidas notificações e citações em casos de indivíduos residentes nos Estados Unidos?”
Ainda é “sim” a resposta, porque Moraes age de ofício, sem permitir defesa e recurso aos atos de censura.
5) “O senhor tem conhecimento de alguma instância de repressão transnacional, incluindo o uso de agências dos EUA ou organizações internacionais operando nos EUA, como a Interpol, para assediar indivíduos atualmente em território dos EUA e sob jurisdição dos EUA?”
É “sim” a resposta, porque Moraes acionou a Interpol para prender Allan dos Santos e Monark.
6) “O senhor solicitou dados ou emitiu ordens contra empresas ou indivíduos que não estão sob sua jurisdição geográfica, incluindo empresas ou indivíduos sob a jurisdição dos Estados Unidos?”
Continuamos no “sim”, porque a pergunta se refere aos blogueiros.
7) “O senhor exigiu que empresas ou indivíduos dos EUA cumprissem ordens cuja legalidade é questionável sob a lei brasileira, incluindo ordens que ameaçam empresas ou indivíduos dos EUA com ações legais contra seus funcionários, com multas ou com bloqueio, proibição e/ou desconexão deles no Brasil?”
Outra resposta “sim”, em relação às empresas Rumble e X.
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CONCLUSÃO – Moraes foi apanhado em flagrante, com a mão na massa. É claro que não vai responder, porque não tem mesmo como se desculpar dos atos que cometeu, não interessa se houve e há concordância do Supremo. A democracia tem dessas coisas. (C.N.)