Publicado em 2 de setembro de 2023 por Tribuna da Internet
Bruno Boghossian
Folha
A visita da Polícia Federal ao município de Vitorino Freire (MA) antecipa um teste inevitável para Lula. No momento em que o centrão amplia seus domínios no governo, a operação que envolve o ministro Juscelino Filho força o petista a traçar limites de tolerância e mostrar até onde vai para preservar arranjos políticos.
Juscelino é o primeiro ministro de Lula citado em suspeitas frescas de corrupção. Segundo a PF, o político mandou verba de emendas para o município comandado pela irmã, alertou empresários amigos que manipulavam licitações e recebeu pagamentos numa empresa de fachada. Ele nega irregularidades.
ALGUM ALÍVIO – Dois elementos oferecem a Lula algum alívio na história. O primeiro é o fato de que a Polícia Federal teve liberdade para escarafunchar transações sem proteger um integrante do primeiro escalão.
O segundo é a concentração de pagamentos no governo de Jair Bolsonaro, como parte do mercadão de emendas que ganhou corpo naquele período.
Esses mesmos fatores também provocam incômodo. A atuação da PF sob Lula enfureceu o centrão quando Arthur Lira entrou na mira da investigação sobre a compra de kits de robótica. Além disso, o mercadão do Congresso continua ativo, e os mesmos atores permanecem no controle de órgãos federais por onde passa o dinheiro, como a Codevasf.
RISCO APROFUNDADO – No início do governo, Lula segurou Juscelino no cargo para evitar uma crise com seus padrinhos do centrão. Mas o esquema de partilha de poder com esse e outros grupos políticos faz com que o caso do ministro dificilmente se mantenha isolado. A reforma para atender ao PP e ao Republicanos aprofunda o risco.
A repulsa ao lavajatismo impôs a Lula uma resistência a pressões provocadas por suspeitas de corrupção. O presidente terá que mostrar em que momento essas suspeitas podem ser consideradas concretas o suficiente para justificar a demissão de um ministro.
Se estiver preocupado só com a estabilidade política, o petista poderá dar um salvo-conduto para desvios no governo.