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segunda-feira, novembro 21, 2022

"Não aprenderam nada. Não esqueceram nada"



Entrevista a Duda Teixeira

O cientista político Bruno Garschagen (foto) diz que Lula e o PT pensam a política com a mesma cabeça de quando eram governo e serão implacáveis contra todos os que forem vistos como inimigos.

O cientista político Bruno Garschagen, de 47 anos, já publicou dois livros contestando a crença de que um Estado grande e fortalecido beneficia os cidadãos: Pare de acreditar no governo e Direitos máximos, deveres mínimos – o festival de privilégios que assola o Brasil. Um terceiro, sobre o conservadorismo no país, será lançado no próximo ano.

Pesquisador do Centro de Investigação do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, ele também dirige com a esposa uma empresa de cursos on-line e cuida da filha de três meses.

A Crusoé, Garschagen falou sobre o retorno do PT ao poder e sobre como o partido e Lula se comportarão no governo. Ele cita a frase do diplomata francês Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord a respeito dos Bourbon: “Não aprenderam nada, não esqueceram nada”. Para o cientista político, “Lula e o PT pensam a política com a mesma cabeça de quando eram governo e serão implacáveis contra todos os que forem vistos como inimigos“. Segue a conversa.

Lula vai substituir Jair Bolsonaro na Presidência no dia 1º de janeiro. Qual sua expectativa?

Bolsonaro sempre teve uma posição ambígua em relação ao papel do Estado e à responsabilidade do cargo de presidente. Nesses quase quatro anos de governo, suas declarações se encaixam naquilo que o historiador Gilberto Freyre qualificou como um traço da nossa cultura: um “equilíbrio dos antagonismos”. Por um lado, Bolsonaro criou um Ministério da Economia liberal e defendeu várias vezes a agenda de Paulo Guedes. Por outro lado, manifestou posições mais intervencionistas. Isso provocou a queda do presidente da Petrobras, que se recusou a mexer na política da preços da empresa.

E Lula?

Em relação ao Lula, ao PT e aos partidos e organizações satélites do lulopetismo, aplica-se a frase do diplomata francês Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord a respeito dos Bourbon que, sob o governo de Luís XVIII, perseguiram os inimigos que depuseram a monarquia já restabelecida: “Não aprenderam nada, não esqueceram nada”. Ou seja, Lula e o PT pensam a política com a mesma cabeça de quando eram governo e serão implacáveis contra todos os que forem vistos como inimigos.

Quais sinais Lula já deu sobre qual será o tamanho do Estado em seu próximo mandato?

Aquilo que mais se comentou na campanha foi justamente a vontade de derrubar o teto de gastos. E Lula ainda usou os mais pobres para justificar o fato de que ele e o seu partido estão interessados em ter mais dinheiro e controlá-lo.

Os eleitores de Lula querem mais governo?

Sem dúvida alguma, muito embora uma parcela, talvez minoritária, votou em Lula com o objetivo único de impedir a reeleição de Bolsonaro. Essa parcela será a primeira a sofrer uma desilusão.

Na reta final da campanha, o bolsonarismo conseguiu avançar em regiões onde se concentra a classe C, que ganha entre 500 reais e 2 mil reais por pessoa, por mês. O que explica isso?

Essa parcela votou no Bolsonaro porque foi beneficiada com o Auxílio Brasil ou porque concordava com o discurso fundamentado na moralidade. A que votou porque foi beneficiada pelo auxílio não terá qualquer problema com o novo governo Lula. A outra parcela, por outro lado, possivelmente estará atenta às falas de Lula e decisões de governo em temas como aborto, drogas e criminalidade.

Quando ainda era candidato em 2018, Jair Bolsonaro falou em privatizar mais de 50 estatais. Ele fracassou?

A promessa era, claramente, exagerada para qualquer pessoa que entendesse o mínimo de política e dos processos necessários para que se efetive uma privatização. E apesar de o governo ter obtido uma grande conquista, a privatização da Eletrobras, empresas que seriam símbolos do ambicioso Programa Nacional de Desestatização, o PND, como Correios e Petrobras, permaneceram do mesmo jeito. Não podemos esquecer também que parte da responsabilidade nesse processo é do Congresso, que sentou em cima dos projetos enviados pelo governo.

O brasileiro da classe C é contra as privatizações? Ou isso está mudando?

Isso mudou completamente. Hoje, só são contra as privatizações os políticos e alguns que ganham dinheiro com as estatais. O povão já percebeu que grandes empresas estatais não trazem qualquer benefício para a vida dele. Um dos tantos acontecimentos que ratificou essa percepção popular foi o sucessivo aumento dos preços dos combustíveis. Isso fez muita gente questionar de que adianta ter uma Petrobras estatal se o preço da gasolina só aumenta.

Lula prometeu criar o Ministério dos Povos Originários, o Ministério da Igualdade Racial e o Ministério da Mulher, além de outros. Essas coisas terão algum impacto real na sociedade?

É difícil responder isso de forma abstrata sem saber se esses ministérios serão mesmo criados, quem os comandará e quais serão as respectivas agendas. O que se pode afirmar com toda certeza é que esses ministérios, se criados, vão aumentar o gasto estatal, servir de cabide de emprego e serão instrumentos ideológicos da ala progressista radical do PT e seus aliados.

Alguma outra mudança?

O precedente aberto pelo governo Bolsonaro no uso de instituições estatais como a Secretaria Especial de Cultura e a Fundação Palmares para a tal guerra cultural será aproveitado pelo PT. Mas o partido, provavelmente, agirá sem fazer barulho. Em vários níveis, acredito que eles vão realizar mudanças abaixo do radar para não provocarem reações da sociedade. Será preciso ficar muito atento para todos aqueles ministérios, secretarias e fundações em que ninguém presta atenção porque não dá manchete de jornal.

Revista Crusoé

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