Bom momento é recado de que credibilidade da política fiscal é essencial para atrair investimentos
A atratividade do Brasil para Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) está crescendo. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos dois primeiros trimestres o Brasil foi o terceiro país que mais atraiu IEDs, depois de EUA e China. Mesmo com uma desaceleração global no segundo trimestre, o País manteve um bom ritmo. A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) estima que os fluxos entre janeiro e setembro atingiram US$ 66 bilhões, 31% a mais do que o total investido em 2021. No ano passado, o Brasil ficou na sétima posição entre os países que mais receberam IEDs. Agora, a Unctad estima que deve fechar o ano no grupo dos cinco países mais atraentes.
São indicadores importantes, porque o IED se destina a ampliar a produção das empresas, refletindo um interesse duradouro por parte dos investidores. Por isso é também chamado investimento produtivo. Segundo o Banco Mundial, é o melhor tipo de investimento para gerar empregos, desenvolver infraestrutura e transferir tecnologias.
O bom posicionamento do Brasil pode ser explicado por fatores internos e externos. O País foi um dos primeiros a reagir à alta inflacionária mundial, antecipando-se no aumento da taxa de juros, agora estabilizada. Além disso, está, comparativamente, superando as expectativas em relação ao crescimento e à política fiscal. O Brasil está distante das zonas de riscos geopolíticos (como a disputa EUA e China e a guerra da Ucrânia), e, em meio a eles, as principais economias mundiais enfrentam perspectivas de recessão, com dificuldades em conter a inflação via aceleração das taxas de juros.
Países que disputam capital estrangeiro com o Brasil estão menos atraentes. A Rússia, por exemplo, está sob pressão internacional por sua guerra criminosa contra a Ucrânia. A inflação está degradando a economia argentina, enquanto o governo faz manobras temerárias na negociação da dívida com o FMI. As políticas econômicas da Turquia têm se mostrado erráticas.
Nestas circunstâncias, o Brasil se beneficia por oferecer ativos com valores atraentes, especialmente na área de commodities. Mas não só. Segundo a Unctad, a entrada de IED se destinou principalmente ao agronegócio, mas também ao setor automotivo, fabricação de eletrônicos, tecnologia da informação e serviços financeiros. A agência aponta que os fluxos têm sido impulsionados, sobretudo, por altos reinvestimentos de ganhos das multinacionais, além de empréstimos de matrizes a filiais no País. A Unctad sugere ainda que a privatização do setor elétrico deve continuar sendo um dos principais canais para o IED no Brasil.
O bom momento não deveria implicar acomodação. Ao contrário, é preciso aproveitá-lo para sinalizar aos investidores medidas para ampliar ainda mais a credibilidade, principalmente com uma reforma administrativa que elimine privilégios do funcionalismo e ajude a estabelecer níveis sustentáveis para a dívida pública e uma reforma tributária que racionalize mecanismos de taxação e elimine distorções regressivas.
O Estado de São Paulo