O economista Paulo Nogueira Batista Jr. é um dos brasileiros mais experientes nas relações econômicas internacionais.
Por Ney Lopes* (foto)
Foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor-executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países.
Em análise recente, ele levanta hipótese de um “quarto turno” na eleição brasileira e define esse processo da seguinte maneira:
“Trata-se do processo pelo qual o poder econômico-financeiro tenta enquadrar o presidente eleito, atuando para que o futuro governo contemple seus interesses e privilégios. Isso inclui extrair compromissos sobre o que será e o que não será feito.
“E ainda, talvez mais importante, inclui a pretensão de escalar o time do futuro presidente, indicando quem deve e quem não deve ser nomeado para as principais funções, sobretudo na área econômica.”.
Historicamente, tem sido evidente a influência da chamada “avenida Paulista” sobre os governantes eleitos.
O objetivo é sempre evitar inovações que, mesmo mantendo o perfil de liberdade econômica e livre mercado, alterem certos privilégios que se cristalizam ao longo dos anos no país.
Essa pressão obteve sucesso em 2002, quando Lula nomeou Palocci para a Fazenda e Meirelles BC.
Em 2014, Dilma nomeou indicado do Bradesco, o economista Joaquim Levy, para a Fazenda.
Hoje há maiores razões para que essa tendência se repita, pois, o BC tem um presidente, Roberto Campos Neto, que ficará nos primeiros dois anos do governo Lula.
A escolha final de Lula sobre quem comandará a economia será fundamental para que ocorra na economia brasileira uma mudança mais estrutural na condução da política econômica e em outras áreas, no sentido de considerar o “social” como prioridade.
Pesará a circunstância de que Lula foi candidato uma frente superampla, com expressiva participação da direita tradicional, e esta realidade política será considerada na formação do governo.
Isso não significará necessariamente ceder as conhecidas pressões do mercado.
O ministro Paulo Guedes, inegavelmente bem preparado tecnicamente, somente despertou para o social às vésperas da campanha eleitoral.
E foi um fator determinante da derrota do governo.
Atualmente, nas democracias, não há como governar sem olhar às reivindicações das massas empobrecidas.
Atende-las na medida do possível não significará “gastança” ou irresponsabilidade fiscal, mas sim dever do governo.
Veja-se o que fez Biden na pandemia, mesmo comprometendo as finanças americanas.
Na Europa há inúmeros países que também priorizaram o social, destacando-se a Alemanha que eliminou o teto de gastos para poder atender as demandas sociais.
Um dos equívocos da direita radical é denominar esse fenômeno de esquerda, ou comunista.
Assim agindo fortalecem irracionalmente os seus oponentes.
A partir de amanhã, 7, com o comando pessoal de Lula na transição, o “quarto turno” será delineado e o país poderá antecipar os prognósticos do seu futuro próximo.
*Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino Americano; ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal; procurador federal
Diário do Poder