Carlos Newton
O Brasil chegou a um ponto tal de esculhambação política que mais parece uma república das bananas. Por ironia do destino e pelos esforços de magistrados que não têm saber jurídico nem ilibada reputação para integrar o Supremo Tribunal Federal, tudo indica que um corrupto vulgar como Lula da Silva tem hoje condições de se tornar um presidente da República de grande prestígio.
Para fazer um grande governo e ficar na História de uma forma mais positiva, o ex-presidiário Lula precisa apenas fazer exatamente o contrário de Bolsonaro, que tentou inovar de uma maneira patética, pois teve como base política as estapafúrdias teorias de Olavo de Carvalho, o guru virginiano.
SEM CHANCES – Jamais poderia dar certo um governo que abandona o conhecimento universal para sustentar exóticas teorias hiperconservadoras de um ex-astrólogo como Olavo de Carvalho, chega a ser espantoso que isso tenha acontecido.
E agora Lula tem tudo para dar certo, é só seguir a receita contrária, como espertamente já vem fazendo, aliás. O primeiro ingrediente é recuperar a posição independente na política externa, que sempre fez o Brasil ser respeitado pelas grandes potências.
Outra fator importante da receita é reimplantar uma política de defesa da Amazônia, reprimindo os exploradores de sempre – garimpeiros, ruralistas, grileiros e desmatadores que invadem terras públicas ou indígenas.
ESTRELA DA COP 27 – Astuciosamente, Lula irá a Cop 27 e será a maior atração dessa Conferência. Para os participantes, não interessa se a Amazônia foi mais devastada nos governos petistas do que na gestão de Bolsonaro. Não é a realidade que importa, e melhor sustentar a versão.
Assim, Lula vai chegar na Cop 27 e proclamar que preservará e até reflorestará a Amazônia, além de proteger as nações índigenas do nosso vasto Quarto Mundo. Nem precisa fazer nada, basta anunciar, e estamos conversados.
Depois, de volta ao Brasil, se repetir o que sempre fez na política externa e cuidar da Amazônia melhor do que Bolsonaro, Lula terá dado o primeiro passo para fazer um bom grande governo.
BOLSA FAMÍLIA – É claro que, internamente, o novo presidente terá de manter os R$ 600 do Auxílio Brasil, que ele voltou a chamar de Bolsa Família. É uma política importantíssima de Bolsonaro, que tem duplo papel – ampara os mais pobres e impulsiona a economia. E chamar novamente de Bolsa Fam´lia é uma boa medida política, daqui a pouco ninguém mais lembra do Auxílio Brasil.
Outras medidas importantes são a “reestatização” da Petrobras, com o fortalecimento da empresa e a mudança da política suicida de preços dos combustíveis. Ao mesmo tempo, é preciso reativar o BNDES para que retome a política industrial da gestão de Carlos Lessa, que deu grandes frutos ao primeiro governo de Lula.
Também é fundamental melhorar o SUS, dar boas condições à Educação e reativar o Minha Casa, Minha Vida. O resto a própria economia do país pode até se encarregar de fazer, retomando o desenvolvimento sustentável. E o trêfego e trôpego Lula, um político corrupto e bisonho, estará então consagrado como um presidente para constar na História, embora não passe de um Boris Yeltsin tropical.
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P.S. – Quanto a Bolsonaro, jogou fora a chance de sua vida e tem de começar tudo de novo, candidatando-se à Prefeitura do Rio, daqui a dois anos, como Jânio Quadros fez em São Paulo, ao voltar à política depois da queda, como diria o dramaturgo americano Arthur Miller, ao observar o panorama visto da ponte. (C.N.)