Publicado em 12 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
A pesquisa do Ipec divulgada na noite de segunda-feira, apontando 51% das intenções de voto para Lula contra 42 pontos de Bolsonaro, na minha opinião, já reflete algum efeito do apoio da senadora Simone Tebet ao ex-presidente da República. Na verdade, pela pesquisa, Lula ampliou um pouco a sua vantagem em relação à obtida no primeiro turno quando registrou 48,5% contra 41,5% de Bolsonaro.
Não sei se a pesquisa registrou algum efeito do apoio de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, Armínio Fraga, André Lara Resende, Edmar Bacha, figuras ligadas ao Plano Real, pois é possível que não tenha havido tempo, uma vez que o apoio foi formalizado publicamente no final da tarde de sexta-feira. Antes disso, estavam no ar vídeos da campanha de Lula com a participação entusiasmada de Tebet.
ATAQUES – A pesquisa comentada na noite de segunda-feira pela GloboNews e objeto de reportagens no O Globo de ontem, por Luã Marinatto, e pela Folha de S. Paulo em matéria não assinada, destaca uma tendência que contribui para a campanha de Lula da Silva. Os ataques cerrados que têm ocorrido, especialmente nas redes sociais da internet, não têm causado efeito para alterar o panorama geral, inclusive em alguns casos implica em riscos verdadeiros, causando efeitos inversos aos autores dos ataques.
É o caso, por exemplo, das terríveis denúncias feitas pela ex-ministra Damares Alves, senadora eleita este ano, por uma série de crimes praticados contra crianças na Ilha de Marajó que culminaram na exploração sexual infantil. Algo profundamente repugnante, hediondo, tanto na sua origem quanto na sua prática.
O Ministério Público do Pará – reportagem de Mariana Muniz, O Globo desta terça-feira – revela que o Ministério Público Federal quer provas e explicações por parte de Damares Alves. Ela formulou as denúncias, mas não acusou pessoalmente ninguém. Portanto, fica no ar uma dúvida na versão da senadora de quem seriam os autores dos crimes citados. Ela fez a denúncia durante um culto em uma igreja Assembleia de Deus, em Goiânia, no sábado.
“PROVAS” – O quadro pintado por ela é aterrador. Fica no ar a autoria dos crimes. Mas ela diz que encontrou provas quando assumiu o Ministério da Família. Juristas cobraram a sua omissão, uma vez que esperou passar vários anos para fazer a denúncia. Acredito que este caso termine se transformando em um fator contrário ao objetivo da propaganda visado por ela, embora ela não tenha feito acusação pessoal, certamente temendo uma reação contrária.
Não creio que as campanhas de ataques de ambas as partes nesta campanha se transformem efetivamente em votos. Afinal, os eleitores e eleitoras não estão interessados em circo de horrores, mas em propostas concretas para os seus problemas, como é o caso da fome, do emprego, do endividamento em que se encontram as famílias.
Esse endividamento criou um problema insolúvel, sobretudo na medida em que – matéria de Martha Imenes, O Globo de ontem – revela que o mar de dívidas atinge quase 80% das famílias brasileiras e que o índice de inadimplência já está envolvendo 30% do total.
DIFICUDADES – O endividamento abrange especialmente os segmentos sociais, cuja remuneração está abaixo de dez salários mínimos. Com o passar do tempo torna-se mais difícil para as famílias endividadas zerar seus débitos. Isso porque os salários estão congelados, caso do funcionalismo público, ou reajustados a níveis abaixo da inflação, inclusive a do IBGE.
Enquanto isso, Idiana Tomazelli e Ana Paula Branco, Folha de S. Paulo de sexta-feira, revelam que a Caixa Econômica Federal decidiu liberar empréstimo consignado – vejam só os leitores – sobre o Auxílio Brasil, cobrando juros mensais de 3,4%. Não é possível que pessoas que recebem o Auxílio Brasil de R$ 600 possam assumir dividas a uma taxa mensal de 3,4%. Basta fazer as contas e confrontar com o crédito liberado, que pode ser de R$ 2 mil para pagamento em 24 prestações mensais.
REFORMA DO SUPREMO – As reações contrárias ao projeto anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro de alterar a composição do STF e nomear mais cinco ministros para a Corte encontrou forte reação generalizada.
Entre os que se indgnaram com o pronunciamento, estão ex-ministros da Corte, a exemplo de Joaquim Barbosa, Celso de Mello, Carlos Velloso, Ayres Brito e Nelson Jobim, sustentando – reportagem de José Marques, Folha de S. Paulo – que além de representar uma cópia dos atos praticados pelo governo militar, quando aposentou os ministros Evandro Lins e Silva, Gonçalves de Oliveira, Víctor Nunes Leal, Hermes Lima e aumentou também o número de titulares da Corte, escolhendo aqueles dispostos a fazer o jogo do poder e apoiar o Executivo em todas as questões.
Além desse aspecto, qualquer reforma na estrutura do STF geraria consequências profundas em todo o sistema judiciário brasileiro, uma vez que as modificações teriam que ser seguidas pelos Tribunais Superiores de todos os estados.