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quarta-feira, outubro 05, 2022

Moscou não acredita em lágrimas e por isso Vladimir Putin não pretende retroceder

Publicado em 4 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet

Nord Stream 1 encerrado indefinidamente

O inverno se aproxima e os europeus não pode ficar sem gás

LUIZ RECENA GRASSI
Correio Braziliense  

Chefe da diplomacia russa acusa a União Europeia de fomentar “russofobia grotesca” contra o país e o governo de Vladimir Putin. Serguei Lavrov não lembra, coisa antiga, é que na política do Kremlin não há espaço para situações emotivas. “Moscou não acredita em lágrimas” é clássico do cinema, de Vladimir Menshov e lançado há mais de 40 anos.

Desde séculos, o racional ganha quase todas do emocional, guerra perdida entre corações moles e cabeças frias. Vitória quase permanente do segundo grupo. Exceções para música, dança, literatura, teatro. Ganham espaço quando os racionais descansam.

AMEAÇAS E RESPOSTAS – O chanceler Lavrov sabe o que ocorre, está camuflado. Não crer em lágrimas é pensar diferente, surrupiando o pranto alheio. Anunciados os referendos e depois anexações com bênçãos de votos, foi a vez de União Europeia, Estados Unidos e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tentarem, mas não deu choro.

Igual à convocação de novos e jovens soldados, 300 mil para iniciar o carteado. A resposta boa dos adversários foram mais, dólares de apoio a manifestações ou fugas.

Prováveis problemas no horizonte; garantidos sofrimentos no tempo e distância. Moscou confirmou com garganta seca e olhos vidrados. Nem uma lágrima ou crédito aos inimigos. O carteado cresceu os personagens e aumentou o cacife de fichas altas. Só parou quando a Nord Stream (rede de gasodutos russos) pediu cadeira e vaga para sentar e jogar.

VAZAMENTOS NA GUERRA – A guerra respirava quando surgiram furos, vazamentos. Primeiro dois, depois um terceiro. Semana terminou com quarto vazamento. Quadro geral mais complicado. E a Rússia a apanhar. Otan, EUA, UE e outros aliados menores e de ocasião estiveram próximos de convencer o mundo sobre a culpa do Kremlin, que não verteu lágrima.

Não deu por um triz: Moscou lembrou e provou que EUA, Suécia, Finlândia velejam armados em águas do Báltico, a perturbar a enxaqueca da Praça Vermelha. Bola devolvida para o lado ianque. Acusação dura de sabotagem. Ranger de dentes no máximo.

Chovem dólares na Ucrânia; euros, nem tanto, com a crise na Europa. Ucrânia a defender na contraofensiva até aqui lenta, com sucesso porém, a ideia de vencer Putin. Russos simulam vergonha e cantam na Praça a anexação vinda com muitos votos.

LUTO PELO FIM DA URSS –  No mais, miudeza se em guerra existe: dois bombardeios pra cá, dois pra lá. Vodka com Cola. Ucrânia avança, Rússia defende posições antigas e ataca novas. Amigos de Moscou antecipam queda de Putin antes de o inverno acabar. Profissionais da guerra negam tudo. Tempo de espera substitui época de plantio.

Eu estava lá. No meio da música, momento pueril, hilário, que pode ser lido de dois ângulos: cínicas preocupações europeias, dos EUA, sobre a situação, o futuro da Rússia. Despreparo dos soldados, por exemplo, e atraso tecnológico do país pela guerra.

Russos podem mudar, afirmam os que conhecem o avesso do avesso. De chorar. Lembrei a chegada a Moscou: computadores modernos, aviões com segurança próxima dos cem por cento, o Cosmódromo Gagárin, show de eficiência e na Base Aérea de Kubinka avião supersônico decolava na vertical.

NÃO TINHAM DESIGN – Um detalhe costurava outros. Não tinham design, eram feios. Dois diplomatas curtiram o avião, mas saíram em choque pela falta de beleza e os parafusos aparentes. Não houve problema. Mais detalhe: o narrado refere-se a meios, máquinas, ambientes com mais de 30 anos.

Estavam lá quando cheguei. O cinismo ianque e europeu talvez tenham receios. Se ficar na indigência tecnológica, a Rússia poderá buscar outros parceiros. Sua preferência há três décadas: a China. Por isso muitos tremem. De medo.

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