Quando fazemos política baseada em valores e princípios, focarmos a nossa atenção na qualidade das propostas que importam para o País.
Por Luiz Felipe D'Ávila (foto)
Uma campanha presidencial é uma experiência única. Ela nos tira da nossa zona de conforto e nos oferece a oportunidade de conhecer o Brasil profundo, conversar com milhares de pessoas e compreender melhor suas dores e aspirações. Temos a chance de aprender com especialistas que nos ajudam a encontrar respostas para os desafios urgentes do País. Enfrentamos uma maratona insana de viagens, reuniões, entrevistas e sabatinas que testam o limite da nossa resiliência. A campanha nos ensina a superar rapidamente frustrações com pessoas e promessas e nos brinda com gente maravilhosa que surge de todo o País querendo apoiar, trabalhar e se engajar na disputa eleitoral. Por fim, é palco de visibilidade nacional para apresentar propostas, debater ideias e mostrar que é possível fazer política com caráter, virtude e civilidade. Esses atributos são vitais para reconstruirmos um país dilacerado pelo populismo, pela estagnação econômica, imoralidade política e degeneração do tecido social.
O populismo não é culpa de Lula ou Bolsonaro. É culpa nossa. Elegemos presidentes populistas alegando que a nossa escolha é baseada no mal menor. A elite pensante ignora os fatos e as evidências para justificar o apoio a populistas corruptos. O Centrão empresarial, assim como o Centrão político, é guiado pelo oportunismo, pelo imediatismo e por um desejo irresistível de estar perto dos donos do poder. Em casa, ensinamos os nossos filhos que a política é coisa de ladrão e que eles devem permanecer longe da vida pública. Se quisermos mudar o Brasil, é preciso rever crenças e mudar de atitude.
A relativização de valores e princípios para justificar a escolha do mal menor é desastrosa para a democracia e para a liberdade. Ela envergonhou uma geração de europeus que elegeu “salvadores” da pátria que tiranizaram o continente e levaram o mundo à guerra em 1939. Os reconstrutores da ordem democrática do pós-guerra foram estadistas que se mantiveram firmes na defesa dos valores democráticos e não se dobraram ao populismo. Churchill, na Inglaterra, De Gaulle, na França, De Gasperi, na Itália, e Adenauer, na Alemanha, não se renderam ao fascismo, nazismo ou comunismo. Suas digitais nunca endossaram populistas e ditadores e, por isso, tornaram-se uma espécie de reserva moral e política para reerguer a democracia nos seus países.
Nós somos fruto das nossas escolhas. Quando fazemos política baseada em valores e princípios, ignoramos a pressão da militância ideológica e do sectarismo partidário para focarmos a nossa atenção na qualidade das propostas importantes para o País. É preciso saber discernir o joio do trigo para voltarmos a ter um país próspero, livre e democrático. Por isso, apoiei e defendi projetos como a reforma da Previdência, a independência do Banco Central, a Lei da Liberdade Econômica e o novo marco do saneamento, entre outras medidas. Isso não me faz ser “bolsonarista”, mas um cidadão engajado na luta por um país melhor. Existe um Brasil que dá certo, a despeito de governos populistas.
No país em que o Estado cria dificuldades para aqueles que produzem e geram emprego existe uma nação pujante do agronegócio que investe na agricultura de precisão e busca produzir bens de maior valor agregado, levando riqueza e progresso para onde havia miséria. No país cuja educação está vergonhosamente entre as piores do mundo há um Brasil produzindo conhecimento e blindando instituições de excelência do corporativismo estatal. São os casos da Embrapa e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que organiza a maior olimpíada de Matemática escolar do mundo. No Brasil da pobreza e da desigualdade social, o empreendedorismo efervesce nas favelas, movimenta uma economia de R$ 180 bilhões e os jovens sonham em estudar, empreender e ser donos do seu destino. Pedem curso de computação e de programação, em vez de auxílio emergencial. Num país que desmata impunemente as suas florestas, é alentador ver programas como a integração lavoura-pecuária-floresta, recuperando áreas degradadas, e o crescimento impressionante do investimento privado em energia limpa, como a eólica e a solar.
O Brasil não vai acabar após a eleição. A Nação vai continuar existindo e a agenda dos nossos desafios está dada. Temos de tirar o Estado pesado das costas dos brasileiros que empreendem e produzem; assumir o nosso protagonismo global de superpotência ambiental na era da economia de baixo carbono; abrir a economia para o mercado internacional; investir na melhoria da educação básica e colocá-la entre as melhores do mundo; e erradicar a pobreza extrema e a fome. A questão fundamental é saber se vamos continuar vivendo no autoengano da escolha do mal menor ou se teremos coragem e sabedoria para superar o sectarismo partidário e a cegueira da militância ideológica para construir um país melhor para os nossos filhos e netos. Essa escolha não depende da política, mas da atitude e do exemplo de cada um de nós.
O Estado de São Paulo