Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

domingo, maio 08, 2022

General lobista de mineradora acusada pelo MPF foi recebido 18 vezes no Planalto

por Vinicius Sassine | Folhapress

General lobista de mineradora acusada pelo MPF foi recebido 18 vezes no Planalto
Foto: Romério Cunha / VPR

O general da reserva Cláudio Barroso Magno Filho, que atuou fazendo lobby para a mineradora Potássio do Brasil, esteve pelo menos 18 vezes no Palácio do Planalto durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Isso significa uma visita a cada dois meses e cinco dias, em média.
 

Os dados integram uma tabela de registros de visitas ao Planalto fornecida à reportagem pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência a partir de um pedido com base na LAI (Lei de Acesso à Informação). O levantamento também foi feito em agendas públicas de ministérios palacianos.
 

A Potássio do Brasil é acusada pelo MPF (Ministério Público Federal) de cooptação de indígenas do povo mura para exploração mineral na Amazônia —mais especificamente na região de Autazes (AM), entre os rios Madeira e Amazonas.
 

A empresa chegou a operar dentro do território tradicional, conforme a ação do MPF. Um acordo, validado pela Justiça Federal, especificou que os indígenas precisam ser formalmente consultados, seguindo parâmetros da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Enquanto isso não ocorrer, a licença ambiental não pode ser concedida.
 

Em meio aos entraves para a exploração de potássio na Amazônia, o general da reserva passou a atuar no Palácio do Planalto —especialmente junto a militares que despacham em diferentes ministérios.
 

Magno Filho é da mesma turma de Bolsonaro na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), a de 1977, e tem relação de proximidade com o vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos).
 

"O levantamento é correto. Tenho um vínculo em apoio à Potássio do Brasil, não sou contratado e estive nos órgãos governamentais. Houve uma aproximação da Potássio com agências do governo, um esforço de convencimento", disse o general à Folha.
 

A exploração de potássio na Amazônia foi usada como pretexto por Bolsonaro para tentar fazer avançar o projeto de lei que libera a mineração em terras indígenas. O presidente tentou aproveitar episódios de escassez de fertilizantes, em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia, para defender o texto.
 

A Câmara dos Deputados chegou a aprovar em março a urgência do projeto, em iniciativa capitaneada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e pelo centrão. O projeto ainda não foi votado.
 

O general nega, porém, qualquer tipo de tráfico de influência, aproveitamento da relação mantida com o presidente ou "encurtamento de caminhos". "Não cheguei aqui fazendo lobby, e jamais me envolvi em algo escuso. Eu acredito no projeto da Potássio do Brasil", afirmou.
 

Além do périplo pelo Planalto, o general Magno Filho esteve na Câmara dos Deputados (ao menos uma vez, em 2019) e em órgãos da Funai (Fundação Nacional do Índio).
 

Um dos braços da fundação visitados pelo general é a Coordenação-Geral de Licenciamento Ambiental, procurada quando a liberação da empresa estava travada. Quando há impacto de um empreendimento em terras indígenas, a Funai precisa ser consultada.
 

Os dados fornecidos mostram que Adriano Espeschit, presidente da Potássio do Brasil, também esteve na Coordenação de Licenciamento Ambiental.
 

No Planalto, o militar se dirigiu à Vice-Presidência, ao GSI, à Casa Civil e à Secretaria-Geral. Não há, nas agendas tornadas públicas, registros de encontros com Magno Filho nesses dias.
 

Em 15 de junho de 2021, por exemplo, o general esteve na Casa Civil, quando era comandada pelo general Luiz Ramos (o destino foi a "assessoria especial"). Magno Filho ficou quase quatro horas no Planalto.
 

No dia seguinte, ele esteve na Assessoria de Temas Institucionais da Vice-Presidência, chefiada pelo coronel Carlos Sucha. A visita se repetiu cinco vezes, em julho, outubro, novembro e janeiro.
 

Em nota, a Vice-Presidência afirmou que Magno Filho, "sempre que vinha a Brasília, realizava uma 'visita de oportunidade' ao coronel Sucha, em função dos laços de amizade e companheirismo construídos ao longo da vida". "Nas datas mencionadas, ele foi recebido em encontro não oficial, como amigo e companheiro, não cabendo inclusão em agenda oficial", diz o texto.
 

Ainda segundo a Vice-Presidência, não há "materialidade" de qualquer impacto desses encontros informais sobre processos da atividade pública. "Ele sempre foi orientado a oficializar solicitações de audiência para tratar de temas de interesse público", afirma a nota.
 

Outro militar autorizou o acesso do general ao Planalto: coronel José Placídio Matias, responsável pela assessoria de assuntos estratégicos da secretaria-executiva do GSI. Esta visita ocorreu em 21 de junho de 2021 e durou quase a tarde toda.
 

A tabela ainda registra visitas à assessoria de comunicação social da Vice-Presidência; à secretaria-executiva da Casa Civil; e ao gabinete da Secretaria-Geral, esta em 2 de setembro de 2021 —quando o general Ramos já havia sido deslocado para este ministério.
 

As agendas públicas registram três encontros entre Magno Filho e Mourão em 2019, dos quais em dois ele estava acompanhado de Stan Bharti, "presidente do grupo Forbes & Manhattan", como consta em uma das agendas.
 

O general é descrito ora como "assessor do grupo Forbes & Manhattan", ora como "vice-presidente brasileiro do projeto da Brasil Potássio". A Potássio do Brasil é um empreendimento do banco canadense Forbes & Manhattan.
 

Uma reportagem publicada em fevereiro pela Agência Pública revelou que o militar fazia lobby para a Potássio do Brasil.
 

Em 28 de março de 2022, Bharti esteve em reunião com o presidente Bolsonaro. Também estavam presentes a então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o presidente da Potássio do Brasil, Adriano Espeschit. A agenda não registra a presença de Magno Filho.
 

A Presidência, a Casa Civil, o GSI, a Secretaria-Geral e a Funai não responderam aos questionamentos da reportagem.
 

As agendas públicas registram ainda encontros do general com Filipe Martins, assessor especial do presidente, em outubro de 2019; com o então subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, hoje ministro do TCU, também em 2019; e com o secretário-executivo do GSI, general Carlos José Russo Penteado, no último dia 27.
 

Procurada, a Forbes & Manhattan não se manifestou.
 

Já a Potássio do Brasil afirmou que o general não é contratado da empresa e que em 2019 acompanhou o "chairman da Brazil Potash Corp" em reunião com Mourão.
 

A visita do presidente da empresa à Funai buscou discutir questões do ECI (estudo de componente indígena), junto com equipe do PPI (Programa de Parceria e Investimentos) e sem a presença do general, conforme a Potássio do Brasil, que nega ter tratado de licença ambiental.
 

"Esse tipo de conduta, de cooptação de indígenas, não condiz com a conduta da Potássio do Brasil. A empresa sempre trabalhou dentro da lei e consultando órgãos oficiais sobre assuntos pertinentes", afirmou.
 

Segundo a Potássio do Brasil, a consulta ao povo mura teve início em 2019, em razão do acordo na Justiça Federal, e a empresa aguarda licença de instalação.
 

Magno Filho afirmou que seu vínculo real é com a Forbes & Manhattan e teve início por já ter trabalhado numa empresa canadense. "Por ser brasileiro, pediram que eu ajudasse no relacionamento governamental. E trabalhei focado no que a gente está vendo na guerra [entre Rússia e Ucrânia]. O projeto lá na Amazônia é uma possibilidade."
 

O militar disse que também atuou no projeto de exploração de ouro da Belo Sun, no Pará, outro empreendimento da Forbes & Manhattan, e que hoje está afastado desse projeto.
 

"Sou empreendedor na área privada há 15 anos, e eles procuravam um perfil como o meu, de consultoria estratégica. Era contratado da Forbes & Manhattan, e hoje estou sem contrato, negociando com eles. Não faço isso de graça", afirmou o general. "É legítimo estar no Planalto, tenho muitos amigos lá. Várias entradas foram para conversar com amigos."

Bahia Notícias

Em destaque

Explosão em frente ao STF: reflexos da polarização ideológica e política no país

Publicado em 15 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Episódio fatídico comprova que Brasília continua...

Mais visitadas