Publicado em 8 de março de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O presidente Vladimir Putin – matéria procedente de Ancara, Moscou e Paris – edição de ontem de O Globo, afirmou que a invasão da Ucrânia só terminará com a rendição total de Kiev e com a implantação, portanto, de um governo estabelecido pela vontade da Rússia.
A afirmação de Putin foi feita numa comunicação por telefone que manteve com o líder turco Recep Tayyip Erdogan no qual fixou o que para ele constitui uma decisão irrevogável e uma solução somente quando Zelenski se render às suas forças da destruição.
DESAFIO – Com isso ele desafiou concreta e diretamente os países ocidentais inscritos na Otan, entre os quais os Estados Unidos, cujo secretário de Estado, Antony Blinken, encontrou-se na sexta-feira com o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, na fronteira entre a Ucrânia e a Polônia. O desafio de Putin está ecoando no teatro da política internacional, constituindo , a meu ver, uma agressão à própria condição humana.
Na verdade, o desafio é mais uma afronta do líder russo, que se encontra há 22 anos no poder e mudou a lei para ficar até 2036, do que uma posição política a ser negociada no plano da diplomacia ainda que há quase duas semanas do início da guerra declarada.
AÇÕES MILITARES – As potências ocidentais lideradas pelos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França perderam com as declarações de Putin as condições de assistirem em silêncio e reagindo somente com palavras à fúria destruidora da reedição de Hitler. Terão que agir militarmente, penso, sob pena de se desmoralizarem. Com os últimos acontecimentos, na minha opinião, a única saída será a ação militar.
O mundo ocidental e também parte do oriental não podem assistir passivamente à destruição de um país e ao massacre de sua população. As ações russas têm atingido os próprios refugiados, como demonstraram as reportagens exibidas pela TV Globo e pela GloboNews.
POSIÇÃO DE BOLSONARO – As posições do governo Bolsonaro, felizmente não seguidas pelo Itamaraty através de pronunciamentos na ONU pelo embaixador Ronaldo Costa Filho, são resultados de observações superficiais e escapistas do agronegócio, de setores militares do Planalto, cada vez menores, e da preocupação com o fornecimento de fertilizantes para a agricultura. Reportagem de Ricardo Della Coletta e Marianna Holanda, na Folha de S. Paulo, focaliza e destaca o assunto.
A preocupação do agronegócio na tragédia da Ucrânia é transmitida pela ministra Tereza Cristina e se baseia no temor de que as sanções contra Moscou possam atingir o fornecimento de fertilizantes, considerados essenciais para o agronegócio.
O presidente Bolsonaro evita reconhecer o massacre que está acontecendo na Ucrânia. Prefere incrivelmente aceitar a versão de Moscou que substitui a palavra “guerra” pela expressão “operação especial”. Lamentável o posicionamento do governo brasileiro na questão, deixando o país vulnerável aos reflexos do mercado ocidental à nossa economia.
HEROÍSMO – O presidente Bolsonaro ironizou na última semana a inclusão do presidente Zelenski entre os heróis dos países que sofrem invasões massivas e violações de todos os tipos. Além disso, no programa Em Pauta da GloboNews, um correspondente internacional usou um tom de voz para desacreditar o heroísmo de Zelenski.
Mas lembro que os heróis através dos séculos foram sempre resultados de circunstâncias dramáticas que os levaram a atuar dentro do próprio inesperado que os dramas e as tragédias exigem dos que ocupam o poder. Zelenski, disposto a resistir até a morte, sem dúvida, é um herói de nosso tempo.
ELETROBRAS – Reportagem de Alexa Salomão, Folha de S. Paulo de domingo, revela que o governo está tentando acelerar a privatização da Eletrobras através do ministro Paulo Guedes para captar R$ 25 bilhões na Bovespa através da colocação de ações. Uma quantia ridícula tomando por base o ativo e a importância econômica fundamental de Furnas, Chesf , EletroSul e EletroNorte na economia do país.
Mas R$ 25 bilhões seriam apenas uma parte do valor da privatização. Pelo primeiro projeto de Paulo Guedes, o preço da holding seria de R$ 16 bilhões. Isso dá margem a uma estranha transação de bens estatais na história do Brasil. Um absurdo total.