O ano de 2022 deverá ser histórico para o líder chinês Xi Jinping. Já em fevereiro acontecem os Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, sob o boicote diplomático da delegação americana. O objetivo dos Estados Unidos é chamar a atenção do mundo para as violações de direitos humanos dos muçulmanos, sobretudo uigures, na província de Xinjiang.
Mais relevante será o encontro do Partido Comunista da China (PCC) previsto para o final do ano, que deverá dar a Xi um terceiro mandato de cinco anos (uma hipótese considerada menos provável é que ele coloque alguém no cargo, mas continue ditando as regras). Mao Tsé-Tung governou o país como líder revolucionário por 27 anos. Deng Xiaoping, sem ocupar oficialmente o cargo máximo, deu as cartas por 19. Depois dele vieram Jiang Zemin e Hu Jintao, ambos por períodos de dez anos. Xi deu um sinal de suas pretensões em novembro, quando o Comitê Central do PCC aprovou uma resolução em que ele aparece no panteão dos grandes líderes, ao lado de Mao e Deng.
Desde que chegou ao poder, em 1949, o Partido Comunista usou diferentes estratégias para se manter no controle, entre elas o aprisionamento e a censura de elementos e grupos considerados “perigosos”. Mas a repressão por si só não teria sido suficiente para o êxito da empreitada. Em diferentes momentos, os comunistas investiram em autoridade carismática do “líder supremo”, imposição da ideologia, manipulação do sentimento de nacionalismo, leitura distorcida da História do país e crescimento econômico.
De todas essas condições, Xi só não tem podido contar com a forte expansão do PIB, que arrefeceu nos últimos anos. Para integrantes do PCC, mantê-lo no poder é a melhor maneira de encarar a ameaça americana. Em Pequim, os Estados Unidos são vistos como o maior desafio para a segurança interna, a soberania e a estabilidade da China.
Em novembro, Xi e o presidente americano, Joe Biden, cujo governo acredita que a China atua há anos para enfraquecer o poder geopolítico dos Estados Unidos, participaram de uma conversa virtual de mais de três horas e meia. O encontro começou com uma troca de palavras conciliadoras, mas, ao final, todos os temas espinhosos continuavam sem aparente solução: Taiwan, a corrida pela hegemonia militar na Ásia, rotas marítimas no Mar da China e disputas comerciais.
Em dezembro, a China fez de tudo para atacar a Cúpula da Democracia organizada por Biden. Lançou documentos e seminários ressaltando o que vê como as vantagens do sistema político chinês. Os comunistas não gostaram nem um pouco de Taiwan ter sido um dos convidados. Acima de tudo, ficaram irritados com a política de isolamento dos americanos. É muito provável que o próximo mandato de Xi seja marcado por embates cada vez mais espinhosos com os Estados Unidos.
O Globo