Celso Serra
A propósito do artigo de Luiz Augusto Erthal, precisamos lembrar que o presidente João Goulart era, sim, uma pessoa de paz. Estive com ele em várias oportunidades. Ocorre que os sindicatos estavam tomando conta dele e do país. A baderna estava solta, diária e crescia de proporções a cada dia. E eu dela participava, como estudante universitário e representante de minha faculdade na Une.
O fato determinante, a meu ver, foi o comício do dia 13 em frente à Central do Brasil. Eu estava lá, pois era conselheiro na UNE e o presidente José Serra iria discursar. Perto de mim estava o jornalista Miro Teixeira, fazendo a cobertura para o jornal em que trabalhava.
RADICALISMO GERAL – Os oradores se sucediam, sindicalistas ou não. E cada orador era sucedido por outro que sempre era mais violento em suas palavras. Alguns até pediram que opositores fossem colocados no “paredão” para serem fuzilados, como acontecia em Cuba.
Em frente ao comício, o Ministério da Guerra estava com suas janelas Repletas de oficiais, inclusive generais, que tudo observavam, anotavam e, provavelmente gravavam.
Jango – presidente da República – inclusive, estava no palanque em companhia de sua esposa, Maria Teresa. E discursou, no mesmo padrão das violentas manifestações anteriores.
A GOTA D`ÁGUA – Esse foi o ato que desencadeou os movimentos contra seu governo que foram crescendo até o dia 31 de março de 1964, quando a maior parte da população e da imprensa pediam sua deposição do governo.
Na véspera e no próprio dia 31, as rádios oficiais, inicialmente, foram ocupadas por líderes sindicais que faziam violentos discursos, inclusive, pedindo o fuzilamento de opositores, o “paredão”…
Resultado: no final do dia 31 ocorreu uma prova de corrida livre por parte desses sindicalistas ameaçadores, que dispararam em direção às embaixadas que ainda operavam na cidade do Rio de Janeiro para pular seus muros e pedir asilo político.
MAIS PRISÕES – Foi o que assisti, de corpo presente, inclusive, dias depois, assisti, em Juiz de Fora/MG, um dos líderes sindicais, se entregar para ser preso, era Clodesmidt Riani, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias – CNTI e também presidente do Comando Geral dos Trabalhadores – CGT. Era um homem honesto, incorruptível, pai de 10 filhos.
INCÊNDIO DA UNE – Lembro que no prédio da UNE, na Praia do Flamengo – outrora “Uruçumirim, onde ocorreu a Batalha de Uruçumirim, em 20 de janeiro de 1567, na qual os portugueses expulsaram os franceses do Rio de Janeiro – um homem de cerca de 50 anos de idade, que pregava marxismo para os estudantes saiu dizendo que ia buscar as armas para a reação aos militares.
Pouco tempo depois o prédio foi incendiado. O homem que pregava o marxismo não voltou até hoje com as armas, preferiu a embaixada do Chile.
Peço desculpas pelo longo texto, mas esses fatos eu assisti. Ninguém me contou. E sou de opinião que temos que ser honestos com os fatos.