José Ribamar Bessa FreireBlog Taquiprati
Afinal, por que Rondônia, sob o governo do coronel Marcos Rocha (PSL, vixe vixe) mandou recolher das escolas obras de escritores consagrados, inclusive Machado de Assis. Por que proibi-los? Eis cinco possíveis explicações. Uma delas é: se colar, colou. Ou seja, a primeira suspeita é que se trata de um dos tantos balões de ensaio soprados com o ar dos pulmões do capitão Jair Bolsonaro para sondar as reações dos eleitores.
Foi assim quando Flávio Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes defenderam um novo AI-5, responsável por amordaçar a mídia, a música, o teatro, o cinema, a escola. Outro balão foi a performance do Roberto Alvim, Secretário de Cultura, que defendeu o nazismo com palavras de Goebbels, na base do “se colar, colou”. Não colou. A reação vigorosa de setores esclarecidos da sociedade e de suas instituições fez com que ambos os balões murchassem e foi melhor já ir saindo de fininho.
MÃOS AO ALTO – A segunda explicação se relaciona à suposta denúncia de um pai de família. O secretário de educação de Rondônia, Suamy Vivecananda, assumiu a denúncia de que “os livros continham palavrões”. Apontou, então, as armas para Machado, Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues et alii e gritou: “Mãos ao alto”.
Criminalizou o melhor da literatura, uma das áreas mais importantes de nossa identidade cultural, para puxar o saco do coronel Rocha, que serviu na Academia Militar das Agulhas Negras e é filiado ao PSL. Essa teria sido a forma de Rondônia se weintraubizar, alinhando-se à política educacional do governo.
FOBIA ÀS LETRAS – A terceira hipótese está relacionada às diretrizes do Planalto. O capitão já havia criticado os livros didáticos dizendo que são um “amontoado de muita coisa escrita” e prometeu “suavizar o conteúdo”.
O ministro Weintraub declarou depois que “muita porcaria” foi excluída com “limpeza boa” feita no material didático. O secretário checou o número de páginas: havia mesmo “muita coisa escrita”. Proibiu seu uso nas escolas.
O Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sintero), porém, botou a boca no trombone: “a leitura dessas publicações deve ser incentivada e não censurada”. Diante da repercussão nacional, o governo de Rondônia recuou.
SABOTAGEM DO PT – Pode ter sido “çabotagem”, seguindo o modelo Weintraub no caso do ENEM. O secretário de Rondônia jurou inicialmente que era tudo “fake”, depois diante das evidências admitiu que eram apenas “rascunhos”.
No entanto, o jornal Rondônia Dinâmica registra que “ele mentiu”. Em dois áudios, a gerente de Educação Básica de Rondônia, Rosane Magalhães, afirma que o secretário deu ordem para censurar as 43 obras, além de todos os livros de Rubem Alves.
Vai ver que ela é uma petista infiltrada, embora tenha sido nomeada por ele. De qualquer forma, para evitar bisbilhoteiros, o memorando passou a ser qualificado como “sigiloso”.
EFEITO CONSOLATA – A Academia Brasileira de Letras considerou “ato deplorável” a censura a seu fundador e aos demais escritores. Mas as investigações do MPF podem confirmar a quinta hipótese: o aceno ao fruto proibido foi estratégia inteligente para incentivar a leitura dos clássicos da nossa literatura.
Tal hipótese é menos absurda do que aceitar que o Brasil tenha caído num nível de barbárie tão degradante, com um secretário de educação tentando impedir o acesso ao maior escritor brasileiro de todos os tempos.
Ou será que o Index Librorum Prohibitorum Bolsonorum comprova que os vermes continuam a roer cadáveres? Nem os mortos estão salvos.