Carlos Chagas
A temperatura no planeta vai subir, se a razão estiver com Raul Solnado, aquele humorista português que logo depois da Revolução dos Cravos vaticinou a inevitabilidade de se aguardar a conta do florista. Mais do que necessidade, era obrigação que os Estados Unidos caçassem Osama Bin Ladem de forma implacável, responsável por um dos mais aviltantes massacres da História. O problema é que os americanos não fizeram como os israelenses, que capturaram Adolf Eichmann, levaram-no a julgamento e, depois, à condenação capital. Preferiram repetir o episódio Che Guevara, que assassinaram depois de preso. Ajudaram a criar um mito que permanece até hoje.
�
Em vez de levar Osama para ser julgado em Nova York, optaram pela solução aparentemente mais simples: um tiro na cabeça, com o acréscimo de terem dado fim ao cadáver, jogado no mar. Assim, imaginaram seus estrategistas evitar a materialização de um suposto mártir para boa parte do mundo muçulmano, afastando peregrinações ao local da prisão, do julgamento ou à sepultura, na hipótese de uma inevitável resistência armada.�
�
Enganam-se não apenas na interpretação do Direito, inscrito na sua própria Constituição, mas também na previsão das reações. Acabam de criar outro mito, desta vez envolvido por imenso potencial de violência e de vingança a que se dedicarão milhões de seguidores do Corão. Não deixam dúvidas as próprias instruções de Washington a cidadãos americanos que se encontram fora do país: devem ficar todos nos hotéis e residências, sem sair às ruas. Mas por quanto tempo? A previsão é de explosões sem conta não só no Oriente Médio, mas em todos os continentes. Até de atentados em pleno território dos Estados Unidos.
�
Numa palavra, precipitaram-se, optando pela solução medieval do assassinato. Ainda mais porque acompanhada de manifestações de euforia da multidão, em suas principais cidades, festejando nas telinhas a execução, mais do que a prisão. Como estarão reagindo adeptos, simpatizantes ou meros espectadores do lado de Osama Bin Ladem? Tomara que não sobrevenham novos capítulos de carnificina, mas garantir, ninguém garante.
�
***�
�
COISAS QUE A FRUSTRAÇÃO COMANDA
�
Vem em ondas como o mar o sentimento de frustração de certas elites diante da existência de Brasília. Não se passa muito tempo sem que voltem a agredir a cidade que os obriga a obedecer as decisões aqui tomadas. Por isso jogam sobre os ombros da capital federal as irregularidades e mazelas praticadas pelos que chegam às terças-feiras e vão embora às quintas, trazendo de suas origens os vícios aqui expostos. A moda mais recente atribui a Brasília o fato de oito dos quinze integrantes da Comissão de Ética do Senado estarem ou terem sido acusados e até julgados por ações pouco éticas. O problema é que, do total, apenas um senador por Brasília faz parte da galeria.
Os demais trouxeram as práticas mal-sãs de seus estados, quando lá não as praticaram. No fundo, muita gente não engoliu até hoje a mudança do litoral para o interior.
�
MUDANÇA DE ESTILO�
�
Não faz muito que o então presidente Lula, já instalado no avião que o levaria ao exterior, viu-se acometido de um surto de pressão alta, obrigando-se a buscar um hospital em Recife e, depois, viajando para São Paulo. Em quinze minutos foi seguido, fotografado e filmado entrando e saindo da bateria de exames a que se submeteu. Era o estilo do então chefe do governo, ou, pelo menos, parecia impossível que desse um passo sem ser seguido pelo aparato midiático de então.
�
Com Dilma Rousseff as coisas se passam de modo diferente. Acometida por uma gripe transformada em pneumonia, de que poucos tiveram conhecimento, a presidente embarcou no sábado passado para São Paulo, submeteu-se a exames de rotina, foi medicada e hospedou-se num hotel, com tratamento monitorado. Ninguém soube, até que seus auxiliares informassem.�
�
FOGO EMBAIXO DAS CINZAS
�
Parece longe de arrefecer a crise no PT. Nem o Lula nem Dilma engoliram o golpe que os surpreendeu, com a eleição de Rui Falcão para a presidência do partido. Tenha ou não se tratado de manobra do ex-deputado José Dirceu, a escolha demonstrou insatisfação de parte dos companheiros diante do que lhes parece um descaso do governo em acatar suas pretensões fisiológico-administrativas.
Por isso escolheram um presidente com múltiplas arestas em seu relacionamento com o palácio do Planalto. Claro que não se trata de um conflito, mas apenas de um confronto que terá desdobramentos, em especial quando se abrir a temporada das eleições municipais do ano que vem.
Fnte: Tribuna da Imprensa