Carlos Chagas
A dúvida limita-se à verdadeira causa de o ex-presidente Lula, estando em Brasília na última sexta-feira, haver voltado repentinamente para São Paulo sem comparecer à reunião do Diretório Nacional do PT. Mandou-se por discordar da escolha de Rui Falcão para a presidência do partido ou por conta do reingresso em suas fileiras de Delúbio Soares, expulso anos atrás como um dos chefes do mensalão?
Tanto faz, porque o Lula e o PT encontram-se em rota de colisão. E o ex-presidente não está sozinho. Com ele encontra-se a sucessora, Dilma Rousseff, que também não compareceu à reunião dos companheiros e nem recebeu Rui Falcão no palácio do Planalto.
Não adianta tapar o sol com a peneira porque é grave a situação. A escolha do novo presidente do partido à revelia e até contra a decisão de Dilma e Lula reflete a insatisfação da maioria dos companheiros diante do governo. A presidente e o antecessor preferiam Humberto Costa para dirigir o PT, estavam comprometidos com ele e viram-se atropelados pela maioria do Diretório Nacional. Lula foi embora, Dilma trancou-se.
E agora? Agora, mesmo com panos quentes já mobilizados e por mobilizar, fica claro que a fonte secou para o PT. Estão suspensas as nomeações de mais companheiros para o segundo escalão do governo, ou, pelo menos, para os que lideraram a rebelião.
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GRIPE GENERALIZADA
Nem o palácio do Planalto escapou. A gripe que tomou conta de Brasília atingiu a presidente Dilma Rousseff e a quase totalidade dos ministros e funcionários com gabinete na sede do governo. E como os germes chegaram antes da vacina, não adiantou submeterem-se todos à incômoda injeção preventiva. Estarão garantidos, no máximo, para o próximo surto.
Essa gripe começa pelos ouvidos e vai descendo para o nariz, a garganta e a traquéia, quando não para os pulmões. Leva mais de uma semana para sumir, mas não é preocupante. Apenas chata e barulhenta, não havendo quem escape da profusão de espirros e da tosse. Se todos são iguais perante a lei, por que não seriam diante da gripe?
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A FALTA QUE FAZ UM JURISTA
Por mais de um mês, no Senado, a Comissão Especial da Reforma Política debateu sugestões variadas, fixando-se em algumas, a começar pela supressão do direito de o eleitor escolher seu candidato a deputado, obrigando-se a votar apenas na legenda. Seria uma forma de prestigiar os partidos, cujos caciques iriam elaborar as listas de pretendentes. Nenhum senador, mesmo os advogados, percebeu o que agora acaba de denunciar o jurista Ives Gandra: a proposta é inconstitucional. Nossa Constituição estabelece que nenhuma lei poderá ser aprovada se revogar o voto direto e secreto. Votar nos partidos sem saber para quem irá o voto está proibido…
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PRESSÃO NECESSÁRIA
A maioria dos onze ministros do Supremo Tribunal sente-se incomodada pela demora como tramita o processo contra os quarenta mensaleiros. Nenhuma crítica fazem ao relator, Joaquim Barbosa, cientes dos meandros processuais que levam os respectivos advogados a tentar livrar os réus seus clientes.
Só que começa a prevalecer na mais alta corte nacional de justiça aquele fator tão discutido quanto poderoso: o clamor das ruas. Não há quem deixe de se espantar pela sombra da impunidade que paira sobre o julgamento. Ou os réus não formaram uma quadrilha empenhada em disseminar a corrupção?
Pedro do Coutto
Com o belo, leve e primoroso estilo de sempre, a partir do laptop na era da Internet, o genial cronista Luiz Fernando Veríssimo há dois anos previu a morte do jornalismo impresso com o fim do papel e da tinta, entrando em seu lugar a imagem na tela. Na minha opinião, cometeu um equívoco ao fazer a previsão, a qual, como tantas outras que não se confirmaram através da história, dificilmente poderá se realizar.
Não que os avanços tecnológicos não sejam notáveis. Mas sim pelo fato de não serem absolutos no espaço e no tempo. Entretanto, sua utilização está, acima de tudo, condicionada à visão e ao comportamento humano. Os jornais são tão eternos quanto os diamantes, para citar título de Ian Fleming que se transformou na fantástica e saborosa série de James Bond.
Veríssimo focalizou a diferença dos sistemas de cobertura das Copas do Mundo no passar dos anos. Perfeito. A televisão, no Brasil, começou em 1950, mas as transmissões diretas do futebol internacional de fora para dentro do país só tiveram início em 1970 quando nos sagramos tricampeões. Porém, apesar do progresso, quando assistimos futebol não queremos laptop ou celular. Queremos nos sentar diante do aparelho fixo e viajarmos gramado a dentro com nossa torcida e vivendo nossa aventura ao lado da aventura dos outros. Predomina este impulso seja no esporte, seja na arte. Através dos outros, que tanto Sartre criticava, sem razão, é que no fundo chegamos a nós mesmos.
Coloquemos novamente os pés no solo e deixemos de flutuar a nossa idéia. Penso que a imprensa não pode ser substituída, muito menos ultrapassada pela tela, porque esta não oferece ao ser humano a visão panorâmica, imediata que os jornais fornecem. Uma ilusão, inclusive, pensar que os leitores lêm os jornais inteiros. Todos nós, antes de lermos uma matéria atentamente, folheamos todas as páginas e escolhemos aquelas em que desejamos pousar.
As imagens da Internet não permitem esta leitura, nem a identificação conjunta dos assuntos. São restritas a pontos definidos da busca. Não podemos alçar um voo simultâneo sobre o que está escrito nos sites ou blogs. Demanda tempo. Num jornal, fazemos a identificação em apenas três minutos. Este é um dos pontos que garantem a eternidade dos jornais. Mas existem outros.
O principal, creio, a separação entre a informação e a opinião. A informação pode ser vista, dependendo de sua importância e peso, mais rapidamente. A opinião, não. Exige leitura e releitura, assim como as leis e os números. Na tela, a opinião perde a força. Como também na televisão e no rádio. Estender conceitos opinativos no rádio ou na TV torna-se enfadonho, desagradável, inócuo e até contraproducente. A opinião exige empunhadura, contato tátil direto, requer que a pessoa tenha diante de si, imóvel, fixo, o texto escrito. Esta característica só pode ser encontrada nos jornais.
Outro exemplo? Eis aí. Se alguém faz uma pesquisa na Internet, fonte fantástica e inultrapassável de informações de todos os tipos e formas, o que faz quando encontra o que procura? Imprime o texto ou a imagem, fica de posse portanto de uma ou mais páginas. Páginas? Onde elas vivem? Onde se encontram? Nos jornais. Inclusive, quando se pronuncia a palavra página, pensa-se logo em jornais e livros. A Internet é um salto extraordinário, um avanço definitivo. Porém convive com os jornais, não os elimina. Pelo contrário. Acrescenta a seu universo.
Fonte: TRibuna da Imprensa