Carlos Newton
Não é por mera coincidência que os Estados Unidos mantenham quase 200 bases militares no Oriente Médio e que a poderosa V Frota da Marinha (USA Navy) esteja sediada no Bahrein. Desde junho do ano passado, essa importantíssima unidade militar vem recebendo obras de ampliação. O projeto de extensão das infraestruturas portuárias dos EUA no emirado islâmico terá um custo de US$ 580 milhões.
Em comunicado oficial, o comando da Quinta Frota revelou que o projeto amplia instalações militares e portuárias, além de uma ponte ligando suas instalações atuais ao novo porto. O objetivo é “dar um apoio maior aos navios americanos e aliados mobilizados (no Bahrein) e que operam na região”, acrescenta a Marinha americana em seu comunicado. A primeira fase será finalizada em 2012, e o projeto estará concluído até 2015.
O Bahrein, que tem uma localização estratégica na parte norte do Golfo Pérsico, entre a Arábia Saudita, o Iraque, o Kuwait e o Irã, é o porto de ancoragem de navios de guerra americanos em missão na região. Cerca de 5 mil americanos, em sua maior parte militares, vivem no Bahrein, considerado um importante aliado dos Estados Unidos.
De acordo com a própria lista do Pentágono, existem 865 bases militares dos EUA no exterior, mas se incluídas as bases em funcionamento no Iraque e no Afeganistão, já são mais de mil. Essas mil unidades constituem 95% de todas as bases militares que todos os países do mundo mantêm em território de outro país, segundo o sociólogo e escritor norte-americano Hugh Gusterson, professor da George Mason University.
Essas bases, é claro, não saem baratas. Excluindo as localizadas no Afeganistão e no Iraque, com orçamento separado, os Estados Unidos gastam cerca de 102 bilhões de dólares por ano para manter as bases de além-mar, segundo a pesquisadora Miriam Pemberton, do Instituto de Estudos Políticos.
Em muitos casos, é preciso perguntar qual a finalidade da base. Por exemplo, os Estados Unidos ainda têm 227 bases na Alemanha. Talvez isso fizesse sentido durante a guerra-fria, quando a Alemanha estava dividida ao meio pela cortina de ferro e os políticos americanos tentavam convencer os soviéticos de que o povo americano veria em um ataque à Europa um ataque a si próprio.
“Mas numa nova era em que a Alemanha foi reunificada e os Estados Unidos se preocupam com pontos de conflito incendiários na Ásia, na África e no Oriente Médio, faz tanto sentido que o Pentágono mantenha 227 bases militares na Alemanha como os Correios manterem uma frota de cavalos e diligências”, argumenta Hugh Gusterson.
Mergulhada na mais grave crise econômica dos últimos tempos, a Casa Branca precisa desesperadamente cortar despesas desnecessárias no Orçamento federal. Em 2004, o ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld calculou que os Estados Unidos podiam poupar 12 bilhões de dólares se fechassem umas 200 bases no estrangeiro. O deputado Barney Frank, democrata de Massachusetts, propôs que o orçamento do Pentágono fosse reduzido em 25%, o que obrigaria a desativação de grande número de bases. Mas não foi ouvido.
Mas essas bases estrangeiras parecem invisíveis quando os cortadores do Orçamento olham de esguelha para o orçamento proposto pelo Pentágono, de 664 bilhões de dólares. Editorial do The New York Times pediu “coragem política” à Casa Branca para reduzir o Orçamento da defesa. Sugestões? Cortar o caça F-22 da força aérea e o destróier DDG-1000 da marinha, reduzir os mísseis defensivos e o Sistema de Combate Futuro do exército, para poupar 10 bilhões de dólares por ano. “Todas, boas sugestões. mas e as bases no estrangeiro?” – indaga Gusterson.
Agora, com a crise dos povos árabes, não há a menor possibilidade de os EUA eliminarem qualquer uma de suas 200 bases militares instaladas no Oriente Médio. Pode-se dizer, sem medo de errar, que hoje em dia “imperialismo é sinônimo de bases militares no exterior”. E é por isso que nada vai mudar nos povos árabes. Alguns ditadores serão depostos, mas outros logo aparecerão para substituí-los. E defender os interesses dos Estados Unidos, é claro.
Fonte: Tribuna da Imprensa