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terça-feira, janeiro 19, 2010

A importância de Minas na sucessão

Carlos Chagas

Justifica-se a ausência do governador Aécio Neves no périplo feito ontem em Minas pelo presidente Lula, com Dilma Rousseff a tiracolo. Botar azeitona na empada dos outros em pleno ano eleitoral não é coisa que se faça. Muito menos alegar a falta de educação cívica de um governador para com o presidente da República. Fosse assim e José Serra não faria outra coisa senão ir ao aeroporto recepcionar o Lula, que quase todas as semanas desembarca em São Paulo.

O gesto do governador mineiro envolve as preliminares de importante tomada de posição. Ele já não repudia como o capeta foge da cruz a hipótese de, daqui a alguns meses, aceitar tornara-se companheiro de chapa de seu colega paulista. Por enquanto nega, é claro, mas o Alto Tucanato aumentou a expectativa de que, se for para decidir a sucessão entre vitória ou derrota, Aécio acabará curvando-se à natureza das coisas.

O importante, nessa investida do primeiro-companheiro em território mineiro, está na evidência de que continuará com Dilma, ao menos até o meio do ano. A candidata pode andar mal nas pesquisas, perdendo para José Serra na base de dois votos para um, sendo por isso vital garimpar no segundo colégio eleitoral do país. São Paulo está rachado, mas se Minas optar majoritariamente pela governador paulista, dificilmente o Nordeste servirá para equilibrar o jogo. Vai daí que para o Lula a candidatura de Aécio Neves à vice-presidência seria mortal. Antes que a decisão final seja tomada pelo neto de Tancredo Neves, muitas outras viagens do presidente a Minas deverão acontecer. Salvo engano, todas sem a presença de Aécio Neves nos aeroportos.

Virada à direita?

A vitória do conservador Sebastián Piñera para presidente do Chile faz acender a luz nos porões da extrema direita sul-americana. Ainda mais se Dilma Rousseff for derrotada. José Serra anda longe de ser considerado de direita, não obstante as más companhias tucanas de que não poderá livrar-se. Some-se a indefinida ideologia de Cristina Kirschner, na Argentina, e ao mais do que óbvio engajamento de Alan Garcia, do Peru, no time anti-esquerdista, reunido ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e se terá a receita de dias não muito tranqüilos para os governos do Paraguai, Bolívia, Equador e Venezuela.

Foram-se os tempos em que atrás de qualquer confronto de idéias aqui em baixo a gente identificava a ação ostensiva da CIA e penduricalhos. Se os desacreditados espiões lá de cima estão agindo, será com extrema parcimônia. Quem duvidar que leia excepcional livro de Tim Weiner, sobre a história da principal agência de espionagem dos Estados Unidos, um relato de como a incompetência e a burrice deram-se as mãos.

Sendo assim, haverá que buscar na cultura de cada um dos países sul-americanos os indicadores maiores de suas decisões eleitorais. O jogo parece empatado, por enquanto, mas a grande final acontecerá em outubro, caso Dilma não resolva assinar uma nova “Carta aos Brasileiros”…

Companheiros em alerta

Marcado para começar a 18 de fevereiro, o Congresso Nacional do PT acontecerá depois de uma ou talvez duas novas temporadas de pesquisas eleitorais, capazes de elevar ou afundar as perspectivas futuras. Para festejar o aniversário de fundação do partido, suas diversas alas doutrinárias preparam uma espécie de revitalização. Jamais oporão o petismo ao lulismo, este a fonte maior da hipótese da permanência dos companheiros no poder. Engoliram a indicação de Dilma Rousseff sem terem dela participado, não lhes restando outra alternativa senão acoplar-se à decisão do chefe. Mas reagem a diversas tentativas vindas de cima, para renunciar à disputa dos governos de estados importantes em prol da aliança com partidos da base governista no plano federal. Tentarão encontrar, assim, um ponto de equilíbrio instável para se mostrarem vivos, operação prevista para ironicamente começar com entusiástica saudação à candidata oriunda do PDT.

O conselho da bruxa

Não dá para esquecer a maldição da bruxa quando, no auge da prevalência do neoliberalismo, nos anos oitenta, a então primeira-ministra inglesa, Margareth Tatcher, aconselhou os países do Terceiro Mundo com amplas dívidas externas “a que vendessem suas riquezas”, para pagá-las. Mais do que tripudiar, os ricos utilizavam garras e presas para sangrar cada vez mais os pobres. Alguns, como o Brasil, conseguiram evitar o pior, mesmo engolindo privatizações desmedidas e sofrendo abalos em sua soberania. Outros, como o Haiti e a maioria dos africanos, saíram pelo ralo e de lá não retornaram.

O diabo é que aqueles tempos podem estar voltando.Noticia-se que desde o final de 2008 vem aumentando o déficit em nossas contas externas. Quer dizer, cresceu nossa dependência do capital estrangeiro. Poderemos chegar ao final deste ano com o rombo de 40 bilhões de dólares. Dizer que não faltarão investidores é perigoso, mesmo remunerados a uma das maiores taxas mundiais de juros. Logo exigirão mais, para permanecer inflando nosso desenvolvimento. De olho no petróleo do pré-sal, por exemplo. Ou exigindo a privatização completa da Petrobrás. Por que não do Banco do Brasil e da Caixa Econômica? Continuando as coisas nesse rumo, não faltarão consultores nacionais a sugerir a alienação de uma das poucas riquezas que vão sobrar, o ar ainda puro que a gente respira. Cada aspiração, um dólar para o caixa dos ricos…

Fonte: Tribuna da Imprensa

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