Notas e Informações
Protegido pelo governo Lula e pelo poder de coação das falanges do "sindicalismo de resultados", o deputado pedetista Paulo Pereira da Silva, chefe da Força Sindical, safou-se da perda do mandato por quebra de decoro parlamentar. Pela ampla margem de 10 votos a 4, o Conselho de Ética da Câmara rejeitou o parecer do relator Paulo Piau, do PMDB de Minas Gerais, que acusou "Paulinho da Força" de participar de um esquema fraudulento para a liberação de verbas do BNDES para prefeituras e empresas. Identificada pela Polícia Federal, na Operação Santa Teresa, a maracutaia é objeto de um inquérito que corre em segredo de Justiça no STF. Um segundo inquérito, também envolvendo o deputado, foi instaurado no Supremo para apurar irregularidades cometidas pela Força Sindical no uso de verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
No mesmo dia em que o relator pediu a cassação de Paulinho, o deputado-sindicalista foi recebido pelo presidente Lula para jantar na Granja do Torto, depois de se reunirem no Planalto, onde o anfitrião proclamou a sua solidariedade a ele. Anteontem, como era esperado, os governistas no Conselho de Ética votaram em bloco por sua absolvição (que contou ainda com o apoio de dois parlamentares da oposição, ambos da Paraíba). Lula tinha fechado um negócio com o turbulento aliado, que alardeara a intenção de se candidatar a prefeito de São Paulo. Em troca da desistência, em favor da petista Marta Suplicy, o governo não lhe faltaria na hora do aperto. Além disso, se o governo assistisse impassível à degola do deputado, provocaria a fúria da segunda maior central sindical do País (depois da CUT), com cerca de 1.400 entidades e 6,7 milhões de filiados. O primado da ética na política seria muito pouco para o governo fazer um inimigo dessa envergadura. E, afinal, que moral tem o lulismo para atirar a primeira pedra em quem quer que seja?
A Força, de mais a mais, não brinca em serviço. Trata-se de uma organização que faz lembrar, pelo seu - digamos - estilo, as velhas máquinas sindicais americanas, com seus métodos típicos dos mobsters. Enquanto o Conselho de Ética se reunia para decidir a sorte do parlamentar, os camisas-laranja da central que ele comanda, depois de participar de uma passeata em defesa do emprego, se exibiram numa galeteria de Brasília, entoando o coro: "Mexeu com Paulinho, mexeu comigo." Carregado nos ombros depois da absolvição, entre um gole e outro de cerveja, fez praça do seu poder de chantagem e da disposição de usá-lo. Explicando por que cassar um sindicalista - a rigor, um político que se valeu da escada de líder sindical - é diferente de cassar um político comum, ameaçou com todas as letras: "A Força Sindical está em todo o Brasil. Se for preciso, nós vamos colocar gente para fazer manifestação na base do deputado que tentar nos perseguir "..." Vamos pôr todos no poste" (exibir a folha corrida de cada um).
Uma das figuras mais entusiasmadas ao seu redor era a própria mulher, Elza Pereira, indiciada pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro, em inquérito aberto por determinação do STF. A polícia concluiu que a ONG que ela preside, Meu Guri, fez parte da grande armação destinada a ordenhar o BNDES. O lobista João Pedro de Moura, o apadrinhado de Paulinho que chegou a ser conselheiro da instituição, depositou R$ 37,5 mil na conta bancária da ONG. "O dinheiro", de acordo com a investigação, "é proveniente de parcelas desviadas do BNDES, referentes à parte de João Pedro, segundo as planilhas da quadrilha." Entre 2002 e 2003, quando Moura operava no Banco, a ONG de Elza Pereira recebeu um total de R$ 1,199 milhão. Sem a ajuda do marido seria difícil arranjar tanto dinheiro.
Outro comparsa era Ricardo Tosto, conselheiro também indicado pela Força Sindical. A patota conseguiu liberar R$ 124 milhões para a prefeitura de Praia Grande. A Polícia Federal suspeita que isso teria valido a Paulinho uma propina de R$ 325 mil.
O outro inquérito em curso no Supremo trata da contratação, pela Força Sindical, de uma fundação de Piraju (SP) para ministrar cursos profissionalizantes, com R$ 215 mil em verbas do FAT. Dos 26.991 matriculados, 24.948 tinham o mesmo CPF. Enquanto o Legislativo abafa, pelo menos o Judiciário apura.
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)
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