Da FolhaNews
01/06/200709h51-Brasília - Lula viajou. Visitará o Reino Unido, a Índia e a Alemanha. Ficará ausente do país por nove dias. Deixou atrás de si um rastro de insatisfação e ameaças. Pintados para a guerra deputados governistas, sobretudo do PMDB, consideram-se ludibriados pelo presidente. Queixam-se da demora na nomeação de apadrinhados para cargos públicos. E prometem retaliação. Respira-se no Congresso a mesma atmosfera envenenada que forçou Lula a convocar, 20 dias atrás, uma reunião de emergência com os cinco ministros do PMDB. Informado de que deputados do partido armavam barricadas no Congresso, o presidente cobrou lealdade. Uma semana depois, reunido reservadamente com Michel Temer, Lula parecia ter contornado a encrenca. De uma lista de cerca de 30 indicações, o presidente prometera a Temer que mandaria ao Diário Oficial, dali a uma semana, oito nomeações para cargos de primeiríssima linha. Dois deles foram confirmados ali mesmo, no curso da reunião: o ex-senador Maguito Vilela (GO) viraria vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil; e o ex-prefeito carioca Luiz Paulo Conde passaria a presidir a estatal Furnas Centrais Elétricas. Já lá se vão 16 dias. E nada. Temer fez chegar ao Planalto a informação de que a bancada, já pintada para a guerra, só não começou a sonegar votos aos projetos de interesse do Planalto porque ele próprio e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), vêm atuando como bombeiros. Mas fez saber ao ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) que a água do hidrante está se esgotando. No início da semana, ao final de uma reunião com dirigentes dos partidos que integram o consórcio governista, Lula puxou Temer pelo braço. Pediu-lhe paciência. Alegou que precisava de tempo para arrumar o estrago produzido pela saída do ministro Silas Rondeau. Afilhado dos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), Rondeau teve o pescoço passado na lâmina pela Operação Navalha. Menos de 24 horas depois da saída do apadrinhado, Sarney e Renan indicaram um substituto: o técnico Márcio Zimmerman, ligado à ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil). Desde então, Lula emite sinais trocados. Aos auxiliares, disse que não tinha pressa na nomeação do substituto de Rondeau. À cúpula do PMDB, afirmou que a nomeação de Zimmerman sairia em poucos dias. Não saiu. E não é certo que saia em 10 de junho, dia seguinte ao retorno de Lula do périplo internacional. O presidente espera pelos desdobramentos da crise que enredou Renan Calheiros. Nesta quinta-feira (31), Lula trocou dois telefonemas com o presidente do Congresso. Passou no par de diálogos a impressão de que está tranqüilo quanto à capacidade do aliado de superar a tormenta. Em privado, porém, o presidente destila o receio de que "fatos novos" venham a complicar a situação de Renan. Ao telefone, Lula chegou a insistir para que Renan o acompanhasse em sua viagem. Argumentou que ele não poderia perder o jogo entre as seleções do Brasil e da Inglaterra, que vai assistir nesta sexta, no estádio de Wembley, em Londres. Para desanuviar o diálogo, o presidente disse: "Renan, sues amigos não cobram explicações, e os adversários nunca vão se satisfazer." Precavido, Renan preferiu manter os pés na realidade brasileira. É como se estivesse convencido de que, nos próximos dias, será convocado pelos fatos a dar novas explicações. Saboreando em silêncio as agruras de Renan, antes um interlocutor exclusivo e preferencial de Lula, o PMDB da Câmara não quer saber senão dos seus cargos. O Planalto, por ora, dá de ombros. Acha que os peemedebistas rosnam, mas não têm coragem de morder. "Eles estão brincando com fogo", disse ao blog um dos domadores do PMDB.
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