Por entrevista 11/10/2006 às 06:30
Clodovil Hernandes no Miss Brasil Gay, em Juiz de Fora - MG
Estilista diz que já foi convidado outras vezes, e também conta porque não vai à Parada Gay
Clodovil
Juiz de Fora - MG
Clodovil Hernandes no Miss Brasil Gay
Estilista diz que já foi convidado outras vezes e explica o motivo de só ter aceito agora e também conta porque não vai a Parada Gay
Sílvia Zoche
Repórter
17/08/2006
Um convidado há muito tempo esperado, vem pela primeira vez ao Miss Brasil Gay, evento que comemora Bodas de Pérola, em 2006. O estilista Clodovil Hernandes confirmou presença no concurso e oferecerá a oportunidade, para quem estiver presente, de assistir a duas músicas em que ele interpreta a dançarina e cantora norte-americana Josephine Baker, a Vênus Negra, que começou a fazer sucesso na década de 1920.
A equipe do Portal ACESSA.com conversou com Clodovil Hernandes com exclusividade e soube de antemão os detalhes desta apresentação. Leia e confira a entrevista:
ACESSA.com - Quando você recebeu o convite para vir ao Miss Brasil Gay?
Clodovil Hernandes - Todos os anos eles me convidam e eu nunca fui.
ACESSA.com - Por que esse ano você resolveu aceitar?
Clodovil Hernandes - Eu nunca quis me envolver neste assunto, porque é evidente que esse assunto não me diz respeito, porque é a mesma coisa que se existisse um clube de marginalizados, de aleijados, um clube de negros, um clube de não sei do quê... Essa coisa de viver em gueto não é muito a minha cabeça. Porque não é assim diante de Deus, entendeu? Pelo menos o meu Deus, que é um Deus que não é castigo, que é provedor do Universo.
Mas este ano, como eu resolvi entrar para a política, por razões que eu também não posso te dizer, porque não são minhas, são transcedentais, e é uma força maior que me forçou a fazer este tipo de trabalho, porque isso pra mim é um trabalho. Então, eu falei: bom, já que a Marta Suplicy e tanta gente usou este grupo de gente com esta coisa de Parada Gay, não sei o quê, não sei mais o quê, quer ter votos e depois não deram nem confiança para as pessoas, e elas continuaram marginalizadas como antes, eu vou mostrar pra elas que, além de eu ir lá dentro, eu ainda farei parte do grupo do jeito que eles entendem a coisa, porque, veja bem, eu não posso nem matar, nem roubar, nem fazer coisa em nome de nada, mas eu posso ter uma atitude. E essa atitude está na capa da revista Flash, que eu me vesti de Josephine Baker, que é o espetáculo que eu vou levar e que está na capa de Flash de hoje. Por quê? Porque é muito fácil você fazer lobby e campanha quando você não tem filhos com este problema, quando você não tem não tem na família, porque é sempre assim, não é assim?
Agora, eu procurei a beleza que tem nessa gente, por exemplo. O que é bonito é quando eles transformam em mulher - porque ficam mais bonitos - e dão esta coisa carinhosa, este abraço na mulher. Porque o homem quando se transforma em mulher, é porque sabe que vai ficar mais bonito. Tem os que ficam mais ridículos, isso é uma outra história. Mas vão pra rua pra fazer michê, quer dizer, é o fim do mundo! Aí, eles mesmos fazem a eleição da mulher e eles mesmos avacalham com ela depois. Por que, pra quê procurar beleza pra se prostituir na rua, me diga?
Ou seja, eu fiz isso para provar pra eles que eu nunca tive nada contra, e nem poderia ter - seria o roto falando do rasgado. Mas é pra mostrar pra eles que cada pessoa oferece pra outra aquilo que ela tem. Quando ela não tem nada, ela não tem nada pra oferecer, ela só tem pra tirar.
ACESSA.com - E como vai ser sua apresentação do musical Eu e Elas no evento?
Clodovil Hernandes - Eu só vou fazer duas músicas. Eu faço em cima da Josephine Baker, que é um novo espetáculo que eu vou fazer. Eu faço J'ai deux amours, que foi uma música que ela celebrizou, e La vie en rose, que não é dela, é da Piaf, mas que ela cantou também. Esteticamente, eu me visto de mulher, mas pra provar que aos 70 anos eu ainda posso fazer isso numa boa e nem precisa de photoshop.
ACESSA.com - Qual a mensagem principal que você deseja passar no seu musical?
Clodovil Hernandes - Eu acho assim, que Deus, o meu Deus é a beleza. E não existe nenhuma pessoa feia, pra alguém sempre ela é bonita, porque isso é uma mágica da vida. E que as pessoas procuram a beleza sempre pra tirar proveito, no sentido do imoral, no sentido do ganho pão. E a beleza não é isso. A beleza é pra você reverenciar Deus, porque Deus deu essa beleza para o universo e não nos cobrou nada. Ele talvez cobre uma atitude - se é que é assim, eu não sei se é, mas eu nunca me senti obrigado a fazer nada, tanto que eu não tenho medo de Deus. Eu não posso ter medo de quem eu amo, não é? Aquilo que eu amo, eu não tenho medo. E também um pouco de dignidade, porque eu cheguei aos 70 anos, relutando com tudo, não dei a cara nunca pra bater, essa é a primeira vez que eu me exponho, mas as pessoas não vão poder falar nada. Sabe quando não pode falar nada? Não vão poder falar nada.
ACESSA.com - O papel da moda em sua vida é muito importante, não é?
Clodovil Hernandes - Porque isto é uma vontade superior também. Quando você tem um nome que assine qualquer coisa, a responsabilidade de bom de gosto ou de mau gosto é sua. Agora, se eu fui o melhor estilista que esse país já teve, tudo que eu faço agora, eu tenho o aval da minha própria etiqueta.
ACESSA.com - Você conhece Juiz de Fora?
Clodovil Hernandes - Conheço. Eu estive uma vez aí para atender uma casa de crianças para angariar fundos pra essa casa. Essa é a segunda vez que vou à Juiz de Fora.
ACESSA.com - E você vai participar também da Parada Gay ou só do Miss Brasil?
Clodovil Hernandes - Não, não vou, porque não gosto. Eu não me exponho a esse ponto. Nada contra, mas é aquilo que eu disse a você. Uma coisa é você se ajudar, porque eu também estou me ajudando. Outra coisa é você fazer carnaval fora de data. Não acho que seja motivo pra este tipo de manifestação. Não é uma revanche, não é nada. É simplesmente uma diversão. Tem tanta diversão que não precisa ser isso... É muito mais divertido, por exemplo, você ajudar quem precisa realmente. Quando você faz isso, dá muito mais alegria do que passar pela rua fazendo carnaval. Não vou fazer isso.
ACESSA.com - Na sua visão, como é a questão da homossexualidade no Brasil ainda hoje?
Clodovil Hernandes - Eu acho que no mundo inteiro é sempre a mesma coisa. Na verdade, os homossexuais se juntam sempre em boate, sauna e coisas desse tipo. E eu não sei por que isso? É uma coisa que eu não consigo entender! A Rainha da Holanda, por exemplo, estabeleceu que os homossexuais tinham direito de freqüentar os porões das igrejas e fazer disso os bares, boates. Isso aconteceu, e ainda tem lugares que são dentro das igrejas, onde eles se reúnem pra tomar um copo de vinho e porque ela achou de bom alvitre fazer isso, porque as pessoas não estão num endereço profano e tal. Agora, claro que atrás tem um monte de coisa, como toda religião tem. Agora, a gente se juntar pra nada, eu não me conformo.
Então, eu prefiro seguir Leonardo da Vinci, Santos Dumont, Garcia Lorca, Tennessee Wiliams e um monte de gente, que foram homossexuais sérios e que deixaram coisas para humanidade. Eu prefiro pensar por esse caminho... Na verdade, eu não quero pensar por nenhum, porque minha vida não é pra... Enfim, eu estou aqui para atender a um pedido ou alguma coisa superior e o que eu faço da minha vida é exatamente aqui o que eu vou levar de volta. A vida é um carimbo para as atitudes que você tem, eu acho. É como se você estivesse reconhecendo a firma de alguma documentação que você precisa apresentar.
ACESSA.com - Gostaríamos que você deixasse uma mensagem para os internautas do ACESSA.com, que acessam o caderno Zona Pink.
Clodovil Hernandes - No sentido da vida, não da homossexualidade, porque todos nós temos direito a ela, o que eu diria é o seguinte: é preferível afrontar o mundo para servir a nossa consciência do que afrontar a nossa consciência para ser agradável ao mundo. Você entendeu por que eu não vou na Parada?
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