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segunda-feira, janeiro 16, 2023

Polícia Federal usa DNA para coletar provas contra vândalos em Brasília




Amostras serão comparadas com aquelas encontradas pelos peritos nas sedes dos Três Poderes

Por Levy Guimarães

A Polícia Federal irá utilizar amostras de DNA em paredes, objetos e solo para investigar e identificar os invasores que provocaram a quebradeira nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.

As pessoas que foram presas logo após o episódio tiveram seu DNA coletado no Instituto Médico Legal (IML), antes de irem para o Complexo da Papuda, no início da última semana. Assim, as amostras serão comparadas com aquelas encontradas pelos peritos nas sedes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal.

Esta é apenas uma das frentes de investigação que os agentes estão adotando para apurar os responsáveis pelos atos na capital. A PF também está fazendo perícia nos mais de mil telefones celulares apreendidos. Serão consideradas, por exemplo, trocas de mensagens.

Dessa forma, a Polícia Federal busca chegar não só aos responsáveis por vandalizar os prédios públicos, mas principalmente por financiar e organizar as caravanas que levaram os bolsonaristas a Brasília.

As investigações já apreenderam ônibus que transportaram os invasores e localizaram uma das pousadas onde eles estavam no último fim de semana. Além disso, foi pedido à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a relação de todos os ônibus que embarcaram para Brasília nos dias anteriores ao atentado.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, já anunciou que os acusados serão classificados em quatro categorias: executores, que realizaram a invasão e vandalizaram o patrimônio público, mandantes, incentivadores e financiadores.

Um dos instrumentos mais eficazes na investigação, até aqui, têm sido os vídeos publicados nas redes sociais. Os canais de denúncia do Ministério da Justiça e Segurança Pública e do Ministério Público Federal, criados especificamente para os atos de 8 de janeiro, já receberam centenas de materiais que buscam identificar e culpabilizar os extremistas.

O Tempo

Imagens de atos põem em dúvida profissionalismo de PMs e militares




Uma sequência de vídeos e fotos dos ataques às sedes dos poderes em Brasília pôs em dúvida o profissionalismo dos policiais mais bem pagos do País e dos militares das Forças Armadas. A invasão do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, no domingo passado, expôs falhas em órgãos como a Polícia Militar, as polícias legislativas da Câmara e do Senado, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência e o Batalhão da Guarda Presidencial, unidade do Exército.

Entre as suspeitas levantadas está a possível atuação ou omissão por conveniência ideológica e simpatia à intenção intervencionista da marcha bolsonarista, que irrompeu com facilidade a barreira, feita de material plástico, montada pela PM no acesso ao Congresso. Os policiais não portavam equipamentos para reagir a distúrbios. Não havia efetivo do Choque e da Cavalaria na retaguarda. A horda invadiu os palácios sem resistência.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou público, em declaração ao Estadão, que “perdeu a confiança” em militares da ativa, a ponto excluí-los da função de ajudante de ordens, uma posição no círculo próximo de assessores. Lula acusou a “conivência” de “muita gente” da Polícia Militar e das Forças Armadas no Planalto.

Ele disse estar convencido de que a porta principal do palácio, por não ter sido quebrada, teria sido deixada aberta para facilitar a invasão. Reclamou que caravanas de golpistas puderam entrar em Brasília e desembarcar pessoas com intenções golpistas, partidárias do ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que a Polícia do Exército posicionou, de forma inédita, dois blindados para “proteger” o acampamento dos bolsonaristas em frente ao Quartel-General, o que retardou prisões e permitiu fugas na madrugada.

Não é a primeira vez que um presidente deixa de confiar na sua guarda. Em maio de 1938, Getúlio Vargas foi surpreendido com um ataque de integralistas. Com ajuda de infiltrados na guarda do Palácio Guanabara e membros do Exército, extremistas invadiram o jardim e começaram a atirar. O levante foi sufocado. Benjamim, irmão de Getúlio, montou uma guarda pessoal para o presidente formada por peões da estância da família no Rio Grande do Sul. Mais tarde, em 1954, o chefe dessa guarda, Gregório Fortunato, virou pivô de uma crise que resultaria no suicídio de Getúlio.

Inteligência

O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro do governo Bolsonaro – com quem rompeu logo no início -, diz que os erros de domingo são evidentes e levanta a possibilidade de que as trocas no governo federal e distrital, na primeira semana de gestão, tenham rompido a cadeia de relações para compartilhamento de informações de inteligência. “Aqui no Brasil, trocou o governo, temos mania de trocar todo mundo no dia seguinte. É uma semana em que a inteligência pode ter ficado prejudicada”, afirma. “Mas é perceptível que houve erros de avaliação e de execução. Se for comprovado que alguém agiu mal para facilitar, porque está de acordo com as ações, é crime. Se houver comprovação de que algum policial ou militar fez corpo mole por preferência política é absurdo. Se influiu na conduta, é uma conivência inaceitável.”

Ao Estadão, um coronel da reserva acostumado a lidar com protestos avaliou que “parece que houve uma lavagem cerebral” na PM. Ele viu indícios de “cooptação” pelo ideário do bolsonarismo. A PM agiu de forma “estranha”, segundo ele, abandonado os parâmetros de segurança e assumindo riscos.

Os episódios vão ser apurados em diferentes frentes. Houve abertura de inquéritos pela Polícia Federal, pela Polícia Civil e de IPMs (Inquérito Policial Militar) na PM e no Exército. “A Corregedoria da Polícia Militar já instaurou 4 inquéritos para apurar a conduta inadequada de agentes da lei no último dia 8. As investigações estão apenas começando. Vamos às últimas consequências. Vamos separar o joio do trigo. A lei será cumprida”, disse o interventor federal Ricardo Capelli.

A Procuradoria da República no DF abriu procedimento preliminar para apurar se a Polícia Militar facilitou os crimes. A investigação foi iniciativa do procurador Peterson de Paula. Para ele, a PM “deixou de adotar medidas necessárias à manutenção da ordem e à segurança do patrimônio público”.

Muito contestados, policiais militares e militares do Exército “vazaram” gravações feitas no interior do Planalto. Num ângulo feito por PMs, o comandante do BGP tenta impedir a entrada repentina de policiais para efetuar prisões. Exaltados, eles falam palavrões e batem boca. Em outro momento, policiais ordenam a formação de uma linha de defesa dos militares do Exército desorientados. Um deles apresenta dificuldade de disparar uma bomba de gás travada na arma.

O ataque simultâneo na Praça dos Três Poderes fez o governo Lula intervir na segurança de Brasília. As cenas provocaram a queda e prisão do então comandante-geral da PMDF, coronel Fábio Augusto Vieira, do ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro que foi preso neste sábado, 14, e o afastamento do governador Ibaneis Rocha, do MDB. À PF, Ibaneis afirmou que houve sabotagem.

Também aumentou a pressão sobre os ministros da Justiça, Flávio Dino, da Defesa, José Múcio Monteiro, e, principalmente, do GSI, general Gonçalves Dias, e o comandante do BGP, coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora. Petistas cobram de Lula trocas na equipe. O GSI disse que a guarnição de serviço no Palácio já estava reforçada com tropa de choque do BGP, sem revelar o efetivo. O restante estava em prontidão, mas a alguns quilômetros dali, aquartelado no Setor Militar Urbano. Para o deslocamento são estimados 30 minutos. “Foram solicitados assim que ficou demonstrado o caráter violento dos agressores”, afirma o GSI.

Plano Escudo

Para funcionar, o ‘Plano Escudo”, o esquema de defesa do Planalto, prevê três linhas de defesa: a PM nas ruas do entorno imediato; agentes do GSI, que andam de terno ou uniforme cercando o palácio; e depois os homens de Choque do BGP, como último recurso. A fraqueza da primeira e a ausência das outras duas em quantitativo apropriado são apontadas como erros da operação por especialistas.

No dia a dia, o choque do BGP não fica no palácio. O prédio é guarnecido pelos seguranças do GSI vestidos em trajes civis e sentinelas do BGP, fardados, munidos de espingardas calibre 12. Quando surgem informações de protestos nas cercanias do Planalto, os generais do GSI telefonam ao comandante do batalhão para pedir reforço e depois comunicam ao Comando Militar do Planalto. É uma forma de agilizar a chegada dos militares. Com a tropa no palácio, o secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, hoje o general Carlos Feitosa, assume o controle operacional.

Cada uma das companhias do batalhão possui cerca de 200 homens, totalizando 2 mil militares. O pelotão dispensado era uma fração deles, tinha 36 homens, e não conseguiria conter os invasores, na avaliação de militares. O ideal seria cerca de 400 homens, duas companhias.

Um experiente militar, que comandou o BGP, observa que nunca havia ocorrido em Brasília de a PM ter que entrar para defender o palácio e efetuar prisões lá dentro. Os soldados do BGP, diz ele, estavam “debilitados” e parecia “emboscada”. “Foi um caos, praça dando ordem em oficial, voz de prisão, descontrole, violação de hierarquia, perda de comando”, afirma o coronel, sobre as cenas gravadas. “Precisa ser esclarecido se foi intencional, se o dado da ameaça não chegou.”

Entre os atos sob investigação, estão:

1. A escolta da marcha intervencionista, pela PM, até o local dos crimes, no momento em que a cúpula da secretaria de segurança local dizia as intenções eram pacíficas

2. A falta de resistência das polícias militar e legislativa, que recuaram em investidas dos extremistas e abriram passagem no gramado e na chapelaria do Congresso

3. O abandono de posto em barreira por parte de alguns policiais para comprar água de coco

4. Os flagrantes de confraternização entre extremistas e policiais militares e legislativos – alguns posaram para fotos e outros filmaram os atos, sem agir para impedir crimes

5. A decisão de abrir a Esplanada dos Ministérios e permitir o trânsito da marcha

6. O subdimensionamento da tropa na linha inicial postada em frente ao Congresso, sem equipamentos de contenção de distúrbios

7. No Senado, policiais demoraram horas para retirar invasores do plenário – os agentes foram gravados dizendo que quem saísse de forma voluntária não seria detido

8. A desorientação de soldados desalinhados na defesa do BPG na entrada do Planalto

9. Troca de acusações e bate-boca entre PMs da Patamo (Patrulhamento Tático Móvel) e o comandante do Batalhão de Guarda Presidencial

10. Reforço do Choque do BGP dispensado 20 horas antes

11. A fuga não explicada da extremista Ana Priscila Azevedo, detida entre militares do BGP no Planalto, ela sairia do palácio e seria presa por ordem do Supremo dois dias depois

Segurança

2 mil é o efetivo do Batalhão da Guarda Presidencial

271 agentes formam a Polícia Legislativa da Câmara

169 agentes formam a Polícia Legislativa do Senado

400 homens integram a Força Nacional de Segurança Pública

10,2 mil é o número de agentes da PM-DF

Estadão / Dinheiro Rural

Sonho de Luther King para os EUA ainda não é realidade, admite Biden




O presidente dos EUA, Joe Biden, fala durante o serviço dominical na Igreja Batista Ebenezer em Atlanta, Geórgia (sul), em 15 de janeiro de 2023 

Durante discurso, neste domingo (15), na igreja de Martin Luther King, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que seu famoso sonho de igualdade e justiça “ainda não” se tornou realidade e chamou mais uma vez para lutar pela "alma" da nação.

“Já falei diante de parlamentos, reis, rainhas e lideranças de todo o mundo, mas aqui me sinto intimidado”, disse o democrata, primeiro chefe do Executivo a falar durante o culto de domingo na Igreja Batista Ebenézer, em Atlanta, Georgia.

É onde ministrou o falecido líder negro e ativista dos direitos civis Martin Luther King, que completaria 94 anos neste domingo. Ele foi assassinado no Memphis, Tennessee, em 1968.

Biden evocou o discurso mais famoso do ícone da luta contra a discriminação racial e também pastor batista, no qual lançou a expressão "Eu tenho um sonho".

“Continua a ser a missão do nosso tempo concretizar este sonho, porque ainda não é o caso”, ressaltou Biden.

Lembrando que havia instalado um busto do pastor no Salão Oval da Casa Branca, o presidente disse, usando uma de suas fórmulas favoritas: "A batalha pela alma dos Estados Unidos é eterna" e destacou que essa é uma "luta constante".

"Ainda há muito trabalho a ser feito em justiça econômica, direitos civis, direito ao voto", reconheceu Joe Biden, cuja carreira política baseou-se em grande medida no apoio dos eleitores negros.

Biden havia sido convidado para ir a Atlanta por Raphael Warnock, hoje principal pastor da igreja, mas também senador democrata que venceu uma votação disputada no estado em novembro, contra um candidato apoiado pelo ex-presidente republicano Donald Trump (2017-2021).

AFP / SWI

Golpe, economia e Lula 3




PIB em baixa pode tirar apoio e tempo que intentona terrorista deu ao presidente

Por Vinicius Torres Freire 

A intentona terrorista de 8 de janeiro teria causado uma comunhão democrática instantânea, um ajuntamento de apoios políticos e sociais que também beneficiaria Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente, um fiador da democracia, teria ganhado mais tempo para assentar seu governo, que começou sob críticas ao caráter restrito do que antes se prometia ser uma "frente ampla", na economia e na política.

É uma análise que se ouve por aí. Pode-se especular de maneira razoável que não há tempo. Nem Lula, nem o país democrata, nem a pobreza ainda mais degradada por uma década sem crescimento têm tempo.

Como se não bastassem os quatro anos de agitação e propaganda de Jair Bolsonaro, os dois meses e meio depois da eleição comprovaram a organização golpista. Para citar o óbvio, houve quebra-quebra diante da Polícia Federal no dia da diplomação de Lula, tentativa de ataque a bomba ao aeroporto de Brasília, depredação de torres de transmissão de eletricidade, movimentos para bloquear a distribuição de combustíveis e envolvimento de militares na intentona.

Um mero começo de investigação encontrou um decreto golpista na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Parlamentares da extrema direita, a maioria abrigada no PL, continuam a apoiar a subversão. Em recados pela imprensa, oficiais-generais dizem que são intocáveis.

Pesquisas de opinião mostram que o eleitorado bolsonarista de 2022 quase inteiro desaprova Lula. Eleitores lulistas desesperados, impacientes ou "terceira via" podem se desencantar. Governar desgasta.

Desgasta ainda mais nesta situação socioeconômica ruim. A economia esfriou no quarto trimestre de 2022; talvez tenha encolhido. A taxa de juros alta, que assim permanecerá até o final deste 2023, a incerteza sobre a política econômica de Lula 3 e a lerdeza mundial sugerem por ora um crescimento de 1% do PIB neste ano.

O aumento do número de pessoas empregadas, se ainda ocorrer, não será bastante para reduzir a taxa de desemprego, se tanto, com provável estagnação dos salários, ainda nos níveis mais baixos desde 2012. A inflação ainda deve aumentar quase outros 6% neste ano, com níveis de preços já altos.

Seria quase inevitável um aumento de impostos, qualquer o governo, que deve ser a via preferencial de ajuste fiscal de Lula 3 (com menos ênfase em contenção de gasto). É um sinal amarelo de conflito, que não deve melhorar com as tentativas de setores empresariais e da elite profissional de fugirem das consequências (necessárias) da reforma tributária.

Empresários, em particular bolsonaristas, já tentam derrubar as mudanças propostas pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) no sistema de solução de contenciosos da Receita Federal (Carf). A tentativa de tributar lucros e dividendos e de voltar a cobrar certos impostos é mais fonte de conflito.

O governo (e a economia e o ambiente) precisa da volta de impostos sobre combustíveis, cortados pela demagogia bolsonarista. É um assunto que já animou milícias caminhoneiras e locautes de empresas de transporte.

Em fevereiro, o Congresso volta a funcionar, com lideranças reeleitas, "empoderadas" e mais dispostas a arrancar benefícios de Lula (a mexida no butim das emendas de relator não foi digerida). Há partidos negocistas para cevar com cargos. A ver se a ameaça golpista ainda muito viva, investigações policiais, de Bolsonaro inclusive, e uma CPI mudam esse cenário.

Golpistas diversos podem se animar com uma perda de prestígio de Lula. A fim de evitar o risco, (também) o presidente precisa varrer a subversão, desbolsonarizar o país e deixar logo de bobagens na economia.

Folha de São Paulo

Democracia e desenvolvimento, tudo a ver




Trabalho de Edmar Bacha mostra a importância da democracia para o desenvolvimento econômico

Por Merval Pereira (foto)

Num momento em que a democracia no Brasil está sob ataque, o economista Edmar Bacha, um dos pais do Real e membro da Academia Brasileira de Letras, escreve um importante trabalho sobre a relação da democracia com o desenvolvimento econômico, a ser publicado no próximo número da Revista Brasileira, veículo oficial da ABL.

Com base em diversos estudos e dados de órgãos internacionais, como o Banco Mundial, Bacha afirma que "nem a experiência brasileira, nem as comparações internacionais sustentam a ideia de que a autocracia tenha superioridade sobre a democracia para promover o crescimento econômico". Ao contrário, as comparações internacionais sugerem que a democracia se associa à passagem de um país de renda média, como Brasil, para a renda alta.

A classificação adotada pela Matrix da Democracia da Universidade de Würzburg identifica cinco regimes políticos no mundo: democracias funcionais, democracias deficientes, regimes híbridos, autocracias moderadas e autocracias plenas. Em 2019, com base nessa classificação, de 179 países, 83 tinham o status de democracias, sendo 37 funcionais e 46 deficientes (incluindo o Brasil). No extremo oposto, encontravam-se 55 autocracias, sendo 34 moderadas e 21 plenas. No meio, havia 41 regimes híbridos que combinam elementos democráticos e autocráticos. Quase metade dos países do mundo têm regimes democráticos, mas apenas pouco mais de um quarto da população mundial vive em democracias. Os pesos da autocracia da China e do regime híbrido da India na população mundial explicam esse desbalanceamento, explica Bacha.

Embora pouco se possa dizer sobre a relação da democracia com o PIB per capita para níveis baixos de renda, Bacha ressalta que a ´partir de US$ 10 mil per capita há uma associação positiva da democracia com a renda per capita. "Em particular. fica a sugestão de que a superação da armadilha da renda média está associada ao aperfeiçoamento democrático dos países".

Em seu estudo, ele separou 164 países, ordenados por nível de renda, divididos em três grupos com praticamente o mesmo número de países.O grupo de renda alta compreende 54 países com PIB per capita de até US$ 7,3 mil; o de renda média, 54 países com PIB per capita de mais de US$ 7,3 mil até US$ 22,1 mil (caso do Brasil, que tem US$ 14,7 mil); e o de renda alta, 55 países com renda per capita de mais de US$ 22,1 mil. "A democracia funcional é o regime dominante no grupo de renda alta, e representa parcela pequena dos outros dois grupos", destaca Bacha, enquanto no de renda média, a democracia deficiente é o regime prevalecente.

Já no grupo de renda baixa, três regimes aparecem como importantes, em ordem decrescente: democracia deficiente, sistema híbrido e autocracia moderada.Uma relação clara entre democracia e desenvolvimento econômico aparece em texto seu recente, em que identifica 12 países no pós-guerra fizeram a transição da renda média para se incorporarem aos países ricos. Esses países são os chamados tigres asiáticos: Cingapura, Coreia do Sul, Hong Kong, Israel e Taiwan; membros da União Europeia: Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal; e exportadores de produtos primários: Austrália, Noruega e Nova Zelândia.

"Uma característica comum a eles é seu alto grau de abertura ao comércio exterior. Outras características são populações médias ou pequenas (5 a 50 milhões de habitantes) e baixa desigualdade da distribuição de renda. Não há entre eles autocracias e, afora os regimes híbridos de Cingapura e Hong Kong, são todos países democráticos."

Não vale a pena, assim, entreter ilusões autoritárias do tipo de "se eu fosse ditador por um dia". Vale mais a pena nos dedicarmos a aprimorar a qualidade das políticas públicas para que nossa democracia possa mais efetivamente responder ao anseio dos brasileiros por melhores condições de vida, conclui Bacha.

O Globo
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A mistura de omissão, incompetência e delírio é explosiva.




O que houve foi uma tragédia institucional

Por Murillo de Aragão (foto)

A depredação dos palácios no Distrito Federal, no domingo 8, é o ponto mais baixo a que nossa democracia chegou desde o seu restabelecimento. O fato se soma a uma sequência de episódios grotescos, como o vandalismo na capital do país no dia da diplomação do presidente eleito e a tentativa de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília.

As imagens terríveis de milhares de pessoas caminhando pela Esplanada dos Ministérios sem enfrentar praticamente nenhuma oposição, com o intuito de depredar os palácios dos três poderes, me lembrou o cenário da Argentina, que poderemos repetir aqui, se não tivermos juízo e responsabilidade. Lá, periodicamente, existem saques, depredações, desvalorização cambial e protestos imensos por causa dos descaminhos econômicos e institucionais.

O que pode acontecer no Brasil a partir da violência perpetrada no domingo? Depende basicamente da reação das instituições e da sociedade. Ficou claro que houve incompetência generalizada, leniência e omissão por parte de autoridades. Na situação em que vivemos, a mistura de omissão, incompetência e delírio é explosiva, ainda que não resulte em nada revolucionário. São expressões de desapego à democracia, ignorância cidadã e escolhas erradas que podem trazer muita intranquilidade. O novo governo não soube defender as instituições.

A democracia sai fortalecida do episódio, já que setores radicais de oposição ficaram desmoralizados. O ex-presidente, pela postura pouco assertiva em relação ao ocorrido (e, muitas vezes, ambígua), se apequenou como liderança política.

O ocorrido não seria jamais uma Queda da Bastilha. Não passa de uma revolta contra as regras que determinaram o resultado eleitoral. Foi também uma demonstração de precária autocrítica, visto que os derrotados, pela soma industrial de equívocos, “entregaram” a eleição para os vitoriosos, ainda que por uma margem apertada. Os inconformados com a derrota deveriam se revoltar é contra os aliados que jogaram granadas em policiais e perseguiram pessoas com pistola pelas ruas de São Paulo, dando vazão a discursos lunáticos. Querem queimar o sofá como se ele fosse o culpado pela traição.

Ao fim e ao cabo, a derrota autoinfligida acabou culminando na passeata de insensatos, sob o olhar complacente das autoridades. As insatisfações com o processo político são legítimas, até que deixem de se expressar de forma legal. A prática da violência como expressão política deveria gerar um cancelamento perante o mundo institucional.

No campo prático, o ocorrido forneceu uma narrativa que justifica muitas decisões do Judiciário, arbitrárias ou não, no enfrentamento de radicais. Se alguém tinha dúvida sobre a periculosidade deles, não há mais. Para piorar para o lado da oposição, os vândalos e criminosos de 8 de janeiro outorgaram ao presidente Lula o título de “campeão da democracia”, sob os aplausos do mundo democrático e não democrático. Até Vladimir Putin se solidarizou com ele!

Em um contexto paradoxal, o presidente estava emparedado por seu discurso ambíguo e retrógrado na economia. Lutava para controlar ministros que, boquirrotos, faziam planos de governo sem combinar com o chefe. Em meio a dificuldades, as invasões em Brasília fortalecem politicamente Lula e atingem mortalmente o seu maior opositor.

Revista Veja

Como Olavo de Carvalho influenciou radicalização bolsonarista que levou ao 8 de janeiro




“Me diga o seguinte: quantos grêmios de faculdade vocês tomaram? Nenhum. Quantas redações de jornal vocês tomaram? Nenhuma. Quantos sindicatos vocês tomaram? Nenhum. Quantas igrejas de teologia de libertação vocês tomaram? Nenhuma. Em suma, vocês deixaram tudo nas mãos dos comunistas, e tudo está nas mãos deles. E eles fazem o que quiserem. Deu pra entender?”

POR SHIN SUZUKI

Falas do escritor Olavo de Carvalho (1947-2022) estimulando ações radicais circularam com frequência em aplicativos de mensagem e redes sociais nos dias anteriores à invasão de Brasília por grupos bolsonaristas.

O trecho acima está em um post do TikTok de duas semanas atrás. O vídeo aparecia como primeiro da lista (indicado na aba “Melhores”) quando se buscava pelo nome do escritor e filósofo. Procurada pela BBC News Brasil, a empresa não comentou.

Outro excerto com a voz de Olavo, que morreu aos 74 anos em janeiro do ano passado, ganhou ainda mais destaque no contexto das cenas de vandalismo e depredação das sedes dos Três Poderes — o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

O escritor diz no áudio: “Eu acho uma intervenção militar extremamente difícil, a não ser depois de um processo de tomada do poder pelo próprio povo. Se você tiver um movimento de desobediência civil generalizada… pessoal cercar o palácio, não deixar senador entrar, não deixar ministro entrar, não deixar juiz entrar… se chegar neste ponto, as Forças Armadas entram”.

Radicalização

Para ter a influência que mantém ainda hoje, a ponto de ser referência ideológica em ações agressivas de quebra institucional, as ideias e a própria trajetória de Olavo de Carvalho passaram por radicalizações e se beneficiaram amplamente do poder de disseminação das redes sociais.

O escritor surgiu na arena pública a partir dos anos 1990 como articulista conservador de grandes jornais brasileiros e, nos anos 2000, se consolidou como fomentador de espaços de debate na internet ligados à uma ascendente nova direita brasileira.

“Ele deu densidade para uma geração jovem que assistia ao crescimento do Partido dos Trabalhadores e resistia ao que então se considerava ser a hegemonia da esquerda no pensamento brasileiro, no pensamento nas artes e na cultura de uma forma geral”, diz João Cezar de Castro Rocha, professor titular de Literatura Comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

'Vídeo em que Olavo de Carvalho incitava tomar grêmios de faculdade, redações de jornal, sindicatos e igrejas aparecia em primeiro na busca do TikTok'

Guru

Mas, entre os elementos que trouxeram inicialmente mais apelo, popularidade e fidelidade a Olavo de Carvalho, está a figura do “guru” que apontava caminhos para resolver ansiedades eminentemente existenciais de seus seguidores.

“Parece estranho dizer isso, mas [o olavismo] não é um movimento que nasce com uma intenção de traçar objetivos e métodos políticos. Nasce com perfil existencial, espiritual e que propõe, de alguma forma, resgatar, restaurar a ordem da alma interior daquele que se tornará seu discípulo ou daqueles que se tornarão seus devotos”, diz um escritor identificado com a direita brasileira que prefere não se identificar.

A pesquisadora Michele Prado, em seu livro Tempestade Ideológica (Lux, 2021), aponta que “Olavo de Carvalho pôs em prática uma proposta de ‘renascimento cultural e espiritual’ do Brasil através da criação de um ‘grupo de elite intelectual’ sob sua mentoria”.

“Olavo introduzia nos seus alunos um enorme sentimento de orgulho, superioridade e invencibilidade que, tornando-os fanáticos em prol de sua figura, resultaria em pessoas sem limites morais conforme testemunhamos”, escreve Prado.

Diogo Chiuso, que foi editor de obras do escritor em uma editora de Campinas (SP), afirma que a radicalização das ideias olavistas se deu a partir de 2013, com os protestos de junho pelo país.

“A partir dali ele se aprofundou na política. Começou a falar em derrubar o sistema. Eu brincava que ele estava parecendo o [Guilherme] Boulos [hoje deputado federal do PSOL e, à época, figura central do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto]. Foi nesse ponto que as coisas mudaram, acho que ele viu uma oportunidade de derrubada de poderes, de voltar o discurso dele mais para a política”, afirma Chiuso, que é autor do livro O Que Restou da Política (Noétika, 2022).

“Mas a conclusão que chego é que ele não enxergava como possível essa derrubada do sistema político pela via democrática.”
As redes sociais como via para o discurso olavista

O estilo de Olavo de Carvalho se encaixava bem com a natureza da internet e das mídias sociais, analisa Castro Rocha, da Uerj.

“A figura pública que ele assumiu parece que foi feita sob medida para o universo digital, que, entre outras coisas, é caracterizado pela chamada economia da atenção. É preciso ter uma atitude que chame a atenção dos outros. O Olavo mesmo já era um meme. As expressões que ele fazia, a linguagem corporal… para cada frase, muitos xingamentos e para cada xingamento a repetição de uma obsessão.”

No entanto, observa Castro Rocha, o apelo memético de Olavo veio acompanhado pela escalada de agressividade e de intolerância em relação ao campo oposto: a radicalização no discurso.

“Ele assumiu uma persona raivosa, intolerante, que utilizava palavras mais chulas, que xingava os adversários e que, sobretudo, revelava o desenvolvimento de uma intolerância radical com tudo aquilo que não era espelho.”

“Era retórica do ódio de um lado e a lógica da refutação de outro, que são instrumentos poderosos de linguagem para tornar o outro, aquele que é diferente, um nada a ser simbolicamente eliminado.”

Na visão de Castro Rocha, a influência de Olavo de Carvalho persistirá por muito mais tempo do que a influência do bolsonarismo.

“Bolsonaro encontra-se em processo acelerado de derretimento da sua imagem enquanto os adeptos de Olavo, a cada nova crise que surge, recuperam frases, áudios, textos dele como uma forma de explicar o que nós estamos vivendo. Vou repetir: a presença do Olavo superará em muito a presença do bolsonarismo no Brasil”, afirma.

“Isso é particularmente grave, porque seus pensamentos têm como marca o desprezo à universidade e a incapacidade de lidar com o outro.”

BBC Brasil / Daynews

Redes sociais trouxeram a estupidez popular ao campo da política




Cada vez que se amplia a inclusão da massa na circulação de ideias, uma das consequências é a aparição de mais idiotas.

Por Luiz Felipe Pondé (foto)

Um espectro ronda o Brasil. O espectro da estupidez. A política, a direita e a esquerda, são miseráveis.

Olhemos a política do ponto de vista da sua relação com as tecnologias de mídia. A impressão da Bíblia em língua vernácula foi uma das causas das guerras religiosas na Europa. O rádio foi essencial para os grandes movimentos fascistas no século 20. As redes sociais desempenham papel semelhante agora.

Cada vez que se amplia a inclusão da massa na circulação de ideias, uma das consequências é a entrada em cena de mais idiotas na dinâmica política.

A mídia específica "for dummies" (para bobos) são as redes sociais. A política atravessada pelas redes é a política "for dummies". Desde as convocações a golpe pelos bolsonaristas até grupos de WhatsApp em que se trocam figurinhas do Lula com coraçãozinho se trata de política "for dummies".

Há mais de dez anos o mundo festejava a ação das redes no que os inteligentinhos chamavam de "primavera árabe". Inteligentinhos com diplomas foram à região auscultar os batimentos cardíacos na nascente democracia das redes no mundo árabe. Longos artigos foram escritos explicando o efeito libertador das redes na política.

Bom, a Primavera Árabe virou guerra civil na Síria e trouxe à tona o Estado Islâmico. A juventude das redes no Egito voltou às ruas para pedir ao Exército que derrubasse o governo legitimamente eleito (!!) —a Irmandade Muçulmana—, o que conseguiram com sucesso e alívio.

A Líbia virou um acampamento dominado por tribos esquecidas, a Tunísia — berço da Primavera Árabe — vive de susto em susto. Enfim, deu ruim.

Onde estão as incríveis análises sobre as redes sociais e a democracia na Primavera Árabe? Inteligência "for dummies"? Foram esquecidas pra sorte da inteligência pública que sempre fica babando, por medo ou por tesão, quando ouve falar em "movimentos populares". O povo se movimenta como uma força enlouquecida da natureza. Nesse ponto, política e física se fazem uma só.

Em 2013, as Jornadas de Junho —a arruaça iniciada pelo movimento adolescente Passe Livre— chegaram a ser festejadas com uma mesa "urgente" na Flip para as inteligentinhas grã-finas se deliciarem com ícones ninjas da época.

Tudo era lindo nos mascarados quebrando as ruas. Mais uma enxurrada de textos eróticos sobre os movimentos populares sem liderança centralizada. Que tesão!

Pois é. As redes sociais trouxeram a estupidez popular para o seio da dinâmica política. Quando a estupidez popular combina com a minha, acho revolucionária, quando não combina, considero totalitária.

Os dois pesos e duas medidas que a inteligência pública tem aplicado aos "movimentos populares" se revelou uma faca de dois gumes.

Pois então. Os bolsonaristas golpistas acham que estão lutando pela democracia e que o Lula, junto com juízes amigos, roubou a democracia deles. Duro esse mundo pós-moderno feito de narrativas, não? Fofo ver revolucionários de bolso pedindo força policial maior, não?

A política sempre foi o território da violência, das utopias idiotas, das mentiras, da corrupção, e, com as redes sociais, dos imbecis que alçaram ao lugar de fala pleno. Melhor seria para o mundo se as redes sociais fossem simplesmente destruídas. Os imbecis voltariam à vidinha de sempre. O manto da irrelevância cobriria seu cotidiano. A democracia continuaria a usufruir da estabilidade que traz o silêncio social.

As redes sociais não fizeram as pessoas mais "informadas", fizeram as pessoas mais ignorantes da sua ignorância. Mas deliro: as redes sociais são o capitalismo hoje e, mesmo que elas destruam o mundo, continuarão de vento em popa.

As redes corroem a credibilidade institucional no mundo. Petistas deveriam agradecer a Bolsonaro. Este deu para aqueles a chance de reorganizar sua gangue com o dinheiro público. E mais: sequestrar a ideia de democracia para suas pautas.

A criação da Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia para combater a desinformação será uma NKVD light —a Gestapo stalinista— para calar quem não lamber as botas deles. O poder adora puxa-sacos.

Folha de São Paulo

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