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sábado, janeiro 25, 2025

À sombra de McKinley, Trump traça cenário isolacionista e imperialista


Imagem mostra Donald Trump, um homem com cabelo loiro e uma gravata vermelha e que está falando em um microfone. Ele gesticula com a mão direita enquanto se dirige a uma audiência. Ao fundo, há uma pintura ou um quadro decorativo.

Trump é como um velho leão que só ruge para gatinhos

Demétrio Magnoli
Folha

A palavra China apareceu apenas duas vezes – e no contexto da promessa de retomada do Canal do Panamá. Rússia não apareceu, bem como Ucrânia. O discurso de posse de Trump, uma cisão radical com a política externa tradicional dos EUA, teve os traços característicos do isolacionismo. Exceto por McKinley, como Trump decidiu renomear, uma vez mais, o Monte Denali.

Denali, no Alasca, altitude de 6.190 metros, a mais alta montanha do mundo da base ao cume entre as que estão totalmente acima do nível do mar, foi rebatizado em homenagem a McKinley em 1896.

IMPERIALISTA – O presidente William McKinley, um ardoroso defensor de tarifas comerciais, conduziu a Guerra Hispano-Americana (1898) na qual os EUA conquistaram as Filipinas, o Havaí, Guam e Porto Rico. A expansão imperial pelos dois oceanos, em linha com o pensamento geopolítico de Alfred Thayer Mahan, seria completada por Theodore Roosevelt com o Canal do Panamá.

A expressão cunhada em meados do século 19 sintetizava a ideia de uma nação-ilha que, após a aquisição da Louisiana (1803), estendeu-se das colônias atlânticas originais até a costa do Pacífico.

No ápice do imperialismo americano, Mahan e Roosevelt ampliaram o conceito para abranger os próprios oceanos e o istmo que os delimita. Ao exumá-lo, Trump investe na rima entre isolacionismo e imperialismo.

ISOLACIONISMO – “Temos um oceano entre nós”, registrou Trump referindo-se à Europa – e à guerra imperial russa na Ucrânia. Não é novidade. A base da Doutrina Monroe (1823) era a separação geopolítica entre o Velho Mundo e o chamado Hemisfério Americano.

Até a Segunda Guerra Mundial, com o breve intróito da Grande Guerra (1914-18), o isolacionismo deu o tom das relações dos EUA com a Europa. Foi nesse longo período que os EUA estabeleceram sua esfera de influência nas Américas e sua hegemonia nos dois grandes oceanos.

Retomar o Canal, anexar a Groenlândia, promover incursões militares contra os cartéis mexicanos. Mirando o passado, Trump aventa restaurar aquela “era de ouro”, enquanto descortina a glória futura: fincar a bandeira das estrelas em Marte. E o presente, isto é, a Pax Americana abalada pela ascensão da China e pela guerra no centro da Europa?

CLIMA DE PAVOR – Os imigrantes indocumentados e seus filhos têm razões para sentir pavor. Há motivos nos temores do Panamá, do México, mesmo da Dinamarca, aliada na Otan. China e Rússia, não.

Trump prometeu impor tarifas sobre os dois vizinhos no início de fevereiro, mas apenas disse que negociará com Xi Jinping – e reverteu temporariamente o banimento do TikTok.

Quanto à guerra russa, ensaiou vagamente impor sanções econômicas contra um país já acossado por sanções de todos os tipos. O leão só ruge diante de gatinhos.

FALSAS AMEAÇAS – Xi Jinping e Vladimir Putin terão sorrido ao final do discurso de posse. Se Trump invoca o Destino Manifesto para veicular ameaças à integridade territorial de pequenos países aliados, como poderá contestar uma eventual conquista chinesa de Taiwan ou a imposição de um protetorado russo sobre a Ucrânia?

À sombra de McKinley, Trump escancarou seu desprezo à ordem internacional baseada em regras que foram erguidas no pós-guerra e consolidadas ao final da Guerra Fria.

No lugar delas, rabiscou os contornos de um mundo fragmentado em esferas de influência das grandes potências. Isolacionismo e imperialismo não são conceitos mutuamente excludentes.

 

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